Capítulo II

Depois de um dia, os tripulantes estavam mais acostumados com a viagem. Uns estavam maravilhados com a nova tecnologia de navegação, porém outros ainda tinham medo. Cada um executava sua função, se alimentando, uns treinando nos tempos de lazer, correndo pelo corredor circular para exercício físico. Assistiam também a filmes e séries, até jogavam vídeo game, precisavam passar o tempo, ocupar a mente era fundamental para essa viagem. As primeiras naves usavam sistema de hibernação, mas este fora abandonado há muito tempo devido a problemas de reanimação. Com o crescente aprimoramento das naves, podendo cada vez viajar mais rápido, esse método foi deixado de lado e o incentivo a entretenimento foi fundamental para ocupar a mente dos viajantes espaciais.

No setor de alimentação, estava Tedy tomando café, sozinho, em uma mesa, em outras mesas, vários tripulantes se alimentavam, alguns sozinhos apenas se alimentando e outros com duas e até três pessoas conversando e comendo. Os tripulantes estavam começando a se conhecer.

— Oi, tudo bem? Posso me sentar aqui? — perguntou com muita sutileza e educação, um rapaz oriental. Parado ao lado do Tedy com a bandeja de alimentação nas mãos.

— Oi, pode sim, claro. Estou bem e você? — respondeu Tedy sem pensar duas vezes.

— Ótimo! As outras mesas estão muito cheias, parece que todo mundo sente fome ao mesmo tempo.

— Ah, sim. Mas tem algumas mesas vazias também. Não me entenda mal, não estou rejeitando sua companhia, só disse por dizer — disse Tedy dando aquela boa risada que não deixa ninguém incomodado.

— Tenho problema com muitas pessoas juntas no mesmo lugar. E também problema em fica sozinho... É meio complicado de entender.

— Qual seu nome? — acrescentou Tedy.

— Hanzo e o seu?

—Tedy, prazer Hanzo.

— Tudo certo. Mas me diga, o que faz para passa o tempo?

Tedy riu e disse:

— Bom, no meu tempo de lazer eu fico jogando videogame, lendo bons livros, assistindo filmes e séries, mas dos séculos passados, as coisas atuais não me chamam muito a atenção. As produções daquela época apresentam um olhar do mundo mais bonito e maravilhoso, onde tudo era possível.

— Entendi, você é um retrô.

— Retrô? como assim?

Hanzo, mordendo um biscoito, respondeu:

 — De onde eu venho, pessoas com como você são chamadas de retrô. Sabe, gostar de coisas velhas, que não pertence ao seu tempo.

Tedy riu bastante e brincou:

— Para mim somente sobrou gostar de coisas velhas, não tenho porte para piloto, muito menos explorador, olha minha aparência.

Hanzo não disse nada, apenas balançou os ombros e mexeu com a cabeça e continuou a comer.

— O que está tomando, Hanzo?

— Chá.

— Humm... Prefiro café.

— Café me deixa muito ansioso, chá me acalma — esclareceu Hanzo e bebeu um gole.

— Hanzo, Hanzo... Finalmente te achei! Te procurei pela nave toda, por que não me disse que viria aqui?

— Calma, Makoto, bati na sua porta, mas você não respondeu, pensei que estava dormindo.

— Estava tomando banho. Mas tudo bem, vou pegar algo para comer e já volto.

— Quem é esse ou essa, Hanzo? — perguntou Tedy baixinho logo depois que Makoto saiu de perto.

— Nos conhecemos na academia. Makoto não tem um gênero binário.

— Ah sim, entendi. Opção ou nasceu assim?

— Nasceu.

— Ok. Bom, vou voltar à ponte. Quando quiser, apareça lá no meu alojamento mais tarde, vou te mostrar meus tesouros.

Bebeu o último gole de café e se levantou. Neste instante, Makoto voltou. Vendo-o se levantar para sair, disse:

— Mas já vai? Poxa, acabei de chegar.

