Capítulo 5

Clara

Quando nos aproximamos da casa de Estevão, sinto o frio na barriga aumentar. Não sei por que sinto-me tão nervosa... Se é pelo Bernardo ou por tudo o que vivi aqui. Olho para o Henri e vejo-o muito atraente em seu terno preto, seu cabelo ainda está molhado e a barba perfeitamente feita, ao olhar para mim sorri e pisca passando-me confiança, sinto-me muito grata por isso. O segurança sorri assim que desço do carro, fazendo com que eu me sinta de certa forma especial.

— Srta. Andrade é muito bom vê-la bem. - Cumprimenta-me e eu sorrio vendo a sinceridade em seus olhos.

— Muito obrigada. - Digo ainda sorrindo.

Deixo que leve o carro e fico ao lado de Henri, ele sorri e coloca o meu cabelo atrás da orelha. Sinto-me diferente com ele... É como se eu fosse atraente e inteligente, imagino que se ficasse com ele, não olharia para mais ninguém e isso é... Bom... Isso é tentador.

Estou usando um vestido preto longo apertado em meus seios com um decote discreto e um pouco folgado até os pés, vejo que combina perfeitamente com os meus sapatos de salto deixando-me mais confiante.

— Ele a olha como se fosse dele, me mataria se pudesse. - Comenta meu amigo como se falasse consigo mesmo. Sigo a direção de seus olhos e vejo Bernardo um pouco distante de nós, próximo ao jardim. Paro de respirar assim que nossos olhos se encontram, mesmo que eu tentasse respirar não conseguiria, pois sinto que o ar desapareceu. Ele está usando um terno cinza, seu cabelo está desgrenhado fazendo com que eu sinta vontades que com muito esforço ignorei o dia inteiro... Vontade de ser dele, apenas dele.

Mesmo esforçando-me não consigo desviar o olhar, seus olhos sombrios parecem me controlar e adoraria ser controlada por ele.

Quando finalmente o ar retorna ao meu rosto respiro lentamente enquanto ele se aproxima, a forma como ele anda mostra que controla tudo ao seu redor, desejo os braços fortes dele envolta de mim penso nisso ignorando completamente que Henri está ao meu lado. Assim que fica mais próximo de nós sinto que despertei.

— Só um caso sem importância. - Comenta o caro ao meu lado sarcasticamente. — Dá pra perceber isso enquanto vocês transam com os olhos. - O encaro e vejo que sorri, belisco o seu braço delicadamente.

— Finalmente chegaram. - Diz Bernardo rispidamente assim que para ao nosso lado. Ele cumprimenta Henri com um aperto de mão demorado, eu não sei o que isso significa, mas parece que se desafiam. O Be é um pouco mais alto do que ele, portanto meu amigo ergue o olhar para encará-lo.

— Boa noite Sr. Azevedo. - Digo interrompendo-os. Se afastam e Bernardo vem até mim, puxa-me para o seu lado e beija o canto da minha boca.

— O meu nome é Bernardo. - Sua voz é um sussurro fazendo com que só eu o ouça, seu hálito quente faz com que eu sinta arrepios em todo o meu corpo.  A distância entre nós aumenta enquanto vai em direção a casa, após alguns passos para de olhar para mim deixando-me desnorteada e constrangida.

— O que foi isso bebê? - Pergunta Henri, sinto a ironia em sua voz e não posso deixar de sorrir. Pisco para ele e comento.

— Isso foi as “boas vindas”. - Digo e faço uma careta. Vejo-o sorrir e nós começamos a caminhar em direção a porta.

Entramos na casa e percebo que não tem muitas pessoas, apenas os mais próximos do Estevão e de Betina, sinto-me mais confortável com isso, mas esse sentimento muda quando vejo Bianca, ela não parece próxima de ninguém e por um curto momento sinto pena até que ela me encara e vejo a raiva em seu olhar. Meu amigo é muito sensitivo quando se trata de mim, e segura minha mão enquanto entramos.

