O Segredo do Hotel Evans
O Segredo do Hotel Evans
Por: Paula Albertão
Prólogo

                Eu não esperava vê-lo outra vez, pelo menos não nessa vida enquanto ainda éramos as mesmas pessoas com os mesmos dilemas de sempre. Mas lá estava ele, os cabelos tão loiros que eram quase brancos balançando na brisa suave, saindo do seu carro há poucos metros de onde eu estava.

                Seu corpo se esticou, esguio como eu me lembrava, a testa levemente franzida mostrando que estava pensando em alguma coisa que não estava exatamente ali.

                Ele esticou a mão para dentro do carro e ajudou uma segunda pessoa a sair, um garotinho com a mesma tonalidade de cabelo. Era seu filho, tive certeza na mesma hora, as outras semelhanças eram muito grandes para serem ignoradas.

                O garotinho correu para dentro da escola, se misturando aos outros garotos – entre eles, o meu – e, por alguns instantes, ele observou o filho, como se quisesse saber se estava tudo bem. Não havia nada de errado, o garoto me parecia saudável, expressivo e independente.

                Depois disso, enquanto ele voltava para dentro do carro, seus olhos azuis encontraram os meus. Seu corpo congelou a meio caminho e a boca se entreabriu de surpresa. Ele não também não esperava me ver outra vez.

                Um frio percorreu minha barriga e comecei a andar, me afastando. Minha respiração estava alterada, o coração batia desenfreado e a boca tinha ficado seca. Como ele ainda podia causar tantas coisas dentro de mim?

                Segui andando por uma rua sem olhar para trás. Ainda era cedo, só haviam as pessoas que levavam as crianças para a escola circulando por ali, se afastando e sumindo gradativamente após o sinal que dava início às aulas ter soado.

                Não tive nenhum aviso. Não escutei o carro ou qualquer outro indicio que me preparasse para o que veio logo em seguida.

                - Oliver!

                Meu coração pareceu parar por um momento. Eu conhecia aquela voz tão bem quanto a mim mesmo, jamais a esqueceria passasse o tempo que fosse, e não conseguia a ignorar e continuar andando como se ele não tivesse me chamado.

                Parei, primeiro olhando para a frente, sem coragem de virar a cabeça. Minhas mãos, em punhos fechados dentro dos bolsos do meu casaco, tremiam, e eu ainda não confiava na minha voz para responder.

                Depois virei a cabeça levemente. Ele estava parado dentro do carro, a cabeça virada na minha direção. O sol da manhã refletia em seus cabelos de uma maneira suave, e justamente essa claridade o fazia estreitar os olhos.

                - Max. – respondi quando tive certeza que minha voz sairia firme como a dele.

                Nenhum de nós soube o que dizer em seguida. Seus olhos pareciam estudar meu rosto tanto quanto os meus estudavam o dele. Eu não achava que ele tinha mudado muito, será que ele via mudanças significativas na minha expressão?

                Em seguida retomei minha caminhada de uma forma meio acelerada. Minha cabeça ficou confusa, tomada de lembranças que eu quase tinha conseguido afundar muito bem dentro de mim.

                Dessa vez escutei muito bem a porta do carro abrindo e fechando com força, seguido por seus passos apressados na calçada. Vindo atrás de mim, ele estava claramente vindo atrás de mim.

                Algo semelhante a pânico se agitou dentro de mim e virei a esquina, buscando uma salvação para aquele momento, mas tudo que encontrei foi um beco silencioso. Acabei me encurralando, sem meios de evitar o que estava prestes a acontecer.

                - Oliver. – ele repetiu, dessa vez com uma voz mais alterada, como se tivesse sem fôlego.

                Me virei, com meu peito subindo e descendo pela respiração alterada. Max estava mais perto agora, tanto que eu sentia seu perfume pela brisa que soprava na minha direção. Aquele cheiro... era o mesmo cheiro.

                - Max. – repeti, a voz muito mais baixa e trêmula do que antes.

                Ele andou até mim. Estava agitado, eu podia perceber. Seus olhos se moviam rapidamente por mim, quase como se não acreditasse que eu realmente estava na sua frente.

                - Fugindo? – me perguntou tentando soar leve, quase uma brincadeira, mas falhando miseravelmente.

                Não confirmei, mas também não fazia sentido negar o óbvio. Dei mais passos para trás, para as sombras de uma grande árvore, nos dando ainda mais privacidade.

                - Não acredito que ... – Max não completou a frase.

                - Nem eu. – concordei sem precisar de uma frase inteira.

                Ele deu mais passos decididos na minha direção e parou, tão perto que eu sentia o calor do seu corpo através do ar gelado. Ergui ligeiramente a cabeça para poder olhar nos seus olhos, então percebi que eles brilhavam porque estavam rasos d’água.

                Quanto do passado ainda pairava sobre nós?

                - Precisa pedir para eu me afastar, Oliver. – Max disse suavemente, quase como um sussurro.

                Meu coração acelerou ainda mais, mas não consegui produzir nenhuma palavra. Dei um passo incerto para trás e minhas costas bateram contra o tronco da árvore. Max não se abalou, deu outro passo na minha direção e repetiu:

                - Você precisa pedir, Oliver. – sua voz saiu mais falhada, como se ele tivesse tomado de emoções como eu.

                Fui tomado de uma vontade avassaladora de que, por nada no mundo, ele se afastasse de mim. Só de pensar que ele poderia dar as costas e simplesmente ir embora, doía profundamente. Uma ferida sendo cutucada com a ponta da faca.

                - Não. – balancei a cabeça enquanto sentia meus olhos ardendo pelas lágrimas que estavam se formando.

                Max não hesitou mais nenhum segundo. Veio na minha direção, enterrou as mãos nos meus cabelos e me beijou apressadamente, como se eu pudesse evaporar se pensasse muito. Eu não julgava, sentia coisas semelhantes naquele momento.

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