— Sim, tenho que volta para ponte. Acabei de chamar seu amigo para dar uma passadinha no meu alojamento mais tarde, vai junto com ele, assim podemos nos conhecer melhor, vou te mostrar minhas preciosidades.

— Sendo assim, aceito o convite. Até mais. Ah, qual seu nome?

— Tedy. O seu já sei que é Makoto. — E riu.

Makoto também riu e disse:

— Até mais tarde, então.

Makoto se sentou à mesa e começou a comer junto com Hanzo, também tomando chá e comendo biscoitos.

— O que achou dele, Hanzo?

— Tedy?

Makoto riu disfarçando para Hanzo não se zangar e disse:

— Sim, bobinho.

— Parece ser legal. Ele é retrô.

Makoto tomou um gole de chá e respondeu:

— Nossa, que legal! Vou adorar ver o que ele tem lá!

No coração da magnífica Osíris 2.

— Capitão na ponte! — anunciou um oficial.

— Abrir canal com Sohaire, diga para vir a ponte imediatamente — ordenou o capitão.

— Sim, senhor.

Sohaire recebeu o recado e foi para ponte.

Também no setor de alimentação estava Andrey, sozinho por opção, comendo ovos mexidos e bebendo suco de laranja.

— E aí, cara, aquele dia você passou por mim igual um robô sem dizer nada e ainda me jogou na parede! Bom, eu vim te dizer que não gostei nada de sua ação. Mas estou aqui para dizer que, caso me peça desculpas agora, eu vou esquecer tudo. E só talvez possamos nos dar bem.

Andrey continuou comendo e ignorou tudo o que Ekhein falou.

— Ei, vai mesmo me ignorar?

De repente chegou Aiyra, sentou na mesa em que Andrey está e disse:

— Bom, rapazes, notaram alguma coisa estranha nessa nave ou na missão?

Andrey continuou comendo e bebendo sem dizer nada. Ekhein disse:

— Nada de estranho além desse otário aí.

Respondendo com aquele olhar misterioso e sedutor ao mesmo tempo, Aiyra disse:

— Não vão brigar, meninos, tem algo muito estranho nessa missão. Quero a ajuda de vocês.

— Estranho como?

— Ainda não sei, mas vou descobrir. Estou achando essa missão com poucos tripulantes e a forma que o capitão falou que escolheu a dedo, cada um de nós. Quer dizer que ele pesquisou nossas vidas a fundo... A nave possui armas, para quê? Eu sou uma pessoa muito observadora e tenho um certo talento para perceber quando alguém esconde algo. Queria saber se vocês também pensam assim.

— Calma, só vou responder quando me disser seu nome.

— Ah, que educação a minha. Me chamo Aiyra, exploradora, o seu é Ekhein, piloto. E nosso amigão aqui é Andrey, também explorador.

Aiyra passou sua mão na de Andrey, que imediatamente se levantou e saiu sem dizer nada.

— Mas como sabe meu nome? — perguntou Ekhein, mas no mesmo instante lembrou em seus pensamentos: “Ahhh é mesmo... deixa quieto, esqueci que os nomes estão à vista...” — Deixa para lá. Mas, me diz, vai ficar perdendo tempo com esse cara aí? Nem cérebro ele deve ter.

Aiyra riu sutilmente se levantou olhou dentro dos olhos do Ekhein e disse:

— Hummm... Você é muito inteligente né, Ekhein?

— O qu-que quer di-di-dizer com isso? — perguntou gaguejando.

— Nada. Sei que você é inteligente, do contrário não ficaria provocando alguém que é o dobro do seu tamanho.

— Não entendi nada.

Aiyra respirou fundo e continuou:

— Não é nada. Quero saber se assim que eu precisar, poderei contar com você?

— Ah sim, Claro que pode. Desde que não chame esse que acabou de sair.

