Inverness, Escócia - 1852
Uma terrível tempestade caía desde o fim da tarde. Nuvens densas na cor carvão tingiram o céu na hora mais escura da noite, cobrindo-lhes como uma mortalha. Apagando o brilho das estrelas e a iluminação precária do luar. Um vento forte rumava em fúria, sentido ao norte e intensos relâmpagos retumbavam em uma dança espetacular de clarões brancos, lindos de serem vistos e completamente letais. Os habitantes de um vilarejo ocultado pelas montanhas se encontravam reféns não apenas da fúria devastadora mãe da natureza, mas também do terror inominável que lhes caíram como uma maldição.
Pés descalços desciam uma escadaria pedregosa esculpida secretamente em uma das montanhas de Krane. A curvatura sem fim dos inúmeros degraus quando ultrapassados tornavam próximo o refúgio mais distante e o mais seguro. Descer novamente aquela escadaria profunda era como regressar ao passado para mudar o futuro.
― Aguentem um... pouco... mais... ― disse uma voz entrecortada de uma mulher arfante. A saia branca do vestido de seda erguida enquanto corria eufórica contra o tempo e contra os obstáculos daquela noite para dar ao seu povo uma segunda chance.
Ela não falharia outra vez.
― Concentre-se ― uma de suas criadas se manifestou, arquejando entre uma respiração e outra. Era franzina e de pequena estatura. Seu coque grisalho pendia na cabeça e balançava desajeitadamente.
Marin estava terrivelmente abalada com os acontecimentos da noite, seus pensamentos ondulavam em uma sincronia de desespero, luto e tristeza. A qualquer instante seu corpo cederia ao cansaço da velhice, mas ela não sucumbiria a ele e continuaria esforçando-se para ajudar sua menina no que lhe foi designado.
Sempre soubera do fardo que a pequena carregava em seus ombros. Apenas não imaginou que tamanha responsabilidade chegaria de forma tão rápida e cruel. Os gritos de angustia de seu povo foram silenciados pela distância, ainda assim, ecoavam em sua mente. Desesperados, sofridos... como almas sentenciadas à condenação eterna... Marin lamentou, sentindo um aperto profundo penetrando seu peito feito uma espada de dois gumes. Suas vidas jamais seriam as mesmas após essa trágica noite em que o demônio visitara o vilarejo e sabia disso melhor do que ninguém.
Os passos lhe foram interrompidos por uma pesada porta à sua frente que tinha o dobro do seu tamanho e bloqueava a passagem como uma barreira impenetrável. Esculpida na rochosa parede a porta de guardava em seu interior o bem mais precioso dos Grievers e sua única chance de sobrevivência. Um suspiro de alívio escapou de sua garganta seca quando uma centelha de esperança cresceu em seu interior.
― Conse... ― tentou falar, mas sua voz não passou de outro áspero e profundo suspiro.
Evangeline alcançou aos tropeços, apoiando-se pela parede escorregadia, o alívio que também lhe sobreveio permitiu que um resquício de força a impedisse de cair. Haviam finalmente alcançado ao coração pulsante do seu povo. Ela trocou um olhar cheio de significado com Marin como se por um momento não soubesse direto o que fazer ou como agir. A criada meneou firme e decididamente a cabeça. Não houvera nada em seu semblante que pudesse delatar que diferente das aulas de conjurações, Evangeline não poderia esquivar-se daquela vez e fugir para se esconder no armazém. Ela teria que colocar em prática o que fora ensinado. Evangeline acatou tal reação e reuniu a pouca força para desobstruir á última passagem.
Era tudo ou nada. Vida ou Morte.
"Vamos... vamos..."
Repetia mentalmente, o peito subindo e descendo incapaz de sustentar o ar nos pulmões por muito tempo enquanto conjurava seu poder para desfazer o selo de proteção. Ondas magnéticas lhe tocaram suavemente os dedos que formigaram por baixo da epiderme antes de desaparecer. Não foi o suficiente. Apesar do esforço a gigantesca porta não se moveu. Exaurida, Evangeline escorou-se na parede sem ter coragem de retribuir o olhar que suas criadas direcionavam perante a sua incompetência.
