Capítulo Um - O Eclipse

Se pudesse descrever o Inferno, ele seria uma data: 22 de agosto de 2012. O dia em que mostrou seu verdadeiro rosto.

Os gritos de pânico ainda me atormentam, o cheiro de morte ainda me acompanha como se fôssemos amigos inseparáveis. Naquele dia, minha vida mudou, milhares de humanos se transformaram em monstros, tiveram suas almas sugadas e transformadas em criaturas sedentas por carne humana. O Apocalipse era apenas o começo, e seus Cavaleiros se apresentaram um a um, até finalmente surgir a Morte em forma de uma bola de fogo destruidora e imbatível, que foi capaz de mudar para sempre o rumo natural da Terra. A sobrevivência se tornou minha principal meta, e foi o que fiz nesses oito últimos anos.

Sobrevivi!

As redes de comunicações globais simplesmente deixaram de existir. Celulares, Internet, jornais e rádios; pararam de transmitir seus noticiários. O Comunismo e a corrupção deram lugar à luta escassa pela sobrevivência, o que sobrou do Governo passou a suplicar por abrigo. Abrigo que os permita ficarem a salvo do mal que caminhava vorazmente atrás de sua presa...

Aquele dia me mudou, assim como o resto do mundo, que sucumbiu às trevas. Ele me mudou de uma formal anormal e inexplicável. De um lado, tornou-me mais forte e confiante, pois, em tempos de caça, devemos nos tornar o caçador, não a presa; por outro, fez-me perder o que um dia foi importante para mim. A humanidade. Sei que posso parecer louco, mas não confio mais em pessoas. Não depois do que me tiraram, não depois de perder pessoas que amava. Pessoas que me incentivavam a viver, que me ajudavam a levantar quando caía, que me amavam mesmo com toda a merda jogada no ventilador.

Mas isso não importa, não mais.

Sei que devem existir centenas de pessoas contando suas histórias de sobrevivência. E eu não fui diferente. Desde os primeiros indícios de que algo não ia bem, estava ali, de olho, desconfiado de que alguma coisa estava prestes a acontecer.

Espero que um dia encontrem esses manuscritos que tanto me ajudam a manter minha sanidade, e que, um dia, quando essa merda toda acabar, isso possa servir como fonte de inspiração e que possa ajudar - se no caso for - a manter viva a esperança de que podem sobreviver ao que for. E que o mundo é dos vivos, não dos mortos. E, um dia, se Deus quiser, recuperaremos ele por completo. Mas para que você, caro leitor, possa entender todos os acontecimentos, preciso começar do princípio. E é no dia 19 de agosto de 2012 que esta história começou. Que o fim se tornou nossa realidade.

****

Sub. Eclipisia

19/08/2012 23h47min

Manhattan - New York

Lembro-me de ter acabado de chegar da faculdade, ligado a TV e ido assistir o que parecia ser uma coletiva de imprensa. Mais uma vez, o Presidente informaria sobre os infortunosos e exaustivos atentados. Todos já estavam cansados de ouvir que algo deveria ser feito, mas sabíamos que as devidas providências nunca eram tomadas.

Mesmo cansado, resolvi assistir à conferência. Queria saber qual era o resultado da reunião que o mesmo teve com os membros da ONU. Deveriam ter entrado em um acordo, e, finalmente, todo os Estados Unidos saberia as decisões ditas na reunião. Era o que todos esperavam.

O canal transmitia ao vivo a coletiva diretamente da sala de imprensa da Casa Branca.

A câmera nos mostrava o palco central, que estava bem iluminado. O símbolo conhecido do Governo com os dizeres "The White House", pendia em uma parede extremamente azul. O palanque de madeira, no centro do palco, esperava ansiosamente pelo seu orador. Dois microfones perfeitamente simétricos permaneciam imóveis. Tudo estava em perfeita ordem e silêncio. Todos os repórteres atrás de suas câmaras aguardavam calmamente a entrada do presidente na sala. Quando, finalmente, dois guardas bem vestidos entraram e subiram ao palco um show de luzes quebrou a calmaria. A repórter que ditava os acontecimentos avisou aos telespectadores que o presidente entraria a qualquer momento. E foi o que aconteceu. Com um aceno e um sorriso de orelha a orelha, posicionou-se ajeitando a gravata. Olhou para os microfones, e, com uma voz simpática, esbanjando autoridade, disse:

"Boa Noite".

