Capítulo I - Syngeh Taihom (Canto primeiro)

Saibam, ó sekhairiannos, que nos dias que seguiram após o primeiro dia da “conquista da liberdade”, um novo mundo, renascido das cinzas do de outrora, se formava pouco a pouco. Um mundo em que novamente os reinos podiam respirar em paz, cientes de que nenhum outro império unificador e tirano ameaçaria suas liberdades novamente. Um mundo em que as tradições renovavam suas forças e pais e filhos voltavam a serem simplesmente pais e filhos sem uns se voltarem contra os outros. Um mundo livre que lhes foi oferecido de presente à custa das vidas de inúmeros heróis e sonhadores que não tiveram medo de dizerem a verdade e lutarem por ela. Um paraíso edificado à sombra da coragem, do amor, da justiça e da espada. Um mundo gerado por lendas vivas que jamais se acovardaram diante do mal, jamais aceitaram sua corrupção e o enfrentaram também sem medirem as consequências.

E infelizmente, como de praxe, não tardou alguns dias sequer, após a grande e histórica batalha na Ilha de Telpkyr, para que bardos por todas as partes do mundo brotassem sabe-se lá de onde e começassem a cantar sobre Gwydionn Zondrakk e Annahk Thennoryah; seus feitos, sua vida, e sua luta final contra o Imperador Balluth Holl Thelurgif, O Corruptor. Eles cantaram as batalhas, os períodos de esperança e desesperança. Cantaram o amor e os sonhos. Mas, eles não estavam lá. Eu sim!

Eu preferi não cantar. Pendurei minha guitarra à sombra de um salgueiro e decidi que não mais cantaria. Justamente porque eu estive com Gwydionn e Annahk. Repito: eu estive com Gwydionn e Annahk. Eu acompanhei os Zondrakk em suas batalhas, em suas vitórias, em seus momentos melhores assim como também nos mais difíceis e eu até mesmo empunhei uma espada para ajudar a defender meus companheiros. Eu vivi a aventura. Eu senti o gosto do sangue escorrer pelos meus lábios e sua temperatura por vezes morna, por vezes gelada. Eu vi a crueldade e senti o cheiro da morte em meio aos campos de batalha. Também vi a compaixão e a força da fé. Eu vi meros jovens enfrentarem deuses traidores caídos e chytrall (sei que sou repetitivo...). Eu os vi vencer. Eu percebi que a maioria dos poetas não sabe nada sobre essa realidade. E que, para explicitar todas as coisas que presenciei, uma mera canção seria pouco, seria injusta. Preferi não mais cantar.

Não culpo nossos bardos. Não, não os culpo em verdade. Há muitos entre eles que sim são honestos e dignos, todavia foram mal acostumados a retratarem a maquilagem de verdade que existe apenas em suas visões embotadas. Muitos até conseguiram enxergar através do véu de mentiras e corrupção que antes se instaurara em nosso mundo, no entanto estes não encontravam também ouvidos limpos para que pudessem verter sua pureza. Eu preferi me afastar e buscar a poesia no amor e na construção de uma família.

Porém, após tantas décadas, quando a paz em nosso mundo vê-se ameaçada novamente, e os swannimane de toda Sekhairiann precisam de uma esperança, de um mito, de um herói que insufle seus corações e almas com a coragem e a verdade, para que estas se convertam em aço e espadas; percebo que chegou a hora de cantar a mais bela canção, a mais verdadeira, sobre os heróis que caminharam por este mundo, e que foram nossos pares. Uma história sobre o poder do amor e da fé. Uma história sobre o poder da amizade e da honra.

Vou cantar os vultos do passado para que, onde quer que eles estejam, escutem a minha voz, escutem as preces de seu povo. Que eles e que todos nós possamos escutar mais uma vez o brado de guerra do maior de todos os hyerogladius, o maior de todos os guerreiros; convocando-nos novamente ao combate pela honra, pela verdade, pela glória, pela liberdade e pelo amor.

Meu nome é Koverdall, e esta é a história de um jovem camponês feer que viveu toda a sua vida lutando pelos seus sonhos e preparando-se para morrer em nome do amor. E é também a história de uma ejissann que soube desafiar o seu próprio destino e gerar uma nova realidade mundial.

Esta é a história do imenso amor entre um garoto errante que se tornou rei e de uma rainha que já foi escrava.

Esta é a história de um bando de jovens que ousou mudar o futuro com a força de seus sonhos e a fé na verdade.

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