5º Capitulo

Em São Paulo...

Eduardo chegou tarde para o ensaio aquele dia, eles já estavam quase desistindo quando finalmente ele adentrou na garagem.

Maikon foi o primeiro a largar os instrumentos e ir a sua direção, Maikon era o vocalista deles.

- Pô cara, você se atrasou de novo meu, desse jeito não vamos nem passar pela triagem, qual é a sua afinal atrasar a gente?

- Desculpa pessoal, eu tive uns problemas em casa e acabei ficando preso no transito.

Sebastien foi até os dois.

- Calma vocês dois, tenho certeza que Eduardo não se atrasaria se não tivesse tido um problema grave para resolver, ele não deixaria a banda em apuros.

- Pois eu adoraria saber, quais são os problemas graves dele? Afinal essa é a terceira vez que ele se atrasa!

Todos olharam para Eduardo, o que ele poderia dizer? Que as crises de sua irmã estavam ficando cada vez piores e que não sabia por quanto tempo poderia tocar com eles, ou ter uma vida normal? Quando pensou em responder isso, se lembrou de que ele não tinha irmã, que ninguém ali sabia sobre Suélem, e que começasse a explicar a história toda não terminaria nada bem.

- Desculpe, mas eu não posso.

- Não pode o que? – Provocou Maikon.

- Eu não posso dar uma explicação por que eu não tenho uma, eu realmente sinto muito, mas concordo com o Maikon eu tenho segurado vocês, por minha causa vocês não conseguem ensaiar direito, então é melhor eu sair da banda mesmo.

Erik saiu de trás da bateria e caminhou até eles.

- Você não pode ta falando sério néh cara? Eu entrei nisso por você, foi você quem me convidou como você pode sair agora?

- Não, gente, nada haver ninguém vai sair da banda! O concurso ta em cima, temos apenas três meses pra ensaiar, ninguém vai desistir agora!

Disse Sebastien contornando a situação, Maikon, porém não gostou nem um pouco.

- Pois eu acho que ele deveria sair sim, perdemos três ensaios na ultima semana e um show no barzinho do Fred por causa dele, e tem mais, guitarrista tem em qualquer lugar!

Eduardo abaixou a cabeça, estava cansado e sem “saco” para discutir, tinha feito de tudo para acalmar Suélen, as doses de calmante estavam sendo cada vez mais fortes e ela quase não dormia a noite, não era apenas para os ensaios que ele se atrasava, para o trabalho também.

- Eu vou sair gente, é melhor o Maikon tá certo!

Antes que alguém pudesse falar algo ele saiu porta a fora pegou o capacete e montou na moto, Sebastien ainda tentou ir atrás dele, mas ele já tinha sumido nos limites da propriedade.

- Pô Maikon! Não precisava ter falado com ele assim!

- Ah Sebastien, o cara fica ai fazendo corpo mole pra todo mundo correr atrás dele, semana que vem aposto que ele ta aqui de novo, que outra banda vai querer um cara irresponsável feito ele?

E foi assim que o ensaio terminou, sem nem ao menos ter começado, todos foram embora e Sebastien mais uma vez subiu para o quarto e se atirou na cama parecendo depressivo, Thereza subiu com um lanche logo em seguida.

- Óh meu “bambino”, que rostinho triste é esse?

- Estamos a três meses da apresentação que pode mudar nossas vidas para sempre e parece que agora tudo resolveu dar errado.

Ela se sentou na cama e fez um carinho em suas pernas.

- O que foi que deu errado hoje?

- O Eduardo se atrasou de novo, é a terceira vez que ele se atrasa pro ensaio essa semana e o Maikon resolveu dar uma dura nele e como resposta ele pediu pra sair, o pior é que o Erik ficou bem chateado com a saída dele e falou que não sabe se vai ficar caso o Eduardo não volte, então estamos sem guitarrista e sem baterista por tempo indeterminado.

- E por que o Eduardo se atrasou?

- Eu não sei, ele não quis explicar, mas ele parecia estar preocupado com alguma coisa.

Bom, então talvez ele esteja passando por problemas e como amigo dele você deveria visita-lo e tentar descobrir para poder ajudar, não acha?

Sebastien olhou bestificado pela sabedoria daquela mulher, sentou-se na cama em um salto agarrou seu rosto e lhe deu um beijo.

- Thereza, você é meu anjo da guarda!

