Capítulo 7

Nina Kandon

— Tenho uma proposta para você, e acredito que será irrecusável  —  

Ele falou sem pausa e me olhando diretamente nos olhos, eu engoli em seco e questionei com um certo receio.

— E qual seria essa proposta, Chease?  

Ele ergue uma sobrancelha e continua com uma expressão séria em seu rosto e responde. 

 —   É um assunto um pouco delicado e por isso preciso que você esteja com a mente aberta para que entenda as minhas reais intenções.

Eu confirmo com a cabeça e ele se acomoda na cadeira, pegando a sua taça de água, bebe um pouco, fazendo crescer uma ansiedade em meu interior e volta a dizer.

—  Eu sou um homem muito influente no mundo dos negócios, e tenho uma agenda estritamente lotada com compromissos e obrigações diariamente, além das viagens que sou obrigado a fazer por conta de todos os meus negócios. Entretanto, sou um homem solitário, na verdade gosto de viver livre, mas ultimamente sentia que estava faltando algo.   

Em meu coração, algo dizia que a proposta seria algo além da amizade e eu não tenho certeza se tenho psicológico para ter algum tipo de relacionamento com esse homem sem sentir algo profundo por ele.

 —  E como eu poderia ajudá-lo?   

Eu perguntei logo sentindo um arrependimento por ter perguntado e então ele sorri para mim, de um jeito tão perfeito que até estremeci.

—  Gostaria que você aceitasse ficar comigo, eu posso lhe dar todo tipo de suporte em troca de sua companhia.  

Meu peito doeu, o ar ficou preso em meus pulmões e a descrença do que acabei de ouvir logo me atingiu em cheio. De repente, toda aquela imagem de beleza e boa conduta que eu via em Chease sumiu, dando vida ao homem interessado apenas em meu corpo. 

Ele pensa que sou prostituta, é isso? 

Não consegui controlar as lágrimas, e elas já estavam marejando meus olhos impedindo com que eu enxergasse o rosto de Chease com perfeição e então eu falei com tamanha fúria e a voz trêmula.

—   Eu nunca, nunca me venderia por dinheiro, pelo amor de Deus. Quem você pensa que eu sou? 

Me levantei da cadeira e o olhei mais uma vez. Chease estava com um braço apoiado em cima da mesa onde batucava impacientemente seus longos dedos e em seu rosto estava uma expressão extremamente impassível, onde não mostrava sua verdadeira reação e puxando o ar com calma, vi que ele iria tentar se explicar e internamente, queria que ele dissesse que errou e não queria ter feito aquela proposta.

—   Sente-se, Nina.

Ele disse sem me olhar nos olhos e eu não cedi ao seu comando e então o vi levantar-se da cadeira com toda arrogância e imponência que só vi existir em uma pessoa como ele e se dirigindo até mim, ele puxou a cadeira em que eu estava sentada a pouco tempo e disse sussurrando em meu ouvido.

 — Sente-se, por favor, Senhorita Kandon.  

Eu senti meu corpo inteiro se arrepiar e automaticamente cedi ao seu pedido e assim Chease voltou ao seu lugar e voltou a falar.

— Em momento algum eu quis ofender você, estou apenas oferecendo uma forma de contrato comercial para você viver. Pois pelo que vi, você passou por muita necessidade e estou disposto a lhe garantir conforto, dinheiro e segurança, Nina.

 Negando com a cabeça eu reuni toda a coragem que o ego ferido permitiu, a verdade é que meu peito estava doendo por tamanha decepção e disse.

 —  Eu sinto muito, mas não vou aceitar sua proposta. Agradeço tudo o que fez por mim, mas agora preciso ir implorar pelo meu emprego. Um emprego de verdade.

Levantei da cadeira e sai andando rumo a saída do estabelecimento e senti um gosto amargo em minha boca ao lembrar que terei que implorar pelo meu emprego depois do meu sumiço de 3 dias, e agora que estou em um bairro que não faço a menor ideia de onde seja, me vejo perdida, ferida e constrangida por toda a situação que passei.

Como vou superar essa rasteira que acabei de levar? Ingenuamente, achei que Chease seria meu príncipe quando na verdade está querendo me dar dinheiro em troca de minha companhia. Em troca do meu corpo.

Burra.

 —   Vou deixá-la no seu destino, venha. 

Levei um sobressalto quando vejo Chease logo atrás de mim com uma expressão indecifrável em seu belo rosto, se afastando de mim a passos decididos e rápidos e quando não ouve meus passos atrás dos seus, para de andar e me lança um olhar questionador.

  — Você vem ou vai ficar pensando em como fazer para voltar para casa? 

Ele esperou eu responder e então eu murmurei envergonhada, querendo ficar longe dele para não ficar sentindo essa inquietação, e muito menos relembrar o quão iludida eu fui.

— Vou ficar e... 

E sou interrompida pela gargalhada de Chease.

Meu Deus, que risada é essa? 

Meu corpo estremeceu ao ouvir seu riso e quando ele parou de rir, eu arqueei a sobrancelha em dúvida e ele logo respondeu como se entendesse minha expressão.

—   Estamos a 10 km da sua casa, Nina. Venha comigo, por favor. Eu não vou machuca-la.

Ele então sorri e logo começou a andar e sem pensar duas vezes eu o segui.

