CAPÍTULO QUATRO

Bento explicou aos pais que iria visitar Roger, pegou o carro do pai, depois de a mãe recomendar dezenas de vezes que fosse devagar e com cuidado, visto que sua habilitação era nova e sua mãe estava extremamente preocupada de o filho sofrer um acidente, e pegou estrada.

Chegou lá e viu o carro de Hanna estacionado de frente ao bar do Gordo.

- Não me diga que também recebeu uma carta! - Ele perguntou, após cumprimentar a tão amada amiga com um forte abraço e um beijo no rosto.

- Cansei de te ligar, Bento. Te liguei até no Mercado. Estava planejando ir com Roger à sua casa, quando ele me disse que você estava à caminho. O que acham que significa? E Roger, essa é a última cerveja, ok?

Hanna se preocupava com o amigo, que já havia entrado em brigas e problemas por conta do álcool, mais vezes do que eles gostariam de lembrar.

- Foi um custo minha mãe deixar eu pegar estrada sozinho, mesmo sendo menos de uma hora de estrada. Eu ia te ligar também, Han, foi uma loucura hoje.

- Meus pais não ligam de eu dirigir, ficam meio receosos também, mas não ficam tão preocupados.

- Claro, seu carro é só acelerar e frear, parece carro de bate bate do parquinho. - Disse Roger, sarcástico enquanto virava a garrafa na boca.

- Cale a boca, Roge, dirijo qualquer carro. Mas vamos ao que interessa, o que acham que são essas cartas?

Estavam sentados em frente ao bar; Hanna com uma mochila nas costas, puxou-a e retirou do bolso dela a carta. Roger retirou a sua do bolso e Bento foi até o carro buscar a sua que estava no porta-luvas.

- Vamos analisar as três? - Bento pôs a sua na mesa e os amigos fizeram o mesmo.

- É a mesma gramatura de papel as três. - Hanna passava as mãos sobre as cartas. - Vocês perceberam que as letras com a qual foi escrito é dourada?

- Achei isso estranho também. Por fora é cursiva, a letra com nosso endereço, mas por dentro, é mais caprichada, eu diria. - Comentou Roger.

- Pois então, Miriam me disse que foi escrito com ouro! O marido dela é ourives e analisou. Pois foi escrito com ouro!

- Por quê? - Bento estava chocado.

- E por que não tem endereço de remetente e nem nome? - Indagou Roger, pegando as três cartas para analisá-las melhor. - Posso ficar com a de vocês? Juntando as três, deve dar uma graninha, esse ouro. - Hanna o fuzilou com o olhar e ele depositou as cartas novamente na mesa.

- Sabe o que me deixou ainda mais encucado? - Questionou Bento. - Eu não liguei muito, cheguei a jogar a carta no lixo e misteriosamente, ela estava intacta à minha espera.

- O quê?! - Hanna estava cada vez mais assustada.

- Eu rasguei a minha. Pois ela estava também intacta, como se insistindo, entendem? - Falou Roger.

- Vocês rasgaram ou jogaram fora e…

Hanna não conseguia concluir o raciocínio, falava para si mesma.

Roger puxou a cadeira mais para perto da amiga e passou os braços por seu ombro, sentado colado à ela. Não era hora de pensar nisso, se fosse em outro momento, Bento ia dissecar isso na mente. Roger não se socializava nem se importava com pessoas ao ponto de querer confortá-la. Com Hanna ele se importava, a barreira era rompida, ela era como uma irmã para eles, e não só com Hanna, ele fingia bem, mas se preocupava com Bento também. Talvez nem percebesse como se importava com eles.

- Foi bom termos nos encontrado, viu. Precisamos entender juntos o que isso significa. - Disse Bento. - Vou buscar uma água, querem alguma coisa… que não seja cerveja?

- Cigarros? Os meus estão acabando. - Pediu Roger, mas fez uma expressão de que estava brincando ao ver o olhar da amiga que chegava a queimar os seus.

Sentando-se novamente, passando a garrafa de água para a amiga, ele recomeçou:

- Creio que concordam comigo que o endereço do remetente, seja lá quem nos enviou, é da Casa Abrigo?

Todos concordavam.

- Vendo a carta do Roger, e não sei se perceberam, no pé de cada uma, tem um desenho diferente, na do Roger tem o desenho do livro.

- Eu só tinha percebido a minha, deixe-me ver. - Pediu Hanna.

- Também só percebi a minha. A sua tem o desenho de um ser estranho. - Exclamou Roger, vendo a cara que ela viu a tantos anos e que lhe deixara a carta.

- Me parece um homem estranho, um que eu via quando criança, lembram que eu dizia á vocês que via às vezes um ogro? Não era bem um ogro, era um homem estranho, ou sei lá o que era, quando estava sozinha, algumas vezes cheguei a sonhar com ele. O vi na fazenda quando brincávamos de esconde-esconde, ou quando ia ajudar os cuidadores, o via passando. Foi estranho, e percebi que ninguém mais o via.

- Mas o que ele queria?

- Não sei, só o via. Nem sempre ele estava me olhando também. Mas foi ele quem deixou a carta em minha casa, eu o vi.

- Por que não falou com ele, perguntou o que queria? - Indagou Bento.

- Ele fugiu.

- Fugiu? - Perguntou Roger. - Como assim fugiu?

- Eu estava abrindo a porta quando a carta foi enfiada por debaixo, o vi saindo e gritei, chamei-o, mas ele ignorou e continuou andando. Insisti, mas ele correu e não consegui alcançá-lo. Em segundos ele estava longe, virando a esquina.

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