2 - Mikael

Mikael acordou abruptamente com o barulho de vidraças se quebrando, e ainda sonolento sentou-se na cama, perguntando-se que diabo estava acontecendo. Um segundo som, agora mais próximo, o despertou de vez e o pôs em estado de alerta, uma vez que lá fora ainda era noite, e a escuridão o impedia de ver através do vidro.

Levantou-se, pegou o taco de baseball atrás da porta e seguiu silenciosamente em direção à sala, de onde havia vindo o barulho.

Enquanto descia as escadas, precisou proteger-se quando uma pedra atravessou o vidro da sala, seguida de várias outras pedras que destruíram todos os vidros do cômodo, como se fosse uma chuva horizontal de pedras.

Assustado ouviu vidros sendo quebrados também no andar de cima, mais precisamente no quarto de seu pai. Prontamente ele subiu novamente as escadas e abriu a porta, mas no quarto viu apenas vidro quebrado e pedras por todos os lados.

Mais calmo, vendo que seu pai não se encontrava ali, ele adentrou no cômodo hesitante, com medo de que a chuva de pedras recomeçasse.

Abaixando-se, tomou nas mãos uma das pedras, que estava embrulhada, e abrindo o papel que a envolvia, pode ler a frase:

"Pastor de merda, destruímos sua casa e destruiremos também a sua igreja.”

A frase estava escrita em letras grandes, com tinta vermelha, expressando um ódio verbal que já tinha sido demonstrado fisicamente aos vidros.

O Pastor Benedict Higgins, sempre fora respeitado por todos moradores da cidade, e os fiéis o viam como um exemplo incontestável de fé e retidão no desempenho da obra de Deus, e desde que perdera sua esposa para um câncer, havia intensificado seus esforços no resgate de almas e nas ações sociais comunitárias, por isso Mikael não entendia porque estavam atacando seu pai daquela maneira.

Passada a adrenalina após os ataques cessarem, o jovem pensou: — Se ainda havia penumbra lá fora, por que seu pai não estava em casa? — e só então, olhando para o relógio danificado na parede, viu que na verdade, já eram nove horas da manhã.

Chegando da janela, viu que a escuridão tomava o céu, como se ainda fosse noite.

— O que será que aconteceu com meu pai? — perguntou-se tentando não pensar no pior, e concluiu que, se o sol não apareceu, o Pastor só poderia estar em sua igreja, perguntando a Deus o que estava acontecendo.

Mais uma vez alarmou-se, lembrando-se do bilhete embrulhado na pedra, e correndo para o seu quarto, vestiu a primeira roupa que encontrou e saiu apressadamente para acudir seu pai.

Do lado de fora, viu mais vandalismo e ódio estampado na parede exterior de sua casa. Com spray vermelho cor de sangue, os vândalos escreveram insultos e ameaças, mas a frase que mais chamou sua atenção foi uma que dizia:

“Guiaste tuas ovelhas à perdição, para o inferno, Pastor de merda!"

Todo esse ódio não tinha fundamentos. Não direcionado ao seu pai, que viveu sua vida por suas ovelhas e seguia à risca o que estava escrito nas escrituras.

Em sua moto, acelerando o máximo que a auto-preservação permitia, ele só pensava em seu pai e em chegar a tempo à igreja onde ele provavelmente estaria. Pelo caminho avistou pessoas desesperadas com roupas nas mãos, e pessoas colocando malas em seus carros e saindo às pressas. Que loucura era essa?

Para sua segurança, trouxe seu bastão de baseball que lhe rendera vários troféus e medalhas ao longo da vida. Sempre fora atlético e musculoso, mas nunca fora de briga, porém, sabia se defender e sabia que passaria por cima de tudo e de todos para defender o pai.

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