Descobertas

Melissa estava começando a ficar bastante nervosa. Seus pés num Prada batiam freneticamente no chão, seus braços estavam cruzados demonstrando impaciência e seus lábios vermelhos, franzidos. Já fazia uma semana que ela e o senhor Kernel não conversavam nada além do estritamente essencial para o andamento do trabalho na agência de publicidade. E o que estava acontecendo agora definitivamente não tinha nada a ver com a agência, mesmo que o senhor Kernel tivesse insistido que a presença de sua secretária era muito importante nessa visita ao orfanato.

Era uma sexta-feira muito bonita, com o céu azul e clima ameno. O sol batia nos cabelos dourados de Melissa e os iluminava mais ainda, causando reflexos maravilhosos. Impaciente, ela girou os olhos azuis sob os óculos de sol quando mirou o Mercedes virando a esquina, dirigido pelo próprio senhor Kernel. Ele estacionou o carro em frente ao orfanato, bem em frente onde Melissa o aguardava, de pé.

Apesar de toda a raiva que sentia dele, o coração de Melissa acelerou subitamente quando a porta se abriu e um Kernel extremamente perfumado saiu de dentro do veículo. Como não era de costume, o senhor Kernel estava muito casual trajando um boné do Harlem Globetrotters e uma camiseta do mesmo time de basquete. A loira tinha esquecido completamente que ele tinha solicitado a ela que comprasse vinte e seis ingressos para o jogo do Globetrotters naquela manhã. Ainda bem que os tinha colocado na bolsa no dia anterior.

Melissa abaixou a cabeça levemente, bem como seus óculos escuros e seu olhar pousou por sobre aquele homem que lhe tirava completamente do prumo. Ainda mantendo um pouco de controle sobre si mesma, conseguiu não transparecer o interesse sexual extremo que sentia por ele e lhe lançou um olhar cínico:

- Você está quarenta minutos atrasado – ela disse, consultando seu Omega Ladymatic. – Quarenta e cinco – completou.

- Desconte no meu salário – disse, carrancudo. Levantou o boné brevemente e passou a mão pelos cabelos levemente grisalhos, colocando o boné de volta – ah, desculpe, eu não tenho salário, esqueci completamente – um sorriso maravilhosamente irritante tomou conta do rosto bem desenhado do homem de sobrancelhas firmes que expressavam audácia sem igual.

Aquela era a primeira troca de farpas da “guerra fria” em que estavam, que já durava uma semana. Os acontecimentos daquela noite estranha na semana passada ainda não tinham saído da cabeça de Melissa: o Círculo Dourado, o julgamento de Patrick, a arma apontada, os tiros de festim que ele havia levado e como Melissa tinha achado que eram tiros de verdade, levando-a ao desespero.

Em silêncio, eles seguiram para a entrada do orfanato que tinha o nome de algum santo qualquer da igreja católica. Eles subiram a longa escadaria do orfanato e entraram na edificação. Melissa tirou os óculos escuros e observou o local. O hall de entrada parecia bem arrumado, singelo e havia passado por uma reforma recente. As paredes eram de um branco inviolável, o piso quadriculado de preto e branco, algumas cadeiras estavam dispostas em torno de uma mesa de centro de frente para um sofá. Havia uma televisão grande por sobre um rack com algumas revistas e um vaso de flores artificiais multicoloridas.

Um casal muito bem vestido estava sentado no sofá, a mulher de pernas cruzadas folheava uma revista e o homem assistia ao noticiário na televisão, mostrando alguns lances do último jogo – ou melhor, da última apresentação – do Harlem Globetrotters.

Após uma breve conversa entre o senhor Kernel e a recepcionista, Melissa e seu chefe sentaram-se nas cadeiras ali dispostas.

- Eu não estou com roupas adequadas para um jogo de Basquete, não sei se você percebeu – comentou Melissa, tentando não incomodar o casal que ali estava, provavelmente procurando uma criança para adotar.

- Se você prestasse mais atenção no seu trabalho, teria percebido que teríamos um jogo de basquete para ir hoje – respondeu Kernel, seco.