— Fico contente em vê-los. - Exclama Cassandra ao se aproximar. Matheus a acompanha e parecem muito felizes, sei que estão realizando um sonho e não deixo de me sentir feliz por eles.

— Estão aqui faz muito tempo? - Indago enquanto os abraço.

— Não, faz alguns minutos apenas, mas falta gente jovem aqui. - Comenta Matheus e todos rimos enquanto Cassandra dá uma cotovelada nele.

Andamos pelo salão, percebo que a casa está diferente, não parece mais a sala, os móveis que havia ali desapareceram dando lugar a um espaço perfeito para uma festa. Trata-se de um espaço muito iluminado com uma música de fundo aconchegante. Deixo-os em uma das mesas e vou procurar aqueles que tanto amo e admiro.

Caminho lentamente cumprimentando as pessoas que conheço a tanto tempo, é como se eu sempre tivesse feito parte dali. Falo com todos com afeição dando a eles a oportunidade de desabafar caso precisem. Não vi mais o Bernardo e isso me ajuda a ignorar o que me fez sentir apesar de querer vê-lo desesperadamente. Quando avisto o Senhor e a Sra. Fernandes aproximo-me apressadamente com um enorme sorriso no rosto.

Já ao lado deles recebo um abraço apertado daquele que é meu chefe, pai e amigo. Neste momento recordo-me de tudo o que já fez por mim e tento disfarçar a emoção.

— Clara querida, estava ansioso por vê-la. - Diz assim que nos afastamos abraço Betina antes de virar-me para ele.

— Também estava com saudades, fico contente por vê-los bem. Eu pensei que seria apenas um jantar. - Comento e todos começamos a rir.

— Inicialmente seria, mas eram tantas pessoas para convidar que resolvemos pela festa. - Explicou-se minha grande amiga. Percebi que estavam diferentes, pareciam... Bem, eles pareciam... Felizes.

— O Bernardo comentou que vão viajar. - Falo tentando parecer despreocupada.

— Vamos sim, mas não será definitivo, não por enquanto. - Eles se olham apaixonados e sorriem. Sinto-me envergonhada, mas o Estevão continua sem ao menos perceber. — A casa ficará vazia por um tempo, mas voltaremos e quando tudo estiver em ordem iremos embora por um tempo indeterminado. - Sinto o meu coração disparar imagino para onde o Be iria e porque não havia me dito nada referente a isso. Tento disfarçar o meu espanto não quero que percebam, mas não deixo de perguntar.

— Eu não sabia que o Sr. Azevedo iria com vocês. - Digo tentando parecer desinteressada.

— Ele não irá conosco, ao contrário está de mudança. - Esclarece Betina despreocupada.

— Ele será praticamente o seu vizinho. - Acrescenta Estevão. Eu sorrio para eles e me afasto imaginando o que isso significa.

Vou em direção aos meus amigos e vejo que Bernardo e Bianca estão com eles, não ignoro que Henri parece à vontade, se não o conhecesse iria acreditar que está adorando o assunto. Sento-me ao seu lado e sorrio vendo que parece aliviado.

— Está se divertindo? - Indago enquanto ergo uma sobrancelha, ele me encara confuso e sorri.

— Você não faz ideia. - Pisca para mim e eu sorrio ainda mais. Sinto-o colocar o meu cabelo atrás da orelha novamente e em seguida bebe mais um gole de sua bebida, não deixo de sentir os olhos do Bernardo em mim e sei que estão sombrios.

— E então Bernardo o apartamento já está pronto? - Ouço a voz do Matheus e me controlo para não os encarar, mas sei que o Be percebe minha atenção.

— Sim, terminei de levar as minhas coisas hoje. - Responde parecendo interessado, após alguns minutos direciono o meu olhar para eles.

— Vai ter festa de comemoração? - Pergunta Cassandra e eu não deixo de sorrir.

