Capítulo 05 - Coroas e Tiaras.

O dia tão esperado tinha chegado, todas as candidatas do reino estavam alvoroçadas. O que o príncipe Charles mais temia aconteceu, as ruas estavam lotadas, nem mesmo as vielas clandestinas estavam livres.

ー O que o conselho decidiu fazer em relação ao tumulto? ー Indagou o príncipe Arthur encarando o rosto sério do irmão. 

Charles vestia roupas formais na cor azul escuro quase pretas. O paletó estava justo em sua cintura, as lapelas eram grossas e brilhantes, a gravata era preta com minúsculos pontinhos brancos, e a calça na mesma tonalidade do paletó. Usava sapatos sociais devidamente engraçados. O seu topete molhado alinhado perfeitamente as laterais baixas.

Arthur não sairia de seu quarto hoje, exceto na hora do almoço e janta. Por isso vestia um blusão cinza e uma samba canção com a estampa quadriculada azul, e pés descalços.

ー Só vai haver um turno para a prova. Depois das 15:00 horas da tarde, ninguém mais poderá entrar na academia. ー Charles explica a contragosto. ー Isso tudo ainda vai render muita merda! ー Completou antes de sair, deixando o irmão refletindo no quarto.

O Palácio estava sempre limpo. O ar entrava e saia pelas enormes janelas abertas do corredor principal do segundo andar, o príncipe desceu calmamente pela escadaria coberta por uma camada de mármore rochoso e um tapete de veludo azul no centro dos degraus.

Em poucos instantes ele estava no primeiro andar, empregados iam e vinham, na lateral da entrada tinha três guardas de cada lado, todos com ternos e botas pretas com uma camada de ferro na ponta. 

Em frente ao safáris de uma fada segurando um jarro com água jorrando de dentro e despencando ao redor do círculo de concreto, estava uma Bentley Estate Limusine, à espera do príncipe. O motorista saiu de dentro do carro e abriu a porta traseira sem olhar nos olhos do príncipe, não era educado se o fizesse. Charles entrou e o homem de meia idade fechou a porta, indo até o outro lado do veículo entrando e se sentando no banco do motorista.

ー Para onde vossa alteza? ー Indagou o homem olhando para o príncipe pelo retrovisor do carro. 

ー Para academia Golden Crown, por favor. ー Pediu o príncipe olhando para os lados vendo o quão mudado estava o derredor do Palácio. Em resposta o homem assentiu com a cabeça dando partida.

~¥~

Kalinda estava se arrumando para poder ir à academia, sua mãe a forçou a ir cedo. Ela vestia um vestido florido com fundo branco e flores azuis, e uma jaqueta jeans rasgada, o tecido já estava tão gasto que ficou bem mais fino do que o normal.

Ela pegou sua carteira com todos os seus documentos e foi ao ponto de ônibus próximo a sua casa, ficava apenas a alguns quarteirões do seu. A caminhada era curta e os buracos nas ruas sem asfalto transformavam tudo em uma verdadeira trilha.

O dia estava parcialmente nublado, a umidade do ar tornava o clima agradável, as vielas cheias de lama e os casebres em estado crítico era um lembrete que dificilmente um raio de esperança iria brilhar naquela pátria.

Os grandiosos portões estavam trancados quando ela chega lá, muitas garotas estavam gritando feito loucas. Kalinda que não é boba e nem nada, deu a volta vendo a saída de funcionários, alguns homens estavam descarregando um caminhão, tirando galões de água mineral de dentro do veículo e levando para dentro.

ー Seja o que Deus quiser. ー Murmurou e foi até onde o caminhão estava estacionado, ela pegou um galão e o carregou para dentro.

Seguindo os homens pelo corredor longo, se deparou com três caminhos à sua frente, e um único lhe interessava, era o que dava acesso ao pátio, e de lá ela já pôde avistar o mesmo banco que estava sentada dias atrás. Sem hesitar, ela deixou o galão no chão próximo ao pilar perto do jardim e desceu pela rampa que cortava um jardim vibrante. 

Sentou-se no banco sentindo uma leve corrente de ar açoitar o seu rosto. Ficou ali por alguns minutos esperando os portões se abrirem ou alguém vir lhe enxotar dali. 

ー Olha só se não é a garota misteriosa. ー Disse uma voz masculina se aproximando do banco por trás, Kalinda se virou assustada, o alívio tomou conta de si ao se deparar com aqueles olhos verdes. 

ー Virou perseguição? ー Indagou ela cruzando as penas encarando as palmas da mão.

ー Prometo que não tem nenhum sapatinho de cristal aqui comigo! ー Ele avisou e ergueu as mãos em forma de rendimento. 

