Você me Pertence {5}

CAPÍTULO 5

Meus olhos brilham em reconhecimento quando eu vejo a mesma mulher que eu tinha encontrado na floricultura com perguntas inconvenientes, conversando com a mulher do caixa da cafeteria. Seu visual continua o mesmo, com uma bandana em seu cabelo, um vestido vermelho justo em seu corpo, chegando em seu joelho, que combina exatamente com a tonalidade do seu cabelo, cor de fogo. Seus traços são quase inexistentes, mas ela definitivamente não é uma estudante jovem, porém também não vejo como ela pode ser mãe de alguém, ao menos não de alguém que esteja na faculdade. 

— Bem que estavam dizendo que a mulher é linda. — Lorena murmura enquanto eu a vejo se afastar, sumindo do meu campo de visão. 

— Quem é ela?

Lorena mastiga um dos seus biscoitos e ergue uma sobrancelha na minha direção. 

— Alan não falou sobre ela? A nova psicóloga. Todos estão falando dela… — Seus lábios se desenham em um sorriso enquanto ela parece distraída, olhando para algum ponto em sua frente. — Eu tenho certeza que vão tirar problema do cu para se consultar com ela.

Assinto, lembrando do momento na cafeteria. Mesmo apesar do seu intrometimento, ela parecia elegante. Combina perfeitamente com uma psicóloga.

— De qualquer forma; — Me levanto verificando a hora em meu relógio de pulso. — Eu tenho que ir falar com a coordenadora sobre cursos extras que eu posso fazer para adicionar no meu currículo. Já está na minha hora. 

Endireito a minha bolsa em meu ombro e vejo Lorena revirar os olhos, parecendo chateada, fazendo biquinho.

— Enquanto estou aqui, tentando fugir do meu curso, você está correndo atrás de mais.

Um sorriso se desenha em meus lábios e eu trato de me aproximar dela, para depositar um beijo em sua testa. Por mais que eu esteja me sentindo sobrecarregada, eu sinto que devo me dedicar a isso. Quero aproveitar essa fase de liberdade, pois tenho certeza que saberei equilibrar estudo e diversão.

— Nos vemos mais tarde.

Percebendo que faltam apenas alguns minutos para a  minha aula começar, eu vou quase que correndo até o escritório da coordenadora, torcendo para que ela não tome muito do meu tempo. Não demora muito para eu ser atendida e me inscrever em dois cursos extras, assim aparecerá em meu currículo que diz horas complementares, o que pode me ajudar futuramente. 

Felizmente, chego a tempo na sala de aula, descendo as escadas em busca de encontrar um lugar vago. Após me acomodar e antes do meu professor chegar, eu ouço o meu celular vibrar em minha bolsa. O meu coração palpita em meu peito quando vejo o nome de Benjamin brilhar na minha tela, revelando uma mensagem. Eu não faço ideia do porquê ele estar me procurando, e por mais que eu saiba que é tolice pensar assim, eu ainda tenho esperança de que ele tenha desistido da ideia de contrato. Tudo seria tão mais fácil se ele abrisse mão…

Mas eu sabia que estava errada…

"Posso te levar para um jantar, hoje às 19h?"

Bom, ainda pode haver uma esperança dele desistir durante o jantar. Eu realmente não quero e não me sinto preparada para a mesma conversa, principalmente porque sei que vai acabar da mesma forma que da última vez. Mas também não posso ficar fugindo disso, acho que é bom ter que lidar com isso de uma vez por todas.

"Claro, às 19h."

Quando o professor entra na sala de aula, eu afastei meu celular, tentando levar com ele, os meus pensamentos em relação a Benjamin. Tenho um teste prático hoje, e me deixar levar pelo nervosismo está fora dos meus planos. 

Horas se passaram e finalmente chegou o momento do teste. Eu não sei dizer ao certo o quão bem eu fui, mas estava confiante quanto a isso, já que prestei atenção e tentei realmente entender o que eu estava fazendo. Segunda a instrutora, eu estava indo bem e no caminho certo.

Os meus horários já tinham acabado e eu estava saindo do prédio da faculdade, mandando ao mesmo tempo uma mensagem ao meu pai, perguntando se ele estava em casa, já que é muito difícil isso acontecer. Eu tinha mandado uma mensagem para ele ontem a noite antes de dormir, perguntando se ele podia separar o livro de receitas da minha mãe para que eu pudesse passar as suas deliciosas comidas, ao invés de ficar mofando na estante. 