Havia dor neles, tanta dor...
Ela curvou-se para frente e apoiou as mãos nos joelhos que latejavam sob o peso das camadas de pano do vestido molhado. Os longos e negros cabelos ocultavam seu rosto sofrido, observou os pingos de água formando-se nas pontas e cair no chão, partindo-se em milhares de partículas. Logo sentiu lágrimas quentes no fundo dos olhos e o aperto impregnado em seu peito cresceu diante da situação de seu querido povo espalhados no solo como animais feridos no abate.
Como sobreviver a fúria daquele terrível monstro? Como garantir que seu clã não fosse dizimado naquela noite? Como daria fim aquele tormento se não conseguia concentrar-se para abrir uma porta?
Desde que nascerá foi incumbida a carregar os dons primórdios dos Grievers. Era a herdeira sucessora de seus antepassados. O peso de tamanha responsabilidade sempre foi à razão de odiar ser quem era, de sentir inveja do seu povo. Até mesmo de suas criadas.
"Você deve guardar-se como uma pérola dentro de uma ostra." Asher seu querido pai, a instruía enquanto uma explosão de sentimentos desencadeava-se dentro de si própria. Evangeline sentia como se não se conhecesse de verdade. Vivendo confusa pelos cantos do vilarejo, sujeita entre as obrigações de sacerdotisa e as emoções de sua idade. Um jogo árduo de sentimentos desconhecidos que guerreavam por liberdade e a induzia contra os princípios de uma Sancta. Levando-a práticas vergonhosas de desonra ao povo e abomináveis aos olhos consternados de seu pai. Evangeline falhou com ele e já não poderia implorar pelo seu perdão. Tal culpa corroia sua alma.
Ergueu-se num ímpeto, secando as lágrimas silenciosas. A raiva e ódio revestindo suas forças como combustíveis.
O monstro não venceria.
― APERIO. ― pronunciou num impulso de cólera.
O selo de proteção tornou-se visível aos olhos e uma esfera branca com pequenas runas brilhantes em seu interior girou sentido anti-horário antes de desaparecer. A porta cedeu com um barulho ruidoso e abriu-se em uma fenda.
Evangeline a empurrou, seus nervos em frangalhos.
― Procurem pelo altar! ― instruiu.
Marin não demorou em obedecer à ordem. Era uma corrida contra o tempo e a cada segundo que passava diminuíam as chances de Evangeline fazer o que deveria ser feito. Leonora, uma jovem bela e robusta com cabelos castanhos e encaracolados, iluminou o ambiente com sua lamparina. Foi encontrada delirando pelo caminho com seu vestido amarelo respigado com o sangue e os bordados da barra imundos de lama. O horror estampado no rosto lhe fez perder o juízo e vagar sem rumo, balbuciando palavras desconexas até encontrar o rosto familiar de Marin, sua mentora de ervas medicinal.
Agora, com suas servas em segurança, Evangeline permitiu-se respirar devagar. Cada esforço de seu corpo débil enfraquecia seus poderes. O receio de fechar os olhos e não conseguir abri-los novamente a mantinha desperta, embora o desejo da morrer passasse a ser convidativo naquela noite eterna.
―EVANGELINE... ― o eco de uma voz grave e assombrosa cantarolou, arrastando-se pelo corredor e adentrando no recinto feito um fantasma. Era a voz da morte, como se a própria tivesse lhe encontrado através da sua última linha de pensamento.
― VAMOS MENINA! ― Marin a agarrou pelo braço e a puxou depressa do mesmo jeito que fazia quando precisava banhá-la antes do jantar. ― Não temos mais tempo.
Evangeline fechou a porta sabendo que o tempo havia se esgotado. Com a ajuda de Marin e Leonora bloqueou a passagem com uma madeira pesada no meio da porta, sustentada por duas bases de ferro colocadas em cada lado, embora soubesse que aquilo cederia com facilidade e não impediria o monstro de entrar. Refazer o selo de proteção não era a prioridade, além de exigir forças que no momento ela precisava guardar para cumprir seu dever.