— Podemos marcar algo, não uma festa, mas algo legal para nós apenas. - Eu o encaro, sem saber se me encaixo em “nós”, ele me encara e não gosto do que vejo... Seus olhos tristes.

— Isso já é alguma coisa, não? Adoro festas, jantares, encontros... - Vejo Cassandra rir enquanto Matheus tenta tampar sua boca, não deixo de rir com esse gesto.

Bianca não expressa nenhuma emoção, ao contrário. Sinto-a triste e distante, desconfio que não está realmente aqui.

— Vocês já sabem onde será a lua de mel? - Indago e vejo que minha “inimiga” acorda para me olhar.

— Não pensamos nisso ainda. - Responde Matheus com um grande sorriso nos lábios.

— Seria a primeira coisa que eu pensaria. - Brinco e vejo que ambos se olham cumplices.

— Para onde iria? - Pergunta Bernardo, fazendo todo o meu corpo lembrar de que ele está ali tão próximo a mim e que não posso tocá-lo, sinto-me impotente.

— Não sei, mas escolheria um lugar novo. - Digo, após pensar um pouco e vejo que ele apenas aceita a minha resposta. Fico feliz por isso. Olho para Cassandra e a encaro e vejo-a desviar o olhar, sei que irá aprontar algo.

Algumas coisas são servidas em nossa mesa e começamos a comer, a conversar surge de forma descontraída e quando percebo estamos todos rindo, impressiono-me como o Henri e o Bernardo parecem se dar bem e sinto-me feliz por isso. Apenas Bianca parece infeliz, mas resolvo não me preocupar com ela.

— Vocês tinham que ver como as vendas aumentavam na época e o meu pai nem percebia que eu saia com as cliente. - Ouço as gargalhadas após as confissões do Henri e não consigo me controlar.

— Você é como um prostituto. - Exclamo e ele me encara divertido.

— Eu era, isso foi a muito tempo engraçadinha. - Diz e bate em meu ombro com o seu, fazendo com que eu me desequilibre por algum tempo, depois rimos.

— Acreditamos nisso, vendo esse seu rostinho de princesa. - Provoca Matheus fazendo com que as risadas não cessem.

— Posso patrocinar se quiser, vai fazer sucesso com as madames daqui. - Completa Bernardo e pisca antes de voltar a rir. Sinto um calafrio por todo o meu corpo ao olhar para ele, vendo o sorriso em seu rosto ao invés da tristeza, mas sei que quando me encarar seus olhos estarão sombrios.

— Engraçadinhos. - Ele finge não gostar da brincadeira. — Vamos lá quem irá contar o próximo podre. - Instiga a todos e nós encaramos por um tempo, eu permaneço em silêncio e me impressiono quando Cassandra se oferece.

— Certo, vou contar um dos meus se o Matheus prometer não desfazer o noivado. - Todos se olham assustados e começamos a rir.

— Ele não fará isso, não importa o seu “pecado”. - Digo dando ênfase na palavra pecado e fazendo com que todos continuem sorrindo.

— Ok. Eu devia ter uns dezessete anos e... Bom... Eu fingia que ia sair com os garotos da escola se eles comprassem alguns doces para mim. Consegui fazer isso durar por um bom tempo. - Ela ri constrangida e todos caímos na gargalhada.

— Você os enrolava? - Pergunto tentando parecer incrédula.

— Sim, bom... Um pouco acho. - Vejo-a mexendo no cabelo constrangida.

— Não acredito nisso amor. Coitados. - O Matheus finge decepção e o Henri e o Be não conseguem parar de rir.

— Parem de me julgar. - Diz envergonhada e rimos ainda mais.

— Minha vez. - Anuncia Matheus. — Vou ser breve e não quero que me julguem. Fez um pouco de suspense e começou sua história. — Quando conheci a Clara estava bêbado e a pedi em casamento. - Eu me engasgo com a minha bebida e vejo que todos estão sérios, apenas Cassandra ri e não sei se é real ou apenas porque está nervosa.

