Aquela que roubava velhinhas

O uniforme do Parlour’s Café era minúsculo, Cora o odiava e passava mais tempo ajeitando a mini-saia lilás em volta da cintura do que prestando atenção nos clientes. 

Por sorte, ela tinha planos para deixar a espelunca, a cidade, o país, naquele dia mesmo, e não teria mais que se sentir como parte do cardápio.

Cora inspecionou as mesas e escolheu a dedo qual seria a última pessoa que ela atenderia. No canto, solitário, estava um homem, com os olhos verde-claros fixos na tela do notebook, tinha a pele bronzeada, cabelos na altura dos ombros, muito lisos, que o faziam se mexer de tempos em tempos, para colocar as mechas atrás da orelha. Ele era bonito, mas o que se destacou nele o suficiente para fazê-la ir em sua direção foi a expressão determinada e dura em seu rosto. Não importava qual era a idade dele, aquele homem, claramente, já se deparou com muitas merdas na vida e Cora se identificava com esse tipo de pessoa.

Se aproximou.

— Bom dia, em que posso…

— Um café puro e sem açúcar. – ele a interrompeu, seco, mal se dando conta da presença dela. Ao lado do notebook, haviam páginas e páginas espalhadas, anotações desorganizadas escritas em um alfabeto que mais parecia ter sido inventado. 

— Claro. – replicou, revirando os olhos. Esse, com certeza, não passava de mais um estudante estressado, ensandecido por causa de provas finais.

Ela deu as costas e foi cuidar do pedido.

Demorou de propósito, ainda deu uma conferida em seu reflexo na porta de um dos armários, soltou e prendeu os longos cabelos castanhos de novo pelo menos duas vezes. Estava entediada como o inferno.

Quando voltou para servi-lo, ele havia desaparecido. Tinha saído às pressas e deixado um monte de lixo para trás, só pra ela ter o trabalho de limpar. Que desgraçado!

Recolhia uma pilha de malditos papéis amassados quando a sineta da entrada tocou mais uma vez. Ela olhou para cima e viu um gigante entrar, dar uma boa olhada na direção dela e sentar-se no balcão. Cora não se lembrava de ter visto um homem tão grande e robusto antes e era difícil acreditar que alguém tão musculoso conseguisse se sentar ali sem envergar o metal da cadeira. Ele tinha cabelos longos também, como o outro, mas de um loiro sujo e bagunçado, que cobria seu rosto como uma cortina. Era um sujeito mal encarado com um péssimo senso de moda, vestia couro da cabeça aos pés como se estivesse no Texas dos anos 60.

Cora ficou desconfiada. Especialmente porque ele estava olhando demais.

Assim que ela se afastou e jogou o lixo na cesta, o sujeito trocou de lugar e foi para a mesma mesa em que o moreno havia estado. O viu colocar os cotovelos na mesa e juntar as mãos, como se fosse meditar ou alguma merda do tipo. Coralina observou essa bizarrice até o momento em que o sujeito fechou os olhos e respirou bem fundo. O peito inflou e as narinas se dilataram ao extremo para, logo em seguida, começar a farejar o ar. Como um cachorro de caça. 

Foi nesse exato instante que Cora tirou o avental e jogou a toalha.

Sem olhar para trás, vestiu o sobretudo e saiu para encarar o inverno de Louisiana, aquele vento fino e irritante ameaçando cortar a pele de seu rosto em milhares de pedacinhos. Como Cora odiava esse lugar! O que a fez pensar que ali seria um bom ponto de partida para um recomeço? Só a ideia de recomeçar agora lhe parecia absurda.

Caminhou a passos largos até o residencial de classe média em que morava, cujas casas tinham sido construídas sob o mesmo molde e onde todo mundo passava noventa por cento da manhã aguando o jardim e fingindo ser uma pessoa feliz e de sucesso. Cora não escolheu esse lugar porque se parecia com essa gente, mas porque essas pessoas eram os imbecis mais fáceis de enganar do universo.

Fazendo sua melhor cara de gentil, Cora cumprimentou o senhor Harrison, o vizinho. Ele sorriu e ajeitou o terno de segunda mão antes de se despedir e dar a partida em um carro igualmente usado. O sorriso de Cora desapareceu assim que entrou em casa e fechou a porta atrás de si. A mobília continuava no exato lugar em que estava quando ela adquiriu o imóvel, algumas coisas ainda estavam revestidas com papel plástico. Ela não se importou em deixar o ambiente pessoal, não quis deixar sua marca em um lugar que sabia, sentia, que nunca se tornaria um lar. 

Foi decidida até a janela, onde um par de binóculos já estava posicionado. Deu uma olhada para a casa ao lado, onde uma velhinha de pelo menos uns cem anos morava sozinha. Ela não fazia absolutamente nada o dia inteiro, só de manhã bem cedo, na hora do almoço e à noite aparecia uma mocinha cuidadora de idosos. O nome da velha era Noemi Furge e, naquele momento, ela estava dormindo, sentada na sua poltrona de sempre, com os óculos de tartaruga caindo pelo nariz.

Cora era uma stalker. Era incapaz de viver em um lugar em que não soubesse o máximo de detalhes sobre aqueles que a rodeavam. Os horários de entrada e saída, os hábitos, as manias, segredos. Ela não gostava de não saber onde estava pisando e tinha um certo prazer em reconhecer as estranhezas das pessoas, o íntimo delas e as coisas que faziam delas simplesmente humanas. 

Em alguns casos, entretanto, Cora usava suas habilidades investigativas para finalidades menos poéticas. Ela vinha vigiando a rotina da senhora Furge desde que colocara os pés naquele bairro e fez um levantamento de seu passado. A velha era uma socialite que caiu no esquecimento, fora casada com um empresário rico que morreu há cinco anos e foi abandonada pela família logo em seguida. Ela tinha que ter jóias e algum dinheiro escondido por ali. Observando, Cora descobriu onde ficava o cofre, a prataria, e alguns outros objetos de valor que poderiam ser úteis.

Esse era o plano B.

Quando chegou em Louisiana, Cora arranjou um emprego e se obrigou a acreditar que poderia viver uma vida normal. Se nada desse certo, a intenção dela era encontrar uma vítima fácil e conseguir o suficiente para fugir de novo.

Isso era algo em que ela era especialista. 

De qualquer modo, os eventos daquela manhã acionaram a luz vermelha em sua cabeça que indicava o final de sua paciência para a normalidade. Ela entrou no quarto, que se resumia a uma cama de solteiro simples e um guarda-roupa de duas portas, tomou um grande gole da garrafa de rum que estava pela metade na mesinha de cabeceira e começou a tirar o uniforme. Peça por peça, apreciando esse ato simples como um rito de passagem. Jogou tudo na lixeira, junto com o resto que sobrou na garrafa e acendeu um isqueiro. Enquanto as chamas crepitavam, Cora apanhou a mochila surrada de cima do armário e começou a enfiar nela todos os seus pertences.  

Essa mochila tinha estado com ela desde que ela fugiu da casa mãe, também há cinco anos, quando ela tinha apenas dezoito anos. Ela fugiu porque a vida lá era uma droga e algumas pessoas eram podres. Mas ela não gostava de se lembrar disso. Cora preferia pensar somente no que aconteceu a partir do dia em que começou a tomar conta de si mesma. Nesse curto período de tempo, Cora já morou em uma dezena de cidades diferentes, roubou muitos carros e falsificou algumas identidades.

Cora aprendeu a se virar para viver e agora não sabia como deixar esse hábito de lado. Não sabia como era ser uma pessoa normal.

Todas as vezes que tentava se adaptar, a inquietude e o marasmo sempre a pressionavam a levantar e ir embora, seguir em frente e mudar de ares. O fato de que ela não se importava em cometer pequenos crimes a fim de manter esse estilo de vida apenas alimentava esse comportamento.

Vestiu-se para viagem – camiseta, jeans e tênis – e se preparou para começar de novo.