Com a lamparina de Leonora, ela permitiu-se avaliar o lugar. Era bem amplo, circular e mal arejado, com as paredes rochosas, cheias de musgos. Enormes pilares de pedra sustentavam um teto engolido pela escuridão, candelabros obsoletos pendiam em suas estruturas com velas derretidas pela metade. Se pudesse dar um nome para lugar, o chamaria de sombrio.
Ela não pensou duas vezes.
― Incendium. ― pronunciou imponente e as velas acenderam.
Com a iluminação precária dos candelabros Evangeline foi até o centro e procurou por algo que deveria estar em algum canto por ali, seus olhos hábeis logo se deslocam para os fundos como ímã magnetizado pelo metal. Um solitário altar jazia aos pedaços. Madeiras sustentavam um palanque decaído com cordas grosseiras prestes a arrebentarem. Uma goteira insistente criará um buraco na madeira do segundo degrau e todo o restante lhe parecia não suportar o peso de uma pena. Subir ali parecia uma idéia descabível em todos os sentidos. Não imaginou nem por um segundo no estado insólito de abandono. Tão diferente da grandiosidade de quando subiu nele pela primeira vez e encarou seu povo orgulhoso pelo renascimento da Sancta.
O púlpito feito de madeira polida era a única parte que mantinha a preservação impecável. Duas runas entalhadas em suas laterais fáceis de traduzir ocasionavam o contraste perceptível, “proteção” e “conservação.” Em cima dele um cálice de ouro adornado com diamantes vermelhos e fitas de prata descansava ao lado do coração dos Grievers. Evangeline conseguiu enxergá-lo com a ajuda das velas que bruxuleavam dos candelabros ao lado do púlpito. Era ele. O Grimório que seu pai tanto descrevia em suas histórias. A essência de seu clã e a fonte de seu poder. O tinha visto apenas uma vez em seu ritual de sucessão quando completou dezessete anos e agora o contemplaria pela última vez. Ambos os objetos sagrados preservados pelo poder do encanto, das runas vindas do poderoso Grimório.
Seu estado melancólico fora disperso pelo estrondo repentino e ensurdecedor da porta.
― SENHORA O DEMÔNIO CHEGOU! ― Leonora berrou em prantos e um novo pavor deformava seu rosto jovial. Amparada por Marin, a jovem aninhou-se em seus braços como um animal indefeso.
Evangeline olhou para as duas com um olhar resignado. As chances de salvação já não existiam mais. Marin assentiu e abraçou Leonora como uma mãe protegendo a sua criança, encolhendo-se num canto oculto nas sombras. Com cuidado, Evangeline subiu no altar e ficou de frente para o púlpito à altura de seu quadril, sacou a adaga de seu pai escondida em seu corselete e alisou a lâmina prateada.
Naquele momento estava pronta para se redimir.
Ela estendeu a palma da mão esquerda e a cortou a linha do meio, reprimindo a dor sentida enquanto sangue jorrava para dentro do cálice. Seus lábios deram início a uma oração silenciosa, pronunciando palavras inaudíveis aos ouvidos devido aos estrondos que se tornavam cada vez maiores como sons de mil cavalos de guerra trotando.
De repente seus olhos rolaram para trás e uma poderosa fonte de energia vibrou por todo seu corpo, intensificando o fogo das velas e a claridade do lugar. Evangeline estendeu a mão cortada e a fechou em punho em cima do livro. As páginas folhearam bruscamente. Não foi preciso uma pena e um tinteiro. Todo o seu poder concentrou-se na palma de sua mão e fluiu do ferimento para dentro das páginas. Formas começaram a surgir em pontos estratégicos, formando uma pequena e poderosa figura selada com seu próprio sangue.
A porta finalmente cedeu.
Desabando no chão com baque retumbante. Aquele que chamava por Evangeline adentrou de forma graciosa como um príncipe carregado de boas maneiras, mas ele não estava nem perto de ser um príncipe, era um demônio usando a aparência humana. Os olhos tão negros quanto o fundo de um abismo a encontrou depressa e um brilho cruel acentuou neles.
