Capítulo 5

LEXIE

Durante o percurso de volta para casa, fico em silêncio quase todo o tempo. Mamãe, tia Pamela e tia Brina conversam o caminho todo. Falam sobre como o vestido parece ter sido feito exclusivamente para mim. Eu concordo algumas vezes, dou alguns sorrisos, mas uma única coisa me deixa inquieta e temerosa; o olhar que tia Brina vez ou outra lança para mim. Como se soubesse de alguma coisa e eu precisasse esclarecer a ela.

Tia Pam estaciona o carro e ela e mamãe são as primeiras a entrar em casa. Tia Sabrina prefere acompanhar meus passos. Ele deposita a mão em meu ombro me fazendo parar por um instante.

— Querida... Acho que nós precisamos conversar.

Mordo os lábios.

— Sobre o que...?

— Não ache que eu não vi. — ela diz de um jeito extremamente direto. Meu coração acelera. —  Vi aquele garoto olhando para você. Vi como você correspondeu o olhar dele. E nós precisamos conversar sobre isso.

— Tia, eu nem mesmo sei quem era aquele cara, eu... eu juro que... eu...

Me desespero. Sinto vontade de chorar. E, como se adivinhasse que eu necessito de apoio, tia Sabrina me abraça fortemente. Eu retribuo. Me esforço para não me desmanchar em lágrimas.

Ela me locomove até as espreguiçadeiras que estão a beira da piscina.

Nos sentamos e ficamos uma encarando a outra.

Tia Brina recolhe gentilmente minhas mãos e as aperta com força.

— Lexie...

— Eu não sei como deixei isso acontecer. Não sei... eu juro que não foi intencional. Eu não ia... não... nem sei quem ele é...

— Lexie, apenas pare. Olhe para mim, — ela pede e eu simplesmente obedeço. Repouso meus olhos em tia Sabrina, disposta a ouvir atentamente tudo que ela tem a me dizer. — Devagar, querida. Devagar, tudo bem? Não estou aqui para julgá-la nem nada do tipo. Sou sua tia e apenas quero te ouvir. Te amparar de alguma forma.

Assinto.

— Como se chama? Como ele... se chama?

Eu mordo os lábios.

— Stephan. É tudo que sei. Seu nome. Nada mais.

— E estão juntos há...

— Não estamos juntos. — apresso em me justificar. — Nós nos beijamos algumas vezes e só.

— Oh. — ela assente.

— Nos conhecemos no hospital. Cuidei dele. Quando olhei em seus olhos eu simplesmente me perdi, tia Sabrina. Não sei o que aconteceu, mas algo... algo aconteceu. Eu só não sei... É loucura, não é? Eu vou me casar e acabei me envolvendo com um cara que eu nem mesmo sei quem é.

— Gosta dele?

— Vou casar com o Evan, tia. Ele é meu noivo.

— Sabe o que eu acho? — tia Sabrina ergue os olhos. — Que para você, esse casamento é uma espécie de obrigação.

— Não deveria? Eu aceitei, me comprometi, é uma obrigação agora.

— O amor não é uma obrigação. É uma liberação, Lexie. Entende?

— Eu traí o Evan, tia. Isso é tudo que eu não deveria fazer. Eu não quero ser uma mulher desleal.

— Então sugiro que conte a verdade a ele. Porque se ele te ama realmente, vai te perdoar, se realmente estiver sendo sincera. Entretanto, se não tem certeza de que está arrependida, se acha que não está arrependida, então não. Apenas pare. Respire. Pense. Reflita sobre seu coração. Escute o que ele diz.

— Acha que eu devo...

— Acho que deve ser sincera consigo mesma antes de ser sincera com qualquer outra pessoa.

— Tia Brina, eu sei que é errado, mas posso pedir para que isso seja mantido em segredo apenas por nós duas? Eu vou falar a verdade a mamãe, mas estou...

— Shh. — ela sorri complacente. — Eu jamais contaria isso a alguém. Isso diz respeito a você. Não cabe a mim decidir, mas posso te aconselhar, é o melhor que consigo fazer.

