2 “Um certo dezembro...”

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“Um certo dezembro...”

Dezembro de 2007...

DEPOIS DE UM LONGO período trabalhando, e trabalhar com advogados nem sempre é fácil por causa dos inúmeros desafios, as leis são tão inconstantes e nem sempre tão justas como deveriam ser, Daiana teve as suas merecidas férias, e nada melhor do que ter férias em dezembro, passar o natal com a família, rever todos os entes queridos, celebrar o ano novo, ter expectativas que no ano que vem será ainda mais maravilhoso do que esse que passou.

Uma das coisas que mais irritavam Daiana no mundo jurídico eram os próprios autores daquele teatro todo, ninguém, absolutamente ninguém conseguia viver longe daquilo, era um ciclo vicioso feito a cocaína...

Ninguém cheira cocaína e não deseja uma segunda viagem como aquela...

Pois se iam a algum restaurante o assunto era a última decisão do tribunal, se iam a um churrasco o assunto era a nova lei tributária, se iam a um casamento existia a roda jurídica que não tinha nenhum assunto diverso daquele, até mesmo aqueles que tentavam fugir do assunto caiam em uma teia de aranha.

— Mudando de assunto, está lendo o que?

— John Grisham.

— Não conheço... quais livros dele você me recomenda?

— Existem vários livros maravilhosos, o advogado, O dossiê pelicano, o testamento, a firma, a delação, justiça a qualquer preço.

Daiana percebeu que estava em um círculo viciado, não dava nem para transar em paz com algum companheiro de trabalho, pois depois que tivesse terminado inevitavelmente o assunto seria alguma coisa voltada à justiça ou o mundo jurídico.

O que para ela seria a coisa mais brochante do mundo, em vez de perguntar se a pessoa gostou, pergunta qual a resolução do caso e o prazo para impetrar uma nova instância.

 Como qualquer pessoa, prometeu fazer uma dieta no dia 1º de janeiro, desde que caísse numa segunda-feira, os dias universais da dieta, não que ela achasse que estava feia, mas como qualquer mulher que se prese, tinha que perder seus cinco quilos extras, e por mais que fizesse academia regularmente e recebesse inúmeros elogios masculinos por onde quer que fosse, ainda sentia que poderia melhorar, transformando o bom em excelente.

E desde que se conhecia por gente seu lema sempre havia sido esse, transformar o bom em excelente, ela nunca pensou na hipótese de transformar o ruim em bom porque não existia a palavra ruim em seu dicionário, ou ela era a melhor ou simplesmente não era.

Ser uma mulher bonita no meio jurídico também era um problema vivido por ela, pois sempre haviam engraçadinhos que tentavam usar aquilo contra ela, e obviamente quem pagava para ver sempre pagava mais do que achava que devia.

— Quer dizer que há um cérebro por trás deste rostinho lindo?

— Além de feio você ainda não tem cérebro?

E EM SEU ÚLTIMO DIA de trabalho naquele ano, despediu-se dos amigos e foi para casa junto com Denise, amiga com quem compartilhava dos segredos mais íntimos que uma pessoa poderia confiar em alguém, eram amigas devotas e confidentes fiéis, era como se tivessem feito o voto que os padres fizeram, mas no caso delas era mais verdadeiro.

— Já sabe para onde vai?

— Quero muito conhecer um lugar completamente novo.

— Brasil?

— Talvez na próxima, não estou em dia com o português.

Elas deram risada.

— Pode ir à Austrália, o clima é um pouco parecido e eles falam inglês.

— É uma boa ideia... vou pensar no assunto.

Estava um entardecer agradabilíssimo, elas sempre foram muito amigas e ambas eram extraordinariamente belas, Denise Wareen Biron, de pele branca e cabelos tão negros e lisos quanto a mais densa escuridão da noite, dona de olhos pretos como jabuticabas, e Daiana Pearson, loira, dona de um corpo esculpido da mais perfeição que uma mulher poderia sonhar, seu apelido de Afrodite na faculdade fazia jus até os dias de hoje, as pessoas entendiam quando falavam que os deuses não envelheciam quando a viam.

Era realmente difícil de acreditar que ela já tinha um filho, por causa de sua pouca idade e por causa da perfeição de seu corpo, mas isso perdia realmente seu valor quando se olhava em seus olhos que brilhavam como a lua, em uma noite em que apenas a beleza da sua majestade no céu devemos admirar, neste caso, já não se sentia mais Afrodite, e sim Ártemis, o que coincidia com seu nome romano, Diana.