Durante o trajeto, não conversamos nada. Estava um silencio desconfortável, e eu estava muito incomodada com o rumo que a situação tomou. Eu queria que Chase não me visse apenas como uma “acompanhante” mas não foi o caso e agora meu coração parece mucho pela decepção, sendo retirada dos meus pensamentos, meu celular vibrou e olhando a tela me desespero ao ver uma mensagem no aplicativo que dizia o seguinte.

“ Sua casa já foi alugada e a única coisa que você tem direito a levar é seus pertences pessoais “

Ai meu Deus me ajude.

Fechei meus olhos quando uma onda de tristeza me dominou e então comecei a pensar em uma forma de entrar em contato com o pub, pois não posso ficar sem um teto, na verdade não posso ficar sem emprego também e eu não posso aceitar esse "contrato comercial" que Chease está me sugerindo e só em pensar em ter algo do tipo, meu corpo começa a tremer de pavor, pois sou inexperiente nessas questões sem falar na vergonha que tenho e engolindo em seco, me encolhi no banco do carona. Parece que tudo o que fiz foi captado por Chease que franzindo a testa logo perguntou quebrando o silêncio pela primeira vez.

 —   Você está bem? Está inquieta.  

Tranquei o ar ao ver que ele esta me analisando mesmo sem olhar para mim.

Merda.  

Confirmando com a cabeça eu dou de ombros e respondo sentindo uma pontada no peito.

— Se ser despejada somente com os pertences pessoais é estar bem, então estou ótima.   

Ele comprimiu os lábios e disse franzindo a testa de modo que deixou claro a sua preocupação.

 —  A minha proposta ainda...    

Eu o interrompi antes de terminar sua frase, não quero correr o risco de cair na tentação de aceitar a proposta dele e então eu respondo.

—   Agradeço de verdade a sua"ajuda" mas não consigo fazer isso, Chease, não tenho psicológico para fazer esse papel na sua vida. 

Trincando a mandíbula, o vejo apertar o volante entre seus dedos e assentiu com a cabeça permanecendo em silêncio apenas dirigindo por alguns segundos até que perguntou.

 — Vamos para sua casa então? 

Confirmei com a cabeça e continuei torcendo mentalmente para que dona Marta esteja apenas brincando em já ter alugado meu "apartamento".

— Dona Marta, por favor. Eu fui atropelada e saí do hospital somente hoje, não tenho onde dormir essa noite. 

Eu choraminguei para a senhorinha que aparentemente parece ser um doce mas que na verdade é uma megera malvada e ela confirmando, me olhou feio e murmurou.

 — Eu vou limpar este apartamento amanhã. Essa será a última noite que você ficará. Amanhã cedo não quero encontrá-la aqui, está me ouvindo, Nina? E poderá levar somente seus pertences pessoais como havia lhe informado.

Assentindo e fungando enquanto secava as lágrimas, eu aceitei seu pedido e então ela se foi.

Olhando ao redor da casa, eu me sinto extremamente cansada e impotente, me pergunto por que essas coisas acontecem comigo mas internamente, sei que eu não iria desejar isso nem para meu inimigo e ao me ver tão sozinha, cai no choro até adormecer.

Acordei por volta das 4 da manhã e me levantei e coloquei meus fones de ouvido e comecei a guardar meus pertences pessoais em uma mala, pois é suficiente. Não tenho muitas roupas, não tenho maquiagem e muito menos sapatos e perfumes. O meu tênis que uso agora, comprei em um brechó no qual a vendedora ainda deixou eu levar o calçado faltando 5 reais para totalizar o valor e sou extremamente grata a ela pois apesar de já ter sido usado, esse tênis é extremamente confortável e pode crer, irá me ajudar muito nessa maratona que irei percorrer atrás de uma casa e um novo emprego e que Deus me ajude. Estou muito ferrada.

Ouvindo Ride It, e lembrei da proposta de Chease, e merda, mesmo se eu quisesse, eu não teria como aceitar a proposta dele no momento, pois fiquei sem contato com ele e não saberia como encontrá-lo e com essa confirmação de que fui uma grande idiota, sinto um aperto no peito e decidida, me levanto e término de ajeitar minhas coisas para ir embora e em uma última despedida, olho novamente ao redor do "apertamento" e puxando o ar com força, abro a porta e dou de cara com a dona Marta que estava prestes a girar a maçaneta.

—   Bom dia…

Eu murmuro e antes que eu possa terminar a frase ela me interrompe e diz mal humorada.

—   Ainda está aqui, garota? Desapareça da minha frente. 

E sem conseguir me defender, eu saí correndo rumo a saída com a minha mala em mãos e finalmente permiti com que as lágrimas desçam mais uma vez sem culpa enquanto eu caminho sem rumo pela calçada a essa hora da manhã. Em meio aos meus pensamentos, me perguntando como alguém pode tratar outra pessoa desse jeito? Espero nunca mais encontrá-la na vida.

Comecei a andar pela rua tentando pensar no que fazer, e sentando num banco da praça eu comecei a pensar em um plano que poderia ou não funcionar, e soltando o ar exasperadamente, concluo o pensamento convicta  de que não tenho outra alternativa, não custa tentar aplicar esse meu plano, mesmo sendo tão bobo.

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