― Querida Evangeline... ― o homem aproximou-se com elegância e curvou-se em reverência, sua voz aveludada sem um pingo da maldade que habitava dentro de si. Evangeline despertou de seu transe para encarar seu pior inimigo. ― Finalmente te encontrei.
― Não o temo mais demônio da noite. ― respondeu ela e ergueu o queixo com autoridade. ― Pode matar-me se quiser, mas jamais terá meu poder.
― Acha mesmo que o que eu quero fazer é matar você? Logo você? ― ele indagou calmamente. ― Existe outra forma de morrer em vida e acredito que já a presenteei nesta noite.
As palavras foram como lâminas venenosas penetrando cada fibra do corpo de Evangeline.
― Você vai pagar pelo que fez ao meu povo e a todos que cruzaram o seu caminho. Sofrendo em suas terríveis mãos. ― ela disparou com raiva enquanto abaixava a mão cortada ao lado do corpo. ― Seu fim está tão próximo quanto o meu.
― Então foi isso o que acabou de fazer? Prever o meu fim? ― um sorriso diabólico surgiu nos lábios do homem. ― Não há ninguém capaz de me matar. ― afirmou ainda cético.
― Não agora, mas logo virá. ― Evangeline rebateu convicta.
Diante do silêncio da criatura, um sorriso insinuou-se em seus lábios.
Trazendo a fúria ao demônio.
Ela viu apenas o vulto de seu assassino. Em questão de segundos estava presa entre a parede gélida e o homem a sua frente, seus pés deixavam o chão enquanto era erguida pelo pescoço. Cada centímetro de sua traquéia sendo lentamente apertada, tornando impossível recuperar o fôlego.
― Diga-me o que você fez? ― o homem ordenou impávido.
Os pulmões de Evangeline explodiriam antes mesmo de seu pescoço ser quebrado pela mão de aço que o forçava, mas ela não se daria por vencida perante seu assassino, ele poderia torturá-la de mil maneiras que ela não abriria a boca. O prazer em vê-lo temer a morte pela primeira vez a agradaria para aonde quer que sua alma fosse.
― Vá para... o inferno... Maundrell... ― ela balbuciou com ousadia, sua visão ficando turva nas beiradas e os olhos rolando através das órbitas.
Maundrell pressionou ainda mais os dedos pálidos contra o pescoço de Evangeline, desejando esganá-la, porém limitou-se abruptamente quando uma dor súbita o atingiu nas costas. Tomado pela inesperada situação, largou Evangeline que caiu no chão e resfolegou desesperada em busca de ar. De esguelha, notou o cabo de uma adaga cravada em seu ombro e ao virar-se encarou Marin com sua postura resoluta. O medo notório em seu rosto marcado pelas rugas não foi maior que sua coragem.
― Tire suas mãos imundas da minha menina. ― ela exclamou com firmeza, apesar dos lábios tremerem. ― Você jamais será digno de tocá-la!
O repúdio impregnado no semblante e na voz de Marin intensificou o que Maundrell havia cultivado ao longo dos últimos meses. O ódio pelo clã dos Grievers e por todos que se opuseram ao seu único pedido. O desmerecendo por ser quem era e por subestimar a distinção de sua raça. Ela e todo seu clã pagariam por tamanha arrogância.
― Ainda não exterminei todos vocês?
Um sorriso perverso atravessou os lábios de Maundrell quando arrancou a adaga alojada no ombro e admirou o próprio sangue escorrendo da lâmina.
A cor no rosto de Marin desapareceu.
Sem hesitar, ele a perfurou no abdômen. Marin grunhiu com a dor e logo caiu ao chão, sem vida. Evangeline fechou os olhos bem apertados para não levar aquela cena para sempre na memória. Um grito esganiçado inundou o recinto e Maundrell virou-se, enxergando uma garota saindo das sombras como uma presa indo direto para o seu matador. Ele tão rapidamente silenciou Leonora, torcendo seu pescoço desnudo como se parte um galho seco de uma árvore.
