O TERROR NOTURNO

 

Paola ouviu alguns barulhos estranhos, levantou da cama, foi até a sala, não encontrou nada, abriu a porta da frente, viu alguns pedaços de vidros no chão e muito sangue, não entendeu o que acontecia, mas voltou para dentro apavorada, ela seguiu os rastos de sangue e acabou chegando à marquise, encontrou seu Pai no chão, tinha sido baleado, ele estava a sangrar, tinha perdido muito sangue e já não havia tempo, mas Paola pegou o telefone e ligou para a emergência, a sua Mãe já estava morta, ao lado do Pai, Paola não conseguia dar as informações da sua residência, ela chorava ao mesmo tempo tentava dar a informação, era o pior momento de sua vida, tinha perdido Pai e Mãe no mesmo dia, ela não sabia o que fazer, ela chegou perto do Pai enquanto ele ainda respirava, ela disse que o amava, amava muito, cheia de lágrimas em seus olhos, a dor dela era muito forte, igual ou pior do que cair para dentro de um vulcão, ela já não tinha mais ninguém, ela estava sozinha no mundo, apesar de Sofia ser como uma irmã, ela já não teria mais ninguém de sangue por perto, seus familiares viviam em outras cidades e outros fora do país, era um momento de profunda dor. Tão jovem perder assim os pais, sua vida não seria a mesma.

Ela perguntou a Deus: Então é isso? A vida é só dor? Vim ao mundo testemunhar a morte das pessoas que mais amo? A morte é que nem um ladrão, ele não te avisa, ele chega de madrugada, rouba e vai embora, mas Deus, o que eu fiz para merecer isso?

Paola olhou para seus Pais mortos, ela não conseguia acreditar, algumas horas atrás eles jantavam e se desejavam uma boa noite, e agora eles já não estavam vivos, como tudo pode mudar em uma fração de segundo. Era muito para ela, a dor intensa, não havia palavras para usar naquele momento, mas o silêncio era ainda mais doloroso. Ela olhou para o céu enquanto lágrimas escorriam a sua face, iguais uma torneira aberta, começou a falar, com dificuldade, mas falava:

- Senhor, Deus, Pai… Por que isso foi acontecer? Eu sei que nesse mundo somos passageiros, eu sei, eu sei, eu sei… Mas ainda é cedo, eles nem me viram a se formar, não consegui dar o dobro do que eles me deram, não dei orgulho aos meus Pais, Deus, por favor, por favor, por favor… Ainda não, ainda não, ainda não…

Paola estava devastada, ela olhou para o céu e ficou em silêncio, levantou-se, deu um último beijo a sua Mãe, na testa, e o mesmo ao Pai. Ela não conseguiu pedir ajuda, mas naquele momento já não havia ajuda para nada, eles já estavam mortos.

Chorando disse; não sei se fui à filha que vocês gostariam de ter tido, mas eu sempre dei o melhor de mim, Pai, perdoe-me, Mãe, perdoe-me por qualquer coisa que tenha feito e acabou vos magoando, eu ainda não sei como será a minha vida sem vocês, eu nem imagino, mas eu tenho que ser forte por vocês, por mim, espero que continuem cuidando de mim mesmo estando a milhares de distância, eu vos amo.

Paola parou de falar, continuo chorando por horas, conseguiu conter um pouco as lágrimas, já conseguia falar melhor, ligou para o hospital e para a polícia, ficou esperando enquanto isso abraçava aos seus Pais, pela última vez, apesar de já estarem sem vida.

O mundo dela tinha acabado de perder a cor, nada seria igual, as coisas daí para frente seriam totalmente diferentes, os seus sonhos e objectivos seriam reescritos, aquele era o pior dia de sua vida, ela morreu com os Pais, só que a morte dela era diferente. Quando olhou para cima, viu o bandido com uma arma apontando para sua cabeça, ele se movia sem fazer barulho, Paola sentiu que era o fim para família Jones, tentou falar, mas a voz já não saia, ela chorou muito, já não dava, fechou a boca, chorando, olhou e fez um gesto para o bandido “como dizendo, estou pronta, podes atirar”.