Ele me respondeu dizendo que estava na igreja, e foi nesse momento que eu avistei Jerry. Ele estava na calçada, em frente ao carro. Nos cumprimentamos e eu dei o endereço a ele, após meu pai avisar que o livro estava em sua mão, e que ele iria levar para o meu apartamento. Mas a verdade é que eu não gostaria que ele fosse me visitar, de verdade, eu acho a sua energia tão pesada. 

Jerry faz o caminho até o caminho indicado e logo estaciona o carro em frente a igreja. Eu já posso ouvir até mesmo os murmurinhos e uma música cantando baixinho. Normalmente a essa hora do dia a maioria dos adolescentes estão ensaiando, enquanto a parte adulta da igreja fica de conversas e reuniões de louvores. 

Descemos do carro e logo posso ver a expressão confusa de Jerry, observando a fachada do lugar. 

— Você frequenta a igreja?

— Frequentava. — Respondo com um suspiro, vendo uma das garotas nas quais costumava me fazer companhia quando vinha aqui. 

— Parece bem… conservado. — Ele comenta e eu ergo a minha sobrancelha.

Esse lugar vai muito além de conservado. Lembro que boa parte da minha família investiu bastante dinheiro aqui, principalmente o meu pai. Lembrar disso me irrita, pois diversas vezes tivemos que nos regrar em relação a comida para que o meu pai enviasse dinheiro a igreja, somente para bancar as festas. 

Respiro fundo e resolvo entrar no local tão familiar para mim, deixando Jerry para trás. Todos os olhares são direcionados a mim, o que faz com que eu congele no lugar por alguns segundos, sentindo a amargura em seus olhares. As mesmas garotas que eu costumava ficar ao lado, me olham com uma sobrancelha erguida, como se eu fosse um incômodo ali. Eu não quero nem imaginar o que devem ter ouvido sobre mim, e mesmo que não tivesse nada demais nas revistas, eu tenho certeza que eles tiraram suas próprias conclusões, e pelo seus olhares, elas são horríveis.

Varro o local com o olhar em busca de encontrar o meu pai. Eu o avisto em um canto perto do palco, conversando animadamente com uma das mulheres que costumava pregar quando eu ainda frequentava. Caminho até eles sentindo o meu estômago se revirar, me sentindo extremamente desconfortável com as pessoas ao meu redor que ainda me olham e fofocam.

— Bom dia, pai…

Os cumprimento, lançando um sorriso fraco para os dois. Enquanto o meu pai faz gesto para mim, a mulher ao seu lado somente me encara com uma sobrancelha erguida. 

— Olha quem está aí… você era tão conservada, menina. 

Ela balança a cabeça para os lados após o seu comentário e eu somente suspiro, percebendo como eles ainda podem ser ainda mais inconvenientes. Me pergunto o que ela acha que eu me tornei. O meu olhar é direcionado para o meu pai, que a encara com certo tipo de vergonha e decepção.

— Sai para o mundo uma vez e já acha que o conhece mais que a gente. Mas não se preocupe, Deus não vai deixar que ela esteja afastada dele por muito tempo. — Ele diz para ela, como uma resposta.

Eu não consigo evitar a descrença em meu olhar, e as palavras saem da minha boca sem nenhum controle.

— Na verdade; — Começo chamando a atenção dos dois. — Tenho certeza que Deus não abandona alguém só porque se afastou de um lugar em que nunca foi bem recebida e com pessoas de tão má índole, que se acham melhores que os outros. Não precisa se preocupar pai, se eu achar que tiver que voltar a igreja, com certeza não será nessa, que é um lugar onde as pessoas ao invés se ensinar e ajudar, apontam um dedo e julgam no primeiro erro que comete. 

Ambos arregalam os olhos diante das minhas palavras enquanto sinto me libertar de um pequeno peso. 

— Como ousa…! 

O meu pai vem para cima de mim com uma mão levantada na minha direção. Deus, eu fechei os meus olhos, com medo e esperando pelo impacto, mas tudo o que eu ouvi foi uma voz que eu reconhecia.

— Creio que o senhor não tenha autorização para levantar a mão para a senhorita Miller, então não faça isso novamente, caso contrário terei que tomar providências legais contra o senhor, já que não uso violência em meu trabalho. 

Quando eu abro os olhos, vejo Jerry segurando o braço do meu pai, que se desvencilha todo afobado e irritado. A mulher ao seu lado cruza os braços na altura do peito e nos encara com desaprovação. 

— Você deveria ter sido mais rigoroso… olha o que ela se tornou… uma...

— Acho melhor não proferir ofensas contra ela; — Jerry a interrompe, com um olhar neutro e postura profissional, mas algo me diz que ele está fervilhando de raiva. — Tenho ordens para denunciar qualquer tipo de violência que fizerem contra ela, desde física ou verbais. 

Sinto a borda dos meus olhos se inundaram de lágrimas à medida que eu desvio o meu olhar para o chão. 

— Já fez tudo o que eu tinha para fazer? — Jerry questiona na minha direção, parecendo ainda mais sério que o normal. 

Balanço a minha cabeça para os lados, sem conseguir pronunciar nenhuma palavra pois sei que a minha voz iria denunciar o choro evidente. O que mais está me doendo nessa situação é que o meu próprio pai compactue com as palavras dessa mulher. 

— Tome isso de uma vez! — Meu pai quase joga o livro na minha direção, com raiva evidente. — Saiba que a sua mãe se envergonharia se lhe visse agora. 

Suas palavras me atingem em cheio, como um soco inesperado, e é quando as lágrimas quentes começam a deslizar pela minha bochecha.

— Isso não é verdade. Ela mesma disse para eu me mudar, me afastar de tudo isso; — Faço um gesto para igreja. — Me afastar do Senhor.

Seu maxilar se tranca e ele dá um passo na minha direção, irritado. Jerry põe um braço entre nós dois, com o seu olhar ainda sério. Tenho certeza que toda a igreja está olhando esse circo. 

— Você está perdida. Não importa o que ela tenha dito, ela era só mais uma…

— Vamos indo, senhorita Miller. 

Jerry vira as costas para ele, se pondo na minha frente. Acho que ele percebeu que o meu pai estava prestes a ofender a minha mãe e tentando não levar para esse lado, eu assenti. Ignoro as palavras maldosas que saíram da sua boca e vou até o carro, sentindo todo o meu corpo trêmulo. Quando estou dentro do carro, as palavras de Jerry, dizendo baixinho que não tem nada de errado em ser eu de verdade, é o ponto que me fez cair no choro. Acho que estava precisando ouvir isso...

Fizemos o caminho até o apartamento, e após comer alguma coisa e tomar um banho, eu estava na frente do meu guarda roupa com uma toalha ao redor do meu corpo, buscando por um vestido que se encaixe bem para jantar com Benjamin. A verdade é que depois do que aconteceu essa tarde, eu estou ainda menos animada, mas eu sinto que é necessário. Eu preciso, ao menos, acalmar os meus pensamentos. Olho mais uma vez para os poucos vestidos que deixei separado no guarda roupa, me lembrando de que deixei a maioria das minhas antigas roupas para trás, comprando novas que se encaixam perfeitamente em meu gosto. Nada brega demais como antes, e nada que me deixasse desconfortável, como na Itália.

Acho que foi automático quando meus olhos pararam em um tecido bege e delicado, com alguns brilhos na saia. Eu o peguei em minhas mãos e caminhei até a frente do espelho, o pondo sobre o meu corpo. Eu lembro exatamente quando o comprei, e eu fiquei encantada demais com ele. Tenho certeza que será ótimo para eu o usar. Suas mangas são somente até o meu ombro, e o busto é colado, com algumas pedrinhas brilhantes no lugar dos botões. A saia é um pouco mais solta, indo até o meio das minhas coxas, e é divinamente linda. Por isso, a escolhi para essa noite.

Quase uma hora depois, eu já estava vestida e com o cabelo em lindos cachos soltos. Eu resolvi não usar maquiagem, somente algo para alongar os meus cílios e um gloss que eu costumava usar. O meu salto é um dourado quase imperceptível, tão delicado quanto eu gosto. O meu reflexo no espelho me avisava que eu já estava pronta, e também ajudou muito no meu humor. Me olhar tão linda desse jeito faz com que eu me sinta mais segura sobre o que pode acontecer. 

19h em ponto e eu já estava descendo o elevador com a minha bolsa em mãos. Quando as portas se abriram e eu dei o meu primeiro passo para fora dele, eu logo vi Benjamin do lado de fora do prédio, na sua pose e roupa de sempre. Encostado no carro com jaqueta e jeans, exceto que dessa vez ele estava com a barba e cabelo aparado. Essa imagem fez o meu estômago formigar…

— Você está linda. 

O seu olhar estava queimando enquanto me observava caminhar até ele, e logo se apressou em segurar a minha mão e depositar um beijo no dorso da mesma, sem desviar o seu olhar do meu. Sim, ele sabia exatamente como me provocar, pois eu já estava sentindo todo o meu rosto esquentar e a como é a sensação dos seus lábios em meu corpo, de uma forma muito mais indecente. 

— Você também, está muito lindo… 

Eu não consigo evitar de sentir toda a minha bochecha esquentar, mas Benjamin somente sorri, abrindo a porta do passageiro para que eu possa entrar. 

— O que fez hoje? — Ele pergunta quando já estamos dentro do carro. 

Ponho o cinto tentando ganhar tempo e não parecer uma mentirosa por omitir o que houve na igreja com o meu pai. 

— Ah, depois da faculdade eu fui até a casa do meu pai. — Murmuro tentando parecer indiferente.

Ele assente enquanto eu o observo dando partida no carro, em silêncio.

— Na próxima vez que ele ousar levantar a mão para você ou te ofender, qualquer pessoa, na verdade, acredite… não vai ser apenas uma medida legal que vão receber. — Ele diz calmamente, com o seu braço apoiado na janela do carro.

— Jerry contou para você? — Pergunto surpresa e alarmada, já que não gosto de saber que além de um segurança ele também fica contando os meus movimentos. 

Ele não me responde e então eu encaro as ruas da cidade através da janela, não gostando nada dessa situação.

— Você está bem? — Sua voz soa baixinho, mas eu não sei ao certo ao que ele está se referindo, pois ultimamente muitas coisas estão me afetando.

— Bem, eu acho. Quer dizer, pelo visto o meu pai acha o mesmo de mim que todas as outras pessoas, mas estou bem. 

Suspiro tristemente e logo sinto a sua mão pousar na minha coxa, a apertando de leve me passando tranquilidade. 

— Você é incrível, Mel. Pare de escutar as outras pessoas. — Murmura me lançando um sorriso que faz com que eu me sinta mais uma vez, derretida.

Encosto a minha testa no vidro da janela, me perguntando por quanto tempo irei aguentar tudo isso. Agora mesmo, com a mão de Benjamin na minha perna e o seu lindo sorriso, eu poderia dizer sim para o que ele quisesse, e isso me assusta. 

Fomos até um lugar mais afastado da cidade e do comércio, mas que definitivamente o restaurante chamava a atenção. As luzes na fachada e dentro do local, que mais pareciam velas, revelavam isso. Deus, eu não consigo imaginar como ele encontra tantos lugares maravilhosos, pois eu podia ver através do vidro escuro do lugar todas as mesas postas de forma linda e encantadora. Talvez até romântica. Quando adentramos o lugar, com Benjamin segurando a minha mão, um único homem de terno foi nos recepcionar. O que mais me deixou surpresa é que além de nós três, eu não vi mais ninguém. Ele nos guiou até uma mesa enquanto eu encarava Benjamin, sem entender absolutamente nada, quer dizer, não é tão cedo e não há como um lugar tão chique e enorme estar vazio. A luz fraca do lugar proporcionada por velas foi o que nos permitiu enxergar. As velas impressionantes transmitiam uma luz rosa, e eu diria que estava em um filme de romance tirado diretamente dos meus sonhos, se a sensação da mão de Benjamin na minha não fosse tão real. 

— Meu Deus, esse lugar é lindo, Benjamin…

Sinto ele acariciar o dorso da minha mão com o seu polegar, com um sorriso satisfeito desenhado em seus lábios.

— Fico feliz que tenha gostado. 

Nos sentamos na maior mesa, que está no centro do restaurante, com as outras ao nosso redor, frente a frente. Eu ainda não consegui ignorar a beleza do lugar, sentindo que eu tinha entrado em um mundo distante do real. Uma música baixinha num ritmo mais clássico começou a tocar, e a minha teoria se confirmou. Definitivamente, estávamos no nosso próprio mundinho. 

Após alguns minutos e de Benjamin ter nos servido uma taça de vinho, eu finalmente deixei a minha curiosidade rolar.

— Porquê estamos sozinhos? Quer dizer, quem faria essa exceção dele não abrir, somente para você?

Ele toma um gole do vinho, ponderando sobre a minha pergunta.

— Amanhã será a sua inauguração. Eu o abri junto com Tadeu. Parece que ele estava falando sério quanto a seguir os seus sonhos, e eu estou ajudando já que o mesmo não quer depender do dinheiro da empresa que assumiu.

Arfo surpresa, assentindo. Lá no fundo eu fico feliz que Tadeu finalmente tenha tomado uma iniciativa, assim como tomei. Eu nem quero pensar no quanto Benjamin é rico para conseguir fazer tais coisas sem problema algum. 

— Sem mais perguntas por essa noite. — Ele avisa e eu reviro os meus olhos. 

Isso realmente me alivia. Significa que não teremos espaço para conversar sobre o contrato e assim teremos uma noite tranquila. E se acabarmos na cama, eu não veria problema algum. Benjamin é a única pessoa no mundo que consegue me acalmar e me assegurar, mas somente quando não estamos falando de contrato. Após o garçom servir os nossos pratos, novamente não consegui conter a minha curiosidade por algo que estava realmente me incomodando. 

— Benjamin; — Começo sentindo todo o meu rosto esquentar e sem conseguir segurar o seu olhar curioso. — Nesse meio tempo, você… hummm, sabe…

— Não, não sei.

Respiro fundo tomando um gole do vinho por conta do nervosismo.

— Eu estava fazendo compras quando eu ouvi alguém comentando… que tinha dormido com você. 

Eu não quero acreditar que ele fez isso, mas o seu olhar sério e o silêncio que me lança me deixa realmente assustada.

— Ruiva… você realmente não faz ideia, não é? — A intensidade do seu olhar me faz acreditar que quaisquer que sejam as suas palavras, elas serão verdadeiras. — Se você soubesse como você não saiu dos meus pensamentos, nem por um segundo.

Sinto um arrepio percorrer a minha espinha. Talvez seja porque a sua voz está mais rouca que o normal, ou porque essas palavras realmente mexem comigo. Relaxo diante do seu olhar e volto a bebericar o vinho.

— Eu não pensei nenhum pouco em você.

Ele ri com uma sobrancelha erguida, e logo voltamos a jantar, sem a mesma tensão de antes.

Quando tínhamos acabado de comer com bastante conversas descontraídas, Benjamin começou a ficar sério.

— Eu queria te levar para um lugar depois daqui, mas creio que não vai gostar. 

— Mas isso só me deixaria curiosa. 

— Vai por mim. Se o seu humor estivesse um pouco melhor, a sua reação seria menos pior do que seria se eu te levasse hoje.

Ergo a minha sobrancelha, não me aguentando de curiosidade. Ele está dizendo que é algo ruim, mas quem me garante que eu não vou me arrepender se eu não for hoje?

— Bom, e o que é que tem me afundar ainda mais? — Pergunto divertida, mas ele parece realmente sério quanto a isso.

— Você vai se afogar; — Ele desvia o seu olhar do meu. — Tem haver com o contrato. 

Nos encaramos por alguns segundos enquanto sinto a tensão cair novamente sobre os meus ombros. Eu sabia que uma hora ou outra voltaríamos nisso, mas eu já estava tão contente por essa noite leve… mas o que posso fazer? Se eu não resolver agora só irei me torturar ainda mais.

— Ou eu me afogo, ou saio desse mar, Benjamin. Está na hora dessa decisão. 

Acho que minhas palavras tiveram algum impacto, pois o mesmo de repente pareceu incerto quanto a isso. Eu sei que ele não quer me perder, e eu também não quero deixá-lo ir. Mas não podemos não tomar um partido, temos que seguir um caminho, e se não estamos dispostos a seguir o mesmo, é melhor que sigamos por lados diferentes. Mas ele logo se levanta e estende a sua mão na minha direção. 

— Tudo bem, mas lembre-se que é você quem está pedindo.

Sinto a bile se formar na minha garganta, e quando a minha mão vai de encontro a sua, eu juro que posso a sentir trêmula, mas a sua firmeza me transmite mais segurança. Me levanto e vamos caminhando de mãos dadas até o carro, tendo a certeza que essa noite é definitiva. Ou saio correndo dele, ou fico para ficar.

Em total silêncio, fizemos um caminho até uma casa de luxo localizada em condomínio, talvez precisávamos pensar. Benjamin estava nitidamente nervoso quando estacionou o carro em frente a casa, e eu me segurei para não pedir para o mesmo me tirar de lá. Saímos do carro e ficamos encarando a frente da casa, talvez um dando tempo ao outro para absorver o que pode acontecer.

— Antes de entrar, eu vou entender se não quiser me ver nunca mais, ou fique assustada; — Sua mão envolve a minha num aperto acolhedor enquanto sinto as batidas do meu coração aceleradas em meu peito. — Também quero que você saiba que nada do que você vê lá dentro é o que eu quero para nós dois. Só quero lhe mostrar do que eu faço parte.

Acho que estou nervosa demais para entender todas as suas palavras, mas assinto. Ele também assente e então começa a me guiar até a porta da casa. Assim que abre a porta e dá espaço para que eu entre, eu juro que posso sentir algo pulsando em minhas veias. Os meus olhos se abrem em espanto e eu poderia até mesmo dizer que me sinto tonta. Eu nunca vi nada como aquilo em minha vida, e o significado por trás disso me deixava atormentada. 

— Senhor!

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