Tia Brina abre os braços e eu me aconchego em seu abraço.

— Pequena Lexie... — ela me olha rapidamente. — Não vale a pena ser amado, se você não compartilha o amor. Entende? O amor só é real se compartilhado.

Assinto, balançando a cabeça. Presto bastante atenção nas palavras de minha tia. Sei que ela tem razão. Sei que é o que devo fazer.

Ouvir meu coração. Respirar fundo e decidir o que, de fato, quero.

>>>

— Senti falta desses nossos jantarzinhos de última hora, meu amor.

Evan me beija rapidamente e eu forço um sorriso.

Estou disposta a contar a verdade, porque já tenho minha decisão.

Evan está comigo há quatro anos. Sempre provou que me amava e quando me pediu em casamento apenas comprovou que o que sentia por mim era realmente verdadeiro.

Como posso trocar um homem que conheço há anos, que me ama, está disposto a me aturar todos os dias de minha vida por alguém que eu sequer conheço; alguém que me deixa feito boba, incapaz de formular pensamentos decentes e firmes.

Não posso trocar o certo pelo duvidoso. Não posso.

— Está pensativa, amor... tudo bem?

— Eu adoro você, Evan. Estamos juntos há anos. Eu adoro você. Eu simplesmente... eu...

Evan franze o cenho, confuso.

— Lexie, está chorando? Por quê? Eu disse ou fiz algo?

— Não. — sussurro.

— É só que... não acho que mereço. — fungo, me sentindo uma vádia desprezível. — Não mereço todo o seu amor.

— Merece.

Evan abre um sorriso enorme e eu me pergunto por que esse cara incrível escolheu a mim?

— Merece, Lexie. Merece todo o amor desse mundo. E tudo que eu puder te oferecer de amor, eu o farei. Amo você.

Beijo meu noivo. Por dois motivos. O primeiro deles é que ele é o meu futuro marido, o cara com quem estou comprometida há um certo tempo e tem o direito de receber meus beijos. O segundo motivo é que preciso descobrir se sinto o mesmo que senti quando beijei Stephan.

E a resposta vem de maneira cristalina como a água: eu não sinto a mesma coisa.

Meu coração não bate descompassadente. Minhas mãos não suam. Meu corpo não se arrepia com seu toque. Eu não sinto um desejo gritante. Eu simplesmente não sinto o mesmo e isso me decepciona. Porque eu deveria sentir. Porque eu tenho que sentir.

— Mas, mudando totalmente de assunto, ou nem tanto, afinal viemos para isso... — Evan ri, e eu sorrio de lado. — Estou faminto. Vamos pedir?

Olho para o garçom, mas Evan quem o chama. E, enquanto meu noivo faz seu pedido ao homem, eu voejo para um lugar distante. Um lugar habitado somente por mim.

E pela culpa que me consome por inteiro.

> > >

Ouço um coro de vozes vindo da sala e quando entro no local, os olhares se voltam para mim. Toda a família está reunida, sorrindo, conversando.

— Chegou nossa pequena Lexie! — tio Aspen diz e todos sorriem, inclusive eu.

— É uma convenção? — brinco.

Papai ri e rola os olhos. Evan surge logo atrás de mim e me abraça contra si. Dominic faz uma careta, a qual só eu flagro.

Meu irmão não consegue esconder o fato de não ir com a cara de Evan. Eu nunca entendi muito bem o motivo, mas confesso que é até engraçado essa sua cisma. Evan simplesmente o ignora e tudo bem, porque em seu lugar, eu faria o mesmo.

— Evan, filho, estávamos falando há pouco de você. Venha, junte-se a nós, enturme-se.

Meu noivo coça a nuca, e ri, envergonhado.

— Eu adoraria, Derek. Mas preciso ir. Está tarde e eu apenas quis acompanhar minha garota até a casa.

Papai assente, um sorriso que vai de orelha à orelha.