O telefone de Paola começou a chamar, ela acordou desse terrível pesadelo, toda assustada, a tremer, sem reação, nem conseguia atender ao telefone, foi para o banheiro lavar a cara, o sonho tinha sido muito real, ela precisava confirmar que era só um pesadelo, foi até o quartos dos Pais, felizmente os seus pais estavam a dormir, ela ficou mais tranquila, voltou para o seu quarto, fechou aporta, ficou em um canto chorando por um tempo, depois abriu a janela, ficou olhando as estrelas com as suas novas companheiras, às lágrimas, ela ficou em silêncio absoluto, pensou por muito tempo, agradeceu a Deus e foi para cama tentar descansar, não seria fácil depois de um sonho desses.

Pela primeira vez Paola foi a primeira a acordar, fez o pequeno almoço para sua família, os pais dela ficaram admirados, não faz parte dela, acharam tão estranho que lhe perguntaram o que se passava, Paola respondeu: Pai e Mãe, todos os dias vou à Universidade, vocês ao trabalho, a diversos locais, no fim do dia estamos todos aqui, jantamos em família e cada um vai para o seu canto, aos fins de semana passamos mais tempo em família, fazemos mais coisas em família, nós demonstramos o amor que sentimos uns pelos outros, mas nunca falamos o quanto nos amamos, e acho isso errado, o amanhã não nos pertence, nós não sabemos quando será o nosso último dia, Paola fez uma pausa, e continuou dizendo, eu não quero ir sem antes falar quantos vos amo, eu não quero ir sem dar o meu último adeus, eu não quero vos perder, eu não quero me arrepender, eu só quero dar o meu melhor, falar o quanto vos amo todos os dias, Pai e Mãe, eu vos amo!

Eu só quero aproveitar cada momento, eu só quero ser melhor que ontem, melhor que à 2 segundos, melhor que o passado, melhor a cada momento, eu só quero ser melhor, para mim, para vocês, Pais.

A Mãe de Paola começou a chorar, foi até ela, deu-lhe um abraço e disse que também o amo.

O Pai de Paola disse: filha, eu não sou perfeito, eu procuro dar o meu melhor para essa família, eu trabalho a pensar em vocês, eu faço tudo a pensar em vocês, sem vocês eu não sou nada. Eu sou um livro aberto para ti filha, eu aceito quando vocês dizem que estou errado, eu procuro mudar quando faço algo que vos entristece, eu procuro não ser apenas teu Pai, eu procuro ser também seu amigo. Quando tu eras criança, eu falava sempre que te amava e agora raramente falo, e peço desculpas por isso filha, às vezes a gente pensa que dar presentes é estar presente, e durante um tempo eu caí nessa, mas obrigado pelo teu discurso hoje, eu prometo voltar a dar o amor como precisas, a falar como devia falar sempre, eu te amo minha Filha e isso não vai mudar. A família é tudo que um homem não pode esquecer, sem família não somos nada, podemos ter bilhões na conta bancária, mas não seremos ninguém sem a família, sem ninguém para dividir as infelicidades e os motivos de alegria.

Eu te amo, Paola Jones, minha única filha, eu te amo, Maria Jones, minha companheira, minha mulher, eu vos amo, minha família.

Depois de uma manhã de declarações, Paola foi para as aulas, chegou atrasada nesse dia. Durante o intervalo Paola contou para Sofia o sonho que tivera na noite passada, Sofia ficou toda arrepiada com o sonho da amiga, era bizarro pensar em perder Pai e Mãe no mesmo dia, se só perder um já era complicado, imagina os dois, seria demais para qualquer um, Sofia não queria nem supor isso para a amiga.

A professora de Marketing deixou um trabalho para a classe, deviam fazer em grupo, Paola faria com a Sofia, depois das aulas foram para casa de Sofia.

Olá Mãe, cheguei, gritou Sofia. A Sr. Ana apareceu, saudou a Paola, deu-lhe um abraço. A Sr.ª Ana era como uma segunda Mãe para Paola, Sr. Ana e Sr. Jones cresceram juntas, também são as melhores amigas, igual Sofia e Paola.

Sofia explicou a Mãe que tinham trabalhos a fazer, e foram para o quarto. Investigaram pela internet, mas achavam o conteúdo irrelevante, então decidiram ir à biblioteca. Na biblioteca encontraram o Tiago sentando a fazer o seu trabalho, mas Paola olhou para ele e notou algo estranho, sentia que o Tiago que ela conhecerá outrora não era esse. Tiago tentou ter uma boa relação com ela, mas a dor não lhe permitia aceitar, a distância parecia o melhor caminho a seguir, Tiago parou de insistir, tinha que respeitar o espaço dela.

