Capítulo 02 - Parte 02

Certo dia estava em casa todos sentados, à encurtada e simples sala de estar. Houve um barulho de um carro derrapando na rua, meu pai foi ver o que se tratava, mas logo ouvimos os sons de tiros que fizeram todas as janelas de vidro ir ao chão. Arrastei-me entre os estilhaços ao ver meu pai atingido perdendo sangue no carpete da entrada. Somente eu, e George saímos feridos daquele atentado, nos dirigimos direto para a emergência. Suspirei de suavizo ao receber notícias que a bala que entrou no abdome dele foi somente de raspão. Eu, por outro lado, fiquei com uma cicatriz pequena na coxa esquerda por conta do vidro, mas aquilo machucou mesmo foi meu interno. Fiquei traumatizada. Por isso jurei que nunca mais em minha vida veria um ente querido ferido, não importasse o que custasse.

Três semanas depois voltamos à escola com as fofocas da suposta morte de Jason, naquele momento tive um alívio muito grande que me fez até entrar em uma crise de choro. Estava livre daquele infeliz de uma vez por todas. Só que não demorou para saber o autor do feito, foi Gregory e lembro de suas palavras — Eu a tirei da merda gatinha, então você vai ficar me devendo.

Meu celular vibra em uma mensagem e minhas recordações se vão.

Número desconhecido: Não se preocupe! Estamos de olhos em todos, sinta-se segura sempre.

Olhos neles? Quem seria todos? De quem seria esse número?

Não sobra tempo para eu pensar em um suposto anônimo, pois, minha mãe me liga no mesmo segundo.

— Bianca chegou à escola? Vocês estão bem? — Sua voz é um abafo.

— Ainda não mãe. Estamos a caminho de lá. — Culpo-me por não lhe contar os ocorridos.

— Perderam-se? Se sim, eu as encontro aí em alguns minutos.

— Não, mãe. Pode voltar trabalhar sossegada.

— Bianca você tem certeza, filha?

— Mãe quando eu chegar nós conversamos. Pode ser?

— Claro, mas não me deixa sem notícias. Eu senti algo estranho, como se estivesse em perigo.

— Relaxa mãe. Estamos bem e indo andando devagar pela beirada da estrada.

— Vou tirar um carro para mim e levarei vocês todos os dias. Não aguento de preocupação em vê-las andando sozinhas em uma cidade que ainda não conhecem.

— Mãe, não se preocupe. O seu carro será para fins de seu trabalho. Foi somente um susto.

— Ok. Vão com cuidado e que Deus as acompanhe.

— Fique com Deus também, beijos.

— Beijos. — Ela se despede em um suspiro e desliga.

Uma mensagem desconhecida e depois minha mãe. As coisas estão acontecendo hoje e nada está se conectando.

— Era a tia Sammy? — Suzana corta meus devaneios com sua pergunta.

— Sim, era minha mãe. — Respondo ainda refletiva.

— O que ela queria? Ela parecia um tanto nervosa.

— Você sabe muito bem que minha mãe é assim. Nós nos atracamos muito por conta de nossa personalidade.

— Ainda bem que o tio George é o pacífico da família. Pelo menos às vezes. Sei que ele é muito ciumento principalmente com você.

— Tratando de namorar meu pai se transforma em outra pessoa. — Sorrio por um breve período por conta do obvio. Sou a filhinha dele é claro que ele será sempre assim.

— Ao menos você tem um pai. Nunca soube da existência do meu. Ele foi um ingrato, minha mãe chorou por dias depois que descobriu a gravidez.

— Pare com isso, Suzi. Você vive dizendo a mesma asneira durante anos. Meu pai sempre a tratou como filha dele também, sabe que é da família. — Relato em angústia.

Poxa! Suzana me magoa com essas bobagens, pois, se meu pai der um corretivo em mim, ele faz o mesmo para ela. Se me presenteia, ele fornece a ela também. Não é justo ouvir algo tão egoísta vindo de sua boca depois de tudo que meu pai deu a ela, todo carinho e afeto. Nunca senti ciúmes de repartir a atenção dele com ela, pelo contrário. Sempre a chamava para nossas conversas, para as cartas nos dias dos pais, para os passeios ao playground. — Não preciso ouvir isso.

