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                Acordei antes de todo mundo pela luminosidade da sala, mas os outros não tardaram a se juntar a mim. Rebeca estava muito animada, não sei se pelo início do meu relacionamento com sua amiga ou pelas nossas férias, mas não estava muito falante, para meu alívio.

                Luzia apareceu pouco depois, me lançando olhares furtivos e levemente envergonhados. Ela parecia feliz por ontem, então eu não devia ter causado uma má impressão.

                - Ah, vocês vão adorar o hotel. – Theo disse enquanto terminava de beber seu café – É muito bonito, espaçoso. Tem piscina, já falei?

                Rebeca saiu correndo no mesmo instante arrastando Luzia. Aparentemente foram buscar roupas de banho no seu quarto, e por lá ficaram alguns minutos.

                - Meu filho vai estar sempre por lá. – ele sorriu para meus pais – Ele está aprendendo a administrar o lugar, sabem? – seu tom era claramente orgulhoso.

                Minutos depois nossas coisas estavam acomodadas no porta malas do seu carro, que me pareceu moderno e veloz, e Rebeca se enfiou no banco da frente rapidamente para que Luzia e eu viajássemos lado a lado.

                - Se comportem. – Arthur recomendou com a voz cheia de alerta.

                - Claro, pai. – nos apressamos em concordar.

                - Aproveitem! – Suzie parecia muito feliz por nosso passeio, mas um pouco receosa.

                Assim que o carro começou a andar, fiquei cheio de expectativa. Eu nunca tinha estado em um hotel antes, como seria? Nossa, eu adoraria ficar por horas e horas na piscina, que era outro lugar que quase nunca tínhamos acesso. Devia ser diferente de nadar no rio...

                A mão de Luzia me surpreendeu e virei o rosto rapidamente para ela. Claro que seu rosto estava virado para a janela, me evitando, enquanto seus dedos estavam nos meus.

                Deixei que acontecesse. Deixei que sua mão pequena se encaixasse na minha delicadamente, e até mesmo ajudei no processo de entrelaçar nossos dedos.  Esse pequeno gesto a deixava tão satisfeita que eu quase me sentia mal por não sentir a mesma coisa.

                Mas rapidamente deixei esse fato de lado, pois estávamos passando por grandes muros cobertos de uma trepadeira verde e folhosa através de um portão de grades com um letreiro imenso escrito “Hotel Evans”.

                Realmente o local era muito bonito, com uma grama verde se estendendo pelos lados da estrada de pedra que ia até a entrada da construção de três andares, circundada por uma varanda imponente, com colunas por onde subiam mais trepadeiras.

                - É incrível! – Rebeca exclamou do banco da frente.

                - Sabia que gostariam. – Theo respondeu parecendo muito satisfeito consigo mesmo.

                Ele estacionou o carro e nós três descemos, embasbacados com o tamanho e beleza do lugar onde ficaríamos por um tempo. Eu não estava nem um pouco decepcionado por ter vindo.

                - Vamos, entrem. – Theo seguiu na frente, ainda animado.

                Passamos pela varanda e chegamos numa espécie de saguão muito bem mobiliado com sofás chiques e macios, janelas com cortinas que arrastavam no chão e um balcão, onde aparentemente deveria ter alguém.

                - Onde foi que ele se meteu? – Theo franziu a testa, olhando ao redor e depois em direção a escada que levava aos andares superiores.

                Andei pelo lugar, completamente encantado, passando a mão pelos tecidos macios e observando os quadros nas paredes. Luzia e Rebeca pareciam igualmente impressionadas e muito animadas.

                - Ah, ai está você! – escutei o homem dizer com alívio.

                Me virei e vi que Theo olhava em direção à escada. Meu olhar acompanhou a direção dos seus olhos, e de lá vinha um rapaz alto, magro, vestido com uma camisa de botão branca, num tecido tão fino que era quase transparente.

                Conforme eu observava seu cabelo loiríssimo balançando enquanto descia os degraus, seus olhos muito azuis encontraram com os meus. Senti uma faísca e uma fisgada no estômago. Era a criatura mais bonita que eu já tinha visto em toda a minha vista.

                - Esse é Max, meu filho. – Theo nos apresentou quando o rapaz chegou no térreo.

                - Muito prazer. – ele disse pegando nas mãos de Luzia e Rebeca com gentileza.

                Fiquei parado pouco atrás das duas, sem saber o que fazer e levemente sem jeito pela sua presença.

                - E esse é Oliver. – seu pai me apontou.

                Novamente Max olhou na minha direção, seus olhos pareceram soltar faíscas, e passou entre as duas garotas para chegar até mim.