Tiago terminou o seu trabalho e retirou-se da biblioteca, enquanto descia as escadas parou por uns minutos e ficou apreciando a Paola, ele ama ela, ama muito, mas não podiam continuar juntos. Logo que ele decidiu descer, Paola olhou para as escadas, e viu-lhe a descer, não viu quando ele estava parado a olhar para ela. Nesse momento passaram imagens na cabeça da Paola, todos os momentos lindos vividos com o seu amado Tiago.

Paola disse a Sofia que ainda sentia falta de Tiago, que o amava. Eu sei disso, disse Sofia, ela sabia que a amiga ainda amava o Tiago, mas também um namoro de cinco anos era mesmo de se esperar esse amor todo. Paola, falou tudo que sentia, deitou tudo para fora, a amiga ficou aí ouvindo e dando o apoio.

Terminaram o trabalho e não queriam ir para casa, achavam que era cedo, foram ao parque apanhar um pouco ar, e a fome chegou também, levantaram-se e foram a um restaurante para ceder às necessidades do estômago. Sofia teve a idéia de ir ao cinema, logo que terminassem de comer, Paola não hesitou em dizer que sim, depois do filme foram para suas casas, passaram o dia juntas, tinha sido o melhor dia para Paola, depois do fim do namoro, chegou à casa alegre, ficou a ver TV com os pais, estava cansada que adormeceu na sala, deixaram-na dormir.

Ela é tão linda, é parecida comigo, disse o Pai, a Mãe diz que não, ela é a minha cópia, eu era assim na adolescência, ficaram a brincar com isso, até à hora de ir dormir.

Sofia foi ter com Paola, mas ela ainda estava a dormir, Sofia tomou o pequeno almoço com a família de Paola, que era a sua segunda família. Enquanto se alimentavam, Paola acordou, deu um bom dia e foi se preparar, ela e Sofia ficaram de sair, era domingo, elas irão dar um passeio de barco.

Antes de ir para o barco foram comprar comida, refrigerantes, tudo que precisavam para o passeio. Ficaram duas horas no mar, apreciando a mãe natureza, como ela é linda, durante o passeio as duas entraram na água, ficaram perto do barco, competiram para ver quem era a mais rápida no mar, uma brincadeira delas desde a infância, Sofia venceu, ela continuava a ser a mais rápida, sorriram, voltaram para o barco, o sol estava se pôr, sentadas, apreciaram a mãe natureza, e assim o domingo chegava ao fim. Foi um dia muito agradável para as amigas inseparáveis.

A Sr. Ana tinha convidado o casal Jones para sua casa, para um almoço, aproveitaram colocar as conversas em dia e também tiveram um dia agradável. Muitas gargalhadas foram dadas, memórias relembradas, muita harmonia entre eles, fortalecendo os laços. Depois do passeio de barco, as duas foram girar a cidade, caminhando, já que dizem que faz bem a saúde, sem pressa de voltar a casa, as ruas estavam bonitas.

Havia ali uma feira, Paola e Sofia paravam em todas bancadas para dar um apoio e ver o que eles tinham a oferecer, compraram algumas blusas, e saias feitas de pano, saíam de bancadas a bancadas, por último encontraram um fotógrafo, elas pediram parar tirar uma fotografia e surpreendentemente ele já tinha tirado, mostrou-lhes, ficaram surpresas, não imaginavam que alguém estava a tirar fotografias aleatoriamente, elas sorriram, e pediram mais uma, as amigas abraçaram-se para fotografia. Paola pagou pela segunda fotografia, a primeira foi de graça. Elas ficaram meio inquietas, queriam saber o que levou o fotógrafo a tirar uma fotografia sem autorização, apesar do gesto bonito, e elas também não estavam chateadas, até porque amaram a fotografia, era mesmo só curiosidade.

O jovem fotógrafo explicou;

- As pessoas tiram muitas fotografias, milhares durante o ano, sorrindo, na praia, em festas, com os amigos, namorada, namorado, Pais, entre outros, mas infelizmente maior parte das fotografias não revela os verdadeiros sentimentos do momento, maior partes das fotografias antes de serem tiradas as pessoas preparam-se, dão um sorriso, trancam a cara, fazem biquinho, fazem milhares de figuras. Quando isso acontece à fotografia perde um pouco do seu sentimento real. E as fotografias tiradas sem um aviso normalmente mostram um sentimento verdadeiro, você sente a imagem. Eu como fotógrafo amo tirar esses tipos de fotografias, e quando tiro se for a uma pessoa, eu vou ter com a pessoa e mostro, se não gostar eu apago, se gostar oferece e guardo uma para mim, para uma futura exposição.

