A megera

— Por que eu tenho que escrever justamente sobre ele? — Guincho irritada, batendo as palmas das mãos contra a mesa, para dar ênfase em minhas palavras.

Ela me encara com uma expressão entediada por trás dos óculos redondos e grandes demais para o seu rosto fino, escorregando em seu nariz fino salpicado de oleosidade, as espinhas parecem enormes vulcões prestes a entrar em erupção na testa rala e pequena. Ela veste um suéter azul que com certeza a minha avó deve ter uns vintes parecidos jogados em seu armário, sua cabeleireira negra e sedosa está amarrado firmemente em um coque no alto da cabeça.

Por que eu tinha que receber ordens de uma pessoa tão desleixada assim?

Talvez seja porque ela seja a editora chefe. responde meu subconsciente.

Se Angie Barnes trocasse de roupas e usasse um pouco de maquiagem, ela seria a garota mais bonita da escola, até mais que Sunny Scott. A pele negra brilhante e os olhos cor de avelã luminosos roubam a atenção toda vez que ela resolve vestir uma roupa com menos tecido do que usa diariamente.

— Porque ele é o capitão — Indaga calmamente, como se tivesse dizendo para uma criança birrenta que não pode comer doces antes da janta.

— E daí? Tem jogadores melhores que Blake Evans — Ladro seu nome com desprezo.

Angie respira fundo e masca seu chiclete que a essas horas, só está a borracha dura e mordida.

— Tipo quem?

Tipo o incrível e maravilhoso Royal Taylor.

— Ah sei lá, tem o Noah Davis, o Seth Winters, temos um time inteiro de jogadores de lacrosse a nossa disposição.

— Mas nenhum deles é o capitão.

Reviro os olhos.

Qual é o problema da população feminina dessa escola? Por que todas tem que abrir as portas para o babaca do Blake como se ele fosse um rei? Ele não passa de um idiota pervertido que só teve a sorte de nascer com beleza e riqueza, nada demais. É só mais um imbecil poluindo o mundo, mas não, as pessoas não o veem assim e o tratam como um deus só porque o cara é o capitão do time.

E ele nem é tão bom assim, tem outros jogadores melhores que ele que podem carregar o título de capitão com uma mão amarrada nas costas, como o Royal, por exemplo.

Suspiro fundo.

Não vou levar essa discussão a lugar nenhum com essa Betty, a feia. Aposto meus últimos dez dólares no bolso de trás da minha calça que ela só está fazendo isso pelo prazer de me ver irritada, pois todos os alunos da Sharky ou até mesmo o universo inteiro, incluindo os planetas e até Plutão sabe que eu abomino Blake Evans.

O próprio diabo da Sharky.

— Esta bem, eu faço — Cedo com uma carranca.

Um sorriso satisfeito perdura em seus lábios rachados.

— Ótimo, que bom que estamos de acordo.

Sorte a sua que não sou uma pessoa adepta a violência.

Dou um sorriso sínico e me reboco para fora de sua sala.

— Eu realmente odeio a minha vida. — Praguejo indo em direção a minha mesa improvisada, que é apenas uma tábua gasta que um dia já foi chamada de mesa com um computador tão velho e lento que até a rotação da Terra é mais rápida que aquela velharia que só serve para poluir o meio ambiente.

— Que mal humor, caiu da cama hoje? — Comenta Ethan, meu colega de mesa.

— Bem que eu queria — Suspiro dramaticamente e me jogo na cadeira reclinável que range com meu peso. — Angie me obrigou a entrevistar o diabo do Evans.

Ethan me lança uma olhar solidário.

— Boa sorte.

Ethan aperta meu ombro com força.

— Não é de sorte que preciso, é de um carregamento de sal grosso e um copo de conhaque.

  • Mas que droga é essa, Sadie? — Grito com raiva.

Sadie apenas me lança um olhar de esguelha puxando meu braço entre a muvuca de gente.

— Uma festa oras, eu te disse que iríamos vir.

— Mas tinha que ser na casa da Sunny Scott?

Sadie ignora meu comentário e me leva até o balcão de bebida, pegando uma lata de cerveja e empurrando em minha direção.

— Leah, só aproveite, ok. É uma festa, se divirta.

Reviro os olhos, mas aceito a lata de bom grado. Eu precisaria de uma dosagem bem alta de álcool para passar a noite sobre o mesmo teto dos idiotas da escola. Sadie, minha melhor amiga, parece alheia a este tipo de pensamento, enquanto eu repudio esses babacas ricos e mesquinhos.

Com seus um e setenta de altura e cabelos castanhos claros quase louros, o corpo esbelto e musculoso e os olhos pretos como carvão, Sadie Petterson é considerada uma das garotas mais bonitas da Sharky. A morena não é só bonita por fora, seu interior é tão belo quanto o exterior, Sadie é doce e frágil como uma pétala de rosa. Diferente de mim, uma ignorante e considerada até selvagem pelas más línguas.

Mas quem liga? Eu é que não.