Coralina conferiu o relógio e percebeu que tinha exatamente meia hora pra fazer o que tinha que fazer antes que Annie, a cuidadora, chegasse. Desse modo, colocou a mochila nos ombros e luvas cirúrgicas de borracha nas mãos e pulou a janela, isso porque Lorenzo, o limpador de calhas, estava na casa da frente e não era de interesse de ninguém que houvesse uma testemunha para dizer que ela tinha deixado a residência naquele dia.

Ela saltou também a cerca, no lado em que os arbustos estavam mais baixos, e invadiu a cozinha da senhora Furge pela porta dos fundos. Cora já era silenciosa naturalmente e, quando se esforçava, conseguia passar despercebida por qualquer lugar.

Noemi não se mexeu, nem parecia respirar, para falar a verdade.

Ignorando isso, a mulher foi direto para o cofre. Apesar de ser digital, aquela geringonça era do século passado e as teclas estavam gastas… as mesmas teclas… algumas mais do que as outras… Quando a vida estava fácil desse jeito, Cora desconfiava. 

De qualquer modo, a maior parte das coisas ali eram inúteis, algumas escrituras, cheques, documentos, mas tinha um bolo de dinheiro, o que era suficiente. 

O plano era só pegar e sair. Seria a decisão certa. 

Mas não. Cora decidiu de última hora que queria levar um souvenir. Pensou no desperdício que seria sair de uma casa tão cheia de cacarecos e antiguidades que uma a menos não faria diferença. 

Seus olhos se focaram imediatamente no bule de porcelana verde em forma de elefante indiano que a velha adorava usar quando os netos iam visitá-la uma vez por ano, guardado no topo de uma estante.

Se aproximou e contemplou aquela peça linda e única. Colocou suas mãos nela e sentiu a superfície lisa e gelada da porcelana. A puxou em sua direção, já imaginando os chás que tomaria naquele bule. Então…

Crash.

Crash! 

CRASH!

Cora teve um segundo de choque ao perceber que o elefante estava sustentando a prateleira superior, porque a droga da estante estava quebrada de um lado. Vidro e porcelana estatelaram-se por todos os cantos e forraram o chão de cacos. Sem pensar duas vezes, Cora se jogou e rolou para trás do sofá antes que Furge acordasse e a visse.

Esperou algum tempo pela reação da senhorinha, mas não ouviu nada. Levantou-se devagar e olhou. Ela continuava no mesmo lugar e na mesma posição de antes, o que era mal, muito mal.

Foi até ela lentamente, evitando pisar nos cacos, e, delicadamente, tomou a pulsação da idosa.

Morta. A filha da mãe estava morta.

Coralina respirou fundo, amaldiçoando todos os deuses possíveis pela sua falta de sorte. De qualquer maneira, para compensar os estragos, enfiou aquele bule desgraçado na mochila antes de correr para a porta de onde veio e sair da casa. Atravessou o quintal de Noemi e invadiu o terreno dos fundos, que estava desocupado.

A partir daí, Cora já considerava aquilo uma página virada. Annie provavelmente chegaria, encontraria a bagunça, mas a atenção estaria toda voltada para o cadáver sentado na poltrona. E fim.

A mulher, então, foi para a rua e se misturou às outras pessoas, caminhando o mais naturalmente que conseguia e em um passo relativamente lento, no ritmo próprio dos inocentes. Ela foi virando de esquina em esquina até chegar nos bairros mais afastados da cidade. Só parou quando alcançou uma rua solitária e silenciosa, propícia para a sua rota de fuga. 

Um dos carros estacionados na frente dos prédios foi um carro velho azul ridículo, quadrado e enferrujado, uma legítima lata velha. Cora faz uma careta vendo aquilo, principalmente porque seu padrasto um dia teve um modelo daqueles, com a diferença de que o dele era vermelho. Ela acabou escolhendo esse carro por afinidade.

Ele não tinha alarme nem nada, mas estava trancado e Cora precisou encontrar algo fino e longo para destravar a porta. Tinha que ser rápida, dera sorte por encontrar aquela rua vazia, mas as pessoas que costumavam zanzar naquelas bandas eram perigosas, traficantes, viciados, gente desse tipo.

Dentro, o estofado fedia a sujeira de muitos anos de uso sem uma boa lavada, havia uma mancha de café no banco do passageiro, não tinha retrovisor interno e uma região mofada no teto do carro estava se espalhando a partir do parabrisa. Apesar dos defeitos, Cora encontrou um pequeno revólver no porta-luvas e uma bolsa de ginástica suspeita jogada na parte de trás do carro, o que compensou a nova aquisição.

Coralina fez ligação direta, deu a partida e saiu devagar, para não perturbar o silêncio e acabar chamando a atenção.

A pior parte havia passado. A mulher dirigiu até chegar à estrada, rumo ao norte do país. Estava satisfeita consigo mesma, apesar de todos os inconvenientes. E o carro não era de todo ruim, embora parecesse que tinha alguma coisa solta no porta-malas, fazendo um barulhinho abafado todas as vezes em que passava por um quebra molas ou algo do tipo.

Por um instante Cora se perguntou se não haveria um defunto enrolado em um saco plástico ali, como nos filmes de mafiosos, e achou que se algum dia isso acontecesse de verdade, ela seria capaz de despejar gasolina e tacar fogo na porra toda. Havia um limite para a quantidade de merdas que uma pessoa pode suportar no decorrer da vida e ela estava quase alcançando a sua cota.

Algumas horas depois, quando já estava longe o suficiente, Cora parou em um posto de gasolina, pegou a bolsa azul do banco traseiro e foi até o banheiro conferir o que tinham guardado ali dentro. Nela havia uma jaqueta de couro marrom muito antiga, mas inegavelmente estilosa, um par de óculos escuros, uma faca envolvida em uma capa de couro cru, sua lâmina era negra e o cabo era de madeira avermelhada e envernizada, havia também uma barra de cereal diet e uma carteira.

Nada mal.

Cora, então, tirou a camiseta e ficou nua da cintura para cima. Amarrou o cabelo em um rabo de cavalo alto e frouxo, pegou a faca, que se provou ser extremamente afiada, e cortou os cabelos. Ela suspirou de alívio depois disso. Todos aqueles fios a irritavam profundamente. 

Tomando cuidado para não se machucar, a mulher desfiou o que sobrou do cabelo até ficar em um estilo joãozinho aceitável. Limpou os picotes de cabelo que ficaram grudados nos seus ombros e tronco e colocou as roupas de volta. Se sentia outra pessoa. Passou a mão na cabeça com gosto e se olhou no espelho, o corte realmente combinava com o seu rosto, sua pele morena e a sua personalidade.

Voltou sua atenção para a jaqueta, conferiu os bolsos e também se estava fedendo. Nada. Estava utilizável e Cora a vestiu. Quanto à faca, ela teve vontade de colocá-la na cintura ou em algum lugar em seu corpo para que pudesse pegá-la com facilidade caso precisasse, mas nenhum lugar era confortável e atrapalhava muito os seus movimentos, então ela decidiu deixá-la onde a encontrou.

No espaço que antes era da jaqueta, Cora deu um jeito de fazer caber a sua mochila.

Deixou para verificar a carteira por último. Pelo tipo de objetos que foram encontrados naquela bolsa, o antigo dono deveria se tratar de alguém que ficou, no mínimo, muito puto da vida com a audácia de quem o roubou e que não hesitaria em matar caso encontrasse o ladrão. Cora deu de ombros. 

Nela foram encontrados cartões de crédito, que foram imediatamente para o lixo, duas camisinhas, o número de uma pizzaria, de uma farmácia, de uma pessoa qualquer sem identificação, cinco dólares e, finalmente, a carteira de motorista. Ou melhor, as carteiras, visto que haviam três do mesmo cara, mas com nomes diferentes. Richard Peevy, Bryan Russ e Dylan Perrin. Totalmente genéricos.

— Inacreditável… – Cora não pôde se conter. Aquele homem era ninguém menos do que o moreno no café mais cedo naquele dia. O estressado do café puro e sem açúcar. Ela sorriu para a ironia das coisas.

Enfiou a carteira no bolso e voltou para o carrinho quadrado e fedido que tinha arranjado. Era a hora de conferir o porta-malas.