Aiyra se aproximou com sutileza, bem devagar, mais desfilando do que andando. Sempre olhando dentro dos olhos e nunca deixando fugir uma expressão do rosto de Ekhein. Seu jeito de falar era hipnotizante. Ficando bem próxima, tocou o nariz de Ekhein com a ponta do dedo e completou, após uma piscada:

— Não se preocupe com ele... Vocês vão se dar bem.

Ekhein ficou enfeitiçado e com vergonha. Não conseguiu dizer nada, ficou paralisado, somente pensou: “Nossa, que mulher!” Aiyra se virou e saiu do setor de alimentação, não sem antes passar as pontas dos dedos pelo queixo dele. Ekhein ainda ficou lá parado por um tempo, igual uma árvore.

No centro de comando, Sohaire, apresentar-se.

— Vim o mais rápido que pude, capitão.

— Excelente, oficial. Vamos para minha cabine. Mas, antes, vá e chame o comandante pessoalmente.

— Imediatamente, capitão.

— Mais uma coisa, Sohaire, certifique-se que ninguém siga ou veja vocês.

— Como quiser, capitão.

Sohaire deixou a ponte e foi para o alojamento do comandante. Chegou e logo bateu à porta. “Toc toc toc toc”.

— Pois não? Ah, é você, oficial, vamos, diga logo o que você quer.

— O Capitão solicita sua presença em sua cabine imediatamente.

— E por que o capitão não solicitou pelo comunicador?

— Não sei, ele tem seus motivos. Parece algo muito importante. Devo acompanhá-lo agora.

— Certo, vamos, então.

O comandante fechou a porta e os dois se foram. Alguém via e seguia Sohaire, observando tudo, até quando entraram na cabine do capitão.

— O que você quer me dizer que não podia nem m****r uma simples mensagem pelo comunicador?

— Vamos tratar daquele assunto, comandante.

— Entendi. Quer dizer que pelo jeito ninguém além de nos três sabe?

— Positivo! E deve ficar assim até quando alcançarmos nosso destino.

— Por mim tanto faz, a bomba vai explodir é na sua mão mesmo. Vamos logo que tenho mais o que fazer.

Então o oficial de segurança juntamente com Datches sentaram-se na mesa e os três começaram a reunião. Depois de algum tempo, o comandante saiu e voltou para seu alojamento, logo em seguida, saiu Sohaire. O capitão permaneceu por mais tempo, mas logo também saiu e foi para ponte. Quando chegou, sentou em sua cadeira e foi verificar como estava indo o funcionamento de toda nave, principalmente os motores. Tomando nota dos oficiais que trabalhavam na ponte. Logo depois, saiu e foi para sala de máquinas, conversar com os tripulantes que trabalhavam lá. Dante era muito preocupado com toda a nave, para ele era como se fosse um filho, ficava focado com cada detalhe. Ele a projetou e construiu do zero, era sua obra de arte, o trabalho de sua vida.

De repente um barulho horrendo e estrondoso tomou conta de todos ouvidos da nave. Como se latas estivessem sendo amassadas. Luz vermelha inundou nave e uma sirene tocou insensivelmente. Uma voz, vinda de todas as direções, chamou:

— Capitão, por favor, senhor, venha à ponte o mais rápido possível.

O capitão saiu correndo da sala de máquinas e se dirigiu ao local.

— Capitão na ponte!

— Informe o que aconteceu com minha nave, oficial!

— Capitão fomos atingidos por um asteroide, por sorte os escudos aguentaram.

— Então, está tudo bem, desative o sinal de emergência.

— Imediatamente, capitão. Desativando estado de emergência.

— Capitão, devo informar que podemos estar entrando em um campo de asteroides. Devemos desativar a velocidade de navegação para verificar os danos e se há mais perigo — sugeriu a oficial de inteligência, se mostrando muito preocupada. O capitão se calou, precisava pensar.

— Quais as chances de estarmos mesmo em um campo de asteroides?

— São raras, capitão, porém estamos na velocidade de navegação, tudo é muito rápido.

— Não dá para identificar no radar?