Um burburinho, ao fundo, respondeu-o: "Boa noite, Senhor Presidente".

Acenou mais um pouco, sentindo os flashes cegarem seus olhos, mas, acostumado com o efeito, continuou discursando.

"Como já sabem, todos os principais membros honorários da ONU receberam um convite da Casa Branca para se juntarem a mim, para, enfim, formarmos uma assembleia com o intuito principal de determos os terríveis atentados que sofremos a cada dia. 70% dos membros compareceram. Com uma política aberta. Como uma família que somos. Devemos penar na proteção de cada membro. Protegendo de todas as formas possíveis. E é isso que fizemos. Unimos nossas forças para a proteção de um bem maior, descartando, assim, a minoria. Os 70% do comitê juntaram forças para o banimento - não total, pois sempre há um revoltado que causará problemas - do terrorismo. Vocês devem estar se perguntando: como faremos isso? A resposta é simples. Com a ajuda da população. Como uma grande família, temos o direito de manter nossa cidadania segura. De nos protegemos a qualquer custo. Temos que nos mantermos unidos para que o fim dos atentados fique apenas na história. E que uma nova história seja refeita... E, com isso, poderemos viver em um país onde a paz finalmente reinará. Mas isso não pode simplesmente ficar na promessa. E é aí que os membros da ONU entram. Eles estão se voluntariado a combater (unidos) o verdadeiro mal. Quebrar essa onda eterna de matança. Unidos. Esse é um dos nomes do nosso país, e é assim que acabaremos com o mal. Unidos contra o terrorismo, unidos como uma grande família. Unidos pela paz".

Uma nova rajada de flashes acompanhada de aplausos ecoou pelo ambiente. Ele, o Presidente, acenava e sorria. Assim que o silêncio voltou, ele novamente se pôs a falar:

"Vamos aumentar o fluxo de policiais em aeroportos e lugares movimentados. Haverá uma linha, com atendimento vinte e quatro horas para que qualquer pessoa possa informar algo fora do comum...".

Meia hora depois, ele iniciou a fase de respostas às perguntas dos repórteres. Foram vinte perguntas respondidas, ao total. No final, ele acenou e olhou com seus olhos negros para as câmeras. Em seguida sorrindo como se tivesse esquecido de falar algo voltou aos microfones e comentou:

"É provável que a NASA os informe algo amanhã... Mas gostaria de trazer em primeira mão a vocês..."

Ele parou por alguns segundos, como se procurasse palavras para completar o texto de última hora. Pude notar um certo nervosismo, como se tomasse cuidado para não dizer mais do que deveria. Quando achou que estava pronto, continuou:

"Mas, infelizmente, vou ter que estragar a surpresa", e sorriu. "Na próxima quarta-feira, ocorrerá um grande fenômeno astral. Ele será o maior e o mas incomum. Um eclipse solar total ocorrerá mundialmente, levando beleza aos quatro cantos do mundo. O fenômeno batizado carinhosamente como 'eclipsia' será o eclipse solar mais incomum registrado em bilhões de anos. Mas não sei bulhufas de astronomia.", novamente, sorriu, tentando, desta vez, uma investida divertida. "Em breve, terão mais notícias sobre o evento."

Sob flashes e gritaria, o presidente deixou o lugar, terminando, assim, finalmente, a conferência.

****

Não sabia muito sobre astronomia, mas o fato de o presidente ter anunciado, fora de hora, um fenômeno tão grandioso, deixou-me animado. Aliás, não era sempre que tal fato ocorria. Os jornais do dia seguinte estariam fervendo. O tema quebrou o gelo, pois o discurso chato do Presidente estava quase me fazendo mudar de canal.

Após a coletiva, desliguei a TV e fui me deitar, pois estava exausto. O dia que se passou havia sido extremamente cansativo.