                - Muito prazer. – ele estendeu a mão.

                - Prazer. – balbuciei apertando sua mão.

                A mão dele era grande, macia, muito branca e com dedos longos. Senti que a tinha segurado um segundo a mais do que deveria, e quando soltei, Max me olhou de uma maneira um pouco estranha.

                - Vou levá-los até os quartos. – Theo disse animadamente.

                Rebeca e Luzia se apressaram em segui-lo pela escada, Max e eu levamos um segundo a mais, ainda dentro daquela troca rápida e confusa de olhares, mas depois fizemos a mesma coisa.

                Eu sentia o corpo de Max atrás do meu e isso me fazia parecer descoordenado. Tropecei duas vezes nos degraus e fiquei extremamente envergonhado, meu rosto estava quente e as mãos tremendo levemente, mas o outro não disse nenhuma palavra para aumentar meu constrangimento.

                Felizmente os nossos quartos seriam no primeiro andar, do contrário eu tinha certeza de que cairia antes.

                - Esses dois são para as senhoritas. – Theo apontou para duas portas abertas – E aquele mais ao fundo é o seu. – ele sorriu para mim, ainda muito animado.

                Olhei para o a outra porta aberta e fiquei aliviado por me afastar do grupo. Rapidamente venci a distância e atravessei a porta para um belo quarto com uma cama imensa, armários e uma janela de vidro com as cortinas compridas abertas, mostrando a piscina.

                - Espero que goste desse. – a voz me sobressaltou – Particularmente é um dos meus quartos favoritos.

                Me virei com o coração batendo apressado, e vi Max apoiado na porta com o quadril. Seus braços estavam cruzados no peito e ele olhava ao redor, como se avaliasse minhas instalações.

                - É ótimo. – consegui falar, esperando não ter soado estranho.

                Ele entrou no quarto, para minha agonia, e foi até a janela. Por um momento seus dedos ajeitaram as cortinas, depois se virou novamente para mim, ainda parado no exato lugar sentindo o coração martelando forte contra as costelas. Seu rosto tinha uma expressão divertida e um pouco avaliadora.

                - Seus olhos são lindos. – comentou como quem comenta sobre o tempo.

                Automaticamente levei uma mão até o rosto, depois imaginei como devia ter parecido idiota e a abaixei de novo.

                - Acho que os olhos verdes são os mais belos que existem. – ele se aproximou de um jeito bem tranquilo, colocando as mãos nos bolsos das calças – Principalmente em contraste com cabelos tão escuros.

                Minha boca ficou seca e, posso jurar, se abriu um pouco. Mas não consegui responder nada, por mais que estivesse impressionado com sua aparência.

                Max passou por mim, com um leve sorriso nos lábios, e saiu pela porta. No mesmo instante me sentei na cama, levando a mão ao peito. Eu estava arfando, o peito subindo e descendo. O que tinha acontecido comigo?

                - Seu quarto tem uma vista incrível! – Luzia exclamou entrando no quarto com animação.

                - É. – concordei me colocando de pé e tentando agir normalmente.

                Ela se virou para mim, sorrindo. Parecia feliz em estar ali comigo, longe de casa e dos olhares dos nossos pais. Também parecia esperar algo entre nós dois, ou alguma atitude minha que eu ainda não tinha entendido.

                - Theo disse que teremos um almoço lá embaixo. – Rebeca apareceu, igualmente animada.

                - Vou no banheiro! – Luzia exclamou e saiu correndo do quarto.

                - Caramba, esse quarto tem uma vista incrível. – minha irmã andou até a janela.

                Apenas concordei, sem vontade de conversar. Estava me sentindo estranho.

                - Então, animado para ficar a sós com Luzia longe dos nossos pais? – ela se virou para mim, o sorriso travesso iluminando os olhos.

                - Então, sobre isso... – me sentei novamente, ainda desconfortável – O que exatamente ela espera que eu faça?

                Rebeca riu, balançando a cabeça, como se eu tivesse feito a maior piada do mundo.

                - Só deixe seus hormônios no controle, irmãozinho. – ela passou por mim e saiu.

                O que aquilo queria dizer?

                Resolvi explorar meu banheiro. Não era muito grande, mas o chuveiro parecia bom, então resolvi testar antes do almoço, já que eu estava me sentindo um pouco empoeirado pela viagem.

                A pressão da água era realmente boa, e a temperatura ideal. Foi fácil permanecer ali, distraído de tudo ao meu redor, e apenas relaxar.

                - Oliver? – a voz de Luzia soou dentro do quarto.

                - Estou tomando banho. – gritei em resposta.