A mulher que estava na recepção ao lado do marido olhou para Melissa de cima à baixo e, em aprovação ao seu traje de luxo, deu um sorriso, dizendo:

- Bom dia. Desculpe, não pude evitar ouvir o que disse, mas com certeza vejo que está muito bem-vestida para qualquer evento que eu mesma iria. Adorei os Prada – e deu uma piscadela.

Melissa ficou um pouco envergonhada e olhou para os lados, achando que a mulher estava falando com outra pessoa. Sorriu, tímida, e olhou para baixo, encabulada.

- Bom dia – disse o sujeito ao lado da mulher. Parecia que somente agora percebera que havia mais pessoas ali.

- Vocês também vão adotar? – perguntou a mulher.

Melissa imediatamente olhou para o senhor Kernel que, por sua vez, sorriu sem graça. Seu rosto estava vermelho como um tomate. Melissa se surpreendeu com este fato: às vezes ela achava que ele não tinha sentimentos, que era um robô produzido exclusivamente para ser extremamente atraente.

- N-não – gaguejou Kernel. Melissa achou que não viveria para ver o senhor Kernel gaguejando. – Sou um doador.

- Ah, que ótimo! – disse o homem, aliviado e um tanto curioso. – Pode nos dizer como é o dia-a-dia das crianças por aqui? Elas são bem tratadas?

- Estamos muito preocupados com o bem-estar do nosso futuro filho – disse a mulher, segurando a mão do marido, que retribuiu segurando a mão da esposa da mesma forma: um tanto ansiosamente.

- Não precisam se preocupar. Este é o melhor orfanato de Manhattan – disse Kernel.

Melissa deu de ombros. Afinal de contas, que diabos o senhor Kernel seria capaz de entender sobre orfanatos? Ok, ele realmente era um doador frequente, mas Melissa começou a pensar que as doações que ele fazia eram daquelas do tipo que um ricaço efetuava para se redimir das coisas ruins que praticava, como por exemplo torturar pessoas mantendo-as trancadas em um quartinho escuro enquanto elas olham o ex tomar vários tiros de festim no peito, sem saber que eram de festim. Isso realmente era um ato que alguém deveria se sentir extremamente culpado por praticar e que esse mesmo alguém deveria pedir desculpas eternas.

O casal entreolhou-se, sorrindo. Pareciam extremamente animados e ricos. Qualquer que fosse a criança agraciada com aquele casal como seus pais com certeza seria muito feliz e bem-quista. Não passou muito tempo quando uma mulher de meia-idade abriu uma porta onde se lia “Diretoria” na placa. A mulher aproximou-se do senhor Kernel.

- Dam, querido – disse a mulher, cheia de simpatia.

Kernel levantou-se imediatamente e deu um abraço longo, apertado e carinhoso na diretora do orfanato. Melissa raramente presenciava alguém chamar o senhor Kernel de Adam, seu primeiro nome, e tinha certeza que nunca na vida ouvira ninguém o chamar por um apelido carinhoso como Dam.

- Samy – cumprimentou Kernel de volta, abraçando a mulher.

Imediatamente, Melissa começou a questionar o que diabos o senhor Kernel fazia ali todas as manhãs de sexta com aquela mulher. Pelo jeito, transar em salas de direção era uma das especialidades de seu chefe. Estupefata, Melissa não conseguiu esconder um suspiro impaciente. Sorriu muito brevemente quando “Samy” lhe ofereceu um aperto de mão amigável ao terminar o longo abraço com “Dam”.

- Samantha Dawson, muito prazer – disse Samy para Mel, muito feliz e apertando a mão da secretária do senhor Kernel com muito carinho.

Samantha parecia uma mulher extremamente feliz e compreensiva. O afeto fluía dela de maneira natural e parecia ser uma mãe para todos. Era uma característica útil quando se pensa em ocupar um cargo como aquele – dirigir um orfanato não devia ser coisa fácil de se fazer. Lidar com crianças que perderam os pais e não tinham nenhuma família devia ser algo emocionalmente desgastante. A diretora tinha cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo. Usava óculos pretos de armação grossa, porém delicada. Trajava saia jeans escura e uma blusa um pouco mais formal.

- Venham, venham por favor – disse a diretora, animada –, a papelada já está quase pronta.