Sub. Algo Errado

20/08/2012 12h30min

Meu nome é Joseph. Fazia, naquela época, quatro longos anos que tinha me mudado do Brasil para Nova York. Tinha ganho uma bolsa na (CUMC) Columbia University Medical Center. O centro médico acadêmico, que inclui a faculdade de médicos e cirurgiões da qual participava.

Tinha dezenove anos quando me mudei para o bairro Chelsea. Era um bairro histórico de Manhattan. O bairro era quase totalmente residencial, com cortiços, blocos de apartamentos, conjuntos habitacionais e seus muitos negócios no varejo; foi um sacrifício encontrar um apartamento que coubesse em meu bolso.

Ainda sentia falta do Brasil, principalmente de minha mãe. Ela ficou tão orgulhosa quando descobriu que iria seguir o negócio da família... Medicina.

Queria poder ter tirado um tempo para visitá-la. Hoje, arrependo-me muito de não ter ido.

****

Dias antes do grande acontecimento, ocorreram dois fatos estranhos, que não chamaram tanto a atenção da mídia. O primeiro foi o imenso recuo das marés de várias praias do globo. Principalmente as do Brasil, o que fez a população ribeirinha ficar alarmada. Muitos pensavam que poderia ser uma amostra de um possível tsunami. Óbvio que o Governo descartou a possibilidade, pois um estudo dizia que uma catástrofe no país tinha a possibilidade de uma em um milhão. Especialistas disseram que o recuo era devido ao fato astronômico de que a lua estava mexendo e alterando as águas marítimas. Explicações fracas para acalmar a população. Dias depois, as águas voltaram com tanta intensidade, que chegaram até às calsadas do Rio de Janeiro.

A segunda, mas não tão alarmante. Foi o fato de que em diversas partes da Coreia do Norte e Japão podiam ser vistas, à noite, intensas auroras boreais que iluminaram o céu. O fato chamou a atenção da comunidade científica, pois era incomum ocorrer auroras na Coreia. Novamente, os especialistas disseram que era apenas um fenômeno incomum, mas não tão raro, pois as auroras se tratavam de plasma resultante das atividades solares, entrando em contato com elementos da atmosfera da terra. Ou seja, uma grande quantidade de plasma fora despejado em nosso planeta, sendo visto, assim, por quase toda a Coreia e Japão. Vale lembrar que esse lindo evento "era" inofensivo para os humanos. Palavras dos especialistas. Mas o ponto a que quero chegar é: o planeta já vinha nos mostrando indícios de que algo não estava bem. Mas como éramos ingênuos as notícias, não dávamos tanta importância.

Quando acordei pela manhã, fui bombardeado por diversos meios de comunicação, sobre o tal eclipse. Todas as emissoras e redes sociais comentavam sobre o evento. Ele era um dos assuntos mais comentados, e seria assim até o dia em que se mostraria para todos.

Nunca imaginei que seria tão comentado, não daquela maneira. Até mesmo minha pobre mãezinha me encheu de mensagens dizendo que a Presidente Dilma também havia falado sobre o eclipse momentos depois da coletiva do Presidente dos Estados Unidos.

Parecia que todos os membros participantes da reunião da ONU decidiram se pronunciar. O mais estranho foi o fato do Japão ter se desligado do resto do mundo. Voos comerciais e informais foram cancelados até segunda ordem. O que acabou gerando murmurinho dentro do próprio Governo dos Estados Unidos. Era óbvio que algo havia acontecido, mas parecia que tudo estava sendo tratado com a mais pura normalidade. As comunicações por telefone e Internet também foram cortadas. O Presidente foi perguntado sobre o fato, mas não tocou no assunto. A mídia não comentou. Mas, ao que tudo indicava, uma briga interna devia ter acontecido, mas era apenas especulação. O ato equivocado estava enaltecendo uma briga contra os outros membros da assembleia. Aquele dia estava pegando fogo.