Ambas eram guerreiras e defendiam aquilo pelo que lutavam ardentemente, a diferença é que Daiana não fazia questão nenhuma em se manter virgem como suas antecessoras divinas.

Daiana tinha uma beleza que encantava, todos a admiravam por onde passava, pois não era uma bela mulher que se gabava de ser tão linda, era humilde, serena, tratava bem as pessoas, as pessoas se sentiam acolhidos pela sua amizade, Daiana era muito querida em sua vizinhança e em seu trabalho.

— Já sabe o que fará neste fim de ano? – Perguntou Denise.

— Ainda não.

— Sabe que pode ficar em casa conosco.

Daiana sorriu meio a contragosto.

— Sei disso, é muita gentileza sua, mas quero mudar um pouco a rotina, passei por muitas coisas nestes anos.

— Deve ser barra.

— Nada que você não tivesse enfrentado antes.

— Mas no meu caso era tudo um teatro de vocês.

— A vida é um grande teatro, Dê, nós somos às vezes atores principais, outras vezes coadjuvantes e um dia teremos nosso ato final, o que não quero é ficar no mesmo ato até o grand finalle.

— Que possamos sempre fazer grandes finais então.

— Esta é a essência da vida.

CHEGANDO EM CASA, Daiana não imaginava a surpresa que a aguardava, seus pais prepararam uma linda festa surpresa, para comemorar suas férias, pois sabiam mais do que ninguém, o quanto Daiana precisava de umas boas férias, para descansar de toda aquela loucura que sempre vivera naquele escritório, pois não é fácil, à cada audiência as coisas mudam de uma forma quase que incompreensível até mesmo aos maiores sábios, e conviver com aquilo diariamente, tem que ter talento para a coisa.

 Daiana ganhou uma passagem com tudo pago para a Austrália, onde ficaria um mês com tudo pago, foi o presente de natal que seus pais lhe deram.

 — Pai! Não precisava – falou ela com uma voz de extrema alegria.

 — Claro que precisava, minha filha, sempre soubemos o quanto você sempre quis conhecer a Austrália, sempre foi um sonho seu, e agora nos parece a melhor oportunidade para que realize mais esse sonho, sabíamos quando adiantamos a sua herança que enfrentaria grandes desafios com nossa aposentadoria.

 Daiana gritava como uma louca de alegria pela sala, abraçava a amiga que já sabia de tudo, mas escondera a verdade para que não estragasse a surpresa.

 — Fala a verdade, Dê, você já sabia de tudo isso e não me contou não é mesmo?

Denise não conseguiu disfarçar que já sabia de tudo desde o começo.

 — Sabia sim... – sorrindo com todo aquele ar de felicidade, que apenas amigos verdadeiros poderiam ter em momentos assim – Vou sentir saudades de você, vai ser difícil ficar um mês longe de você, nunca ficamos tanto tempo longe uma da outra.

Ela abraçou carinhosamente a amiga.

 — É verdade, Dê, mas ligarei, pode deixar, e voltarei com muitas histórias boas para te contar, quem sabe até mesmo me case nesse um mês – sorrindo de maneira sarcástica, ambas as amigas – Mas vou sentir saudade de todos vocês – falou ela à todos os familiares.

— Agora vai se aprontar, minha filha, seu avião sai amanhã bem cedo, e não queremos que você perca a viagem – falou a mãe, a bela Sr.ª Catarine Pearson.

— Pode deixar, mãe, mas acho que nem vou conseguir dormir, mas quem vai ficar com o Mark? Não quero incomodá-los, qualquer coisa eu pago a passagem e o levo junto comigo, isso não é problema.

 — Pode ficar tranquila, filha, já acertamos tudo, durante a semana nós cuidaremos do pequeno Mark, e de final de semana ele ficará com os pais de John, eles adoram o Mark, fizeram questão de ficar com o neto nos finais de semana, disse que há tempos queriam isso, mas estavam com medo de te pedir.

 — Com certeza não deixaria, afinal, tenho apenas os finais de semana para ficar com meu filho, mas vou sentir saudade do meu bebê.

 — Ele ficará bem conosco, você sabe o quanto nós o amamos.

 — Sim, mãe, eu sei, ninguém melhor do que vocês e os pais de John para cuidar dele, ele pode não ter sido o melhor marido do mundo, mas era um pai dedicado e amável com o Mark, disso não tenho dúvidas, sou muito feliz por ter todos vocês em minha vida – abraçou a amiga

 — Venha, Dê, me ajude a arrumar as malas.

 — Claro, Dai, vamos lá – e subiram as escadas tão rápido como nos tempos de criança.

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