Inconformada com a tragédia imposta sobre seu povo, Evangeline recorreu à adaga de seu pai caída a sua frente, havia cumprido sua missão e agora o destino tão cruel finalmente acabaria ali. Ela alcançou o objeto cortante e o segurou com firmeza para ter certeza de que não escapasse das mãos. Contemplou pela última vez o tesouro de seu clã e exausta pronunciou o seu último encanto.
― Evanesco. ― O grimório desapareceu.
Sentindo a mistura do ódio por Maundrell e do alívio por finalmente cumprir seu dever, ela forçou a voz a sair da garganta.
― A morte virá ao seu encontro assim como você a trouxe nesta noite. ― verbalizou, atraindo a atenção de seu algoz. ― E você viverá seus próximos anos temendo esse encontro. ― decretou e suas palavras flutuaram por todo o recinto.
Maundrell sequer piscou quando a sacerdotisa fechou os olhos e apunhalou o próprio coração. Um suspiro irrompeu de sua boca, expelindo gotículas de sangue. Com passos calculados e um estranho sentimento de impotência, Maundrell observou o sangue escorrer da ferida e levar embora a vida de Evangeline conforme o símbolo dos Grievers marcado no antebraço esquerdo se apagava lentamente.
Até desaparecer.
Parte I - Segredos Revelados "Nada há de oculto que não se torne manifesto, e nada em segredo que seja conhecido e venha a luz do dia. — Evangelho de Lucas 8,17 ✥ Adeus. Indicação de despedida; sinal, palavra, gesto ou acontecimento que assinala a partida de alguém. PALAVRA QUE POSSUI UM SIGNIFICADO TÃO PROFUNDO quanto o amor, a morte e o perdão. Existem situações em que temos que estar prontos para a partida iminente de alguém, mas e quando somos pegos de surpresa? Quando a morte surge sem aviso prévio e nos obriga a aceitá-la, arrancando de nós aqueles que, por meros mortais que sejam, deveriam ser eternos? Como descobrir quando estamos finalmente prontos para dizê-lo e retirar a atadura que cobre a ferida de nossos corações? O tempo não cura, apenas ameniza a dor das lembranças que agora vem acompanhada por uma tristeza que comprimi nosso coração ao ponto de nos sufocar enquanto lágrimas se derramam e a dor se torna aparente. Se passaram sete anos desde que passei a conviver
O clima estava agradável após um dia de calor intenso. O céu salpicado de estrelas prateadas e brilhantes com a lua crescente perfeitamente projetada no centro. A sua luz pálida acentuava com esplendor a claridade do colégio e sua estrutura arquitetônica vitoriana, vislumbrá-lo era como se deparar com um castelo dos típicos filmes do Conde Drácula. Eu o adorava. Karyn havia partido há poucos minutos, quando certificou que Edgar, em sua guarita de segurança, liberou minha passagem pela abertura automática dos portões gigantescos de ferro. Entre as fiadas lâminas do seu topo o nome Jardim Prata, forjado em arco enegrecido, só tornavam a instituição mais extravagante. Reparei que os alunos estavam dispersos pela área externa do colégio, aproveitando o frescor noturno antes do toque de recolher e eu sabia que com a Evelyn não seria diferente já que ela aproveitava cada oportunidade que cirurgia para ficar ao ar livre e sentir, mesmo que mo
MEU TRONCO SE ERGUEU EM UM MOVIMENTO BRUSCO QUANDO PUXEI O AR DE VOLTA. O coração batendo dolorosamente contra as paredes do meu peito arfante, que se tornará incapaz de sustentar o ar nos pulmões devido à adrenalina desencadeada por um sonho ruim. Foi só um pesadelo...Pensei ainda aflita.Um terrível e assustador pesadelo...Repeti com minha própria voz soando instável em minha mente.Respirei fundo para me acalmar.Foi quando observei a decoração familiar do meu quarto. O abajur desligado, a janela erguida pela metade, com a cortina puxada para os lados, deixando entrar raios de sol amanteigados que exibiam mais um dia quente e ensolarado. Apanhei meu celular virado para baixo em cima da cabeceira ao lado da cama e toquei no ecrã que acendeu a tela. Eram oito horas e quinze minutos.Havia algo de errado.... Algo de muito errado.Percorri com os olhos toda a distribuição do quarto ao mesmo tempo em que meu cérebro buscava entender como e quando eu havia deitado para dormir. Só que m
