O diabo

A primeira coisa que vejo quando cruzo o corredor são um belo par de olhos verdes.

Tão verdes que me lembram a grama recém cortada e eu quase consigo sentir o cheiro de terra fresca penetrar em minhas narinas como se eu estivesse rolando por um campo cercado de verde, num pequeno planeta alienígena lindo e ofuscante, repleto de verde.

Mas o olhar não é lindo e muito menos ofuscante.

Seu olhar derrama desprezo enquanto vem em minha direção sem vacilar, o queixo projetado para frente em uma expressão de triunfo e sarcasmo. Os cabelos louros quase brancos estão jogados em seus ombros como uma cortina tampando seu busto pouco avantajado.

Posso ouvir sua voz em meu ouvido repetindo o apelido carinhoso da qual usa para se referir a mim, em contrapartida, já consigo sentir meus lábios se lambuzando com o seu delicioso ódio enquanto me fuzila com o olhar.

Ela paira em minha frente erguendo um sorriso de zombaria repuxando os lábios marcados de uma tinta vermelha brilhante.

Olá diabo.

Dou meu sorriso mais sujo porque sei que odeia. Na verdade, ela odeia qualquer coisa que eu faça e eu amo provocá-la.

É o nosso jogo particular, sem regra nenhuma para impedir de passar a linha do limite.

Olá megera.

Sorrio.

Ela também sorri, mas não é um sorriso bonitinho e muito menos fofo, é cruel e avassalador como um aviso estampado em vermelho gritante, “Eu vou acabar com você” diz seus olhos esmeraldas repletos de fúria.

E eu adoro isso.

— Os lions contam com a sua vitória esse ano no campeonato estadual, capitão — Leah Mansen salpica seu veneno.

— E como sempre, vamos ganhar.

Ela passa a língua nos lábios de maneira provocante.

Leah Masen é o tipo de garota que muitos caras iriam adorar passar uma hora com ela dentro de um quarto de motel, não vou negar que não é bonita, sou homem e muito menos cego. Seu corpo é curvilíneo e bem definido, sua bunda é redonda e pequena, seu busto não é avantajado, mas não tira a qualidade deles.

Todavia, eu nunca levaria essa garota nem para o banco de trás do meu carro, imagine um motel. O lugar que eu cogitaria em levá-la seria no mínimo para o hospício mais próximo.

— Será? Todos esperam o seu sucesso e glória, mas eu — Ela pausa — Espero o seu fracasso, como sempre.

Touché.

Este é o problema da megera comigo. Enquanto todos esperam que eu faça o melhor e leve os United Lions para a final do campeonato de lacrosse no final do ano, Leah e seu ninho de ratos intitulados por mim como os”Virgens decadentes da Sharky” esperam sempre o meu fracasso e decadência.

Contudo, ela não sabe como isso me motiva para cacete.

Ela não sabe que é o motivo para mim treinar seis horas por dia.

Não sabe que graças a ela, nosso time tá arrasando com os babacas de outras escolas.

Porque eu adoro ver ela sendo forçada a escrever nossa vitória naquele site de merda que essa escola tanto venera.

Eu adoro vê-lá contra parede.

— E como sempre, vai acabar se decepcionando.

— Acho que não, diabo. Uma hora ou outra, você vai acabar saindo da linha e sabe o melhor? Eu vou estar lá para ver.

Um sorriso amargo cresce em meus lábios.

— Eu pago para ver, megera.

— Se prepare, Blake Evans — Ela cospe meu nome em pura repulsa. — Pois eu vou te levar de volta ao lugar que você merece, ao inferno.

— Eu vou me certificar de carregar você comigo, Leah Masen.

Ela faz uma careta de nojo e vai embora.

  • — O primeiro dia sempre é o pior. — Disse meu melhor amigo, Noah Davis.

  • — Discordo, pelo menos para mim não é — Replico.

