Capítulo 01 - A mensagem.

O fim de tarde era a melhor parte do dia de Kalinda, pois era o horário em que ela era liberada do serviço. Aos quatorze anos de idade ela começou a trabalhar para ajudar os seus pais nas dispersas, o pouco que ganhava era investido totalmente em mantimentos, e está sendo assim desde então.

Ela estava vestindo o fardamento da confeitaria em que trabalha, rosa bebê com um círculo de flores nas costas com o nome do estabelecimento, e em seu peito do lado esquerdo tinha seu nome em dourado, vestia também uma calça jeans azul surrada e quase sem cor, quase tão gasta quanto o seu tênis encardido. 

No caminho para casa ela pôde notar muitos e muitos cartazes anunciando a chegada do príncipe Charles no reino. Ele esteve fora por muito tempo, não que ela ficasse horas e horas no I*******m em páginas de fofoca, era a vizinhança mesmo, a cada duas casas, uma tinha uma velhinha que fica metade do dia na janela e na outra metade roda o reino espalhando as boas novas.

Ela estava exausta, mesmo que seu trabalho seja apenas meio período, a escola pela manhã a matava, e saber que ainda teria de fazer algumas atividades não a deixava nem um pouco feliz.

O caminho de terra estava cada vez pior, com inúmeros buracos e esgotos improvisados. O saneamento básico era quase inexistente naquela área do reino. Um dos muitos motivos da jovem querer estudar e se formar para poder proporcionar melhores condições de vida para os seus pais.

ー Boa tarde, Kally! ー Disse um homem de meia idade passando por ela na direção oposta.

ー Boa tarde, Sr. Kibe. ー Respondeu a jovem acenando com a cabeça e sorrindo para ele, sem parar de andar.

Não demorou muito para que chegasse em sua casa, era bem simples e humilde. Tinha apenas um quarto, uma pequena cozinha, um banheiro e a sala, onde a garota dormia.

ー Mãe, pai, cheguei! ー Falou alto ao entrar em casa e fechar a porta.

Não contendo uma resposta chegou à conclusão que eles estariam em seus empregos. Ela largou a mochila ainda da escola sobre o sofá e foi rumo ao banheiro e tirando as roupas no trajeto. 

Não demorou muito no banho, e mesmo se quisesse não poderia, o racionamento do bairro não permitia. Assim que saiu do banheiro vestindo um pijama que provavelmente seria um fardamento grande de algum dos empregos antigos do seu pai, e com uma toalha enrolada em sua cabeça.

ー Finalmente paz. ー Murmurou sorrindo ao secar os seus cabelos.

Alguns minutos depois, cansada de estudar as funções das organelas, ela decide pegar o celular na mochila ao seu lado. Assim que o desbloqueia pôde notar o número exorbitante de notícias sobre a chegada do príncipe no reino. 

ー Essa gente não tem vida própria não, é? ー Perguntou a si mesma, entediada por não ter nenhum babado escandaloso nas redes.

Quando estava quase guardando o celular, chegou uma mensagem por SMS. Ela franziu as sobrancelhas confusa.

"Em pelo século vinte e um, ainda existe gente que manda SMS?" ー Pensou ela antes de abrir a mensagem.

Ao abrir, se deu conta que era um documento em p*f, logo no topo ela avista o selo Real. O que explicava a forma em que a mensagem chega até ela.

"O Palácio de Keanu, abre os portões da academia Real Gold Crown, para jovens plebeias com vocação para a nobreza em potencial. Ao fim da mensagem se encontra o l**k da ficha que deve ser preenchida.

Com todos os materiais pagos incluídos na bolsa, a finalista do concurso deve se apresentar na recepção da academia com o seu RG e C. P. F.

Tenha uma boa sorte! Assinado: Núcleo gestor."

ー Puta que pariu… ー Disse ela com a boca aberta, em choque. 

No mesmo instante em que Kalinda tentava processar a nova notícia, do outro lado do reino, no Palácio, estava o príncipe mais velho, sentado em sua cadeira de rodas próximo a enorme janela do seu quarto, observando o seu amor secreto vindo em direção ao palácio. 

O seu peito já se acendia com a ansiedade, do seu coração batia acelerado. Um sorriso bobo brotou em sua face ao se lembrar da última vez em que viu ou conversou com o professor.

O jovem ficou tão distraído fantasiando um futuro perfeito com o "seu" homem sentado em seu colo, e os dois indo juntos na cadeira de rodas rumo ao pôr do sol. Que nem se deu conta que o mesmo que habitava em seus pensamentos estava nesse exato momento esmurrando a porta sem obter resposta.

ー Príncipe Arthur! Está aí? ー Indagou o homem já cansado de chamar por seu aluno.

ー Sim, estou, pode entrar Lorenzo! ー Respondeu o príncipe, manobrando a cadeira para encarar o homem que acabou de adentrar o quarto.

O homem era alto, mas não nada muito fora do comum, olhos verdes, cabelo ruivo claro curto, perfeitamente cortado e penteado em um topete baixo, poucas sardas na cara. Ele vestia uma camisa gola "V" branca por debaixo de uma jaqueta jeans com vários rasgões, uma calça bege e botas amarronzadas.

ー Espero que esteja pronto para mais uma sessão de "Estrelas da literatura Keanourana no século vinte". ー Dizia o ruivo se aproximando com um sorriso encantador.

ー Com você? Sempre! ー Diz o jovem convicto. Ele gira as grandes rodas da cadeira ficando ao lado da cama. ー Senta.

ー Desse jeito vou acabar com o ego nas alturas! ー Alertou Lorenzo com um sorriso debochado e um tom de voz irônico.

ー Sério? Nossa, eu sabia que esse homem perfeitinho não passava de uma farsa. ー Provocou Arthur com puro escárnio.

ー Perfeito? Imagina, parcialmente… talvez. ー Disse o mais velho de forma pensativa, fazendo o aluno rir facilmente.

Após um falatório quase sem fim e flertes leves e de certa forma até inocentes. Eles deram início a aula, não era nada de outro mundo, apenas algumas citações filosóficas de pessoas que foram de extrema importância na literatura Keanourana, características, curiosidades e algumas referências. Ao fim, Lorenzo designou algumas atividades para fazer, era algo para exercitar a memória do príncipe e além de ajudá-lo a armazenar todo o conteúdo de forma prática e certa.

Kalinda já havia contado  sobre o anúncio real. O seu pai não deu muita atenção, estava tão cansado que nem ao menos jantou, apenas tomou um banho rápido e capotou na cama. Já a Mérida, mãe de Kalinda, avisou que independente da escolha da filha, ele iria apoiá-la, em outras palavras: Você vai aceitar e ponto.

ー Não fique pensando muito nisso, vá dormir que amanhã tem aula cedo. Espero que faça a escolha certa. ー Diz Mérida com um sorriso singelo. 

Ela deposita um beijo na testa da filha e vai para o seu quarto. Deixando Kalinda esparramada no sofá com o cabelo todo bagunçado tais como os seus pensamentos. Querendo ou não, ela já estava no jeitinho para dormir, era cedo, não passava das oito ainda, porém, se quisessem ter um dia no mínimo, suportável, era importante dormir o máximo que pudessem.

ー Bye, Bye, wi-fi da dona Eguiberta. ー Murmurou a jovem desligando a internet provida da vizinha, e travando o celular, ela se enrola no lençol e se entrega ao cansaço e sono.

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