Sadie me puxa para pista de dança  se misturando com algumas garotas que se exibiam para um grupo de garotos ao fundo, eles as encaram como se fossem um pedaço grande e suculento de carne, lambendo os lábios se preparando para a refeição como uma matilha de lobos.

Deplorável.

Indico que minha lata está vazia e faço sinal que vou buscar mais e antes que Sadie me impeça, saio em disparada dali empurrando os corpos tomados de álcool que atrapalham o caminho. Vou até onde tem bebida e pego um copo de vodka e misturo com umas gotas de limão e subo para área de cima.

Eu nunca tinha vindo a casa de Sunny Scott, mas sabia que sua casa é um casarão grande e repleto de regalias de ricos, como inúmeros quartos e objetos luxuosos que valem mais que o quadro da Monalisa.

O corredor está lotado de jovens que querem entrar no pequeno banheiro no começo do corredor  impossibilitando a passagem, corpos suados grudam um nós outros e o cheiro de maconha pesa no ar como uma cortina pesada. Meu estômago se embrulha e a vodka se agita para sair, me esgueiro por uma porta imensa de vidro que dá acesso para a varanda que mostra o jardim do lado de fora, me aproximo da barreira de proteção e encaro a piscina lotada de gente abaixo de mim.

— Também está se escondendo? — Uma voz aveludada sussurra de trás, me viro surpresa dando de cara com Royal.

Ele está com uma jaqueta de couro que esconde suas belas linhas negras traçadas que marcam seu corpo, seu cabelo castanho quase louro está penteado para trás em estilo Elvis Presley, puta merda, minhas penas viraram líquido só de olhar para esse homem.

Deus no céu e Royal Taylor na terra.

— Ah, sim. Muita gente — Sorrio sem graça.

Ele assente e se senta na poltrona que estava ao lado da porta, esticando as longas pernas sobre o pufe que tinha na frente.

— Eu também não gosto de multidões, mas nunca dispenso bebida grátis — Murmura ele, virando o copo com o líquido escuro na boca.

Meu Deus, como será beijar aquela boca com gosto de vodka?

Para alguém que nunca bebeu, seria pior que poção polisuco.

Mas para mim, seria o mais próximo do paraíso.

— É o que me motiva a me misturar com essa galera. — Respondo, ah merda. O que eu estou dizendo?

Sinto seu olhar me analisar minuciosamente, mas diferente dos olhares carregados de malícia e segundas intenções dos demais garotos, Royal Taylor apenas parece curioso e desconfiado.

— É você não é? A jornalista que faz matérias ruins sobre o Blake Evans?

Por que ele tinha que tocar neste nome justo agora?

Maldito diabo.

Até quando o deus vulgo Royal está falando comigo, esse garoto tem que se esgueirar silenciosamente entre nós e espalhar seu veneno mesmo não estando presente.

— Sim, sou eu — Torço o nariz.

Um resquício de um sorriso se deslumbra em seu rosto perfeito.

— Você tá fazendo um trabalho bom para caralho.

Minhas bochechas se erguem em um sorriso maior que minha cara, Royal tinha me elogiado, como assim ele me elogiou? Eu só posso estar sonhando.

Minha nossa senhora da bicicletinha, se for um sonho por favor não me acorde.

— Ah, obrigado.

Dou um sorriso amarelo.

Ele se empertiga na cadeira recostando a cabeça, seu olhar vibra enquanto olha para o céu azul escuro salpicado de estrela acima de nós.

É a visão de um deus imaculado.

Invento uma desculpa e saio da varanda deixando o sozinho, eu precisava contar para Sadie que tinha sido notada pela minha paixonite de infância e de quebra tinha sido elogiada pelo próprio Royal Taylor.

Eu só poderia estar no céu.

Só que antes, minha bexiga clama para ser descarregada, a fila do banheiro ainda estava imensa e só de imaginar o que poderia ter rolado dentro daquele banheiro, um calafrio percorreu minha espinha. Com certeza tem outro banheiro por aqui, como é? A garota é podre de rica, pelos meus cálculos deve ter uns seis banheiros nessa casa, e com esse pensamento que saio abrindo as últimas portas do corredor, até chegar em uma pintada de rosa-choque.

Giro a maçaneta devagar e empurro a porta levemente, barulhos e rangidos vem de dentro do cômodo escuro apenas a luz de fora ilumina o quarto, consigo ver duas silhuetas na cama se agarrando freneticamente. A garota está por cima do garoto apenas com um sutiã de renda.

Merda.

Vou fechando a porta, mas antes consigo ver a jaqueta azul do time de lacrosse jogado ao pé da cama, encaro de mais perto e vejo o número dez gravado na jaqueta.

Dez é o número do capitão.

Abro mais a porta e consigo ver Blake com a boca grudada com a de Sunny que rebola em seu colo enquanto suas mãos tateiam o fecho de seu sutiã.

Isso que é furo de reportagem.

Pego o celular e gravo.

Eu não acredito no que os meus olhos estão vendo.

Blake e Sunny se agarrando enquanto uma festa acontece no andar de baixo? Me belisque, quero chorar de felicidade.

Finalmente te peguei, diabo.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo