O JOGO

Sempre gostei de jogos, e mesmo não sendo tão boa na jogatina, eu sempre fui muito esperta quando se tratava de dinheiro. Mas agora o jogo seria bem diferente, era a minha dívida de liberdade, pagando a dívida a minha rotina de viajar com a Lisa em paz seria retomada, e eu nunca mais precisaria me preocupar com o Lobo me seguindo.

Chegamos a uma mansão rodeada de seguranças armados, avistei o Lobo de terno, estava bem apresentável, ele sorriu assim que avistou o carro chegando, respirei fundo enquanto um dos seguranças abria a porta, e desci de uma forma suave tentando esconder o nervosismo. Com todos esses seguranças, eu temia que não seria uma tarefa tão simples.

O Lobo se aproximou, e sussurrou no meu ouvido: — Por favor, seja discreta. - Eu fiquei corada com seu tom de voz.

— Está muito fácil, qual é a pegadinha? — Sussurrei de volta o provocando.

— O Bruce tem que ficar atraído por você, esse é o primeiro passo. — Ele sussurrou apoiando a sua mão nas minhas costas.

— Eu sabia havia algo errado. — Eu sussurrei nervosa. — Por isso mandou aquela ‘lingerie’, eu sinto muito, eu não posso. — Me virei de costas irritada e o Lobo puxou o meu braço rapidamente me deixando sem jeito.

— Eu não vou deixar ninguém tocar em você. — Ele olhou fixamente em meus olhos. — Dou a minha palavra. 

— Está bem. — Respirei fundo tentando manter a calma.

O Lobo me acompanhou até a entrada, haviam poucas pessoas, a maioria homens, eu sorria como se a minha vida dependesse daquilo, até que o Lobo me tirou dos meus pensamentos sussurrando discretamente: — O Bruce está ali, perto da mesa de doces.

Meu coração quase paralisou quando eu o vi, era um senhor asqueroso com estatura baixa, ele estava sozinho devorando os doces. Engoli seco e me virei de costas, peguei uma taça de champanhe do garçom que estava passando, e dei um gole trêmula.

— Não vai ser fácil. — O Lobo disse sério. — Muitas mulheres ficarão em cima dele hoje.

— Imagino. — Eu disse enojada ainda de costas. 

— Ele está vindo. — O Lobo disse e meu coração disparou.

Eu estava com medo de me virar, então me virei bem lentamente com medo do que aquele homem asqueroso faria comigo. 

— Bruce, esta é a minha prima Maya. — O Lobo disse me apresentando.

— É um prazer. — Um homem alto, ruivo de olhos azuis e barba bem feita disse.

— Você é tão lindo. — Eu disse hipnotizada.

— Obrigada. — O Bruce disse sem graça.

— É um prazer. — Sorri hipnotizada.

— Aproveitem a festa. — O Bruce disse suavemente, e depois se despediu com um sorriso magnífico.

— Cuidado, está babando. — O Lobo disse irônico. — Mantenha o foco. — O Lobo me deu um cutucão na testa.

— Ei, doeu. — Eu reclamei saindo da hipnose. — Como eu vou seduzir ele? — Eu sussurrei.

— Ele gosta de ruivas, então está com vantagem. — Ele disse sério. — Boa sorte. — O Lobo acenou com desprezo.

Por sorte, eu não tinha que seduzir um velho asqueroso, e antes de iniciar o plano de sedução, curiosa fui até a mesa de doces e me surpreendi com a variedade de delícias, meus olhos se encheram, e então peguei um docinho com cereja em cima, e apreciei ele derreter na minha boca.

— Você tem o mesmo apetite para doces que a minha esposa. — O senhor que eu achei asqueroso disse docemente.

— Desculpe meu mau jeito, é que eu amo doces. — Eu coloquei a mão na boca envergonhada.

— Não se desculpe. — Ele disse me entregando um guardanapo. — Pareço um velho asqueroso comendo tantos doces. — Ele riu, e eu sorri sem jeito.

— Obrigada. — Eu limpei a minha boca com o guardanapo.

— Experimente esses. — Ele apontou para alguns docinhos com morangos em cima. — São bem saborosos. — Ele sorriu, e naquele momento era como se eu visse meu pai novamente, então obediente eu peguei o doce, e experimentei animada.

— Uau! — Eu disse depois da primeira mordida. — É bom mesmo. — Eu disse animada.

Ficamos ali experimentando os doces juntos, aquele senhor simpático me lembrava meu pai, eu estava atenta ao seu jeito engraçado de conversar, até que fomos interrompidos pelo Bruce.

— Pai, está exagerando com os doces. — O Bruce sorriu colocando a mão sob o ombro do seu pai.

— Que culpa eu tenho, se você manda fazer tantos doces maravilhosos. — O senhor sorriu. — Ainda mais quando tenho uma companhia tão gentil.

— Posso roubá-la um pouquinho papai? — Ele sorriu para o seu pai.

— Cuide bem dela. — O seu pai sorriu para mim, e se afastou da mesa de doces.

— Desculpe fazê-lo comer tantos doces. — Eu disse sem graça.

Ele me acompanhou até a sala principal onde estava acontecendo o jogo, haviam homens com charutos, bebidas, e muitas fichas na mesa, o Lobo nos cercava com os olhos enquanto jogava. Subimos as escadas, e o Lobo continuou nos observando, o Bruce foi mostrando cada aposento da mansão, até que chegamos a uma grande sala com a porta dourada, ele abriu e disse: — E aqui fica o escritório.

O escritório era maior que o meu ‘trailer’, havia muitas prateleiras com livros, uma mesa de madeira cheia de detalhes, provavelmente feita a mão, a poltrona de couro fazia o conjunto completo com a mesa, e um lindo piano branco enfeitando o local.

— É lindo. — Eu olhei vislumbrada.

— Vamos tomar um drink! — Ele foi até a estante e pegou uma garrafa de Uísque que estava escondida atrás da prateleira e dois copos.

— Eu já bebi bastante, melhor descermos. — Eu disse sem jeito.

— Só um drink e descemos. — Ele colocou o Uísque em um copo e me entregou.

— Só um drink. — Eu sorri e peguei o copo.

— Gosta de piano? — Ele se aproximou do piano.

— É lindo. — Eu me aproximei e me sentei de frente ao piano.

— Pode tocar se quiser. — Ele levantou a tampa exibindo as teclas e pegou o copo da minha mão.

— Eu não sei tocar. — Eu disse passando os meus dedos suaves sobre as teclas.

— Eu vou te ensinar. — Ele veio atrás de mim, e segurou as minhas mãos, e colocou os meus dedos sobre as teclas e apertou para baixo, e o som saiu.

— Viu eu sou péssima nisso. — Eu sorri sem graça.

— Com um pouco de prática, talvez consiga. — Ele subiu as suas mãos até meus ombros e afastou o meu cabelo, e deu um beijo suave nos meus ombros.

— É melhor descermos. — Eu disse me levantando, cortando o clima.

— Tem certeza? — Ele se aproximou, e puxou o meu corpo para perto.

— Sim. — Eu disse olhando friamente.

— Está bem. — Ele sorriu sem graça e me soltou.

— Obrigada. — Eu disse envergonhada.

— Gostaria de jantar comigo algum dia? — Ele sorriu e deu um gole no seu Uísque, e se sentou na poltrona.

— Seria ótimo. — Eu disse colocando meu cabelo atrás da orelha.

— Que tal amanhã? — Ele insistiu com um olhar malicioso.

— Eu escolho o dia. — Eu sorri mordendo o lábio. — Você é muito apressadinho. — Eu dei um gole e coloquei o copo na mesa.

— É melhor descermos. — Ele me olhou com malícia e se levantou rapidamente, derrubando todo o Uísque em sua camisa. — Droga! — Ele disse sem graça.

— Que bela mancha, deixa eu te ajudar. — Eu comecei a desabotoar a sua camisa, até que alguém entrou na sala.

— Maya, o que está fazendo? — O Lobo disse nervoso se aproximando.

— Ele derrubou Uísque, eu só estava ajudando. — Eu disse sem envergonhada.

— Nós temos que ir agora. — O Lobo disse puxando o meu braço.

— Espere, precisamos conversar. — O Bruce olhou sério para o Lobo Negro.

— Sim. — O Lobo com desprezo soltou o meu braço.

— Foi um prazer Maya. — O Bruce deu um beijo em minha mão, e eu saí da sua sala deixando os dois conversarem a sós.

Eu queria ser uma formiga para saber o que eles estavam conversando, no fundo, eu gostaria que o assunto fosse sobre mim, mas eu nunca iria saber com tantos seguranças por perto.

Esperei atrás da porta por um tempo, até que o Mike veio me buscar para esperarmos o Lobo no carro. Eu estava começando a ficar preocupada com o Lobo, até que ele apareceu e abriu a porta do carro me assustando e disse:

— Vamos. — Ele olhou sério para o Mike e me ignorou totalmente.

E o silêncio permaneceu, eu queria perguntar o que havia acontecido, mas eu estava com medo da resposta, aquele silêncio continuou até chegarmos no meu ‘trailer’.

— Maya pegue as suas coisas, você virá comigo. — O Lobo disse sério.

— Eu fiz algo errado? — Eu disse com medo.

— O plano está correndo bem, mas para funcionar o Bruce precisa acreditar que você é a minha prima, precisa ir para a minha casa por um tempo. — Ele disse calmamente.

— Mas meu ‘trailer’? — Eu disse desanimada. — Ele é tudo o que eu tenho.

— Ele vai ficar guardado na garagem, quando o plano acabar você terá ele de volta. — Ele fez um sinal para que eu entregasse a chave para o Mike.

— Está na casa de passarinho. — Eu apontei para a árvore ao lado do ‘trailer’ e o Mike desceu do carro, e foi até a árvore e enfiou a mão dentro da casa de passarinho e levou uma bicada. — Desculpe está atrás da casinha, e não dentro. — Eu soltei um riso, e o Mike me olhou bravo.

O Mike pegou a chave, e entrou no ‘trailer’ para dirigi-lo, e eu disse animada: — Cuida bem da minha Lisa. — Eu acenei e ele fez uma cara feia acelerando.

— Seu ‘trailer’ chama Lisa? — O Lobo perguntou curioso.

— É uma longa história. — Eu sorri de volta.

— Vamos. — O Lobo acenou para o segurança, e ele começou a dirigir.

No caminho fiquei observando as árvores em silêncio, parecia que nunca chegaríamos, até que o sono veio e eu apaguei, depois escutei um murmuro no fundo, e logo em seguida senti um cutucão.

— Maya, chegamos. — O Lobo negro sussurrou.

Abri os meus olhos, e sonolenta desci do carro, a mansão parecia um forte, com seguranças por todos os lados. Um dos seguranças me acompanhou até um dos quarto e o Lobo disse:

— Esse é o seu quarto. — Ele abriu a porta, e eu fiquei vislumbrada com o tamanho, e a sua beleza.

— Eu adorei. — Corri e pulei na cama animada.

Por mais que aquilo tudo fosse divertido, eu estava com uma pulguinha atrás da orelha, algo dentro de mim, sentia um incômodo muito grande, não gostava da sensação de prisão, mesmo que a prisão fosse deslumbrante.

Ignorei meus pensamentos, me levantei da cama, abri o closet animada, mas ele estava vazio, tinha apenas um conjunto de pijama de seda, a calça era comprida e a parte de cima uma camiseta com botões pretos.

Fui até o banheiro, e para a minha alegria estava completo, havia muitos cosméticos, e sais de banho de diferentes fragrâncias. Animada liguei a água da banheira e deixei o banho bem quente, coloquei uma cápsula de sais de banho de rosas, e relaxei no banho, não demorou muito para que o sono viesse novamente, acabei apagando na banheira.

Senti duas mãos sob meus ombros, e assustada abri os olhos, mas era tarde de mais, alguém estava tentando me afogar, comecei a sufocar, até que abri meus olhos novamente e levantei da banheira assustada.

— Que sonho horrível. — Eu disse tremula recuperando o fôlego.

Me enrolei na toalha e esvaziei a água da banheira, coloquei o pijama, e sequei o meu cabelo com o secador que estava no banheiro, meu coração ainda se mantinha acelerado pelo susto, respirei fundo e terminei de arrumar para dormir.

Me deitei na cama, e abracei os travesseiros, não demorou muito para que eu pegasse no sono profundamente.

Acordei com a luz da janela batendo em meu rosto, me levantei e fui olhar na janela, haviam segurança por todos os lados, o Lobo tomava sol na piscina com seu corpo esculpido, e óculos escuros, ele acenou para mim e deu um sorriso, e envergonhada eu fechei as cortinas.

— Que idiota! — Eu disse nervosa.

Escovei os dentes, e depois abri a porta de leve e sussurrei para o segurança que estava no corredor: — Você poderia pegar as minhas roupas?

O segurança concordou com a cabeça, e disse algo no rádio, eu então voltei para dentro do quarto e fiquei esperando pelas roupas, não demorou muito para que alguém batesse na porta, eu abri a porta e o Mike me entregou algumas sacolas com roupas dentro.

— Onde estão as minhas roupas? — Eu disse vasculhando a sacola.

— Estão no lixo. — O Mike disse com desprezo.

— Eu quero as minhas roupas de volta. — Eu disse em desespero.

— Acha vão acreditar que você é a prima do Lobo usando aquele lixo místico? — Ele disse nervoso.

— Não vou ser prima dele para sempre. — Eu disse nervosa pegando as roupas. — Nunca mais pegue as minhas coisas sem avisar. — Eu disse seca, e depois olhei para a mão do Mike que estava machucada pelos pássaros, dei um sorriso maléfico, bati a porta do quarto, escutei ele reclamar dando socos na porta, mas o ignorei.

Olhei as roupas, e não me identifiquei com nada daquilo, eu tinha um estilo próprio, mas de qualquer forma eu precisava interpretar o meu papel. Nervosa peguei o que estava na primeira sacola, um vestido azul-marinho e uma sandália, desanimada eu me vesti e fiz um coque no cabelo.

— Você consegue Maya! — Eu disse para mim mesma me olhando no espelho.

Saí do quarto e desci até a piscina, o Lobo estava tomando sol do outro lado da piscina, ele estava todo confiante. Ele acenou para mim, mas eu o ignorei me sentando de costas para ele, os empregados vieram e montaram uma mesa com o café da manhã, animada fui pegar uma fruta até que a empregada disse: — Por favor, espere o senhor. — Ela sorriu e se afastou.

Eu desanimada olhei para trás, e ele sorriu novamente, e então eu me levantei e fui até a sua direção, respirei fundo e disse: — O café da manhã está pronto. — Dei um sorriso forçado.

— Ainda não estou com fome. — Ele sorriu ironicamente.

— Mas eu estou com fome. — Eu insisti docemente.

— Se eu não comer, você não come. — Ele disse calmamente mexendo no seu celular.

— Vai me deixar morrer de fome? — Eu gritei nervosa.

— Você não vai morrer de fome. — Ele se levantou e se aproximou. — Seja paciente. — Ele deu um sorriso maléfico.

— Eu vou comer agora. — Eu disse nervosa.

Fui em direção a mesa, e os seguranças em volta apontaram as armas para mim, e então o Lobo começou a gargalhar, nervosa eu continuei andando, peguei uma uva e quando eu ia colocar na boca escutei um tiro, olhei para o meu corpo assustada e por sorte o tiro foi para cima.

— Você não ia me matar. — Eu disse friamente.

— Você é bem petulante. — Ele se aproximou e se sentou à mesa. — Venha vamos comer. — Ele sorriu, e colocou o guardanapo sob seu colo.

Me sentei irritada, mas logo me acalmei apreciando o café da manhã comendo tudo o que eu tinha direito, o Lobo começou a sorrir enquanto eu devorava a torrada e disse: — Mora um mendigo no seu estômago?

— Muito engraçado, eu não comi nada além de doces ontem. — Eu disse limpando os meus lábios com o guardanapo.

— Estou tentando descobrir o que Bruce viu em você. — Ele deu um gole no café com muita elegância.

— Eu não sou bonita para você? — Eu perguntei com desprezo.

— Eu já terminei o meu café, com licença. — Ele se levantou educadamente com a sua expressão fria.

Quando ele se levantou eu notei uma tatuagem em suas costas, era um lobo negro, ela começava no ombro e terminava em sua cintura, era uma novidade para mim vê-lo assim, já que o seu jeito parecia ser antiquado.

— Sou tão bonita, que ficou até sem jeito. — Eu o provoquei dizendo alto enquanto ele me ignorava entrando na casa.

Meu rosto ficou corado ao lembrar que o Bruce estava atraído por mim, lembrei do seu beijo no meu ombro e meu corpo sentiu um arrepio, ignorei os meus pensamentos impuros e continuei o meu café. Poderia uma nômade ficar presa a alguém? Fiquei me perguntando a manhã toda, se aquilo era possível, mas no final eu sabia que não era, a minha vida era um grande problema, eu não conseguia levar ninguém a sério, logo o Bruce descobrirá toda essa farsa, e só o que vai restar vai ser ódio.

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