“Que papelada?” – pensou Melissa, curiosa.

A loira maneou com a cabeça despedindo-se do casal que aguardava na recepção e seguiu “Samy” e “Dam” para dentro da sala da direção do orfanato: um escritório parcamente decorado, com alguns armários, estantes de livros e pilhas de papéis.

- Vou só conferir mais uma vez. São vinte e quatro crianças, é bastante responsabilidade Dam – disse a diretora, seguindo para o outro lado da mesa e pegando alguns papéis, colocando o dedo na língua para passar os olhos pelos documentos com maior facilidade.

O senhor Kernel sentou-se confortavelmente numa cadeira. Samantha ergueu o olhar para Melissa, vendo que a moça ainda não havia sentado.

- Sente-se, por gentileza – disse Samantha, olhando rapidamente para Melissa e, de Melissa, para os documentos. Ela murmurava nomes de crianças enquanto passava os papéis. Melissa sentou-se quando Samantha disse – Não, ainda faltam duas autorizações. Bernard e Addy. Patrícia ainda não subiu com eles, droga – reclamou.

Kernel olhou para Melissa e disse:

- Melissa, por favor, vá até o arquivo e peça à Patrícia os documentos de autorização de passeio para Bernard e Addison que estão nas pastas das crianças.

- Ok – assentiu Melissa, sem fazer ideia de onde ficava o arquivo da instituição.

Levantou-se e foi até a saída da sala da direção, procurando alguma placa que informasse aonde era o arquivo. Encontrou rapidamente a placa, mas retornou à recepcionista para ter certeza de onde deveria ir. Melissa andou pelos corredores do orfanato, fitando o piso quadriculado enquanto pensava em quantas crianças haviam ali, se por acaso estavam levando todas para o jogo de basquete, entre outros pensamentos acerca da vida daquelas pobres crianças. Lembrou-se de seus pais, seus tios e seus primos. Apesar de serem pessoas extremamente tóxicas, Melissa sentiu-se grata por ter tido uma família presente em sua infância.

Quando finalmente chegou ao arquivo, não havia ninguém na recepção. Tocou uma sineta que estava em cima da mesa em frente à porta, porém ninguém apareceu.

- Patrícia? – chamou. Ninguém respondeu.

Sua impaciência já estava em um nível elevado desde que havia esperado pelo senhor Kernel por quase uma hora em pé nos saltos altos desconfortáveis, portanto, sem mais delongas, abriu a porta do arquivo e adentrou no espaço.

Como se fosse um movimento natural, Mel andou pelos arquivos procurando pelas letras A e B. Não havia muitos armários de arquivo naquela saleta, então, rapidamente, foi procurar as pastas de Bernard e Addison, esperando que estivessem organizados por nome ao invés de organização por sobrenome: seria estranho que as crianças usassem sobrenomes reais em um orfanato, a não ser aquelas que foram separadas da família por ordem judicial e havia segredo de justiça, pois ainda assim as crianças carregavam o sobrenome da família que lhes malfazia.

A pasta de Bernard foi fácil de encontrar. Mel seguiu para o arquivo identificado com a letra A. Melissa abriu a gaveta pesada de metal e passou as pastas depressa, com tanta agilidade e naturalidade que, quem visse de fora, pensaria que ela trabalhava ali há bastante tempo. Parecia que tinha nascido para fazer aquilo. Passando por nomes que se iniciavam com as letras Ad, de repente, levou um susto. Teve que esfregar os olhos para ver se realmente estava vendo o que via. Em uma pasta, lá estava o nome e, surpreendentemente, com um sobrenome:

- Adam Kernel – sussurrou para si mesma, perplexa.

De repente, uma série de coisas fez sentido na cabeça de Mel. O nome do seu chefe em um arquivo de um orfanato deveria se referir aos documentos das doações que ele fazia.