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21/08/2012

22h45min

Osegundo dia havia sido mais tranquilo. O Comandante japonês se pronunciou através de um vídeo liberado na Internet. Nele, ele lamentava pelo isolamento, e que o país se recusaria a ajudar um tirano como o Presidente dos Estados Unidos. E continuou dizendo que todo o país continuaria em total sigilo, e ficariam assim por tempo indeterminado. Sem dizer mais nenhuma informação, finalizou dizendo: "Deus abençoe a América". A definição de calmo cessou assim que o vídeo foi se propagando em todos os cantos da mídia. Milhares de especulações foram criadas, mas a suspeita de desentendimento naquele momento era a mais forte. Nenhuma informação foi dada por nenhum dos governos. Pareciam indiferentes com o assunto.

****

Estava muito escuro enquanto dirigia da faculdade até meu apartamento. Eram poucos minutos de carro, mas, mesmo assim, sempre acabava perdendo um precioso tempo preso em um dos trânsitos diários da cidade. Sempre me perguntei o porquê de não pegar um metrô. Chegaria muito mais cedo em casa, além de aproveitar o tempo para estudar. Na realidade, adorava dirigir por Nova York. Amava apreciar cada esquina das maravilhosas ruas lotadas de pedestres e táxis correndo para lá e cá, como se tudo fosse uma tremenda festa interminável de sons e cores misturadas. Onde não havia etnia, raça e cor. Todos eram iguais. Adorava aquela igualdade, que somente a cidade me proporcionava.

Estava na entrada da garagem subterrânea do prédio. Eram 13 andares lotados de moradores e aposentados vivendo suas vidas. Tudo parecia normal, até notar uma mulher parada em frente ao meu carro. Era a Dona Maria, vizinha do apartamento andares a baixo do meu. Ela não batia muito bem, e sempre arrumava confusão para sua filha. Sempre perambulava pelas ruas do bairro, onde muitas das vezes corria pelada pelos corredores do prédio, cantando músicas que somente ela entendia.

Naquele exato momento, a mesma estava parada encarando o vidro do carro, como se tentasse reconhecer o motorista, que, no caso, era eu. Seus cabelinhos brancos balançavam ao gélido ar de uma noite fria. Sabendo que não sairia da frente por conta própria, abri a janela e perguntei, tentando ser gentil:

- Dona Maria, a senhora poderia, por gentileza, dar licença?

Para minha decepção, ela não deu nenhuma resposta. Ficou imóvel, como se não fosse com ela. Vendo que nada adiantaria, abri a porta do carro e desci, sentindo o frio que estava no ar. Fui até sua direção, reparando em sua pele arrepiada. Usava finas roupas de dormir, mas parecia não se incomodar com o frio. Ficou me encarando enquanto me aproximei. Gentilmente, peguei em seu braço fininho e murcho, e tentei levá-la para longe do carro.

- Vamos, senhora, sua filha deve estar preocupada.

Ela parecia não entender, ficou me encarando novamente enquanto segurava seu braço. Lembrei-me que devia ter o número de sua filha gravado em meu celular. Na última reunião sindical, a própria filha havia passado o seu número para todos os moradores. Ela sabia que sua mãe, um dia, acabaria causando problemas, saindo sem permissão e incomodando os vizinhos. Se estivesse certo, seu número estava na agenda.

- Vou ligar para sua filha vir buscar a senhora. Está bem?

Novamente, ficou imóvel, sem reproduzir nenhum som.

Caminhei até o carro, e, quando ia abrindo a porta, um susto acompanhado de um calafrio me pegou de surpresa. A senhora estava atrás de mim, segurando, desta vez, em meu braço com toda sua força. Me virei assustado com sua investida. Olhei para seus olhos negros arregalados que me encaravam, desta vez, como um verdadeiro psicopata.

- Senhora... - indaguei, assustado.

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ela me interrompeu, dizendo frases sem sentido algum.

- Vamos morrer... Vamos todos morrer... Minha avó me contou sobre este dia...

Tentei me soltar, mas parecia indisposta. Parecia querer que escutasse tudo o que tinha a dizer. Não via a hora de me livrar de suas garras, subir para o meu apartamento onde teria uma cama quentinha e sossegada me esperando. Mas ela não desistiu, continuou a dizer frases que eram sem sentido para mim.