                - Quer alguma coisa? – a porta do banheiro abriu suavemente.

                Fiquei grato pela cortina tampar quase meu corpo, de modo que ela só conseguiria ver dos meus ombros para cima. A situação não me deixava nada a vontade, e me espantava um pouco que uma garota que não conseguia me olhar quando segurava minha mão, estivesse disposta a entrar no banheiro enquanto eu estava no chuveiro.

                - Não, eu já vou.

                Arrisquei um olhar para e só então percebi que ela estava de costas. Isso soava muito mais com a Luzia que eu conhecia e, de alguma forma, me tranquilizava.

                Quando voltei para o quarto ela não estava mais lá e a porta estava fechada, provavelmente ela tinha pensado na minha privacidade. Fiquei contente por isso porque estava usando apenas uma toalha enrolada nos quadris.

                Quando estava quase soltando a toalha, notei um movimento do lado de fora e andei até a janela. Max andava ao redor da piscina, provavelmente a limpando, distraído e com a testa ligeiramente franzida, quase como se pensasse em outra coisa.

                Ele não parecia real. Era tão diferente de todas as pessoas que eu conhecia... Não conseguiria dizer em palavras o que chamava minha atenção, mas não era a aparência – não apenas. Ele tinha charme, muito, e um jeito de se mover, como se estivesse totalmente relaxado e sem preocupações que era hipnotizante.

                De repente ele ergueu os olhos e me encontrou, e eu me senti mal por ter sido pego o observando. Me apressei em fechar as cortinas e colocar alguma roupa. Mais uma vez meu coração batia desenfreado sem motivo aparente.

                Desci as escadas quase correndo, ansioso para estar com Luzia e Rebeca novamente. Felizmente as duas estavam sentadas num dos sofás, aos cochichos, que foram encerrados quando me viram chegar.

                - Até que enfim. – minha irmã reclamou se levantando – Estou morta de fome.

                Seguimos até o cômodo ao lado, que era uma grande sala de refeições cheia de mesinhas. Rebeca escolheu uma perto da janela, para minha agonia, já que dava para ver a piscina do lado de fora.

                Teria sido menos tenso se as duas não tivessem se sentado tão rápido, me deixando com a cadeira que ficava exatamente virada para a janela. Por que é que eu me sentia tão torturado?

                Nossos pratos não demoraram a chegar, mas meus olhos não paravam de se desviar para o lado de fora, num misto de querer ver Max por lá e não. Não sei se o que senti foi alívio ou decepção ao não encontrar sua silhueta rodeando a piscina.

                - Você está estranho. – Rebeca comentou, me observando atentamente.

                - Não... – retruquei diante da sua falta de descrição. Por que minha irmã sempre tinha que colocar minhas coisas em evidência?

                Luzia soltou uma risadinha baixinha e contida que me fez pensar o que as duas teriam comentado sobre mim. Será que estavam achando que eu estava nervoso porque, em algum momento indefinido, iria ficar a sós com ela?

                - Espero que tenham gostado. – a voz soou do meu lado, me sobressaltando.

                Ali estava ele de novo, bem do meu lado, com um sorriso cordial nos lábios. Não dava qualquer indício de ter me flagrado na janela, mas mesmo assim senti meu rosto ficar mais quente.

                - Estava realmente ótimo. – Luzia respondeu por nós, se levantando.

                Rebeca a acompanhou, já completamente distraída do assunto anterior. Saíram de braços dados, apontando as decorações do ambiente, e esquecendo completamente da minha presença na mesa.

                Apoiei os cotovelos na mesa e enterrei a cabeça nas mãos. O que estava acontecendo comigo?

                - Você está bem? – ele soou novamente ao meu lado.

                Ergui a cabeça de uma vez, quase como se tivesse levado um choque. Pensei que tivesse ido embora, mas ele permanecia no mesmo lugar com os olhos fixos em mim.

                - Ótimo. – respondi com a voz um pouco mais fina do que o habitual.

                Max puxou uma cadeira e se sentou, relaxado, enquanto mais uma vez eu começava a me sentir estranhamente agitado.

                - Gosta de nadar? – seu tom era completamente casual.

                - Sim. – respondi balançando a cabeça, torcendo para ele não perguntar o que eu estava fazendo na janela.

                - Aquela garota. – Max apontou com o queixo na direção que elas tinham saído – É sua namorada?

                - Algo assim. – gaguejei um pouco, grato pela mudança de assunto.

                Ele apenas balançou a cabeça, focando meu rosto por alguns instantes, depois levantou e se afastou em silêncio. E eu permaneci ali sentado por mais um minuto, esperando que minha respiração voltasse ao normal antes de sair.

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