Como coisas que acontecem
Como coisas que acontecem
Por: Danih Machado
Capítulo 1

Madrugada, temperatura amena! E eu me propus a continuar. Viver a vida e lutar por um espaço no universo que de fato me pertencia. Mas cadê este espaço? Porque estava demorando tanto para chegar até mim? É o que eu vou tentar descobrir e encaixar aos poucos nesse livro.

Logo cedo, eu já levanto pra trabalhar. Me arrumo com um pouco de desdém mas com a ideia e convicção de que hoje precisa ser melhor que ontem.

Pego uma roupa qualquer, logo penso que não vou ir para um trabalho formal, talvez isso não exija tanto quanto para um formal, mas eu preciso estar adequada, caso entre em contato com algum cliente.

Eu faço meu horário, para entregar os portfólios na hora exata. Então as vezes eu estou bem criativa pelas altas horas.

O barulho das sirenes pela madrugada contestam a emergência da cidade. De fundo o contraste vazio e a luz dos postes. O enigmático sombrio rosto de quem desafia logo cedo, a vida. Assim é para os enfermeiros e técnicos na maioria das cidades! Eu fiz um curso que durou cinco meses, não consegui concluir. Talvez em resposta do universo, não fosse para mim, eu não caberia em um hospital, transportando sondas, ou curando cicatrizes! Mas eu bem que acho bonito salvar vidas.

A vida é feita um pouco assim, eu já faço um pouco de tudo, sei um pouco de cada coisa, porém com o mais importante, eu estou em evolução.

Acho importante aprender um pouco de cada coisa, desde passar um café a passar uma sonda, nunca sabemos quando vamos precisar.

Estou aprendendo a lidar com a atenção de uns e a indiferença de outros. Não que isso me incomode, na verdade eu não ligo, mas fico a pensar no que essas pessoas vão dizer em seus momentos finais! Será que elas gaguejarão ou serão tão bons atores ou caras de pau o quanto são agora. Eu fico imaginando o que as leva pedir uma chance no último dia, como se não tivessem feito nada a vida inteira. Eu disse que estava em evolução e para isso eu penso em tudo.

Bem, como coisas que aconteceram e acontecem creio que com quase todo mundo, eu estou aqui para falar um pouco dessas circunstâncias. Eu, uma vida decente, mas desafiadora a cada dia que passa!

- Vamos lá? Perguntou a Flávia logo cedo para o passeio que dariam em Itapuã.

Confesso que eu não estava com a mínima vontade.

- Mas é bom você sair um pouco. Disse minha mãe no telefone enquanto falavamos. Eu gosto de ficar um pouco mais sozinha, reservada, dessas que absorve só o que acha que precisa, ou seja, o necessário.

- Vamos lá, vai ser legal. O quê você vai fazer em casa sozinha?

Trabalhar! Pensei.

O dia amanheceu tranquilo, desses calmo, bom para um passeio, mas não entre amigos. E eu já estava fazendo bastante amizades. Talvez eu precisasse mais dessa união, desse afeto, ou talvez não! Como eu posso aprender se não convivo com as pessoas? Porque eu já convivi demais? E aprendi que no fundo certas distâncias valem mais que muitas presenças?

O passeio que eu queria, era a cafeteria, sentar no bar e tomar um caffè lendo um texto em italiano. Quem sabe até corrigindo ou revisando um livro de minha autoria.

Você deve estar pensando, que coisa mais chata! Não eu diria! Um pouco! Na verdade depois de passar maus bocados eu aprendi muito com quem quero estar e com quem devo estar. Tenho medo de gastar minha energia, com pessoas que tanto faz a minha presença ou que eu sei que será indiferente eu estar ali. Eu detesto ser reparada, mas adoro comunicação. Trabalho com comunicação na verdade.

Sabe aquelas pessoas que o assunto bate a conversa flui? O assunto vai ficando bom e vocês só tiram lição? - Me amarro!