Paola e Sofia ficaram admiradas, nunca tinham pensado a respeito. Sofia tinha assistido a um filme em que o principal ator era fotógrafo, e desde então ela tinha uma grande dúvida sobre as fotografias, decidiu aproveitar o momento e perguntar a um profissional desta área. Eu gosto de tirar fotografias, disse Sofia, e nunca tinha pensado em um por que em tirá-las, mas depois do filme fiquei a perguntar-me qual é o objetivo das fotografias? Não encontrava uma resposta.

O fotografo era uma boa pessoa, ele gosta de conversar, se for sobre fotografias melhor ainda. Sofia, as fotografias são para registrar o momento para a posterioridade, nós somos humanos, vamos envelhecer, durante esse percurso, perderemos alguns entes queridos, infelizmente, e quando chegar a velhice poderemos já não lembrar do nosso passado, as fotografias são praticamente memórias para nós, daqui a 30, 40, 50 anos, tu pegarás nessas fotografias que foram tiradas hoje e lembraras exatamente o que fizeste, com quem fizeste, como estava o local, como tu estavas, a roupa que usavas,em que estão do ano estávamos, o corte de cabelo que usas, a idade que tinhas. Lembrarás de tudo, e se aqui onde estamos agora, daqui a muitos anos estiver destruído, ou colocarem algo que não tinha, quando veres a fotografia lembrarás-se de como era, antes dessa mudança. Se perderes alguém, para matar as saudades verás uma fotografia, porque a memória depois falha, mas a imagem não, se for bem conservada, ela estará disponível. E claro, que também podes mostrar aos teus filhos, netos, entre outros.

Paola ouvi com atenção, ficou meio triste, abriu sua bolsa, tirou uma foto dela com Tiago, seu ex namorado, onde eles estavam super felizes em uma praia, vendo aquela imagem ela se lembrou dos seus melhores momentos com Tiago. Sofia estava muito envolvida na conversa com o fotógrafo, que não se apercebeu que Paola estava meio que distante, Sofia gosta muito de fotografias, principalmente da lua, sol, estrelas, ela é uma grande admiradora.

Paola guardou a fotografia, foi ter com Sofia, disse-lhe que já era hora de ir, agradeceram ao fotógrafo pela explicação e pelas fotografias.

Paola e Sofia foram a uma geladaria, enquanto esperavam pelos sorvetes, Sofia reparou que o rosto de Paola estava meio que triste, ela olhava para o céu, Sofia não disse nada, deixou a amiga em silêncio, o garçom trouxe os sorvetes, Paola queria consumir no estabelecimento, Sofia não concordou, ela queria saber o que se passava e conversar no estabelecimento não era uma boa idéia, a amiga teria que ser menos franca por estarem em um local cheio de gente estranha.

Paola percebeu o que Sofia queria, ela começou por falar, que a teoria do fotógrafo sobre as fotografias mexeram com ela, e ela chegou a concordar com ele, depois de pegar a fotografia em que está com o ex namorado,  Também lembrei de como era feliz com ele, como ele me entendia, dava amor, atenção, dava tudo que precisava.

Ontem eu pensei: Será que vou conseguir tirar esse amor todo que está dentro de mim? Eu não te contei, mas há dias em que choro enquanto estou no banheiro, tem sido difícil, quando o vejo na escola piora as dores, estou lutando para ficar bem logo, eu vou ficar bem!

Sofia parou de andar, olhou para Paola, e disse-lhe; sempre depois da chuva vem o sol, isso tudo vai melhorar, dê tempo ao tempo. Se precisares de um ombro para chorar, eu estou aqui, não precisa esconder nada de mim, vou te apoiar sempre. Se decidires ir atrás dele, vou te apoiar se quiseres outro, vou te apoiar, se quiseres ficar sozinha, vou te apoiar, eu só quero o teu bem, te ver feliz, com ele, com outro, ou sozinha, eu só quero te ver bem. Terminando de dar o apoio a amiga, deu-lhe um abraço, que durou mais de 5 minutos, limpou as lágrimas do rosto de Paola, e foram para casa.

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