— Ele me contou. - Olho para o Matheus e pisco vendo seu semblante vermelho.

— Foi engraçado aquele dia, ele foi carregado por alguns amigos em Joinville. - Digo e todos rimos.

— Eu estava lá, ele até cantou foi hilário, fiz um vídeo olhem aqui. - Conta Henri. Vejo que o meu amigo está cada vez mais vermelho e não seguro minha risada. O florista mostra o vídeo e me impressiono ao ver o Bernardo rindo. Realmente está muito engraçado e todos nos divertimos enquanto o Matheus nos encara fingindo indignação.

— Cara apaga isso. - Pede e vejo que quer rir, mas se controla.

— Nem pensar, vamos exibi-lo no seu casamento. - Ameaça e todos rimos novamente sentindo a noite descontraída alegrar a todos.

E foi com essa energia descontraída que recebi o convite que me emocionou.

— Quem fala amor, eu ou você? - Indaga Cassandra e vejo que se olham como cúmplices.

— Não sei, quer questioná-los? Acho você mais persuasiva. - Eles riem e se beijam, nós o encaramos confusos.

— Do que estão falando? - Indago curiosa.

— E então vamos falar juntos? - Matheus está se divertindo.

— Vão falar ou continuaram no suspense? - Escuto Bernardo, culpando-me por me sentir tão nervosa só por ouvir sua voz.

— Eu falo amor, eles parecem desesperados. - Cassandra sorri e lhe dá mais um beijo antes de olhar para nós. — Bom... Eu e o Matheus conversamos e achamos que essa é a melhor decisão... Nós... Nós queremos convidar você Clara e o Bernardo para serem nossos padrinhos. - Ela faz uma pausa deixando que assimilemos suas palavras. — Não existem pessoas mais perfeitas, nós... Amamos vocês. - Ela sorri e vejo que Matheus segura sua mão parecendo tão nervoso quando ela. Eu olho para Bernardo e vejo que me encara deixando-me ainda mais nervosa. Ela com todo o seu controle é o primeiro que fala sem tirar os olhos de mim.

— Será uma honra para mim. Obrigado por este convite. - Ele ainda me encara e por alguns segundos perco-me nos olhos dele. Quando consigo falar ainda não consigo desviar de seu olhar.

— Eu não me perdoaria se recusa-se essa convite. Aceito com muito orgulho. - Nós ainda nós olhamos, mas desviamos o olhar rapidamente e nos levantamos para abraçar os noivos. Meus noivos preferidos.

Eles estão tão felizes e sinto-os emocionados. Henri também parece animado e todos nos abraçamos e rimos, mas alguém ali não parece feliz e eu havia me esquecido dela até aquele momento.

Bianca se levanta brutalmente, o que vejo em seu olhar é um ódio tão profundo que chega a doer. Ela fixa os olhos em mim e sinto que deseja me matar, instantaneamente sinto os braços do florista em volta de mim para me proteger, vejo-a respirar fundo sem fazer nenhuma som, parece um animal quando mexem em sua ninhada. Não me mexo e não desvio o olhar, não sinto medo dela, sinto... Pena. Parece tão perdida em sua dor. Anda delicadamente até se aproximar de mim e desvia feito um robô deixando todos assustados.

— O que aconteceu com ela? - Indaga Cassandra um tanto confusa.

— Ela estava nervosa amor, fiquei com medo que ela passasse mal. - Escuto Matheus, mas todos parecem tão longe.

— Achei que fosse matar a Clara. - Comenta Henri.

— Com aquele olhar ela conseguiria. - Acrescenta Cassandra.

Eu não me importo com o que dizem, o único que me importo é o que permaneceu em silêncio. Vejo a confusão em seu olhar, como se já tivesse passado por isso. Seus olhos encontram os meus e posso sentir seu desespero, vejo a escuridão voltando para aqueles lindos olhos negros e sei que por enquanto não sairá de lá.