A minha sorte que os lugares que tenho frequentado só tem gente que eu goste! Pelo menos eu busco ir em lugares assim, e adoro chegar naqueles lugares que eu sei que ao chegar vão estar fazendo de tudo para conversar comigo ou manter a conversa interessante. Talvez porque gostam de falar comigo. Nós começamos como quem não quer nada, quando vê estamos concordando praticamente em tudo.

Descobri que dá para falar de muita coisa bacana, muita coisa interessante, sem falar da vida alheia ou assuntos que não convém.

Mas o que eu idealizo nesses passeios, são as conversas, não pessoas.

Era um dia que parecia mais um de final de semana, eu poderia estar fazendo maquiagem, unhas ou qualquer outra coisa que as mulheres da minha meia idade fazem, mas não, eu estava digitando. E a cada novo dia e a nova manhã, mais eu alicerçava a paixão sobre aquele costume.

Dia comum de quinta-feira, daqueles que pareciam um exato domingo.

Seria só um passeio curto, para disfarçar a vida cansada que a gente leva. Uma volta ali, do outro lado da cidade.

- Que tal? Vamos?

- Vai ser bom!

Escrever sobre um dia qualquer é fácil, difícil é falar de um dia desses que a gente tem um monte de coisa bonita para dizer e não consegue porque as palavras certas não saem para descrever. Visitar um lugar qualquer, desses que você encontra logo ali no mapa, frequentar um bar, desses recomendados, faz bem. Farol de Itapuã terá a melhor lembrança no meu coração, sobre uma quinta-feira, um dia desses comuns que parecem mais um domingo! A sutileza do lugar e a generosidade do comerciante é sem dúvida de total diferença que marca o local.

- Uma coca com limão por favor.

A refeição foi no capricho. Farol como é chamado, agora está no coração, ah Daniela, é só um bar! Mas o melhor bar. Tudo que é sútil se torna especial.

Na pousada um ambiente rústico que traz para o coração um aconchego e sossego. Te faz marcar na agenda a data para a próxima volta ou mais vezes, lugares que te confortam, dos quais te trazem os melhores sentimentos. Desses que te fazem sentir em casa e te deixam livre e a vontade. O sol quente do meio dia vem trazendo a saudação especial ao som de quero-quero cantarolando, embelezando a tarde. Vem de retaguarda, ludibriando aos nossos passos invasores no seu território. Calma! Só queremos passar.

Na beira do rio, os pequenos barcos enfeitam o parque, dando o contraste de um marítimo admirador.

A volta para a pousada é de longa e duradoura notada paisagem.

Em cada passo escondido, a vontade de pisar no novo, de dar a nova caminhada, o anseio por caminhos diferentes, a poeira em nossos sapatos só vem confirmar o que queríamos a muito tempo, pisar em solo fértil e renascer de planos!

No centro a igreja simples cheia de histórias. Quisera eu poder voltar no tempo e saudar as mãos de quem a construíram-na. Caminhar por entre a cidade que leva a história de anos, e cada um tem a sua para contar, é sem dúvida interessante.

A tarde, o café coado, o cheiro vem da cozinha, tomando conta por toda casa, o aroma agradável ganhando mérito sobre qualquer perfume.

Me amarrei em um pé de caqui...

- Leva pra casa, enrola em jornal que amadurece rapidinho! Disse a dona Neire.

Tudo bem, concordei. Aquelas delícias precisavam vir junto.

As horas foram passando, mas a vontade de querer ficar tomavam conta a cada minuto.

Vejam já é noite, a cidade é calma, todos se recolheram, eu olho da janela, vagalumes. Ao som de grilos manifestando-se em um só eco rompante, dando vida aos ouvidos, quebrando o silêncio do pequeno interior.

Me sinto livre. Me sinto feliz como se algo estivesse acontecendo dentro de mim e causasse uma euforia. Descascar cebolas parece uma tarefa chata, mas não quando se está em uma cozinha campeira, com fogão de lenha por perto. A cozinha, dessas que te dá orgulho, as tuas mãos sem querer ficam encarvoadas, te fazem ficar a vontade, sobre o teto um lampião, na parede objetos de galpão! A lenha já está queimando.