A loira automaticamente olhou para os lados, como se tivesse medo de que alguém se aproximasse enquanto ela vasculhava coisas que não eram da sua conta. Com rapidez, enfiando o nariz onde não era chamada, pegou a pasta do senhor Kernel e a apoiou por sobre as outras, para dar uma espiada. Queria saber quais eram os valores que ele doava para o orfanato, era uma informação à qual ela não tinha acesso. Ela apostava que toda a grana da empresa, além do Círculo, ia para o orfanato ao invés de aumentar o salário de secretária que ela ganhava. Melissa olhou para os lados novamente, checando se alguém se aproximava, enquanto abria a pasta sorrateiramente.

Melissa engoliu em seco. Nunca na vida esperara um dia encontrar aquela informação: a ficha do senhor Kernel não era de doador, era uma ficha de uma criança para adoção. Abaixo do título do documento, havia uma foto. Ao bater os olhos na fotografia, todo o corpo de Melissa se arrepiou imediatamente: era uma fotografia do próprio senhor Kernel, quando criança.

O coração de Mel acelerou, um vendaval de emoções a acometeu e, de repente, nada mais fazia sentido. Era bem verdade que o senhor Kernel nunca comentava nada sobre ninguém da família dele. Bom, ele falava de vez em quando sobre a esposa alemã, mas nunca falava de pais, tios ou irmãos. E Melissa nunca havia parado para prestar atenção nessa pequena e fundamental informação sobre o senhor Kernel.

- Posso ajudar? – disse uma voz feminina, vinda sabe-se-lá-de-onde.

Imediatamente, Melissa levou um susto e acabou rasgando um pedaço do “prontuário” do senhor Kernel por acidente.

- Que susto! – disse Melissa, rindo, sem-graça. – Meu nome é Melissa, você é a Patrícia?

- Sim, sou eu – disse Patrícia, aproximando-se da gaveta de documentos e verificando o que Melissa bisbilhotava – este é um lugar de acesso exclusivo a funcionários – ela pegou a pasta com a ficha do senhor Kernel, fechando-a, bem como pegou a pasta de Bernard na outra mão de Melissa.

- O senhor Kernel pediu que eu viesse pegar uma documentação de passeio ou algo do gênero, de Bernard e Addison – disse Melissa imediatamente, extremamente envergonhada. – Pensei em encontrar eu mesma, já que não havia ninguém aqui, ele estava com pressa e tudo o mais...

- Eu acabei de entregar a documentação para Samantha – disse Patrícia, que agora parecia estar um pouco irritada. – As autorizações não estavam mais nessas pastas, eu tinha separado ontem à noite, mas aparentemente tinha ido junto com outra pilha de documentos pro setor financeiro. Eu tinha ido lá buscar.

- Ah, sim, me desculpe, eu me antecipei para pegar a documentação e... – disse Melissa, mas Patrícia a interrompeu.

- Não precisa se desculpar, não vou contar que você estava mexendo nos registros dele – respondeu Patrícia, que parecia estar tão encrencada quanto Melissa –, mas eu estou impressionada por você ter encontrado as pastas com tanta rapidez aqui no arquivo. Você é arquivista?

- Não, sou secretária – respondeu Melissa, surpresa.

- Ah, sim, faz sentido então – disse Patrícia.

- Peço desculpas – comentou Melissa, envergonhada. – Eu só queria ver quais são os valores que o senhor Kernel faz doação ao orfanato. Tenho acesso a muitas coisas da agência, mas nem tudo.

- Entendo – disse Patrícia, indo até a gaveta da letra B e guardando a pasta de Bernard.

- Eu só queria que ele aumentasse meu salário – comentou Melissa.

- Você devia pensar em tornar-se arquivista, então. Os salários são muito bons – respondeu Patrícia, fechando a gaveta do arquivo e esquadrinhando Melissa com o olhar – e você vai poder pagar à vista por tudo isso que veste.

Melissa ficou com mais vergonha do que já estava. Além de bisbilhoteira, era uma pobretona endividada usando roupas de marca. Mas ela precisava pagar por aquelas roupas e outras iguarias, uma vez que trabalhava atendendo pessoas muito ricas e importantes. E que faziam parte de um Círculo sexual, o que brevemente veio ao pensamento de Melissa e a fez ficar com bastante raiva. Novamente lembrou-se da noite traumatizante que passara na mansão do senhor Kernel.

- Posso ajudar em mais alguma coisa? – perguntou Patrícia, meio impaciente, querendo se livrar de Melissa o mais rápido possível.