— Não, capitão, viajamos em alta velocidade. Desde que o senhor ativou a velocidade de navegação, os radares ficaram loucos, aparecem e desaparecem os alvos, estamos navegando graças ao computador quântico.

O capitão mostrava muita resistência em desativar por um tempo a velocidade, pois sabia que a missão iria atrasar.

— Tudo bem. Romus, desative a velocidade de navegação.

— Positivo, capitão. Desativando velocidade de navegação.

— Mantenha a nave em máxima velocidade nos motores normais.

— Afirmativo, capitão.

Os motores foram desligados e a nave rapidamente saiu da velocidade máxima. Bum! Aparecendo no meio do espaço. Então, os motores normais foram acionados e continuou a navegar. Os tripulantes já estavam assustados com a pancada que a nave sofreu e o sinal de emergência, sentiram aquele ”bum” da nave saindo de velocidade de navegação.

— Capitão, seria prudente informar o que está acontecendo à tripulação, todos estão muito assustados.

— Abrir canal com toda a nave, oficial.

— Positivo. Abrindo canal.

— Aqui é o capitão, tripulantes da Osíris 2. Quero informar que um asteroide colidiu com nossa nave. Decidimos sair de velocidade máxima para verificar possíveis estragos. E também a oficial Ema suspeita que podemos estar prestes a entrar em um campo de asteroides. Vamos verificar tudo, vou chamar um piloto e dois exploradores para verificar o casco. E assim que a oficial fizer a sondagem dos asteroides, seguiremos viagem na velocidade máxima. Enquanto isso, viajaremos na velocidade normal. Apresentem-se ao hangar, piloto Zaki e exploradores Makoto e Hanzo. Desligo.

Nem ligando para o que estava acontecendo, pelo menos não ouviu nada, estava Zaki tomando banho e ouvindo música, sendo interrompido pela transmissão do capitão, rapidamente saiu do banho e foi se vestir. Makoto estava em seu alojamento vendo uma foto de alguém muito importante e assustado com todo aquele barulho, ao ouvir seu nome, saiu imediatamente se levantou para realizar a missão e quando ouviu que Hanzo também iria se animou ainda mais. Hanzo estava meditando, mesmo com todo aquele alvoroço e barulho se manteve calmo, inabalável. Quando ouviu seu nome, abriu os olhos, se levantou rapidamente para cumprir a missão. Os três se dirigiram para sala de preparação. Hanzo chegou primeiro e já foi se aprontando, vestiu seu traje, pegou os equipamentos de conserto e se dirigiu para o hangar. Makoto chegou logo em seguida, começou a vestir seu traje e Zaki chegou, pegou seu traje começou a vestir também e disse:

— Acho que não fomos apresentados ainda. Sou Zaki, prazer. A propósito, sou o piloto.

— Hum... Prazer, meu nome é Makoto, sou explorador. Você viu meu amigo Hanzo quando estava vindo?

— Não observei ninguém, Makoto. Mas, me fala, você é terráqueo ou marciano?

— Hahahaha! Sou terráqueo e você?

— Nossa que legal! Eu também. Mas tem algo me intrigando, na verdade eu fiz a primeira pergunta justamente para perguntar essa, espero que não se ofenda, visto que só estou curioso... Você é do programa aperfeiçoamento genético do sexo binário?

— Nossa! Fique sabendo que isso não é coisa que se pergunte, nem te dei intimidade! Respondendo sua pergunta, sou sim e com orgulho! Até mais.

Makoto saiu irritado com a pergunta que Zaki fez, pegou suas coisas e foi direto para o hangar. Zaki ficou para trás, acabando de se arrumar. Makoto chegou no Hangar viu o módulo e entrou.

— E aí, Makoto, demorou...

— AHHHHHH! Nossa, que susto! Hanzo, já disse que essa mania sua de ficar parecendo uma estátua nos lugares dá medo nas pessoas.

— Hahahahaha! Calma, só te cumprimentei hahahahaha!

— Não estou vendo a graça.