— Desculpe pessoal, tenho que ir. - Diz sem nos encarar e sai apressado e isso dói, como um corte feito lentamente dentro de mim, porque eu sei que ela sempre estará entre nós.

O Bernardo não retorna após a cena em que a Bianca pareceu tão transtornada, porém isso não atrapalha a nossa noite permanecemos conversando e com o tempo tudo o que ocorreu naquele momento é um passado tão esquecido como algo que aconteceu quando éramos crianças.

Depois de algum tempo e muitas bebidas resolvo dar uma volta e me levanto animada. Ignoro as coisas que acontecem ao meu redor, vejo algumas pessoas conversando e tirando fotos e por motivos que desconheço sinto-me mais animada.

Resolvo ver o meu antigo quarto, o que foi meu por pouco tempo, mas um período suficiente para me sentir querida e segura. Subo as escadas tentando ignorar qualquer som ou comentários que não diziam respeito a mim e tento por um período curto esquecer as minhas melhores lembranças dessa casa, aquelas em que estou nos braços dele... Do homem que fez com que me perdesse com que voasse ao seu encontro mesmo sem querer. Entro no quarto e percebo que está praticamente do jeito que deixei e sinto um arrepio percorrer o meu corpo quando lembro o que fizemos naquela cama.

Deixo a porta aberta e entro lentamente, quando chego à cama sento-me e a acaricio como se pudesse de alguma forma tornar todas as memórias vivas por minha vontade, pela necessidade de senti-lo, como se alisar aquele doce e macio lençol fosse me devolver todo o prazer.

Algo me tira do meu devaneio, sinto o seu olhar antes de ouvir a porta bater, sua respiração está alta como se transbordasse um sentimento impossível de calar. Respiro fundo e viro-me sabendo de certa forma o que irei encontrar, sei que não é bom, mas ainda não é o pior... Vejo os seus olhos colados em mim, sei que me odeia não conseguiria negar nem se quisesse. Olho-a profundamente e levanto ainda mais a cabeça mostrando que não me amedronta, ela vem em minha direção lentamente.

— Como consegue ser tão manipuladora? Acha mesmo que irá roubar tudo de mim? - Eu a encaro, essas indagações me deixam confusa, não compreendo o que significam.

— Não tenho medo de você Bianca, não me importa o que diz. - Afirmo enquanto ela se aproxima não me movo.

— Claro que não tem se pelo menos me conhecesse... Clara querida vou mantê-la longe de todos. Você nunca será feliz. - Ameaça, parando em minha frente. — Irá. Pagar. Por. Tudo. O. Que. Me. Fez. - Diz esta última frase dando ênfase em cada sílaba, eu a encaro confusa.

— Não compreendo. - Digo. — O que fiz para você? - Pergunto e vejo sua transformação, seus olhos cada vez mais arregalados, enquanto sua boca abre gradativamente, sua expressão transforma-se em um completo horror que muda ligeiramente para um sorriso diabólico. Sua gargalhada me assusta.

— Então você não sabe o que fez? - Grita quando a risada começa a cessar, mas de repente sua gargalhada aumenta e eu percebo que estou lidando com uma pessoa completamente descontrolada. — Sua cínica. - Grita ainda mais. — Não serei enganada como eles são, vou acabar com você. - Diz aproximando-se ainda mais de mim, porém o que me surpreende é ver os braços em volta dela, impedindo-a de me atacar.

Dou um passo para trás encostando um pouco na cama, neste mesmo momento vejo-a se debater enquanto Bernardo surge entre nós.

— Bianca o que está fazendo? - Indaga confuso. Sua voz é como um sussurro.

— Você não percebe? - Pergunta parecendo outra pessoa, sua voz se torna doce, totalmente dissimulada. — Ela me odeia Bernardo. - Diz parecendo desolada.

