6 - Ajuda

~Pov. Eris ~

Depois que saimos da enfermaria Tavarres me levou para sua casa onde eu passei a noite, era estranho ser ajudada por alguém que eu provavelmente estaria ajudando a matar se o resultado do meu tedte tivesse sido diferente.

A noite demorou a passar, boa parte dela eu fiquei acordada apenas olhando para a janela do quarto. A noite aqui era diferente de Oncep, eles economizavam energia e assim as estrelas se destacavam no céu azul. Comecei a conta-las e acabei dormindo.

A manhã seguinte foi assustadora para mim, senti o fogo em meu corpo novamente e acordei após bater a testa fortemente no chão. Levantei devagar e encarei roupas ao lado da porta, peguei e entrei no banheiro tomando um banho rápido já que a água aqui é escaça. As roupas eram masculinas, além disso os Elementares tinham um corpo muito maior do que um pobre Telecto.

As calças tinham um ajuste em elástico, o moletom batia quase em meu joelho e não preciso dizer que cabia três de mim ali dentro. Sai do quarto observando a casa por completo, era pequena e bem mobiliada mesmo que diferente de Oncep. As paredes eram pintadas de amarelo apagado, os moveis eram todos na cor preta. A sala tinha um sofá grande e duas poltronas, a cozinha só tinha um balcão e prateleiras, o corredor para a porta da frente tinha duas portas que imaginei serem dois quartos. Tavarres saiu de uma das portas e sorriu para mim, estava com um uniforme preto e cinza com o número um gravado de forma bem chamativa em seu peito.

- Bom amanhecer. - me cumprimentou sorrindo e se dirigiu a cozinha, assenti em uma resposta muda e o acompanhei sentando em um dos bancos do balcão. - Como passou a noite?

- Melhor que os últimos meses, obrigada. - sorri castamente observando ele pegar algumas latas das prateleiras bagunçadas. As panelas que esquentavam sobre o fogão começaram a soltar um cheiro delicioso.

- Vamos lá, fique a vontade. - ele colocou vários pratos sobre o balcão, ovos, queijo e torradas. - Precisa comer.

- Obrigada. - me limitei a dizer, coloquei um pouco de tudo em meu prato e comecei a comer, ele me serviu de leite sintético e sentou ao meu lado para comer também.

- Erisabella, eu queria conversar com você sobre algo importante. - ele começou, continuei a comer deixando que falasse livremente sem interrupções da minha parte. - Eu quero treinar você... quero te ajudar a controlar seus dons antes que eles saiam do controle...

- E como sabe tanto? - perguntei desconfiada, nesses dois meses eu aprendi a não confiar em ninguém,

- Minha esposa... era uma zero. Ela... faleceu há alguns anos. - eu queria dizer a ele que não existia nada que ele pudesse fazer para impedir a minha morte, os zeros são marcados por ela.

- Como aconteceu? - a curiosidade bateu a porta mostrando estar no domínio do meu corpo.

- Depois do teste de aptidão ela foi declarada uma sem número. Nos conhecemos na regência onde ela trabalhava de faxineira, eu me apaixonei e nos casamos um tempo depois. - não foi bem isso que eu tinha perguntado, mas deixei que ele continuasse provavelmente não tinha muitos amigos para expressar sua dor. - Dois anos após o nosso casamento ela começou a ouvir vozes estranhas, ver coisas estranhas e mudar de humor rapidamente. Eu tentei ajuda-la a superar e passar por isso mas ela não conseguiu... a loucura levou Elionor de mim... Despois disso eu comecei a estudar sobre os Zeros.

- Não foi só isso... termine. - eu sabia, sentinha no final da língua um gosto amargo como se ele estivesse sufocando alguma informação.

- Ela me fez prometer que eu ajudaria um Zero se o encontrasse. - respirei fundo para não chorar, ele estava quase aos prantos e eu mordendo meus lábios para continuar firme em uma pose de durona. - Mas não posso fazer isso aqui em casa.., é por esse motivo que preciso conversar com você. As aulas terão que ser na academia.

- Eu quero manter distância das pessoas... Já disse isso... - comecei a argumentar embora de nada adiantasse, era inútil achar que conseguiria me controlar sozinha e por esse motivo desisti de tentar. Eu queria viver mais um pouco, nem que fosse apenas mais dois anos como Elionor. - Está bem, eu aceito.

- Ótimo, então vamos. - ele sorriu levantando e colocando os pratos na pia. Me levantei bagunçando meus cabelos.

Nos dirigimos a porta da frente, eu sai primeiro observando o corredor estranho do aparente prédio. Olhei pela janela e notei algo que eu tinha deixado de reparar, Rebelion foi edificada dentro das ruínas de uma cidade antiga.

Enquanto andavamos pelas ruas em direção a academia notei alguns poucos prédios antigos em ruínas, a maior parte foi substituída por construções próprias e as ruas foram reutilizadas mesmo com as enormes rachaduras e buracos. A academia era como a escola de Oncep, mas os alunos eram bem mais liberais do que eu estava acostumada.

A construção não era muito nova parecia ter sido reformada a muito tempo sobre algo realmente antigo, os corredores eram bem iluminados por janelas para poupar energia. Cobri o rosto com o capus e me pus a andar lado a lado com o gigante Tavarres, observo as pessoas aqui e seus tamanhos me deixam levemente temerosa, todos eram altos e fortes o suficiente para me quebrar ao meio em um segundo.

- Quero que entre nessa sala e espere por mim. Esta bem? Não demoro. - antes que eu pudesse responder ele sai me deixando sozinha de frente aquela porta. Bufei me virando para abri-la quando algo se choca comigo.

O chão me parecia basta confortável mesmo com a bunda dolorida pela queda e a testa pelo impacto, recuso a acreditar que bati em uma parede e levanto meu olhar para o garoto a minha frente. Cabelos castanhos e olhos azuis, uma verdadeira parede, seguro sua mão para me levantar e ignoro os pensamentos que rebatem em minha cabeça. Entro na sala contra a minha vontade observando o rapaz que se chocou contra mim e seus amigos tomarem posições estranhas, o ser de bigode que aparentemente é o professor tinha um sorriso sádico, soprou o apito e logo todos estavam controlando seus elementos ao redor do corpo.

Eles brilhavam. A medida que dominavam o elemento em torno de si suas veias brilhavam em cores específicas. Números Cinco, os dominadores do fogo brilhavam em tons de laranja; números Quatro, dominadores do ar brilhavam em um leve verde; números Três, dominadores da terra brilhavam em amarelo; números Dois, dominadores da água brilhavam em um branco puro; números Um, dominadores da eletricidade brilhavam em tons de roxo.

Eu sabia dessa anomalia em seus corpos mas nunca imaginei que seria tão lindo ver, um espetáculo de luzes e elementos como aqueles não era algo que eu estava acostumada. Como podem ser monstros? Isso é... lindo. Eu realmente estava adimirando aquilo como uma idiota.


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