— Do seu ponto de vista, não tem mesmo. Mas do meu tem, sua cara de medo se transformando em nervoso. Hahahahahaha!

Makoto fechou a cara e ficou olhando para o canto. De repente, Zaki chegou.

— Prazer, sou Zaki, o piloto, a nervosa aí já conheço, mas você é quem?

— Ah, sou Hanzo, explorador. Então já conhece o lendário Makoto. Hahahahah!

— Não entendi. Sim, conheci Makoto na sala de preparação, que por sinal estava a sua procura. Mas por que lendário? Está rindo de quê?

— Não é nada, coisa minha e dele.

— Ei, parem de conversar como se eu nem estivesse presente. Vamos realizar essa missão ou não?

— Sim, vamos. Depois conversamos mais, meus caros.

Zaki foi para os controles, sentou-se e chamou a ponte.

— Módulo para ponte.

— Prossiga, módulo.

— Estamos prontos para começar a missão, ao seu comando.

— Positivo, Zaki, prossiga com a missão. O capitão quer terminar isso o mais rápido possível.

— Positivo, ponte.

Zaki se virou para Hanzo e Makoto:

— Ei, vocês estão prontos?

—Sim! — responderam os dois.

— Fechando porta do módulo. Iniciando desligamento da Osíris 2 em: 5... 4... 3... 2... 1. Módulo operante, ponte.

— Positivo, módulo, prossiga e relate qualquer acontecimento.

— Afirmativo.

— Romus, desacelere a nave até terminar a verificação. Ema, assim que você tiver novidades sobre o campo de asteroides me informe, vou para o setor de alimentação. Romus, fique no controle até meu retorno.

— Como desejar, capitão — afirmou Romus.

— Sim, senhor — respondeu Ema.

Visto que demoraria para verificar a nave parte por parte, Zaki ativou os drones, que saíram da parte de trás do módulo e rapidamente começaram a sonda na poderosa Osíris 2 em busca de algum dano. Makoto disse:

— Não seria mais rápido enviar os drones ao local em que o asteroide colidiu?

— Sim e não. Verificaria o local, de fato. Mas quando um artefato grande assim colide, ele se fragmenta, as vezes podendo danificar várias partes da nave. Podem estar operantes agora, mas com o decorrer da missão podem apresentar defeito. E, por experiência própria, esses defeitos só se apresentam quando mais precisamos de bom funcionamento. Então coloco para verificar tudo.

— Entendi.

Os drones realizavam a sondagem centímetro por centímetro da Osíris 2. Enquanto isso, o capitão bebia um café no setor de alimentação e vistoriava relatórios em sua tela portátil.

Aiyra entrou no setor de alimentação, foi até a máquina de alimentação, selecionou chá e, quando se virou, avistou o capitão sentado tomando seu café. Aiyra não pensou duas vezes e foi até o capitão que se surpreende.

— Olha quem encontramos entre os mortais.

O capitão, que estava entretido, não a tinha visto se aproximar, se surpreendeu com a fala de Aiyra.

— Sua fala me coloca na categoria de alguma divindade. Até poderia tomar como elogio, porém sou tão mortal quanto você, tripulante.

— Pode ser um elogio, posso talvez estar elogiando seu intelecto, que não pertence a um humano comum.

Dante logo respondeu de maneira curta e direta.

— Onde quer chegar, tripulante?

— Nossa, olha só! Então, por mim, tudo bem. Quero saber o que tanto escondem você e sua turminha da elite. Eu vi o comandante e seu oficial andando juntos para encontrar com alguém na sala do capitão. O que foram conversar em segredo?

— Não escondemos nada, tripulante.

— Escondem, sim, ando observando vocês há um tempo. Há coisas que não estão contando para nós sobre a missão.

Dante se surpreendeu com a resposta de Aiyra e pensou se ela tinha visto algo relativamente preocupante. Nos pensamentos dele: “Será que ela viu os M2 ou a reunião com o comandante... Ou ficou sabendo algo por intermédio de alguém?”

