Capítulo 1

Catarina dava passos lentos e errantes até a cantina da escola, ignorando as pessoas a sua volta, ela pensava em algo ao mesmo tempo que não pensava em nada.

Tivera uma noite, inegavelmente boa, porém, coberta de pensamentos e inseguranças. Ela certamente não sabia o que se sucederia e nem sabia como melhor encarar os acontecimentos de sua vida. Ao acordar, não sentiu tanta vontade de levantar, a não ser a lembrança de um certo garoto determinado que ansiava — segundo ele — vê-la naquele dia.

Certamente não escolhemos o rumo que nossas vidas pode tomar repentinamente, acabamos também vivendo rodeado de questões. De fato, nos encontramos em um mundo repleto de perguntas e sedento de respostas.

Cat havia pedido seu lanche e o degustava calmamente enquanto observava as folhas repousadas no chão do pátio e o clima ameno se transformar em algo indiferente e dispensável. Deixou-se esvair aos pensamentos e imaginações do que certamente nunca seria realidade.

Todos estavam em semana de provas e corriam contra o tempo para encontrarem um tempo livre entre seus afazeres, para estudarem e se prepararem para obter um resultado positivo. Porém, naquele instante, Catarina parecia não se importar com qualquer fato existente à sua volta. Era só ela, seu lanche e seus pensamentos velozes.

Ela esperava pacientemente a sua colega que ainda estava respondendo as questões. Observando as pessoas se retirarem do colégio com expressões difíceis em seus rostos, ela acabou ficando aflita por um momento. Finalizando sua degustação, sentou-se num banco de praça e pôs-se a pensar na vida, apreensiva.

Retirando-se de súbito de sua zona de pensamento, ouviu seu nome sendo chamado por alguém ali perto e se inclinou para procurar uma jovem moça acenando sem parar. Era conhecida e de uma beleza muito agradável, Jéssica. 

A garota trajava um body branco, daqueles que usam em  ballet, juntamente com um jeans rasgado e um tênis preto, o estilo dela naquele dia era o mais despojado possível. Seus cabelos castanho-claro estavam soltos e, de hora em hora, ela brincava com a franja recaída em sua testa que insistia em invadir seu campo de visão.

— Que ótimo te ver, não imagina o quanto estou sentindo a sua falta — ela anunciou, abraçando a incrédula Cat, desconfiada de tamando afeto — não some assim, você é importante. Quando vai aparecer?

— Está difícil — respondeu apenas, notando logo o olhar questionador e se recompondo de sua arrogância. — Estou em semana de provas, mas logo logo eu retornarei à minha rotina habitual.

— Compreendo perfeitamente — dizia ela, sorridente —, aparece logo, a gente quer você em uma coreografia que estamos criando, seria tão legal sua participação, e eu sei que você gosta de dançar.

— Posso dar um jeito de comparecer a um ensaio... não prometo nada. 

— Perfeito! — anunciou, saltitante, mas em alerta para não perder seu transporte para casa. — Seis da noite, hoje lá na igreja, vamos te esperar.

— Não prometo nada — afirmou mais uma vez.

— Eu sei qur vai se esforçar para ir — ela sorriu —, agora eu tenho que ir. Mais uma vez, foi ótimo de ver — disse, dando dois beijos nas bochechas de Cat.

— Igualmente — retribuiu timidamente.

E lá ia-se a figura engraçada, alegre e radiante, demonstrando força e tudo que há de melhor e desejável. Jéssica era uma garota maravilhosa.

Catarina observava a garota sumindo, se virou bruscamente e se bateu depressa em seu professor. Fora tão de repente que ela mal teve tempo de respirar.

Desculpando-se, aproveitou o momento para perguntar educadamente como tinha se saído na prova daquele dia. E a resposta dele havia deixado-a com uma estranha sensação. 

— Catarina, isso não é pergunta que se faça. Você é a melhor aluna do Ensino Médio e eu não consigo fazer outra coisa a não ser admirar a sua imensa capacidade e inteligência. — Ele parou por um instante, pensativo, como se precisasse falar algo. Olhou profundamente nos olhos ansiosos que estavam diante de si e suspirou, pousando sua mão na cabeça da garota. — Catarina, algo peço-te de coração... não permita nunca que nada, nem ninguém, venha abalar esse tamanho talento que há em você. Nunca mesmo. Confio em você. 

— Certo, professor — ela disse, sorrindo timidamente. Não compreendia muito bem o motivodaquelas palavras e nem da sua repentina reação.

Eles se despediram e ela acabou-se por manter a sua mente ocupada, por mais longos minutos.

O que exatamente o professor quis dizer com aquilo?

Por um momento, Cat despreocupou-se e resolveu deixar pra lá, retornando para o lugar que estava inicialmente, resolvendo pegar um livro que estava em sua mochila, mas nada a acalmava.

Os raios de sol não apenas esquentavam, mas também iluminavam o local. As pessoas mal andavam calmamente, vivem correndo, com pressa. Era incrível como nem tinham tempo para dar uma simples olhadinha no céu ou no sol.

E, de repente, duas mãos cobriram-lhe a visão, e ela que já estava apreensiva, chegou quase ao próprio desespero.

A pessoa atrás dela, sussurrou em voz baixa que era para ela adivinhar quem era. Mas é claro que ela reconheceu aquela voz e não deixou de sorrir.

— Vinícius — ela suspirou e se virou para o encarar.

― Acertou! ― disse ele sorrindo.

Ela retribuiu o sorriso e observou a cena. Eles estavam próximos um do outro. Próximos até demais. Talvez pela confusão ou pelo nervosismo, ela inclinou-se bruscamente, e quase caía do banco em que estava.

― Calma, docinho! ― disse-lhe com um sorriso hipnotizador, um riso no canto dos lábios e olhos impassíveis, incapazes de demonstrar qualquer verdade em seus atos.

Ela ficou pensativa, não sabia o que devia fazer para cumprimentá-lo da melhor forma. Queria abraça-lo, então se pôs de pé, fingindo estar ajeitando a mochila em suas costas. 

Parecendo perceber ou ler os pensamentos da garota, ele deu dois passos para frente, tocou a cintura dela, puxando-a para si. O coração dela batia acelerado e um arrepio percorreu pela espinha.

Vamos, é só um abraço, pensou.

A cada segundo que se passava, seu coração acelerava mais e para disfarçar um pouco o nervosismo, ela fechou os olhos. Quando foi perceber, já estava acolhida nos braços dele, em uma praça pública, sem ao menos se importar com qualquer consequência. 

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