Sempre no primeiro dia temos que avaliar os novos alunos que querem fazer parte do United Lion, o time oficial da escola Sharky localizada no condado de Los Angeles, perto da parte costeira do oeste de Santa Mônica, onde reside nosso time adversário, Os Bears. É  uma tarefa difícil e tediosa para Noah e os outros jogadores, porém para mim não é. Sempre me lembro da primeira vez que vim aqui nesse campo fazer o teste para ingressar no time de lacrosse quando estava no primeiro ano.

Para os outros, lacrosse não passa de uma mera diversão, é uma maneira de mostrar que não é um completo perdedor em algum esporte, mas para mim é diferente, enquanto para os meus colegas é só curtição e o jeito mais fácil de pegar umas gatas, para mim é a minha válvula de escape. Quando estou jogando nem minha família ou qualquer porcaria que for pode me atrapalhar, sendo apenas eu, o taco e o campo.

É a única coisa da qual faço bem para caramba e de quebra, some com todos os meus problemas.

  • — Ei Blake — Uma voz fina grita meu nome de algum lugar de trás do campo, viro me dando de cara com a arquibancadas quase vazias, somente duas cadeiras estão sendo ocupadas por duas garotas que conheço bem demais para poder ignora-las.

É uma tarefa bem difícil ignorar uma garota gostosa chamando o seu nome.

Contudo, é mais fácil fácil tirar o gostosa e colocar louca perseguidora para definir Sunny Scott.

Até que não é uma má ideia colocar isso no anuário embaixo de sua foto, então a futura geração de jogadores de lacrosse poderiam driblar e se manter longe garotas como ela.

  • — Cara, vai logo. Ela não vai parar. — Pede Noah.

A voz de Sunny está mais alta enquanto grita meu nome pelo campo imerso de novatos e seniores que me lançam olhares irritados. Massageio minhas têmporas com as pontas dos dedos.

  • — É. Já saquei.

Me viro para a arquibancada e caminho em direção a duas figuras esbeltas, Sunny balança o braço direito freneticamente enquanto sua amiga ruiva se mantém calada ao seu lado.

  • — Você não me ouviu te chamando? — Reclama Sunny. Apenas uma barricada de madeira separa ela do campo e de mim, uma pena que não é tão alto para tampar a visão do campo por inteiro.

  • — Foi mal, estava ocupado — Dou de ombros.

Ela semicerra os olhos em desconfiança, mas logo coloca um sorriso na boca pintada de rosa choque.

  • —E aí, boneca — Me viro para Mackenzie.

Ela ergue a sobrancelha perfeita e um pequeno sorriso surge no canto de sua boca, os cabelos ruivos formam uma cortina em volta do corpo bronzeado, o rosto é pintado por pequenas sardas como um céu estrelado repleto de estrelas brilhantes que entram em constraste com seus belos olhos dando a aparência de uma aurora boreal em formato de garota.

É bonito para cacete.

  • — E aí, campeão.

  •  —Blake — Chama Sunny, fazendo me virar para ela a contragosto. — Vou fazer uma festa na minha casa hoje, você vem?

Nem se a Beyoncé estivesse com um sutiã de cerveja penso.

Qual é, a garota é pegajosa como um sapo, só falta ela cuspir aquele muco pegajoso em mim para dizer que sou dela e eu não sou o tipo de cara que dá esperança para garotas, ainda mais Sunny Scott. Olho para Mackenzie que está me encarando de volta, os olhos verdes brilham como palha queimando, diferente dos da megera, os olhos de Mack é a coisa mais linda que já vi.

São pedras preciosas no seu estado mais puro.

Seu olhar não transmite malícia e ódio como o da Leah Masen.

São sinceros e leais.

Leal a melhor amiga, Sunny.

— Claro.

Sunny bate palma, empolgada.

— Então venha as oito e traga seus amigos — Diz, ela puxa Mackenzie e as duas vão embora.

Encaro suas costas enquanto somem pelas portas duplas e se misturam a multidão dentro do prédio.

Uma festinha não vai fazer mal, passo apenas duas horas e vou embora.

Estou falando sério.

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