Capítulo 2

O acolher dos braços do moço bonito e traiçoeiro durou tempo o bastante para que o coração da garota pulasse em seu peito e toda emoção fosse demonstrava em seus suspiros e em seu estômago inquieto.

O moço bonito e traiçoeiro foi quem finalizou o abraço e afastou a garota de seus braços, numa distância curta o suficiente para ainda sentir-se a respiração um do outro.

Aquele contato dos olhos durou um tempo curto, pois o garoto logo anunciou a sua ida e se despediu brevemente da garota. Ele disse ter esquecido que teria um compromisso naquele momento e que passou apenas para ver a menina ingênua por mais uma vez. De modo desconfiado, ele foi embora e ela manteve-se o observando pensativa.

Observando ao seu redor, ela se deparou com sua amiga caminhando em sua direção, com uma expressão cansada. Consertou a alça de sua mochila em seu ombro e deu um sorriso fraco para Deyse, a garota com a qual seguia para casa.

As duas garotas conversaram sobre coisas triviais até o momento em que chegaram às duas curvas, separando duas direções e era ali que elas se separavam. Com um breve abraço e um "até logo", elas foram para suas respectivas casas.

҉

― Ah! Calleb...

Quando aquela moça ingênua chegara em sua casa e adentrara a sala, ouviu risos vindos da cozinha. Seu pai e sua mãe conversavam distraídos. Calleb, o pai de Catarina, quase nunca estava em casa por conta de seus plantões no trabalho, portanto, não era de se admirar que sua mulher aproveitasse tanto a sua presença.

Catarina tentou seguir para o seu quarto, com o intuito de não atrapalhar o casal abraçado na cozinha, mas seu pai a chamou furtivamente e ambos a acolheram no que chamaram de "Abraço de família". Certamente, na presença de seu pai aquela casa tornara-se mais meiga e atenciosa, e a garota se aninhou ali nos braços e respirou fundo, a sentir um fecho breve de amor pela sua família.

Cumprimentando-os e falando brevemente sobre o seu dia, ela seguiu para seu quarto assim que deu a "conversa" por finalizada, com o intuito de estudar para as provas, mas ela apenas deitou na cama e se encheu de devaneios por longos minutos.

҉

Catarina de fato estudou, e em uma de suas pausas ela pôs-se a navegar pelas redes sociais que tinha. E não demorou muito para seu celular vibrar em sua mão, com a chegada de uma mensagem de quem ela sentia o prazer em responder. Porém, daquela vez fora diferente, de uma forma avassaladora. "Com o abraço tão bom, não consigo parar de imaginar como seria o beijo."

A garota sentiu suas mãos suarem e um imaginário comichão em seus lábios faziam-na umedece-los repetitivamente. Ela resolveu por deixar aquela mensagem sem reposta por enquanto e levantou da cama para achegar-se à janela e observar o tempo, com os minutos se passando depressa.

"E se ele me beijar?" Falou consigo mesma. "O que eu faria? Não sei como reagiria."

Estava angustiada. E não era pra menos, já que ela estava no grupo de garotas "deslocadas" que nunca haviam beijado alguém. Certamente, é de se imaginar, tendo uma mãe severa e o peso de se estar na igreja. Pelo menos para ela esse era o significado.

É claro que ela queria e desejava conversar com sua mãe, mas, só de imaginar todos os sermões que receberia, ela desistia. Ela não esperava receber permissões para fazer o que queria, ela ansiava por explicações e isso ela não recebia. Por este fato, procurava ajuda por si mesma, ou por quem estava disposto a ajudar. 

Ela telefonou para sua amiga, Deyse e lhe contou tudo que estava ocorrendo.

― Eu não sei o que fazer, ele quer me beijar e eu tenho certeza de que ele fará isso... me ajuda!

― E? O que tem de errado nisso?

― Eu nunca beijei ninguém.

Pasma, a amiga respeitou aquele "segredo" e não riu, mas apenas a aconselhou.

― É natural, se ele te beijar, não o deixe saber que é o seu primeiro beijo. Aja naturalmente, sinta o momento, deixe ele guiar você e vai dar tudo certo.

― Mesmo sendo fácil, parece tão difícil...

― Se ele te beijar, você corre.

― Deyse! Não há tempo para brincadeiras, estou desesperada.

― Desculpa ― ela riu. ― Então, seja você mesma e aja com tranquilidade. Mas lembre de ter certeza do que quer, para não ter decepção. Seu primeiro beijo precisa ser o mais marcante. 

A moça ingênua agradeceu e elas desligaram. Apesar de ter sido bem ajudada, ela mantinha uma ansiedade incontrolável em seu peito. Era inevitável que o nervosismo tomasse conta a cada vez que pensava ou imaginava.

Ela temia que isso acontecesse um dia, e agora, vendo tão perto de realizar, se sentia completamente despreparada. Talvez sua mãe estivesse certa, afinal.

Catarina forçou-se a voltar para seus estudos, olhando para os livros espalhados em sua cama. Porém, se encontrou totalmente sem cabeça para tal coisa. Conferiu o horário e aproveitou que estava perto de começar o tal ensaio que Jéssica a convidou e fora tomar um banho e se vestir para ir, sem qualquer expectativa.

Lembrou-se de quando ainda se esforçava para cumprir seus trabalhos na igreja, o encanto vívido em seus olhos, olhos que brilhavam enquanto arrecadava dinheiro para novos trajes de dança. Seu corpo todo se acendia e fazia jus ao sentimento que ardia em seu peito enquanto dançava.

Os passos eram delicados, ele ainda lembrava. E ela obtinha extremo prazer naquilo que fazia, naquilo que dedicava sutilmente e inteiramente para Deus. Sua devoção era inteira e completa. Todos admiravam. 

Com o passar do tempo, aquele prazer passara-se por obrigação. Isso se deu às suas novas obrigações e novas proibições, sua privação de "tudo", como ela julgava. Fora se distanciando pouco a pouco, se libertando do peso que passara a atrapalhará toda vez que dançava mais uma vez.

Arrastando os pensamentos que começaram, de repente, a vagar entre escola, Vinícius e beijo, lá estava Catarina caminhando pelas ruas de Belo Horizonte. Dessa vez ela não teria nenhum contratempo, ou ao menos esperava que não.

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