O Pequeno Rei do Vento

O garoto corria enquanto correntes de ar passavam por sua cabeça e as rajadas num vai e vem indicavam que os guerreiros do vento procuravam por ele

Ele era esperto, sabia que podia ir mais rápido, que podia flutuar, voar, tentar ir pra longe num pensamento, mas preferiu ser cauteloso e não usar suas técnicas, ficando assim o mais escondido possível.

Sua mente voltava a um passado recente:

- Filho, sabe qual é nossa maior fraqueza, nosso único ponto fraco? - Era a voz suave do Rei Falcão que falava com o pequeno príncipe.

- Não consigo imaginar que nosso povo tenha fraquezas, meu pai. - Respondeu o garoto, muito seguro de si.

- Então, meu filho, essa é uma das nossas fraquezas, nosso excesso de confiança, nossa incapacidade de perceber que qualquer ser do universo é como uma balança e não existem características que não tenham alguma compensação, algum ponto negativo ou positivo. O Universo, Henrique, foi feito pra se equilibrar e harmonizar, quando uma força desequilibra a balança, outra surge para colocar as coisas no seu devido lugar. Dessa forma nada é invencível, nada é indestrutível e nós não vivemos pra sempre do mesmo jeito.

Olhe no horizonte, Henri... - Deslizou com as mãos o Rei e trouxe com ela o campo de visão da sacada do palácio. Lá era um dos poucos pontos do planeta com visão privilegiada, acompanhando os desertos do vento e as florestas de ar.

- Veja meu filho, como trabalhamos para que essa nossa casa fosse harmoniosa, para que não tivéssemos guerras, nem entre nós mesmos, nem com outros povos. Aprendemos a viver assim. Mas temos que tomar cuidado com nossas decisões para o futuro. Em alguns momentos, mesmo sabendo que podemos ir longe, que temos poder para mais e mais, precisamos ir devagar, ser suaves, como uma leve brisa, diminuir o ritmo. Nenhuma ação deve ser realizada sem um planejamento. - Olhou para o filho que estava completamente hipnotizado pelas palavras do pai e voltou a questioná-lo:

- Mas te perguntei então nossa maior fraqueza e te respondo: Nossas habilidades requerem movimentos rápidos e nossos movimentos deixam marcas. Os nossos mais fortes guerreiros também são aqueles mais facilmente evitáveis, pois anunciam sua chegada com o movimento que causam no ar. Se um dia precisar se esconder, se um dia nossa paz acabar e eu não puder te proteger mais, você deve saber o que fazer. O vento não deve ser jamais combatido, o vento deve ser evitado. Portanto para enfrentar guerreiros de vento, você deve não usar o vento, mas sim ser indetectável, deve deixar o vento passar.

O pai muito provavelmente já previa o que estava por vir.

O garoto ainda estava abalado pela passagem para outro mundo de seu pai, assassinado na sua frente, mas ele precisava ser forte agora mais do que nunca, seguir os ensinamentos do Rei e deixar o vento acabar. Não podia acreditar que o General-Maior do Vento pudesse trair seu Rei. Precisava procurar alguém que pudesse lhe guiar, dar respostas. Esse alguém em sua cabeça só poderia ser o velho ancião da floresta de ar.

Precisava saber o que fazer pois muitos que ajudaram em sua fuga ainda corriam perigo no palácio, não podia ficar muito tempo se esgueirando pelas frondosas árvores. Mas tinha que continuar sendo cuidadoso e não criar túneis de vento para voar.

Pensava na sua ama que conseguiu colocá-lo em uma máquina de energia, para que ele pudesse ser atirado pela bomba de ar e assim fugir. Nessa altura ela já poderia ter sido descoberta por ter ajudado o garoto. Teria ela feito a passagem pra outro mundo como seu pai?

E sua mãe que ainda estava nos círculos estelares das águas e ainda não sabia de nada o que acontecera?

De repente uma corrente de vento o acertou, todo o caminho que ele tinha feito começou a ser aberto entre as árvores. Ele seria encontrado. Pensou rápido e começou a fazer os movimentos que tinha treinado de oclusão, força do vento contrária no centro do túnel de vento e com a outra mão força equivalente a favor do vento que o atingia. Pressionou os pés na terra de forma bem firme e lutou com todas as suas forças para permanecer no lugar. Logo sentiu o vento diminuir e ele também foi parando, já quando estava quase sem forças. O guerreiro não percebeu ele ali, a noite não o revelou. Jamais um soldado poderia imaginar que um garoto poderia permanecer no chão recebendo uma rajada de vento. Mas a equipe de busca continuava procurando por ele. Quando ele já estava quase sem energia para continuar, pensando em desistir, começou a ouvir passos se aproximarem. Será que um guerreiro decidiu fazer a busca no solo? Ele sabia que já não tinha como lançar qualquer técnica de vento então quando viu a sombra se aproximar não pensou duas vezes e disparou um soco.

O velho atingido pulava como um macaco entre os galhos, murmurava uns gemidos de dor, provavelmente por não querer chamar a atenção.

- Moleque! Você quase quebrou meu nariz, seu fedelho! E eu aqui querendo te ajudar! - Disse o velho quase que num ritual de amaldiçoamento.

- Senhor Ancião, me desculpe, não podia imaginar, achei que fosse um dos soldados que estão me perseguindo. - Respondeu o príncipe.

- Tudo bem, tudo bem, vamos, minha cabana está logo ali! - Apontou o velho que ainda esfregava o nariz com movimentos que pareciam machucar mais do que o próprio soco.

Andando mais um pouco o velho apontou um buraco próximo a uma árvore e disse: 

- É ali!

- Só estou vendo um buraco! - Questionou cético o garoto.

- Esses jovens nunca sabem que as coisas nem sempre são o que parecem... - Lamentou o velho empurrando o garoto no buraco.

Ele até tentou evitar, mas o buraco o puxou e ele começou a cair em algo que parecia um poço sem fim, muito escuro. Até que num estalo ele teve a queda diminuída por uma rajada de ar e foi colocado em pé no fundo do poço escuro, em seguida o velho chegou junto dele.

- Acenda! - Disse o velho e então o que parecia o fundo de um poço se iluminou como um casarão enorme feito de algo que parecia madeira. A sala tinha uma lareira e algumas poltronas flutuantes, uma escada levava para outros cômodos.

- Que lugar incrível - Disse o garoto.

- Bem vindo à minha cabana, oh, Pequeno Rei do Vento! - Recepcionou o ancião com meio sorriso no rosto.

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