Chama o pessuar pra genti conversá, disse o sr. Rômulo ouvindo a lenha queimar ao som do gole roncar do final de mate na cuia, assim que a prosa ia começar

Um conta algo, o outro começa a rir. Conversa á toa, dessas que te tiram os sorrisos mais largos da vida, seguido com a mão no rosto, porque sentiu vergonha de ouvir algo que te deixou sem jeito, todos estão em roda, vendo a moça cantar, o tio vai falar uma piada, todos olham ansiosos, esperando o que virá. Já é tarde vamos dormir, amanhã é outro dia, mais um dia de campanha, outro movimento, quem sabe fique só a lembrança do que é bonito, mas o que é bonito tem que falar. O passeio termina como tudo que é bom, dura pouco. Aos poucos o caminho de volta pra casa já retorna ao ponto de vista, dando direção ao caminho duro e longo da vida, que te traz a realidade. Só a esperança de querer ficar, ali, parada onde esteve suas últimas vinte e quatro horas, seus últimos bons momentos.

Tem lugares que te fazem querer voltar, como tem pessoas que te fazem querer ficar. Assim, como coisas que acontecem na vida da gente, há passados que queríamos que fossem para sempre, presentes.

- Voltem sempre. Disse o dono da pousada.

Sabe aquele capítulo bonito na vida da gente e o coautor vem para embelezar a nossa página? Dar um sentido, uma transfigurada em cada palavra, nessa vida coadjuvante? Ele tenta dar sentido. Sim, sempre temos algo ou alguém para inspirar. Aquela causa dos nossos isolamentos pessoais, a busca necessária e sincera de algo mais bonito e melhor, o algo a sério que a gente leva na vida, o motivo daquele sorriso que antecede qualquer palavra? O diferente onde todos já perderam a graça. Aquela voz que te causa arrepio só de lembrar, cada traço forte que você nunca quer esquecer e que te prende a cada segundo. A expectativa de todas as manhãs, a esperança de todo dia. Sempre vai ter aquele bom dia preferido, que muda todo teu dia por completo.

Talvez você encontre inspiração até em um passarinho cantarolando, ou na beira do mar. Mas poderá ter, a razão maior que trará a cor para cada espaço na tua vida preta e branca, fazendo assim aquela nuance delicada que colore qualquer parte da tua vida. Quero algo assim! Talvez eu tenha, só preciso de um jeito para saber o que é especificamente, que não necessariamente eu encontre isso só no sexo oposto, posso encontrar na vida que eu levo, na maneira de eu me expressar. Gesto ou palavra! Eu encaro assim!

Talvez eu seja delicada demais comigo, ou tenha carinho de sobra para comigo mesma. Quero expressar esse carinho, e agradecer por cada detalhe que faz de mim um ser único. Razões eu tenha para expressar, pode ser em um verso, ou no som do violão. A corda afinada trazendo o som me lembra o timbre da voz, a lenha queimando talvez o coração aquecido dentre cada palavra entoada. Assim, desse jeito bonito eu vejo a vida, como que singela e especial e me encanta ser rodeada de pessoas humildes, caridosas que transformam um momento qualquer, em algo único.

Estou de bem com a vida é tenho tido dias bonitos, desses que te fazem sorrir aos quatro cantos. Talvez eu não tenha nada de interessante para contar, mas as coisas que eu conto são bonitas e trazem de alguma forma sentido. Então, eu vou me expressar da maneira mais simples possível, porque é nessa simplicidade que eu me encontro.

A minha vida não é muito interessante, dessas que se tem muito para admirar, mas eu tento fazer a mais legal possível, até porque eu quero ter algo diferente para contar. Então, o que foi mais diferente das outras pessoas que você já fez? Ah, nada! Terminei a faculdade e estou começando uma vida nova em.outra cidade. Ter uma vida igual as outras pessoas? Todas fazem basicamente as mesmas coisas, viajam, comem as mesmas coisas, vestem quase as mesmas marcas de roupas da moda, vivem uma vida parecida, e eu, não acho nada de legal nisso. Talvez eu seja aquela confusa que pira de vez enquando com a monotonia, e tem que saltar para algum lugar diferente, acompanhada do rivotril. Brincadeira , eu não tomo rivotril, mas tomo antidepressivo. O que me torna as vezes um pouco melancólica e deprimida, com uma grande porcentagem em dramática.

Tenho uma família comprida, dessas igual laço e corda, que se estende até três gerações. Tinha um avô "matreiro", como falam no sul.

Desses que adora um mate, que enfeita a prosa, com versos bonitos e uma boa cantada. Se vestia de gaúcho, usa bota, chapéu e barba. A faca na cintura era de enfeite, não deixou nunca de usá-la. A relação com minha avó foi estável, a vó era daquelas mulheres trabalhadeiras que era de pia, fogão e tanque, não teve tempo para os estudos, na época ninguém era obrigado a estudar. Mas sabia contar dinheiro, e ia a muitos lugares sozinha. Meus decendentes eram do sul.

Ondina o seu nome. Simpática senhora que sempre tinha um doce pra nos oferecer.

Retornar a um breve passado me faz, rever o presente. O presente que eu tento acalmar, sem pessoas que eu amava de verdade, que faziam a diferença e eu queria que estivessem aqui. Mas quanta coisa já mudou, que talvez não poderiam estar melhores. Eu e a minha mania de procurar algo bom e bonito em tudo.

E não é que eu levava jeito.

Bem, as vezes eu vou falar com dialeto local, algumas palavras de como as pessoas costumam falar comigo, talvez você precise de um dicionário guapo para interpretá-las, mas é assim mesmo, como coisas que acontecem, então senta aí, leia e fique a vontade e não repara o sotaque, por favor!

- Dani, que horas tú vai arrumar essa tua "tarimba"?

Dizia minha mãe referindo-se a minha cama.

Calma! Eu mal consigo arrumar a minha vida! E olha que eu sou muito organizada. Meu tio usava muito essa expressão, quando era do quartel?

Eu cresci ouvindo isso "tarimba". E as vezes eu me refiro assim também! Que estranho não é? O jeito de se falar de uma cama. Mas tudo bem!

Jogado tudo pro alto mesmo, aos pouco se dá um jeito.

Como se palavras fossem mudar alguma coisa. As vezes elas fazem um diferença mesmo em nossas vidas, o jeito que são expressas, o tom, o argumento muda tudo.

Mas tudo bem, lá estava eu tentando dar um jeito em tudo com a minha cara mais insatisfeita na face da terra. Claro Daniela, como se as coisas fossem dar um jeito nelas sozinhas! De repente eu estava ali esperando alguém ajeitar para ser sincera. Se mal acostumar na vida é ruim, e eu precisava esticar o lençol ou ele acabara bagunçando novamente. Existe um lado que você puxa e ajeita e ele não solta. Assim é a vida. Pronto! Tudo arrumado, impecável, mas basta sentar-se para dar uma descansada, lá estaria a "tarimba" toda desarrumada de novo.

As vezes minha mãe fazia falta. Certos momemtos eu lembro dela falando de um jeito alagoano. Sinto falta! A comida pronta, a casa arrumada, tudo ajeitado, era assim quando ela ia me visitar no rio. Deixava o vazio pelos cantos da casa. Aquela sensação de conforto ia embora com ela, quando nos despedíamos. Embora eu tente fazer o que ela faz, as coisas que faço nunca saem iguais as de minha mãe, o que me leva a desistência de executar muitas dessas tarefas. Será que um dia serei uma boa esposa?

Depois da "tarimba" eu fui publicar no blog um pouco. Sim, eu uso muito, porque depois da fase terapêutica, investir em cursos, eu fui fazer freelancer com redatores, estava tentanddo publicar um livro. Só um, apenas! Também dividia meu tempo com uma rádio. Eu ganhava por esses serviços. Mas ainda não o necessário. Tudo é uma questão de entrosamento.

Não sei o que daria certo, mas o blog me ajudava com meus textos.

Comecei assim, falando de um encontro pessoal.

Estar em um encontro pessoal comigo mesma, de modo é bom. Andar na rua e esquecer de tudo e todos por um momento é algo digno e maravilhoso.

Esquecer planos, projetos, emprego, parentes. Quem você é quando anda sozinho? Quem você é quando está acompanhado? O que eu gosto de fazer quando estou sozinho ou na companhia de outras pessoas? Quais os assuntos que eu gosto de falar?

Quais as conversas mais chamam a minha atenção e mais tenho interesse. Está na cara que assim fica fácil você reconhecer uma pessoa a metros de distância. Se te faz mal, fuja, corra esconda-se! Só não vale a pena você trair a sua confiança e se sujeitar ao que os outros querem que você seja. Eu sou feliz do meu jeito! Então tudo bem, que mal á nisso!

Gosto do que faz sentido, pra mim! Acabou o tempo que eu sabotava a minha mente para caber em terrenos alheios, principalmente em baldios, eu não me conformo mais. Eu quero autocura de toda relação tóxica que a vida me trouxe e trouxer.

Quem eu deixei no passado? Quem eu queria no meu presente e levar para um futuro? Eu estava sozinha e sabia bem quem eu era. E isso me deixava muito confortável.

- Poxa esta coisa de energia não funciona! Pensei ao analisar por breve momento todos a minha volta.

Quando é que eu teimosa, vou entender que ninguém é igual a ninguém, e eu estou em fase de crescimento? É bom quando você descobre que tem muito mais do que imaginava, além de uma simples conta em banco ou roupa da moda.

Descrever tuas qualidades e defeitos é muito mais interessante. Se descobrir o evento mais importante da tua vida. E eu quero viver isso a cada dia.

Ser a melhor parte de mim mesma!

Eu tenho uma vida que eu havia escolhido. E estou certa, estou amando. Eu escolhi bem.

- Não começa, vamos descansar, viemos para relaxar. Disse a tia da Flávia, Salete. Dessas que a presença é notada pela forte comunicação.

Era sexta-feira, um desses dias que você encontra-se em perfeita harmonia com a vida.

Voltamos para a pousada que tínhamos ficado a poucos dias. A pousada era confortável, de frente pro rio Itapuã.

Estávamos todos em perfeita união com o universo.

Eu poderia trabalhar onde eu quisesse e como eu pudesse, só precisava de um notebook. Ah, e claro ter inspiração. Estar em um lugar como a pousada do tio Cabelo, assim como a pousada era chamada, era fácil achar inspiração.

Eu optei por trabalhar sozinha, para mim era melhor, devido as minhas condições básicas depressivas. É muito comum ver pessoas como eu optando pelo freelancer, e eu me aventurei na vida de redatora e escritora por causa da Laura, minha redatora, que me indicou para a empresa da B, onde atuo como redatora, me sentindo totalmente em cada. As vezes é um pouco complicado devido a prazos que eles exercem, as funções de dinâmicas na empresa. Eu já deixo claro que não consigo trabalhar em equipe devido ao desgaste que isso causa. As outras pessoas dando ordem em teu trabalho sem te dar a liberdade de mostrar o que sabe fazer, e querem que você faça do jeito deles. Estou aqui para aprender, mas não do seu jeito. O seu jeito não tem dado certo, dá uma chance para o meu.

É difícil escrever um texto com 40 mil palavras, onde cada frase faça sentido e exista concordância entre escritor e leitor, não discórdia! E ter um prazo pra isso!

- "Pois bem, você é capaz!" Disse o Juca.

A realidade que muitos desconhecem. A gente sempre acha que a vida do outro é sempre mais interessante, e esquece as exigências do qual ele enfrenta e passa para estar ali.

Contratos e prazos de entregas!!! Posso me entregar pra vida e contratar a felicidade? Eu tenho na verdade dois supervisores, um editor e um coeditor, mas é muito tranquilo, me dou muito bem com eles que já demonstraram total confiança em mim e no meu trabalho.

Costumava deixar tudo de um dia para outro pronto, depois a gente só revisava e editava se fosse preciso mudar alguma coisa. Então era bem legal de trabalhar. Meu coeditor era daqueles que não aparecia nas reuniões de grupo ou participava de conversas, mas sim em assuntos importantes, porém a nossa amizade era de quase dois irmãos. Eu agradeço a ele a oportunidade que me deste.

As pessoas na edição, falavam dele, que ele era chato, sério, eu tirava o dele da reta. "Que nada", como dizem os gaúchos, "ele é tri gente fina".

Nos davamos bem, concordávamos em tudo. Sempre!

Naquela noite eu tomei um chá, estava agradável. A companhia era boa, estávamos todos sentados conversando na varanda. Falando de nossas viagens, combinando próximos encontros. Ao que tudo indicava estava bom, pois já estávamos combinando o próximo passeio.

- Bacupari! Disse a Flávia.

Eu não opinava em nada, pois eu gostava de tudo, menos dar sugestão, eu gostava de fazer o ambiente ficar legal e extenso. E para mim qualquer lugar era bom, desde que tivesse um bom assunto descontraído e estivéssemos todos na simplicidade de ser nós mesmos, estaria tudo bem.

Nós iriamos chegar em um acordo para nossos próximos encontros.

Uns tomavam vinho, eu bebia chá! Eu estava mais a vontade de tomar um bom chá quentinho. A conversa estava ficando animada, falávamos de tanta coisa bacana, fatos que tinham acontecido ultimamente em nossas vidas, mostrávamos interesses quanto as novidades uns dos outros, isso é o bom de ficar algum tempo sem ver as pessoas e depois as reuni-las.

Também falamos muito em política, o assunto que eu mais gostava; era triste de fato ver a desesperança nas pessoas quando se fala nela. Onde as pessoas não dão crédito, uns mais novos insistem em saber, os mais velhos contam o que sabem, os jovens concordam.

É costume entre elas, as mulheres gaúchas, falarem de suas vidas. Sentar em uma prosa com o chimarrão na mão, mas eu tinha que ter um chá, do qual apreciava aos poucos. Os "hombres" entre sí, bebiam "vino"!

Eu sempre fui apaixonada pelo dialeto espanhol e italiano. Aprendi algumas coisas na escola, as vezes eu me desafiava a falar assim com as "personas" que me olhavam como se parecesse "não entendi nada", mas saia sempre muito ousado. Eu gostava de fazer amigos estrangeiros, além de aperfeiçoar o idioma, eles e elas eram mais educados, o qual me chamava muita atenção, suas comunidades e culturas. E agora em particular, estava interessada no dialeto gaúcho.

Levei um livro comigo, caso eu não me interessasse pela conversa. Mas mesmo que eu me interessasse eu gostava muito de ler. Estava finalizando O Diário de Anne Frank. Sentei-me para ler, mesmo que o assunto estivera interessante.

A próxima vez que você se enfiar em um livro, pensa bem antes. Você tem prazos para criar e entregar tudo. Falou a voz da minha consciência. Mas eu amo criar, andar junto com as palavras. Elas me dão vida, onde na verdade eu devera dar vida a elas.

- Até o dia vinte você terminando seu conteúdo, você estará com ótimos ganhos.

Até o dia vinte? Perguntei surpresa. Faltavam 4 mil caracteres, para meu trabalho estar concluído.

- Isso é fácil pra você. Disse meu editor. Mas eu preciso apresentar algo bom. Porque de nada adianta eu apresentar algo e não fazer sentido. Eu precisava de algo que chamasse atenção dos meus leitores. Mas o quê? Eu não fazia ideia do quê iria escrever. Talvez falasse sobre o primeiro livro que li, o negrinho do pastoreio, alguém já ouviu falar? Lembrei de eu ter comentado com um amigo, e ele respondendo em gírias "eu tô ligado nesse livro, ele era escravo né? Né! Respondi.

Sério, escrevi "eu tô" a verificação ortográfica do word, não queria aceitar minhas palavras, falhando assim quase meu texto inteiro. Mas eu usaria palavras bem diferentes das quais estamos acostumados a falar. A minha sorte que publicam mesmo assim.

Bom, o Negrinho do pastoreio é uma história de um menino escravo, uma lenda escrava que o menino dormiu ao estar cuidando dos cavalos na baia, segundo o folclore do sul do país, ele fora castigado, sendo assim recebido chicotadas e lançado no formigueiro. O fazendeiro do qual acometera isso com ele, apavorou-se no dia seguinte ao ver o menino totalmente sem nenhum arranhão, e ainda acompanhado da imagem da Virgem Maria, em uma alucinação, para ser exata, da qual era protetora do menino. Segundo a lenda, o menino achou o cavalo e saiu a galope pelo campo, faceiro. Dizem que ele ajuda encontrar coisas perdidas. Negrinho do pastoreio me ajude achar palavras para os meus leitores e assim, os mesmos, que gostem dos meus textos. Vai saber não é?

Talvez o povo goste destas coisas, vou escrever sobre isso, pensei, e ainda trazer de volta do passado uma história relativa e boa, e se tivesse um livro do Negrinho do pastoreio para adultos? A versão que li era para crianças. Claro! Ele era apenas um menino que vivia na senzala. A lenda é um folclore africano, porém muito interessante. Resolvi escrever então. Comecei com...

"Como explicar a história de um menino negro, pequeno idade entre nove anos, que já cuidava cavalos, crianças submetidas ao trabalho escravo, do qual perde o cavalo baio de seu dono?

O menino que perde, ajuda-nos encontrar! Sorte? Talvez! Proteção do céu." O serviço naquela época era primordial, hoje em dia não se pode mais trabalhar, ainda bem. Mas pode-se fazer muitas coisas interessantes. Ler é uma delas. Eu não recomendaria meus livros, apenas se fosse para aprender a ser cavaleiros. Mas tudo bem vamos lá...

Eu estava tentando de tudo para o meu texto ficar interessante. Falar do pequeno menino, me trouxe a infância de volta. Quando li sua história eu tinha apenas dez anos. Peguei emprestado na biblioteca da escola, e fiquei tentando imaginar cada paragrafo do livro. Lembro-me de ter pedido para ele alguma coisa, e acendido vela. Com dez anos Daniela? Sim, com dez anos. Não me recordo bem o que era, de certo eram notas na escola. Ficava imaginando aquele menino com a corda, na mão, sua história triste por ter perdido o cavalo e em seguida logo ao final saindo feliz campo a fora. Isso não me trouxe muita alegria, não acreditava nessas histórias que tinham algo de ruim e logo em seguida algo de bom. Mas aorendi com ela. As conclusões que eu tirei foram de esperança, se ele conseguiu no meio daquilo tudo, ele era um exemplo que eu também conseguiria muitas coisas em minha jornada. Naquela época minhas preocupações eram outras. Para uma menina de dez anos nas minhas condições. Acredito que aquela história apareceu em boa hora para me fazer refletir que os formigueiros não são nada diante da fé que temos. E com os fazendeiros da vida, não devemos nos assustar tanto assim, eles são gente como nós, apenas em condições melhorzinhas.

Fiquei ali sentada por um breve momento refletindo a história do negrinho, que me trouxera muitas lembranças. Que menino atrevido, me fazendo lembrar dos meus dez anos. Mas ele é foi uma boa lembrança para um final de tarde de sábado, naquela rede, na pousada.

Meu texto estava quase pronto faltava algumas coisas e fazer revisão. Talvez eu mudara alguma coisa nele. Mas veria depois.

Tomamos um café, todos juntos em volta da mesa, conversando sempre! Nós sempre tínhamos assunto. Eles na verdade, os parentes da Flavia, viraram meus parentes, e me olhavam como se esperassem que eu falasse alguma coisa a cada conversa. Eu quase nunca me atrevia, mas geralmente concordava. Eu não sou dessas muito falante, todos os assuntos me interessam, mas eu também gosto muito de ouvir as pessoas, e dar opiniões exatas. Mas aquele pessoal que reunimos naquele final de semana, era sem dúvida as melhores companhias, porque sabiam manter uma boa conversa e além de tudo mostravam interesse também no que falávamos.

O sábado a noite foi bom, deixei alguns trabalhos prontos e lidei no meu blog! Com algumas fotos, depois em seguida fiz um workshop, onde parei por volta da meia noite. Conversei com alguns amigos onde o fuso era diferente, falávamos a respeito de expatriação. Achei bem interessante a ideia, qual país aceita uma jovem escritora que gosta de reparar os mínimos detalhes, até na cor da água da sua cidade, se aquela água faz bem ou mal pro cabelo, pra pele. Queria ir para um país onde a água fosse barata e fizesse bem. Onde a comida nem a passagem fossem cara. Legal não é? Não existe lugar perfeito no mundo. Existem pessoas tentando fazer dar certo e um sistema bagunçando a vida da gente. Mas a liberdade ainda existe em alguns lugares, e por eles devemos agradecer. O Brasil é um desses lugares.

Meu trabalho estava concluido, com os três mil caracteres sendo superados. Eu estava pronta para dormir, talvez. Mas ainda estava sem sono, era uma noite quente dessas que te tiram o sono, talvez também pelo simples fato de ter de ir embora no dia seguinte estavão mexendo comigo.

Imagina se me cobrassem quarenta mil paragrafos?! Forte, não?

Estava quente, fui deitar na sala. Acabei acordando a Flávia, minha colega de quarto, ao procurar meu carregador.

- O que houve? Perguntou ela.

- Nada, só estou procurando meu carregador. E voltou a dormir novamente.

Eu tenho um péssimo gosto para músicas e precisava escolher a canção de um trabalho de designer que eu havia metido, então fui criar. E agora eu coloquei aquilo na cabeça, eu precisava fazer. Lá fui eu acordar a Flávia de novo ao procurar meus fones. Para minha surpresa ela já tinha acordado. Estava ao telefone.

- Que bom que está acordada. Falei.

- O que você está fazendo? Perguntou.

Procurando meus fone, respondi.

Ah, estava tudo certo, ela acordada e eu curiosa com quem ela estava falando.

- Um amigo. Disse ela.

- Que amigo, me conta!

- Santiago.

Ah que bom! Ela estava conhecendo um cara agora. Mas não quis falar muito. Eu também não quis invadir vida dela, e sua privacidade.

Eu estava na manhã de domigo, muito solitária, me sentindo como um peixinho fora d'água. Fui da uma volta na beira do rio. Que era bem de frente para a pousada. Estava com meus trabalhos prontos e algo me dizia que tinha muita coisa para acontecer em minha vida. Mas eu não sabia se aquilo me preocupava ou manteria-me aliviada. Bastava o tempo para me dizer. Eu precisava entender que tudo acontece por que tem que acontecer.

Sentei-me, ouvi a voz dos pássaros, mas sério, tentava adivinhar o que eles queriam dizer. A preocupação de uns por eu chegar perto, e a curiosidade de outros por eu estar ali.

Eu ficava pensando como um dja lindo de sol, com pássaros cantando, e um lugar bonito, poderiam me deixar daquele jeito. Talvez eu estivera preocupada com alguma coisa. Mas o quê? Eu não sabia. Estava totalmente fora de mim. Não conseguia sentir o momento, a vibração era diferente. Senti um vento suave, que te refrigera a alma, e traz a sensação de estar invadindo teu ser, porém não me trouxe paz. Será que deixei de tomar algum complemento de meus antidepressivos?

Qual era a queixa? Não tinha queixa, estava tudo bem. Voltei para a pousada, estavam servindo o almoço.

Comemos frango na farofa. Estava tudo muito bom. A Nona achava os passeios cansativos, a dona Neire mantinha sua comida especial. O progresso da nona, e que ela já estava saindo conosco. A nona é a vó da Flávia, minha melhor amiga. Que eu conheci no Rio de janeiro. Nós mudamos juntas, quando decidimos tentar a vida na cidade natal da Flávia, eu deixei o meu Namorado, no Rio. Um cara autêntico, educado e cavaleiro que cursou direito. Mas que tem planos de mudar para a cidade pequena de Viamão, depois de tanto ouvir falar.

Il cibo era ottimo.

"A comida estava excelente."

Disse a nona. Eu já entendia italiano. Me deixa feliz partilhar de cada conversa em outro idioma. Me traz êxtase.

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