— Não escondemos nada, tripulante. Quer me conta o acha que viu? — disfarçou.

— Se eu soubesse realmente o que era, a tripulação inteira já estaria sabendo. Mas vou descobrir, pode anotar isso. Eu odeio quando escondem as coisas dos outros, faço de tudo para a verdade vir à tona.

O capitão se levantou, pegou sua caneca de café e disse:

— Faça como quiser, tripulante.

O capitão saiu do setor de alimentação, deixando Aiyra para trás.

Os drones chegaram no local exato em que o asteroide colidiu e notificaram a Zaki.

— Estou recebendo imagens... Nossa, a situação é séria, caso não tivéssemos escudo, estaríamos a essa hora espalhados pelo espaço. O casco está altamente danificado, precisa de reparos imediatamente. Preparem-se para irem arrumar.

— Sim, vamos, Hanzo.

Hanzo e Makoto colocaram os capacetes, lacraram os trajes. Caminharam até a escotilha, entraram e fecharam. Esperaram comando do Zaki para abrir a última que dava acesso ao espaço.

— Podemos, Zaki?

— Sim.

Por tanto, abriram a escotilha. Hanzo foi primeiro e pulou, se lançando em direção a Osíris 2. Assim que se aproximou, ativou o solado da bota do traje que era magnético, fazendo que ficasse preso e pudesse andar pelo casco da nave. Assim que Hanzo conseguiu, foi a vez de Makoto. Makoto pulou e foi de encontro a Hanzo que estendeu a mão para pega-lo.

— Makoto, você está vindo rápido demais. Ative o solado magnético.

— Tudo bem.

Makoto se enganou com os comandos e ativou o propulsor do traje que deu um impulso, fazendo o ir muito rápido. Zaki viu o engano e disse:

— Hanzo ele ativou errado! Cuidado!

Batendo de frente com Hanzo, que caiu de costas, mas ficou no local devido as botas. Porém Makoto não conseguia fixar os pés no casco, bateu seu tanque de oxigênio, quicou igual uma bola e bateu no casco da nave outro tanque, dessa vez o de gás, quicou mais uma vez, e foi flutuando, começando a tomar distância da Osíris 2.

— Makoto, ative o propulsor da mochila para se guiar, RÁPIDO!!!!!

— Estou com medo, Hanzooo, me ajudaaaaaaaa!

— Me escuta, está vendo em seu pulso um botão azul e outro vermelho?

— Sim... Acho que sim...

— Aperte o VERMELHO!

Makoto apertou e os propulsores da mochila ativaram.

— Makoto, aperte o vermelho para ativar e o azul para parar e venha até mim.

Makoto foi se guiando até chegar em Hanzo de novo. Quando chegou perto, desligou o propulsor e conseguiu segurar na mão de Hanzo, colocou os pés no casco da nave e se fixou.

Hanzo estava preocupado, mas se sentia aliviado por não ter acontecido nada pior.

— Nunca mais faça isso, Makoto.

— Desculpa... É minha primeira vez, me desculpa...

— Eu sei, mas sempre faça o que eu faço, ok?

— Tudo bem, mas me desculpa! — repetiu quase chorando.

— Relaxa, tudo está sob controle.

Os dois foram caminhando bem devagar até o local do conserto. Chegaram e comunicaram a Zaki.

— Zaki, mande os equipamentos e também metal em gel.

— Positivo, Hanzo, vou enviar. Vocês me passaram um baita susto, caramba. Fiquem de olho.

— Positivo, Zaki, depois falamos sobre isso.

Passado um tempinho, um drone foi até Hanzo e deixou o gel de fibra de crition e mais alguns equipamentos. Os dois trabalhadores começam os reparos, fortalecendo o casco e soldando.

▓▓▓▒▒▒░░░ ۞ ░░░▒▒▒▓▓▓

— Capitão na ponte.

— Temos alguma novidade?

—Hanzo e Makoto estão realizando os reparos. Ema ainda está analisando os dados.