Dito isso ele saiu correndo do quarto, iria até a casa de Eduardo e falaria com ele, talvez sozinho ele falasse o que estava acontecendo.

Seven estava quase saindo do escritório quando escutou o telefone tocar, pensou em ignorar, mas decidiu atender pela ultima vez naquele dia.

- Senhor Seven, o senhor pode atender, é uma ligação de Porto Alegre, disseram ser importante.

- Claro, Cintia, pode passar...

Cintia era uma excelente secretária, porém estava saindo de licença maternidade e ele precisaria de outra pessoa que fosse ser tão eficiente quanto ela, até por que ela já tinha avisado que não voltaria após a licença, não era apenas atender telefonemas, agendar reuniões ou conversar com estrangeiros, ela também organizava as planilhas e sempre conseguia criar os melhores pacotes de viagem que eles tinham, era como ter dez funcionárias em uma, foi graças a ela que Seven tinha conseguido fechar negócio com um empresário do ramo de turismos da Alemanha, faria muita falta na empresa, ele tinha tentado dobrar seu salário, mas ela estava decidida a não voltar, queria ficar em casa e acompanhar o crescimento do filho que estava por vir, mais uma coisa que ele admirava nela, por que ele não conseguia passar mais do que cinco minutos com o filho e não se lembrava se alguma vez na vida o tinha feito.

A ligação demorou um pouco, certamente era Emanuel, aquele velho safado, devia estar cantando sua secretária.

Seven estava certo era Emanuel.

- Senhor Seven, que bom que consegui falar com o senhor ainda hoje.

- Imagino que seja importante para me ligar à uma hora dessas, estou fechando o expediente, foi muita sorte me achar por aqui.

- As noticias não são muito boas na verdade, eu ligo para informar que dei a noticia para o garoto, ele ficou muito feliz em saber que foi o escolhido para a vaga, porém teme não poder ocupar o cargo a tempo.

- Como assim? Ele não consegue se mudar em um mês? Se o problema for aluguel posso conseguir um apartamento para ele, tenho alguns vagos.

- Na verdade ele vem passando por problemas familiares, a mãe do rapaz se acidentou na noite passada a situação dela é gravíssima, a irmã mais nova tentou salvar a mãe e acabou ficando muito machucada também, elas são tudo o que ele tem e ele é tudo que elas tem agora, é inviável que as abandone para ocupar a vaga, os médicos não deram nenhuma previsão de alta, o garoto está desalmado.

- Pobre garoto, eu realmente sinto muito, porém não posso segurar a vaga, não tenho ninguém para ocupar o cargo e dentro de um mês Cintia irá me abandonar.

- Talvez alguém que possa substituir ele temporariamente, algum cargo temporário?

Seven olhou para a fotografia que tinha de Cibele a mãe de Sebastien na parede, tinha jurado para ela ser um bom pai e nunca tinha passado mais do que cinco minutos com o filho.

- Na verdade eu tenho, tenho alguém... Diga ao garoto que esperarei por ele, que ele tome o tempo que for necessário, sua vaga será mantida.

Seven desligou o telefone, era a chance que ele e o filho tinham de resolver a situação de uma vez por todas.

Sebastien nunca tinha ido até a casa de Eduardo, na verdade uma vez ele tinha deixado claro que detestava visitas, ele não conseguia entender por que, já que sabia que o amigo morava em um dos apartamentos de seu pai, então sabia que não era um lugar ruim, não tinha motivos para ele se envergonhar de receber visitas.

Sebastien encostou o carro em frente ao prédio, o porteiro estava ocupado ao telefone, mas permitiu que ele entrasse, pois o reconheceu como sendo o filho do sr. Kirtman, o bom de ser filho de Seven era esse, todos sabiam quem você era.

Sebastien olhou a lista dos moradores, não foi difícil descobrir o numero do apartamento dele, já que havia poucos apartamentos, ele pegou o elevador e bateu na porta por alguns segundos, porém ninguém atendeu, bateu mais umas duas vezes até que percebeu que a porta estava aberta.

Ele entrou cuidadosamente sem fazer barulho, não havia ninguém na sala, nem no corredor, estranhou.

- Eduardo? Ta aí cara?

Ninguém respondeu, ele não sabia se podia andar por ali e bisbilhotar pelas coisas, decidiu se sentar no sofá e esperar, nessa hora uma menina vindo calmamente pelo corredor ficou imóvel diante dele, ela tinha os olhos arregalados e o corpo duro como se tivesse visto um fantasma, Sebastien sorriu e acenou com a mão, quem podia ser? Teria entrado na casa errada? Se fosse isso seria muito desconfortável e até cômico...

A menina deixou a maçã que trazia na mão cair no chão, sua boca se fechou, porém ela seguia imóvel, Sebastien olhou para os lados sem saber o que dizer, deveria se apresentar, pedir desculpa o que aquela menina tinha? Por que não falava nada?

- Oi! Tudo bem? – Ele se aproximou dela e estendeu a mão, ela, porém recuou dando vários passos para trás, fechou os olhos com força, aquilo só podia ser uma visão, aquelas que costumavam perturbar, os olhos verdes dele, eram iguais absolutamente iguais aos de seu antigo padrasto, mas somente os olhos, por que não o resto? Ela voltou a abrir os olhos na esperança de que a imagem do homem tivesse desparecido, mas ele continuava na sua frente sorridente, porém tinha abaixado à mão, ela deu mais um passo para trás ficando contra a parede, então levou as mãos a cabeça, fechou os olhos e fez o que Sebastien mais temia começou a gritar, gritar e gritar, alto, muito alto, ele se afastou dela e nessa hora avistou Eduardo que tinha saído correndo de dentro do banheiro com a toalha enrolada no corpo, ele correu até a menina e a segurou pelos ombros com carinho.

- Tudo bem Suélen? Fica calma, por favor, já passou, eu to aqui...

A menina parou de gritar, mas continuava a olhar assustada para Sebastien, que estava morrendo de vergonha e sem saber o que fazer, ela tinha os olhos rasos de lágrimas e ele nem ao menos sabia o que tinha feito de errado, Eduardo dirigiu o olhar para ele.

- O que diabos está fazendo aqui? O que fez com ela?

Sebastien olhou para a menina como se suplicasse por ajuda.

- Eu... Nada cara, eu vim te visitar conversar só isso, te pedir pra voltar pra banda e essa menina ai começou a gritar do nada. – Ele olhou sério para a garota ficando com raiva. – Fala alguma coisa garota! Diz pra ele que eu não fiz nada pra você!

Suélen voltou a colocar as mãos na cabeça e voltou a gritar, Eduardo balançou a cabeça e fez um sinal para ele ir embora, depois abraçou a irmã com força até que seus gritos abafaram e ela começou a chorar compulsivamente, Sebastien saiu por a fora mais nervoso do que quando tinha chegado, ele não tinha feito nada, aquela menina só podia ser maluca, ou não tinha ido com a cara dele...

Eduardo deu os calmantes a Suélen, ele sabia que Sebastien não devia ter feito nada, conhecia o amigo, desmoronou no sofá depois de colocá-la para dormir, tinha que resolver aquela situação, se Seb saísse falando por ai da irmã ele acabaria tendo problemas, era obrigação dele levá-la na escola, mas a mais de dois anos que ela não frequentava, ela simplesmente não conseguia conviver normalmente com pessoas, não se comunicava, psicólogos e psiquiatras já tinham trabalhado seu caso, mas era como se sua mente estivesse bloqueada, ele suspirou, se alguém a descobrisse tomariam sua guarda, ela certamente iria para um abrigo e lá enlouqueceria e acabaria como sua mãe.

Eduardo pegou a chave da moto e o capacete e saiu, esperava que Seb não tivesse comentado com seu pai sobre ela, Eduardo trabalhava para Seven a mais de dois anos, desde que tinha se mudado para São Paulo, porém nunca tinha falado da irmã para o patrão, aliás, nunca falava dela pra ninguém.

Já em Porto Alegre, Lílian tentou uma aproximação.

Quando Tiago voltou para o hospital naquela noite, Lílian não se conteve, aproximou-se com cuidado dele.

- Não tem mais ninguém para ficar aqui com ela?

- Não. – Ele disse observando a mãe pelo vidro, depois percebeu que tinha sido um pouco grosseiro. – Somos só eu, ela e minha irmã.

- Entendo, talvez queira descansar um pouco, vá para casa, tome um banho, coma alguma coisa e durma um pouco vai acabar ficando doente aqui, prometo ligar se alguma mudança acontecer, é meu plantão hoje então estarei aqui toda noite, posso ficar ao lado dela também se achar melhor.

Ele a observou atentamente, os olhos daquela mulher pareciam o oceano, ela sorriu sendo simpática.

- Faria isso doutora? Por alguém que nem conhece?

Ah se ele soubesse, ela pensou e então concordou com a cabeça.

- É o meu trabalho, cuidar de pessoas que eu nem conheço.

Kurt olhou pelo vidro a mãe uma última vez, estava exausto, esfregou os olhos e então se despediu dela com o olhar.

- Tudo bem, mas prometa que irá me ligar.

- Ligarei, eu juro.

Ele seguiu pelo corredor de cabeça baixa, ela o observou se afastando, Chuck se aproximou dela a segurando pelo ombro.

- Isso já foi um avanço.

- Mas nunca será como ter um filho, ele nunca irá saber o que eu sinto por dentro toda vez que ele se vai.

- Então pense que você sabe, pense que o que importa é você fazer por ele coisas boas, como isso, por exemplo, ele estava cansado e você o ajudou.

- Será que algum dia ele vai saber e me aceitar?

- Acho que é uma pergunta muito difícil de ser respondida no momento.

Em São Paulo

Seven também tentava se reaproximar do filho.

Ele chegou em casa mais cedo e chamou Sebastien para jantar fora com ele, Seb estranhou, o pai tinha vindo mais cedo e queria jantar com ele? A noite foi regada a cerveja e piadas, nunca tinha visto o pai daquele jeito, quando chegaram em casa foram para a garagem e até tocaram uma ou duas músicas juntos, Sebastien nunca tinha visto o pai tocar, desde a que a banda tinha terminado ele tinha esquecido de vez suas raízes musicais, tudo que Sebastien conhecia sobre eles eram as músicas do passado, CDs velhos e recordações em fotos e vídeos.

- Se você não fosse trabalhar amanhã, a gente podia ir para praia...

Seven largou a guitarra no canto, precisava abrir o jogo.

- Bom, na verdade eu fiz tudo isso pra tentar ganhar você e ser sincero com algo...

O pai levou as mãos ao rosto como se fosse contar um segredo importante, Sebastien largou o baixo.

- Nossa pai, você ta me assustando, fala... Aconteceu alguma coisa? Você ta doente, sei lá...

Seven levantou os olhos.

- Não, não é isso é que... Cintia vai sair de licença e o cara que eu contratei não vai conseguir chegar a tempo...

Sebastien se levantou bufando entendendo tudo.

- Certo, já saquei tudo, cê quer que eu substitua sua secretária até o cara chegar, beleza, já entendi.

Seven observou o filho, ele era mais esperto do que ele imaginava, porém tinha reagido de um jeito pior do que ele esperava.

- Não é tão ruim, é só atender os telefonemas, agendar as reuniões, só isso, vou deixar você fora dos pacotes de viagem e e-mails, só preciso de uma mão...

Ele olhou para o pai com raiva, mas ficou com pena, ele se esforçava muito.

- Tudo bem, eu vou... Mas tem uma condição.

- E qual é?

- Vou poder ensaiar com os garotos quando eu quiser na sua garagem e você vai nos dar dicas sobre o palco e tudo mais.

- Dicas?

- Você já foi uma estrela do rock, e dos bons, entende mais do que nós, vamos participar do concurso da cidade, queremos estar bons quando subirmos no palco.

O filho gostava mesmo de música, de longe ele lembrava muito seu irmão Chuck, por onde aquele “cabeça de prego” andaria?

- Ok! Eu topo aposto que preciso muito mais de você do que você de mim.

Sebastien sorriu de ponta a ponta e abraçou o pai com força, nem mesmo ele acreditava que a noite tinha terminado tão bem, ou pelo menos, quase... Bem nessa hora Eduardo encostou a moto no jardim.

- Acho que é para você.

Sebastien suspirou.

- Vamos lá, então...

- Te vejo amanhã, as nove, Cintia vai te ensinar tudo.

- Preciso de aulas para atender ao telefone?

- Sim, com certeza precisa.

Sebastien encontrou Eduardo perto da piscina e pediu para Thereza trazer uma cerveja, algo nos olhos dele dizia que a conversa seria longa.

- E aí cara...

- Oi.

Aquele “Oi” não foi nada animador, Sebastien suspirou e se sentou na borda da piscina com os pés na água.

- Então, fala aí... Quem é a garota?

Sebastien esperava que não fosse nenhuma namoradinha, já que a menina era um pouco mais que uma criança e ele não queria ter que denunciar o amigo por pedofilia.

Eduardo andou de um lado para o outro como se temesse se explicar, mas por fim se sentou ao lado de Sebastien, esfregou as mãos no rosto como uma forma de tomar coragem e falou.

- É minha irmã.

Sebastien se virou mais confuso do que antes, Eduardo nunca tinha dito que tinha uma irmã, e se tinha por que escondia a menina de todo mundo? Se ela tivesse o rosto deformado ele até entenderia, mas a menina era bem bonitinha.

- Irmã, como assim? Você tem uma irmã? Cara eu te conheço há anos e nunca soube disso, somos melhores amigos, como eu não sabia?

- Ninguém sabe e pra ser sincero ninguém pode saber pra falar a verdade to morrendo de medo de contar pra você e mais alguém saber sobre ela.

- Como assim? Tipo, por que esconder a garota?

- Minha irmã ficou louca, ou sei lá... Eu não sei bem o que ela tem, aconteceu há dois anos, nós morávamos em Minas Gerais com minha mãe, ela se casou com um cara ruim e... Ele abusou dela.

Sebastien voltou a olhar para o amigo e pode ver uma lágrima presa no fundo deles, era difícil falar sobre o assunto.

- Nós a levamos em vários psicólogos, minha mãe apenas se culpava pelo que tinha acontecido, até que por fim cometeu suicídio, as pessoas na cidade começaram a falar e vinham ver ela, como se ela fosse um extraterrestre, alguns até diziam que ela deveria ser a culpada por ser bonita ou diziam que ela devia ter se oferecido, Suélem parou de se comunicar, tinha pesadelos todas as noites e acordava gritando, alguns psiquiatras receitaram calmantes, mas eles a deixavam muito mal, então pedi demissão do trabalho e sai da cidade com ela, moramos um tempo em uma cidade vizinha, mas tive problemas com algumas assistentes sociais, elas queriam que Suélem voltasse para a escola, mas ela não tem condições para isso, você viu hoje, foi só ela te ver e começar a gritar, tenho medo que ela acabe como minha mãe.

- Nossa cara, que barra... Mas nem com você ela não fala?

- Não, não sobre o que aconteceu, às vezes ela se machuca, começa a bater na própria cabeça, é como se ela tentasse encontrar uma válvula de escape para os sentimentos dela, eu não sei por quanto tempo ela vai ficar comigo, ela é tudo que eu tenho para chamar de família, se é que me entende...

Eduardo abaixou a cabeça limpando os olhos.

- Se eles descobrirem sobre ela, sobre ela não estar em uma escola, sobre o estado em que ela está vão tirar ela de mim, levar ela para um abrigo ou clínica, vão dopá-la de remédios e tentar fazer todos acreditarem que ela está bem... Mas não está.

- Entendo. Já usou a música?

- Como assim?

- Conheço alguns casos de pessoas que passaram por situações difíceis, não tão difíceis quanto essa, mas que de alguma forma conseguiram libertar seus medos através da música, talvez se ela se interessasse por tocar algum instrumento, ou... Sei lá, alguma arte, pintura, desenho, dança... Até mesmo escrever pode ajudar...

- Escrever?

- É talvez ela não tenha coragem para falar, mas talvez se ela escrever o que está sentindo, você possa ajudar ela, por que não experimenta comprar um diário?

Um diário era uma boa ideia, quem sabe com ele que não tinha voz para acusá-la e nem voz para aceitá-la, ela pudesse se abrir, Eduardo sorriu, tinha sido bom dividir esse segredo com alguém o peso de seu coração diminuiu.

- Valeu cara, vou tentar.

- Não vai sair da banda néh?

- Não, mas o Maikon é um pé no “saco” às vezes.

- Às vezes? Ele enche todo mundo, só não dou um chute nele por causa do concurso, o cara canta muito.

- Tem razão, e ta muito encima para arriscarmos perder o vocal.

- Isso aí...

Os dois ficaram mais um tempo ali conversando, até que por fim Eduardo resolveu ir embora, já estava tarde e ele tinha que trabalhar no dia seguinte, aliás, agora Sebastien também.

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