5 - Resistência

O suor escorria pela minha testa enquanto comandava o máximo do meu elemento em volta do meu corpo, metade da turma tinha desistido ou desmaiado. Isso era tremendamente cansativo e fazia todos os músculos do corpo doerem de forma intensa. Eu era o único eletron que ainda permanecia aqui suportando junto de Ruan e Luiz, mais uns oito garotos ainda permaneciam na mesma posição dando tudo de si para controlar seu elemento.

Ao olhar para a frente ela estava la da mesma forma, encostada perto da porta como se fosse correr a qualquer momento. O professor não fazia caso da sua presença ali mesmo que as colegas de Lorena estejam a todo custo tentando chamar a atenção da pequena garota. Mais dois caíram no chão exaustos, os joelhos de Luiz fraquejavam, lhe lancei um sorriso de "aguente mais um pouco" só faltava mais dez minutos.

Os músculos da minha coxa tremiam com o esforço e tive que fincar o pé no chão e morder os lábios para não cair, eu tinha que bater meu recorde pessoal. Antony tinha desmaiado e Leticia desistiu para ajuda-lo, nosso grupo estava diminuindo consideravelmente. Ruan era o grande campeão, embora se esforçasse a ponto de quase ficar sem andar ele resistia até terminar a aula. Apenas mais quatro minutos, eu repetia em mina cabeça diversas vezes, a eletricidade brilhava em tons de roxo fortes em minhas veias. Só mais um pouco, apenas mais um pouco.

O sinal toca, todos desabam no chão sem conseguir se levantar, o professor gargalha sem parar da cara de todos nós. Ele tinha orgulho de manter a enfermaria lotada em suas aulas, alguns saiam se arrastando, outros sendo carregados pelos colegas. Me deitei no chão encarando o teto e esticando minhas pernas para que parassem de doer, Luiz gargalhava dando tapas em seus joelhos e pulos para a dormência.

- Hoje foi puxado. - Ruan estendeu a mão para mim, segurei ficando de pé. Olhei em direção a porta e ela não estava mais lá, poucas pessoas ainda se arrastavam para fora da sala. - Esta procurando a garota?

- Hm? Não, porque estaria? - dei de ombros andando com eles para fora da sala, o corredor estava movimentado em direção ao refeitório.

- O que uma sem número estava fazendo na academia? - Luiz perguntou enquanto andávamos.

- Eu já tinha visto ela, ontem na enfermaria. Estava conversando com o diretor. - respondeu Ruan abrindo a porta do refeitório.

Fomos até a fila que andava rápido por causa das aulas seguintes, coloquei arroz e lentilhas, batatas fritas e peguei suco de néctar de laranja. Coisas artificiais eram comuns, não tínhamos sempre a sorte de coletar as melhores frutas ou hortaliças. Joguei a bandeija sobre a mesa e meu corpo sobre o banco, estava muito cansado e precisava urgentemente de um banho. A mesa estava cheia, nosso grupo de sempre menos o Tony e a Le, algumas amigas chatas da Lorena.

- Odeio essa gente... eca... - fez cara de nojo, eu odiava quando falavam dos sem números principalmente da forma como ela fazia, encarei a loira com os olhos semicerrados e ela fez cara de ofendida. - O que foi, Biel? Não vai me dizer que gosta daquela gentinha? Não já basta termos que dividir a cidade com eles e agora invadem a academia também? O que será depois, a regência?

- Menos drama Lorena. - repreendeu seu namorado, Ruan também odiava a forma que ela falava por que sua mãe era uma sem número.

- Deixem a garota em paz, o que tem? Ela não fez mal a ninguém aqui. - Luiz tentou apaziguar, Lorena deu de ombros jogando os cabelos e voltando a sua conversa.

- Quando vocês vão para a ronda novamente? - Ruan perguntou desfocando do assunto anterior. Eu até reaponderia mas as batatas estavam muito gostosas e eu tinha que saborea-las.

- Provavelmente no final de semana, porque? - respondeu Luiz terminando rapidamente o seu almoço. Eu bebericava aquele suco horrível.

- Queria ir com vocês. - infelizmente ele tinha pontis negativos muito fortes em seu currículo, notas baixas e reclamações de atrasos frequentes na materia sobre os muros. Isso impedia que ele pudesse participar das rondas.

- Tente aumentar as notas e chegar mais cedo. - dei de ombros falando de boca cheia, o suco de néctar era horrível mas eu tinha que molhar a garganta com alguma coisa.

- É mais fácil pedir para ele andar pelado. - começamos a rir e recebemos um olhar intimidador do dominador do fogo, engasguei e voltei a comer em silêncio.

A passos largos voltei para o dormitórios bagunçado, eu e o Luiz viviamos dizendo que não tinhamos tempo oara arrumar o que obviamente era uma grande mentira. Chutei algumas roupas espalhadas pelo chão e entrei no banheiro, o banho frio me despertou e os músculos reclamaram tremendo. Terminei e vesti um uniforme limpo, passei um tempo olhando o número um estampado em meu peito esquerdo. Ao sair do dormitório dei de cara com a janela que dava uma vista perfeita aos portões da cidade, respirei fundo. Se eu quiser chegar lá tenho que ser forte.

Você é forte.

Uma voz feminina invadiu minha cabeça deixando minha visão levemente tonta, meus olhos buscaram algo no corredor masculino mas tudo estava vazio, ninguém estava aqui. Estou ficando louco. Baguncei os cabelos de um jeito desengonçado e andei lentamente até a próxima aula, estrutura dos elementares.

Entrei na sala e corri para o fundo me sentando em seguida. Elena era quatro anos mais velha que a maioria aqui e mesmo assim era a mais nova dos professores. A elementar da terra que tinha o enorme número três estampado na farda preta andava de um lado para o outro na sala esplicando a importância de um bom condicionamento físico para um bom desempenho. Em meio a aula ela tinha que ouvir murmurios e piadas sobre as loucuras do bigodudo que por ironia era o seu pai.


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