— Para de mentir Bia, eu ouvi. Escutei tudo o que disse. O que ela fez para você? - Ele parece perdido e sinto-me segura com ele ao meu lado, surpresa por ver que realmente está ao meu lado.

— Você está contra mim, não é? Ela o incentivou a me odiar. - Vejo as lágrimas escorrendo pelo seu rosto, lágrimas que não me seduzem, elas mostram como a falsidade é imensa.

— Eu não fiz isso. Pare de me acusar. - Digo rispidamente, mas ela não me ouve. Ela parece um animal quando vê o dono. Está presa em Bernardo e percebo neste momento que ela necessita dele, como precisa do ar para estar viva.

— Bia escute, deixe a Clara em paz. Por favor, ela não odeia você. - Sua voz está suave, isso faz o meu nervosismo aumentar. Ele percebe, como se sentíssemos a mesma coisa, como se fôssemos um único ser. Sinto-o segurar minha mão e acariciá-la, os olhos dela encaram esse gesto e vejo o ódio crescer em seu olhar.

— Você a escolheu? - Indaga alterando o tom de voz.

— Não tenho que escolher ninguém. - Ouço-o se defender e definitivamente não queria ser ele.

— Não minta para mim. - Ela grita e eu agradeço o som alto, não quero que ninguém ouça isso.

— Nós somos amigos, nunca irei abandoná-la. E a Clara... Bia, eu... Me perdoe... Estou apaixonado por ela. - Ao ouvir essas palavras, sinto o nervosismo crescer dentro de mim. Olho para ele, mas seus olhos estão grudados nela que chora desesperadamente. Vejo-a sair do quarto apressada e ela não o acompanha, fica imóvel ainda segurando minha mão, eu o acaricio desejando que se sinta melhor.

— Desculpa Be... Eu... Não queria isso. - Digo por mim, sentindo-me envergonhada. Ele me encara e parece mais calmo.

— Ela é complicada, mas ficará bem. Estou acostumado com isso, é assim desde o início. - Ele se aproxima de mim, sem soltar a minha mão e sinto sua respiração acelerar ao mesmo tempo em que sinto que vou cair. Essa sensação é devido ao que ele me faz sentir. Sinto todo o meu corpo pedindo por ele, como necessito de alimento, respiro fundo e tento me controlar, mas sei que isso é inútil, ouço minha respiração mais alta e mais forte, ele se aproxima ainda mais, seu corpo é como um imã para o meu e estou cada vez mais ligada a ele.

Todo o meu corpo se arrepia conforme ele chega mais perto, mais próximo, nossa respiração está irregular e a forma como ele olha para a minha boca faz com que eu o deseje ainda mais.

Ele não solta minha mão e utiliza a outra que está livre para acariciar o meu cabelo, de um jeito doce e protetor, mas isso muda de uma forma tão rápida que faz com que eu perca ainda mais as barreiras que demorei tanto tempo pra construir, suas mãos seguram o meu rosto e sua boca toma a minha de uma maneira que achei que nunca seria capaz.

Ele lambe delicadamente o meu lábio inferior sinto-o morde-lo de uma forma deliciosa, depois o beijo fica mais intenso e nesse momento eu sei... Sei que por mais que eu lute sempre serei dele.

Quando paramos de nos beijar vejo afastar-se um pouco e quando os seus olhos me encaram sinto a doçura brilhando dentro deles.

— Acho melhor descermos Senhorita. - Convida com um sorriso travesso nos lábios.

— Tem certeza? Aqui está tão bom. - Digo ao me aproximar e acariciar o seu abdômen.

— Pare com isso Clara, caso contrário não respondo por mim e se acontecer algo não a deixarei ir embora. - Ele sorri fazendo-me sentir um constrangimento gostoso, daqueles que só se sente quando existe confiança no sentimento da outra pessoa.