Dante tomou um gole de café e não disse nada, apenas se mostrou frustrado por ainda não estarem viajando para cumprir sua missão.

Trabalhando duro, depois de uma hora, os reparos estavam prontos. O local em que colidiu com o asteroide ficou perfeito, além de consertar, fortificaram, porque ficava perto de um transmissor, caso fosse atingido novamente poderia gerar mais problemas.

— Capitão terminei a verificação — avisou Ema.

— Excelente! Informe.

— Realmente tem um campo de asteroides logo a frente, o que colidiu em nós é nada comparado com os outros que estão por vir. Sugiro uma mudança na rota, até contornarmos o campo, voltando ao percurso original depois.

O capitão ficou surpreso, mas não comentou nada sobre o campo de asteroides. Pensou um momento e disse:

— Trace a rota de contorno imediatamente. Vamos realizar o contorno na velocidade de navegação. E mande acelerar os reparos.

— Positivo, capitão.

— Zaki, aqui é a ponte, como estão os reparos? O Capitão mandou andarem mais rápido — disse um oficial.

— Afirmativo, ponte. Os exploradores estão indo o mais rápido que podem. Mas vou transmitir o recado, desligo.

Zaki desligou e pensou “Não pode apressar algo assim, esse capitão não tem noção das coisas?”

De repente, tocou o comunicador de Zaki:

— Zaki terminamos, vamos preparar para volta ao módulo — anunciou Hanzo.

— Opa! Que bom, o capitão já estava mandando apressar.

— Deu trabalho, mas conseguimos a tempo.

O dois foram caminhando bem devagar, seguindo Hanzo na frente e Makoto logo atrás, até chegarem no local para saltarem para o módulo. Hanzo se virou, olhou para Makoto e disse:

— Makoto, presta atenção. Você vai soltar as botas magnéticas e pular em direção ao módulo. Depois vai ativar os propulsores para se orientar, entendeu? Lembra do treino na academia, fizemos isso por dias.

— Entendi, Hanzo, eu lembro dos treinos, mas na realidade é tudo tão diferente. Mas eu consigo, não se preocupa. Vai você na frente.

— Tudo bem, então eu vou.

Hanzo se preparou, desativou as botas e pulou, flutuou, ativou os propulsores e guiou-se até o módulo, segurou a escotilha, se prendeu e disse:

— Pode vir, Makoto, eu te pego.

— Tá bom, lá vou eu.

Makoto desativou suas botas, pulou, flutuou, ativou os propulsores e começou a se guiar até o módulo, de repente, um dos propulsores falhou e desligou, ficou funcionando apenas um, fazendo Makoto girar igual um vórtice, com a força que estava girando, desmaio, levando-o para longe do módulo e da nave. Hanzo quando viu se desesperou e gritou:

— MAKOTO!!! Desativa o propulsor rápido!

Mas ninguém respondeu.

Cada vez mais longe do módulo e da nave, Makoto estava indo, até que o gás acabou bem distante, ficando à deriva e desacordado no meio do nada.

— Zaki, temos que buscá-lo, rápido, ele nem responde o comunicador.

— Calma, Hanzo, estou calculando aqui o combustível e os dados.

— Chamando, ponte….

— Informe, piloto.

— Aqui é o piloto Zaki informando que houve um acidente com a equipe de reparo. Um dos exploradores passou por problemas e está à deriva no espaço, precisando de ajuda o mais rápido possível, também não responde o comunicador.

— Vamos analisar os dados do seu módulo, Zaki, aguarde.

— Hanzo, a ponte pediu para aguardar.

Hanzo, muito preocupado, já estava para pular e ir buscar Makoto sozinho.

— Ponte para Módulo.

— Prossiga, ponte — respondeu Zaki tentando manter a calma.

— O explorador que está à deriva danificou um dos tanques de gás e um tanque de oxigênio. Parece estar desacordado, o que foi bom, pois economiza oxigênio. A distância que ele percorreu é muito grande para o módulo realizar o resgate, devido ao pouco combustível, você terá que voltar ao hangar abastecer e fazer o resgate, porém a essa altura o explorador Makoto já estará morto por falta de oxigênio, supondo que não houve mais nenhum dano ao seu traje. Sugiro voltar para nave para avaliarmos melhor a situação.

Hanzo ao escutar todas essas palavras ficou louco, tomou o comunicador das mãos de Zaki e disse:

— Como é? Vão largar ele para morrer? Incrível como nós somos descartáveis para vocês, vão se foder, seus lixos.

Zaki tomou o comunicador das mãos de Hanzo e disse a ponte:

— Peço desculpas, ele está alterado porque tem sentimentos pelo explorador à deriva.

— O NOME DELE É MAKOTO.

Zaki desligou e se virou para Hanzo:

— Hanzo, calma, tenho uma ideia.

— Então, diga logo, vamos!

— Você vai se guiar até Makoto levando um tanque de oxigênio extra. E eu vou para o hangar abastecer para buscar vocês dois, o que acha?

— Perfeito, vamos logo, então.

— Sim, vou informar a ponte e vamos prosseguir.

Antes que Zaki pudesse concluir a frase, Hanzo já tinha ido.

— Módulo chamando Ponte.

— Prossiga, módulo.

— Temos uma ideia para salvar o explorador, assim que concluída informaremos, vou abastecer no hangar avise todos para estarem preparados, não podemos perder um segundo.

— Positivo, módulo, o capitão quer explicação de tudo assim que terminar, e o explorador que faltou com disciplina sofrerá punição pelo desacato.

Zaki ficou triste em saber que Hanzo seria punido, mas seguiu com o plano.

Hanzo foi se guiando o mais rápido possível até Makoto, chegando perto, viu que ele estava desmaiado, se preocupou ainda mais, e acelerou. Zaki seguiu com o módulo bem rápido para o hangar, ao se aproximar, disse:

— Módulo para hangar, preparar chegada e abastecimento o mais rápido possível.

— Positivo, módulo, estamos ao seu aguardo.

Os olhos abriam e fechavam, a cabeça estava doendo, os ouvidos zumbiam, os olhos se abriram de novo e se fixaram nas estrelas, meio desorientado, sem saber onde estava, Makoto foi recobrando a consciência, até que viu sua situação. Com medo, percebeu que o traje informava a perda rápida de oxigênio. Makoto escutou o barulho do vazamento do tanque, tentou chamar o módulo pelo comunicador, mas não teve êxito. Começou a se desesperar pensando que iria morrer ali, daquela maneira, longe de tudo e todos. Só conseguia pensar em Hanzo e na sua família. O traje informou que só restava 5% de oxigênio, Makoto fechou os olhos, se entregando para morte, lágrimas corriam pelo seu rosto, pensando que deveria ter aproveitado mais os momentos que passou junto com Hanzo, seu coração doía, o sentimento arrancava um choro de Makoto descontrolável. De repente, ele sentiu algo tocar na sua perna e, ao abrir os olhos viu Hanzo cara a cara, Makoto fechou os olhos e abriu novamente, acreditando que podia ser uma alucinação, mas assim que escutou a voz familiar, compreendeu que ele estava ali mesmo.

— Makoto, não se mexa, vou trocar seu tanque de oxigênio.

Ele não podia acreditar no que estava acontecendo.

— Hanzo, você voltou por mim? Veio me salvar, mesmo arriscando sua vida?

— Claro, bobão, estamos juntos sempre, mesmo você só fazendo cagada hahahaha.

Makoto se emocionou ainda mais, não conseguiu dizer nenhuma palavra, apenas tentou se conter.

— Makoto, Zaki está vindo nos buscar, fica quieto, eu vou segurar você e vou nos guiar até meu combustível acabar rumo a nave, mesmo acabando, vamos estar mais perto e não distanciamos ainda mais.

Makoto apenas acenou com a cabeça. Hanzo abraçou seu amigo e seguiram de encontro a Zaki.

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