Com um clipe que havia encontrado no chão, Cora destrancou a porta. E quase deixou escapar um grito de susto quando viu um garoto amordaçado, amarrado nas mãos e nos pés olhando pra ela com os olhos bem arregalados. Ele se agitou e seus gritos de socorro foram abafados pelas camadas grossas de fita adesiva que rodeavam sua cabeça em torno da boca.

Sem reação, Cora precisou de alguns segundos para processar o que estava acontecendo. — Puta que pariu. – imprecou, olhando em volta e analisando a situação, tentando não entrar em pânico.

O barulho de um caminhão estacionando para abastecer fez com que as engrenagens de seu cérebro voltassem a girar e a tomar uma decisão rápida, antes que alguém visse aquilo e achasse que além de ladra ela era também uma sequestradora de menores.

Cora pegou a bolsa e a jogou em cima do garoto, ele gemeu um pouco mais, mas ia sobreviver. Então fechou novamente a porta e entrou no carro. Dirigiu novamente até estar na auto-estrada, o mais distante possível de qualquer tipo de civilização e parou no acostamento.

Antes de abrir novamente a porcaria daquela porta, Cora apoiou-se nos joelhos e respirou fundo. Se ela perdesse o controle, tudo estava perdido e ir para a cadeia não estava na sua lista de opções.

Por mais que quisesse que tudo aquilo não passasse de uma alucinação, o rapaz continuava lá, encolhido e desesperado, quase se jogando em cima de Cora.

A mulher tirou a faca da bolsa e cortou as cordas dos pés, o ajudou a sair do confinamento e a sentar no banco de trás, com a porta aberta e as pernas esticadas para fora. Depois, enfim, tirou a mordaça. O sujeito tossiu bastante, e colocou a língua pra fora algumas vezes, como se quisesse ter certeza de que ela ainda estava lá. 

Aquele rapaz era só um garoto, devia ter, no máximo dezessete anos, tudo nele gritava inexperiência, principalmente os olhos, cor de caramelo e grandes, vivos, como se não tivessem sofrido nenhuma dor na vida ainda.

O que era estranho, considerando as circunstâncias.

O rapaz era baixo, do tamanho de Cora aproximadamente, mas era entroncado e com certeza praticava exercícios regularmente. Sua pele era de um moreno voltado para o dourado. Cora também era morena, café com leite.

— Quem, diabos, é você? – ela perguntou, enquanto ele ainda estava distraído passando a mão na língua. 

— Tony. Antonie Penalvo. 

Tony fez como se quisesse cumprimentá-la e só então se lembrou que seus punhos ainda estavam presos, Cora revirou os olhos e rejeitou o gesto dando um tapa nas costas da mão dele. — Eu é que devia saber quem você é, porque esse carro aqui é do… não é seu! E essa jaqueta não te pertence. Você é que é a intrusa aqui, moça.

— Por que te amarraram? – ela o ignorou.

— Eu… eu não vou te falar. Não é da sua conta. – A pergunta claramente o deixou nervoso e, até esse ponto, Cora nem sabia quais eram as perguntas certas a se fazer. Ele tentou tirar a corda dos pulsos com os dentes, mas não conseguiu e estendeu os braços para que ela a cortasse.

— Aham, vai acreditando que eu vou te soltar. – ela colocou a mão na cabeça semi-raspada dele, o empurrou para dentro do carro e bateu a porta. Tony parecia um filhote confuso quando ela sentou no banco do motorista e deu a partida. — Eu não vou te soltar pra você sair correndo e me dedurar. Ou pra fazer alguma idiotisse e tentar recuperar as coisas do seu “amiguinho”.

Tony bufou.

— Pelo menos tira essa jaqueta. – ele tentou ordenar, mas não era bom nisso. Cora riu.

— Se você calar a boca e ficar quieto talvez eu pense no seu caso.

A mulher voltou para a estrada. O garoto se calou, mas não conseguia ficar parado, ia de uma janela para a outra, ficava batendo os pés nos bancos da frente, murmurava alguma coisa, tentava tirar as amarras, em vão.

A viagem agora ia ser longa.

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