— Desculpa, Bia. Só é difícil saber que eu fui gerada em um caso de uma noite, por causa de uma boa noite cinderela. — Ela sussurrou chateada.

— Suzi, você não pode culpar sua mãe por isso. Ela era jovem e experimentando algo novo. Todo mundo erra, nós, duas já erramos. — Exponho minha opinião com gosto amargo em minha boca.

— Nós? — Ela perguntou com ironia. — Nós, Bia? — Ela retorna a perguntar sem evasão.

— Sim, Suzi. Nós, duas.

— Não é isso que eu lembro. Errei sozinha, principalmente com aquela história com Jason. Aquele cretino deve estar queimando no inferno.

— Nós não podemos julgar nada Suzana. Não temos esse poder, mas eu estava lembrando dessa passagem de nossa vida hoje.

— Passagem? Aquela foi a maior burrada que eu já fiz na vida. Não quero mais passar por aquilo.

— E não vai. Você está bem melhor em suas escolhas. Bom, você progrediu bem.

— É? Nossa estou me sentindo agora. — Ela soa como se tivesse ganhado um troféu da vitória.

— Suzi o que aconteceu com você? Você estava meio… Hipnotizada.

— Hum? Deixa-me lembrar. — Ela se perde, pensando no que falar. — Começou com você. Bia, tu estava me deixando falar sozinha. Depois salvei sua vida. Obrigada… Obrigada… — Ela brincou com um risinho.

— Você tem bons reflexos, mas continua.

— Acho que tinha visto alguém, mas não recordo muito bem. Depois daquilo vi o Dylan. Quando o vi, parecia que os olhos dele estavam dourados! Dourados com as pupilas maiores que o normal e aquele dourado quase não davam para se notar. Eu só percebi por que eles brilharam.

Hã? O que ela está dizendo?

— Não sei como não viu. Foi impressionante, um fenômeno incomum. Sem dizer que ele é um completo cavalheiro.

— É achei isso interessante. — Assinto.

— Bom aonde vamos mesmo? — Ela questiona-se meio avoada.

— Para escola lembra? Primeiro dia de aula! — Deixo minha exaltação amostra.

— Oh! Sim, é verdade.

Preciso de mais informações e ela está tentando me deixar para trás. Essa não é minha amiga ela foi levada ou abduzida.

— Conta-me o resto, Suzi.

— Quando cheguei lá eram aqueles olhos azuis que te disse. Perguntei a ele sobre seus olhos e ele disse que era só uma coincidência.

Por que, no fundo, não creio nessa história? Sua resposta foi ridícula e isso me força a ser indiferente.

— Hum! Está bem então! — Dou de ombros.

Será que fui muito rude com ele? Não! Creio que não. Entretanto, algo rolou entre a gente e sei que também há algo que não está certo sobre o Dylan. Preciso estar alerta, após essa demência momentânea de Suzana. Sei que não quero, mas se o ver novamente. Prometo descobrir com cuidado mais sobre tudo e colocar algumas coisas no lugar. Até lá, irei tentar esquecer tudo… Eu acho.

Pedia tanto para sair daquela situação embaraçosa que parece que Deus ouviu minhas preces. O caminho até a escola parecia não ter fim, mas estamos bem longe ainda. Contudo, consigo visualizar torso de algumas pessoas.

— Suzi, acho que chegamos.

— Sim, estou vendo uma movimentação ali em frente.

— Quantas horas são?

— São sete horas em ponto. — Ela está sem preocupação.

— Pelo menos não vamos chegar atrasadas. — Digo.

Ela dar de ombros como resposta.

— Como será aqui? — Pergunto.

— Com certeza melhor do que todas que já estudamos. Acho que vão ser pelo menos hospitaleiros, não é!?

— É o mínimo que espero. — Respondo em obstinação. — Foi bom também ter mudado para cá nas férias. Assim, vai ser menos estranho duas novatas nessa escola. Menos tumultuado.

— Ela para mim já parece legal. — Ela diz se referindo o local.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo