Capítulo 4

Eloise e sua mãe caminharam até a sala de visitas, onde se encontravam os homens bebendo e conversando. Assim que elas chegaram, todos se levantaram e fizeram uma leve reverência. Carmélia caminhou até seu marido, ficando ao lado dele. O senhor Queiroz então falou:

— Vamos a sala de jantar, que logo será servido.

Estevam se aproximou de Eloise e ofereceu seu braço, o qual ela aceitou.

— Permita-me dizer que a senhorita está muito bonita essa noite.

Ela deu uma breve olhada para ele ao responder:

— Obrigada senhor Barros.

Ele sorriu para ela. Não um sorriso genuíno, mas algo malicioso e acrescentou:

— Já que vou cortejar a senhorita, acredito que possamos nos tratar pelo primeiro nome.

Eloise se sentiu frustrada, mas não cedeu:

— Por hora prefiro continuar lhe chamando formalmente.

— Como a senhorita preferir.

Eles chegaram à mesa, que estava elegantemente arrumada e cada um sentou em seu lugar. O senhor Barros era viúvo e tinha dois filhos, Estevam que era o mais o velho com vinte e seis anos e Enio, com vinte e quatro anos. A mãe dos meninos havia morrido no parto de Enio e seu pai nunca se casara novamente. Naquela noite Enio estava fora visitando outra propriedade da família e por isso não compareceu ao jantar.

O jantar transcorreu normalmente, com algumas entradas, sopas, pratos principais e a sobremesa. Após o jantar os homens foram para a biblioteca conversar e tomar vinho. Eloise e a mãe ficaram na sala. Eloise era filha única, antes dela sua mãe tivera alguns abortos e um natimorto, depois dela mais dois abortos e então o médico desaconselhou tentar engravidar, dizia ter sido um grande milagre ela ter conseguido ter uma filha. Seu pai sonhara em ter um menino, um herdeiro, mas mesmo assim não se importou e ficou do lado da esposa, criando a filha com todo amor e carinho, fazendo quase todas suas vontades.

Não demorou muito, Estevam saiu da biblioteca e veio até a sala convidar Eloise para dar uma volta. Ela olhou para a mãe que assentiu. Deu seu braço ao jovem e saíram até a varanda. A noite estava muito bonita, com uma lua cheia que deixava à noite clara como o dia.

Ao chegarem na varanda, Eloise soltou o braço de Estevam e caminhou até um pilar olhando para a lua. Sem tirar os olhos do céu o questionou:

— Por que quis me cortejar?

Ele se aproximou e tocou a mão dela. Eloise se assustou com o toque inesperado e puxou a mão. Estevam deu um sorriso de canto:

— Eu a acho uma mulher muito bonita e já lhe disse mais de uma vez.

Eloise pareceu não acreditar, pois ele já teve oportunidade antes de pedir para corteja-la e não o fez.

— Então isso não tem nada a ver com um possível acordo com o meu pai?

Ele a olhou espantado e fingindo estar ofendido:

— Jamais me casaria por interesses.

Estevam a virou de frente para ele e passou o polegar pelo seu rosto, olhando para a sua boca.

— Sempre me perguntei qual seria o gosto da sua boca…

Então se aproximou para beija-la, mas Eloise virou o rosto e ele deu um beijo na sua bochecha. Ela se afastou e começou entrar novamente em casa:

— Acho que devemos voltar, não é prudente ficarmos muito tempo sozinhos.

Ele a alcançou e pegou em seu cotovelo:

— Agora estamos praticamente noivos.

Eloise parou e olhou para ele:

— O que o senhor quer dizer com isso? Achei que já estava tudo acertado.

Estevam deu um sorrisinho debochado a ela quando respondeu:

— Eu pedi um tempo ao meu pai para fazer o pedido oficial, preciso aproveitar minha vida de solteiro enquanto posso.

Eloise sentiu seu estômago embrulhar com a resposta dele, mas ao mesmo tempo sentiu um fio de esperanças

Eles voltaram para dentro e se juntaram aos demais na sala. Não demorou muito e os visitantes foram embora, para alívio de Eloise. O senhor Álvaro então olhou para a filha:

— Filha espero que me perdoe, mas já esperamos demais para que você encontrasse um pretendente que gostasse e eu não sei mais o que fazer com as dívidas da fazenda.

Eloise olhou para o pai:

— O senhor ao menos poderia ter me comunicado antes.

Eles estavam sentados na sala. As mulheres tomavam um chá e ele um conhaque. A sala da casa dos Queiroz era ampla, com três sofás grandes de veludo nas cores bordô, um lindo tapete ao centro juntamente com uma mesinha, uma cristaleira ao lado direito da porta de entrada e uma lareira que era acesa somente nos dias frios de inverno. As paredes eram pintadas num tom floral, na ala leste, havia um quadro grande de uma paisagem e ao lado esquerdo haviam duas janelas grandes que davam para o jardim.

Álvaro olhou para a esposa e após voltou seus olhos para a filha:

— Mas tudo foi decidido hoje à tarde. Estávamos na reunião dos fazendeiros, quando eu reclamei da falta de recursos o Barros teve a ideia. Após todos irem embora, ele e o filho ficaram e acertamos os detalhes. O rapaz apenas pediu um mês para fazer o pedido formalmente.

Ao lembrar no que Estevam a disse na varanda, sobre aproveitar enquanto podia, fez com que ela revirasse os olhos. Então outro pensamento passou pela sua cabeça, Arthur.  Então resolveu arriscar para ver se o pai conhecia a família do rapaz:

— O senhor Fonseca também estava nessa reunião?

O pai a olhou curioso:

— Não sabia que conhecia o Fonseca. Mas ele não estava, Gregorio tem ideias muito liberais.

Ela ficou pensando no que aquilo poderia querer dizer e se calou para evitar perguntas de onde o conhecia, mas então voltou a encarar o pai com olhos esperançosos:

— Pai e se eu conhecer alguém nesse espaço de tempo?

O pai a olhou surpreso:

— Você não conheceu em todos esses anos que frequenta a sociedade, porque agora seria diferente?

Eloise não respondeu. Apenas ficou pensativa. O pai a fitou e acrescentou em seguida:

— Aproveite esse tempo antes do casamento filha e não se preocupe, tudo vai dar certo, tenho certeza que vocês vão se entender.

Se ao menos o pai conhecesse Estevam, saberia que aquilo não era verdade. Não teria como ela se acertar com alguém como ele. Ele adorava flertar com as moças nos bailes e leva-las para fora dos salões para roubar beijos. Sempre havia deixado claro que não casaria tão cedo e se havia aceitado casar com ela, certamente deveria estar ganhando alguma coisa com isso.

A jovem levantou e disse aos pais que estava cansada e pediu licença para ir dormir. Ela queria que aquela noite acabasse logo.

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