— E se eu não quiser ir embora? - Ele me encara e me deparo com aqueles olhos sombrios que faz eu me apaixonar todas as vezes que o sinto colados em mim.

— Então, neste caso fique. - Vejo que não está brincando, mordo o lábio enquanto ele me encara, o arrepio volta a percorrer o meu corpo e desejo que seja apenas ele que faça eu me sentir desse jeito, quando noto que serei beijada novamente, escuto a porta sendo aberta, nos afastamos instantaneamente assim que Estevão entra.

Fico em silêncio enquanto os nossos corpos se afastam, minha respiração está silenciosa, mas isso não significa que estou mais calma e pela expressão nos olhos de Bernardo sei que também se sente apreensivo.

— Acredito que hoje não é dia de falar sobre trabalho.  - Escuto Estevão assim que entra, percebo que realmente precisa viajar.

— Era o que eu estava falando para o Bernardo. - Digo piscando para ele que me encara confuso.

— Eu... - Ele inicia, mas é interrompido pelo pai.

— Filho, não encara o trabalho dessa forma, hoje é festa. - Vejo o brilho em seus olhos e vou até ele, abraço forte aquele que já foi meu chefe, amigo, pai...

Ele retribui o carinho fazendo que me sinta ainda mais querida, fazendo com que eu tenha o que a muito não tive, uma família.

— Você tem razão pai. - Diz apenas e todos sorrimos.

Vejo como desejam ser a aprovação um do outro e tenho certeza que auxiliá-los em uma reconciliação foi o melhor que fiz. O vento forte faz a janela de o quarto bater ao mesmo tempo em que sinto o meu corpo arrepiar-se. Começamos a sair do quarto, o Sr. Fernandes está na frente e o Be vem logo atrás de mim, sinto sua mão em minhas costas, as mãos que desejo por todo o meu corpo.

Não sei se um dia irei deixar de sonhar com ele, mas sei que neste momento sonho com ele possuindo todo o meu corpo, tomando tudo o que é dele. Quando nos aproximamos da escada sinto que começa a me acariciar, penso se não se importa de alguém ver, se não se importaria de comentários.

De repente sua mão se afasta de mim assim que começamos a descer as escadas, mesmo sentindo-me um pouco frustrada acredito que assim é melhor.

Rapidamente encontramos Henri, Ca e Matheus conversando animadamente, não vejo Bianca em nenhum lugar e realmente não me importo ninguém pergunta sobre ela.

— Você demorou. - Comenta meu amigo assim que me sento ao seu lado. Não comento nada, acho desnecessária alguma explicação. Sorrio ao ver os meus pombinhos trocando carícias, eles são encantadores.

— Henri, pensa em trabalhar no que enquanto estiver aqui? - Sinto-me surpresa com a pergunta de Bernardo, mas limito-me a apenas ouvir.

— Não sei ainda, não pretendo sair da administração, mas não quero voltar a trabalhar com as flores. - Ele sorri e eu o encaro.

— Isso realmente é um desperdício. - Sorrio e ele faz uma careta.

— Podemos conversar sobre isso amanhã, talvez possa ter algo interessante para você. - Afirma Bernardo me ignorando e ao mesmo tempo surpreendendo-me.

Eles confirmam o horário que irão encontrar-se e voltam a conversar sobre banalidades, às vezes sinto os olhos do Sr. Azevedo em mim, não deixo de encará-lo e sei que precisa exatamente da mesma coisa que eu.

Após alguns minutos vejo o Senhor e Sra. Fernandes no meio do salão chamando todos para um brinde, referente à nova fase da família. Eu sorrio vendo-os tão felizes. Não posso de alguma maneira ignorar o que sinto. Brindo por mim mesmo, por tudo o que venci e por ouvir mesmo quando achei que tinha perdido que Bernardo está apaixonado por mim e decido que enquanto tiver um fio de esperança, irei me esforçar por esse amor.

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