- Que o sol encontraria com a lua, e tudo acabaria...

- Senhora, vou chamar sua filha.

Ela continuou apertando meu braço com cada vez com mais força. Com um puxão, tentei me livrar. E havia conseguido. Sem perder tempo, abri a porta do carro e rapidamente peguei o celular, jogando-me no banco e fechando a porta, deixando-a sozinha do lado de fora. Ela, porém, continuava a dizer as frases sem sentido.

- Você não pode sair de casa amanhã. Se proteja do eclipse... Eles estão mentindo, é tudo mentira... Todos vão morrer, todos que verem o eclipse...

No fim da frase, distanciou-se tão rápido, que sumiu de vista, misturando-se à escuridão do ambiente. Assustado e sem entender o que tinha acontecido, coloquei o carro dentro da garagem e subi de elevador até o décimo andar. As palavras de Dona Maria ainda estavam frescas em minha mente me seguindo e me amedrontando.

Sub. O Apagão

21/08/2012 23h35min

Assim que cheguei em meu apartamento, ainda podia sentir a adrenalina percorrer meu corpo. Não era sempre que uma senhora me assustava daquela forma. Ainda pensando nas frases sem sentido, joguei todo o material e a bolsa no sofá mais próximo e fui direto para o banheiro. Queria tirar todo o estresse do dia com um bom e demorado banho, mas, mesmo querendo, não conseguia tirar a voz da senhora de minha memória. Ela parecia convencida de que o eclipse mataria todos. E quem é que estava mentindo? Tirando a roupa, liguei a TV. A âncora do jornal ditava uma matéria importante sobre a proteção dos raios UVs. Ensinava como proteger os olhos no momento do eclipse. Seus cabelos ruivos balançam naturalmente a cada movimento de sua cabeça. Seus olhos verdes acompanhados de um sorriso combinavam com seu rosto simétrico. Ela parecia apreciar o que ensinava ao público. Seu nome era Jhenny. A âncora que me encantava todas as noites com sua beleza e inteligência.

Deixei a TV ligada e fui tomar banho, ouvindo as notícias. Parecia que todas as atenções estavam remotamente ligadas ao eclipse, e como o evento seria no dia seguinte, precisavam informar à população sobre todos os detalhes. Ouvi que o Central Park seria o palco ideal para o vislumbre do fenômeno. Centenas de pessoas fizeram multidão nas redes sociais para se encontrarem no mesmo local. Outra notícia que chamou a atenção foi o fato de continuarem sem notícias do Japão. Realmente, o país estava isolado do resto do mundo. Famílias dos imigrantes não tinham contato com os familiares há dias, o que estava começando a preocupar o governo, mas, mesmo assim, recusaram-se a se pronunciarem. Todos queriam saber o porquê de o Comandante ter chamado o Presidente de tirano. Mas, mesmo com a pressão do público, nada disseram.

Já passava da meia-noite, e ainda estava no chuveiro. Precisava daquele momento, sentir a água quente percorrer por meu corpo me relaxava. Foi nesse meio tempo que pude notar o silêncio. A primeiro momento, pensei que a TV tivesse desligado sozinha, mas não era nada disso. A água quente também tinha mudado, dando lugar a uma extremamente fria, o que me despertou. Abri os olhos, achando estranha a mudança repentina de temperatura. Olhei ao redor e pude perceber que estava às escuras. Era um apagão.

Peguei a toalha e me enrolei, tomando cuidado para não escorregar. Caminhei sentindo o piso gelado em meus pés. Fiquei assustado quando olhei pela janela que dava para uma visão privilegiada do centro de Manhattan. Todas as luzes da cidade estavam apagadas. Assustado, procurei por meu celular. Encontrei-o e notei que estava sem nenhum sinal.

- Que merda está havendo?