✥Na manhã seguinte, fui despertada com batidas insistentes na porta do meu quarto e com uma Kathryn impaciente resmungando que iria atrasá-la para o trabalho. Fui obrigada a descer de qualquer jeito. Bem, na verdade, meu cabelo era a única coisa em mim que precisava de fato ser ajeitado. O volume das mechas onduladas estava decididamente inclinados em não me obedecer, tanto que decidi deixar como estavam, caindo em longas cascatas em meus ombros e costas.O café da manhã já estava posto à mesa e em silêncio fiz minha refeição. Cereal com leite na tigela, um pedaço de torta de maçã e uma xícara de café era o que eu poderia chamar de café da manhã aborrecido.Minha irmãliaintencionalmente o jornal no sof
✥ O livro em cima cama parecia me observar de uma forma indireta, com um poder intimidador e invisível, me deixando acuada e sob pressão. Eu me sentia vítima de uma piada de mau gosto do universo. Ficar andando de um lado para outro pensando na hipótese de pisar na biblioteca para devolvê-lo se tornou a tarefa mais difícil do meu dia. Havia uma briga absurda dentro de mim que não fazia sentido algum. A parte racional do meu cérebro insistia que não tinha razões para tal comoção e que tudo estava como costumava ser, com a calmaria habitual alinhada as normas de conduta e de exigências do colégio. Porém, toda vez que eu decidia dar ouvidos a essa parte racional e deixava a infantilidade de lado. Um medo crescente tomava espaço em meu ser, os pelos do meu corpo eriçavam friamente e um novo nó voltava a se formar em meu estômago com a voz horrenda disparando dentro da minha cabeça de que eu jamais despertaria. Em meu último ato de coragem sai do quarto sem pestanejar, rumando em direção
✥ Eve retornou pouco tempo depois de anoitecer e resumiu em poucas palavras o assunto que a levou até a casa de seu pai. Homem a quem ela intitulava como seu tutor, sempre se referindo a ele como sr. Desmond, um alguém que exercia o papel da paternidade apenas pelo dever moral perante o status social. Eu não conhecia muito sobre o passado dela e não é como se ela gostasse de dividir os detalhes mais conflitantes de sua infância. Tudo o que me permitia saber era que o homem, cujo um dia havia sido seu pai, enterrou a paternidade junto com a esposa e se tornou um carrasco amargurado dependente de altas doses de brandy e charuto caros. Casando-se anos mais tarde com a sócia e afastando de vez qualquer possibilidade afetiva de pai e filha. — Não acredito que ele te intimou a escolher uma faculdade. Quero dizer... — meu cenho se franziu. — Ainda falta um ano e meio para você terminar o colégio. Por que a pressa? Estava sentada no meio da minha cama com as pernas em posição de yoga, pent
✥ Cada partícula do meu corpo parecia reagir pela necessidade de ver Nate. Minhas mãos formigavam, meu estômago se agitava como se borboletas estivessem voando dentro e meu coração batia forte. Serpenteando pela trilha de arbustos floríferos podados, vou adentrando cada vez mais para dentro do jardim e deixando o enorme edifício para trás. O céu estava escuro e a lua muito branca e redonda em volta das centenas de estrelas, observava silenciosamente o meu caminho. A vontade de ficar nos braços de Nate consumia meus pensamentos e me faziam esquecer os últimos acontecimentos. Eu poderia estar ficando maluca por ignorar o que tinha acontecido do refeitório e talvez, inconscientemente essa fosse a minha vontade. Eu quero estar livre de qualquer preocupação e aproveitar a chance de estar ao lado dele. Mesmo que para isso, tenha que passar por cima de uma das regras disciplinares. O jardim do colégio é gigantesco, a grama em todo lugar é bem aparada e sempre verde. Postes coloniais ilum