Kalinda deu uma leve gargalhada pela referência medíocre.

ー Deveria tentar a carreira de comediante. ー Ela disse ironicamente, olhando nos olhos dele.

Ousado como sempre, ele sentou ao lado dela desabotoando um botão no meio do terno azul, sentindo um alívio imenso após o ato. Só agora a candidata pôde notar as vestimentas do homem, pareciam ser roupas dos famosos que viviam em alta nas páginas de fofoca.

ー Belo terno, ser estilista também é uma opção. ー Ela disse insistindo na brincadeira. Desta vez até o homem riu.

ー Só o terno que é bonito? ー Ele perguntou sorrindo de ladinho com escárnio predominando a sua voz rouca.

As bochechas de Kalinda estavam avermelhadas pela vergonha que sentia. Ela não daria esse gostinho ao desconhecido, ergueu a cabeça se contentando naquele joguinho maluco que talvez só existisse na cabeça dela.

ー Não faço elogios a desconhecidos. ー Ela disse alfinetando ele por ser tão misterioso e não contar logo o seu nome.

ー Tudo bem. ー Ele abaixou o rosto e riu brevemente antes de erguê-lo para encarar a jovem intensamente com seus olhos que mais se pareciam com esmeraldas.  ー Pode me chamar de William.

ー Me chamo Kalinda, é um prazer finalmente saber seu nome! ー Sua voz carregava uma dose de sarcasmo e um humor meio ácido, tudo o que o homem ao seu lado mais  gosta em uma mulher.

ー Digo o mesmo. ー Ele concorda sorrindo abertamente. ー Está confiante em relação à prova de hoje?

ー Ah, eu não sei… estudei o máximo que pude, mas isso não quer dizer que as outras candidatas não tenham feito o mesmo. ー Kalinda abaixou sua visão entristecida pela falta de confiança em si mesmo.

William tocou a ponta do queixo fino da jovem fazendo ela erguer a cabeça. Ele deslizou o dedão pela pele macia dela próximo aos lábios rosados, os seus olhares estavam fixos.

ー Você vai conseguir. ー Afirmou e recolheu a mão. ー Agora, Kalinda, você precisa ir a sala de número 06 ao lado da cantina, os portões vão ser abertos em três minutos, acho melhor você correr. ー Completou segurando o riso com uma cara risonha e debochada.

ー Tchau Will. ー Disse ela e começou a correr em duração a sala 06.

William ficou sentado pensando em quão agradável era estar na companhia daquela garota, ele se sentia livre de todo o caos da sua realidade, se sentia vivo. Voltando a si ele se levantou dali e adentrou o prédio principal da academia antes que as garotas ensandecidas arrancassem um pedaço dele, o que não seria nada do outro mundo comparado ao que o seu primo Bernardo sofreu na cerimônia de posse da rainha da Espanha.

Até ali o plano do conselho estava indo como o planejado, de um mar de garotas loucas para concorrerem ao grandioso prêmio apenas vinte e uma conseguiram entrar nas instalações da academia, as demais ficaram do lado de fora, tiveram até mesmo aquelas que tentaram entrar pulando a grade de ferro, a polícia foi acionada em poucos instantes.

Arthur estava em seu quarto como era de costume, não tinha aulas hoje o que só o deixava triste, isso significaria não ver o seu amado.

Batidas na porta de seu quarto chamou sua atenção, talvez fosse o amor de sua vida. Um belo sorriso se acendeu no rosto do jovem príncipe ao pensar na possibilidade.

ー Pode entrar. ー Ele disse animadamente tentando conter a sua alegria.

O sorriso dele foi perdendo o comprimento ao constatar que a pessoa que entrava em seus aposentos não era o seu amado, e sim a sua mãe, a rainha. 

ー Como vai, querido? ー Ela pergunta com um sorriso.

ー Bem, mãe, o que veio fazer aqui? ー Ele indaga seco e sem humor, sua carranca era dura.

ー Vim te fazer um convite, o que você acha de cuidar das provas do concurso a partir de agora? ー Ela propõe, e um sorriso sem igual é esboçado pelo príncipe.

ー Será uma honra! ー Ele garante alegremente pela tamanha responsabilidade que receberá.

ー Então se prepare, na segunda você participará da primeira reunião do conselho. ー A rainha avisa. ー Agora se me der licença, eu preciso cuidar de algumas questões do reino.

ー Claro, pode ir. ー Ele diz, e quando a sua mãe está quase fechando a porta ele completa: ー Obrigado mãe.

Ela assente com a cabeça e saiu fechando a porta. Para Arthur o dia não poderia ficar melhor, ele começou a planejar uma nova prova desde já, tantas idéias cercavam a sua mente que renderia concursos para uma vida inteira.

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