Voltei à janela, apavorado, pois as palavras da Dona Maria surgiram em minha mente para me atormentar. Olhei para o céu à espera de algo fora do normal, mas não tinha nada de errado com ele. Apavorado, corri, iluminando o local com a fraca luz do celular. Estava com medo de um simples apagão. Fechei os olhos tentando me acalmar, mas a voz da senhora parecia falar mais alto. Quando o desespero parecia me consumir, tudo simplesmente voltou ao normal. O som da TV soou novamente em meus ouvidos. A luz também iluminou o local, acalmando-me aos poucos. Corri até a sala e fiquei na frente da TV. Esperava que informassem sobre o apagão, mas não chegaram a tocar no assunto, não houve uma única menção a ele.

"Mas que merda estava acontecendo?", perguntei em pensamento.

Será que estava acontecendo? A senhora estava certa?

Me acalmei, desliguei a TV e fui me deitar. Aliás, o dia seguinte seria o grande dia. O dia que o grande fenômeno mostraria sua face.

Sub. O Grande Esperado

22/08/2012 11h20min

Finalmente, o grande dia tinha chegado. Faltava apenas menos de uma hora para o tão aguardado eclipse. Naquela manhã, resolvi não sair de casa. Assumo que estava apavorado com a conversa da Dona Maria. Tive pesadelos pelo resto da noite, mas o que me deixava ainda mais maluco era o fato do apagão nem ter sido mencionado nos jornais. O que me fez perguntar se realmente aconteceu. Não podia um apagão não ser notado. Alguma coisa tinha, e cheirava muito mal. Não me conformava com aquela situação.

Continuando. Resolvi faltar no emprego e na faculdade. Não gostava de deixar meu chefe na mão, mas algo me dizia para ficar em casa. Depois que tudo voltasse ao normal, me dedicaria ao máximo na faculdade e trabalho.

Estava em minha cama, enrolado dos pés à cabeça, assistindo à TV. Ela me manteria informado e me atualizaria sobre o eclipse. Não o veria ao vivo. Não tive a coragem de sair, não depois que Dona Maria me amedrontou com suas palavras. Só podia estar louco, estava mesmo​ acreditando nas palavras de uma velha lunática? A resposta era sim. A frase "Todos iremos morrer", ou "Fique em casa no dia do eclipse" martelavam frescas em minha mente.

Você pode até me achar um covarde, e realmente era, mas, no fundo, algo parecia cheirar mal.

Com a TV ligada, poderia ver o evento ao vivo sem sair de casa. O que era muito bom. Enquanto assistia, algo me chamou a atenção. Não era Jhenny quem apresentava o jornal. Fiquei desapontado. Lembro-me que ela estava tão animada para apresentar o evento...

Ela tinha dito que cobriria ele ao vivo, diretamente do Central Park. Algo devia ter acontecido. Foi uma pena, pois adorava ouvir sua voz.

O vídeo mostrava um imenso aglomerado de pessoas sorridentes olhando para os céus com seus óculos especiais. Enquanto a repórter substituta parava pessoas para entrevistar, fazendo a mesma pergunta inúmeras vezes para várias pessoas.

"Como está se sentindo à espera de algo nunca imaginado?"

Alguns respondiam animados e ansiosos:

"Incrivelmente animado e anestesiado de ansiedade. Como posso não sentir alegria? Aliás, todos os olhos do planeta o verão."

"Isso soou bíblico."

"Sim, eu sei... Mas é mágico, e, realmente, todos irão ver. Não tenho dúvidas."

Enquanto isso, imagens de diversas partes do globo eram vistas na tela. Mostrando a mesma cena. Centenas de pessoas esperando o maior fenômeno astral que a Terra veria. Até mesmo a Coreia estava amontoada a espera. A única diferença era que lá o eclipse seria um pouco diferente devido ao fuso horário. Neste país o eclipse seria lunar, mas o fato não desanimou o país. Todos pareciam animados como os demais.

Faltava poucos minutos para começar. A câmera mirada no céu mostrava um imenso e majestoso sol amarelado que brilhava grandiosamente em seu imenso mar azul. Felizmente, o clima estava ajudando, pois nenhuma nuvem estampava o céu. O sol era exclusivo e ficou assim até finalmente o início do eclipse.

Que começou com aplausos e urros de comoção.

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