- O-obrigada, não. Estou voltando para a sala da direção – respondeu Melissa, nervosa, desnecessariamente informando para onde iria.

Por sobre os saltos, a loira caminhava de volta para a sala da diretoria do orfanato e sua cabeça estava à mil por hora. O senhor Kernel havia morado naquele orfanato. Melissa nunca imaginou que justamente o senhor Kernel era órfão. Nunca nem pensara em verificar os documentos dele, que várias e várias vezes tirara fotocópias para juntar nos mais diversos tipos de projetos que passavam por sua mão no dia-a-dia da Kernel Publicidade.

Agora fazia sentido o motivo pelo qual a diretora e o senhor Kernel se tratavam com tanto afeto, chamando um ao outro de apelidos tão íntimos. E não tinha nada a ver com sexo! Talvez ele representasse para ela o que seria um filho que cresceu e tornou-se muito bem-sucedido. E talvez ele visse nela uma figura materna ou algo do gênero. Matutava sobre isso quando, absorta em seus pensamentos. Melissa abriu a porta da diretoria, acidentalmente sem bater, e flagrou Dam e Samy se atracando no peitoril da janela da sala da diretoria.

Kernel abraçava a diretora por trás. Beijava a nuca de Samantha com ferocidade, o boné caíra ao lado deles. Uma das mãos de Kernel puxava os cabelos da diretora pelo rabo de cavalo e a outra lhe acariciava um dos seios. Extasiada com o momento, ela estava de olhos fechados, o rosto virado para cima, uma de suas mãos apoiava o corpo para não cair enquanto a outra se esforçava para fechar a cortina da janela. Kernel sabia abraçar uma mulher de tal forma que ela se sentia completamente rendida: Melissa havia sentido isso na própria pele.

Estavam completamente compenetrados em seu “momento” quando Melissa pigarreou. Assustada, Samantha empurrou Kernel para trás e ajeitou os óculos no rosto, olhando na direção da porta, onde Melissa estava de pé.

- Não se preocupe, não os julgo – disse Melissa, olhando a diretora ajeitar os óculos, abaixar a saia jeans e a blusa que o senhor Kernel erguia.

Enquanto isso, Kernel apenas riu com o acontecido e abaixou-se para pegar seu boné.

- Ã, ok – comentou Samantha à esmo, totalmente desconcertada, voltando a mexer em papéis sem sentido em cima de sua escrivaninha.

- Patrícia disse que já trouxe os papéis de autorização que faltavam para o passeio das crianças – disse Melissa, tentando manter o profissionalismo, mas sentindo raiva por ter sido tão inocente e ter pensado que aqueles dois tinham uma relação saudável, como mãe e filho.

Melissa sentiu-se muito ingênua ao pensar aquilo e fez diversas suposições. Talvez Samantha estivesse na direção do orfanato fazia pouco tempo e a idade deles não era mais ou menos próxima um do outro. Observando melhor, na verdade, Samantha e o senhor Kernel tinham praticamente a mesma idade. Talvez cresceram juntos, fossem amigos de infância ou algo do tipo. Além do mais, era impossível haver um dia sequer na vida do senhor Kernel em que ele trataria uma mulher somente como amiga ao invés de querer sair se esfregando com todas as mulheres que passavam pela sua frente.

- Ok. Maria já deve estar trazendo as crianças, elas estão muito empolgadas – disse Samantha, com o rosto corado em excesso. – Obrigada Dam, depois conversamos – agradeceu, ainda bem encabulada.

- Que eu agradeço – disse Kernel para Samantha, porém olhando para Melissa de maneira desafiadora.

Era óbvio que ele queria causar-lhe ciúme e fúria, porém os pensamentos da secretária estavam muito confusos. Ao mesmo tempo que o odiava, não conseguia deixar de pensar que o senhor Kernel ajudava o orfanato porque crescera ali. Era uma situação muito triste e o coração de Melissa havia sido tocado por este fato. Ela não conseguia sentir mais ódio do que já sentia por ele e, ao mesmo tempo, não conseguia sentir mais compaixão do que agora sentia.

Continua...

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