— Viu só, meninos? — papai olha para meus primos, Henri e Hector, e, em seguida, para Dominic. — É assim que devem tratar suas namoradas.

— Eu não sei se quero namorar, pai. Deve ser chato ficar todo o tempo assim, agarrado. Onde está a privacidade? — Meu irmão faz uma careta. — Dispenso!

Meu irmão comenta, seu jeito ameninado. Apesar de não ser mais uma criança, Dominic age como uma. Seus pensamentos também são como o de uma criança. E isso é até engraçado. Meu irmão é um meninão. Mamãe abre a boca para dizer algo, mas fecha em seguida.

Tio Damen e tio Aspen são os primeiros a quebrarem o silêncio soltando uma alta gargalhada. Papai faz o mesmo, depois de um tempo.

— Querido... — a voz de mamãe soa preocupante e meio envergonhada. — Que espécie de pensamento é esse? Não pode dizer essas coisas assim, Nic.

Meu irmão crispa a testa.

— É só minha opnião, mamãe.

— Sei disso. Mas não pode pensar dessa forma. Namorar não é ruim. Talvez diga isso agora porque não gosta de ninguém, mas estou certa de que se o fizesse, pensaria de maneira diferente. — meu irmão torce a boca. — Quando gosta de alguém, então não acha que ficar perto demais é ruim. Pelo contrário, vai querer estar perto, acredite em mim.

— E quando estiver longe, ainda que seja por pouco tempo, vai morrer de saudades. — Agora é Evan quem diz, olhando para mim. — experiência própria.

Ele acaricia meu rosto e eu fico envergonhada, afinal, ainda estamos frente à frente com minha família.

— O papo está ótimo e eu adoraria ficar mais um pouco, no entanto... — Ev aponta para a porta. — Tenho que ir. Boa noite a todos.

— Nos vemos amanhã, filho?

Papai se refere a Evan como um filho. Papai realmente gosta de Evan. Como ele reagiria se soubesse... como todos eles reagiriam se soubessem o que fiz... que tipo de mulher me tornei... o que eles...

— Durma bem, meu amor. — ele me desperta de meus devaneios e por um lado é bom. Preciso parar de pensar em coisas ruins. Preciso.

— Você também. — sorrio.

Evan me beija, dessa vez ele me puxa com força. Ele me agarra firmemente e, de modo que nunca fez antes, ele leva uma de suas mãos até minhas costas e desce rapidamente até meu bumbum. Faço uma careta e me afasto dele.

— O que foi isso? Você... Evan! Meus pais estão ali dentro, lembra?

— Desculpe. Eu só... não consegui. Me desculpe. Prometo que vou tentar me controlar. — ele morde os lábios, mas ainda estou horrorizada com este seu ato impensado e inédito. — Esperar até o casamento vai me deixar louco. Mas posso fazer isso.

Eu não digo nada. Não tem nada a ser dito. Evan dá indícios de que quer me beijar novamente, mas eu me afasto.

— Não. Chega por hoje. Controle seus hormônios.

Falo sério, mas meu noivo simplesmente leva na brincadeira e isto me incomoda.

— Amo você, Lexie.

Deixo um sorriso falso surgir em meus lábios. Preciso fingir que está tudo bem, quando, na verdade, não está. Tudo está longe de estar bem.

> > >

Quando meu turno de dez horas chega ao fim, tudo que eu penso é que Stephan - insistente como ele se mostrou ser - provavelmente vai estar lá fora, me esperando. E, embora um lado meu não queria ir, não queira ceder aos seus desejos, um outro lado, um lado que eu tento omitir, apenas me diz para ir em frente. Me induz a seguir com essa loucura.

Porque é isso que é. Uma verdadeira loucura. Nos conhecemos há duas semanas e meia e eu não consigo parar de pensar nele. Não deveria, mas é isso que está acontencendo. Stephan está entranhado em mim. Sua voz, seu cheiro, seu toque. Tudo seu está em mim feito um vírus. Estou infectada por Stephan e isso me parece tão perigosamente bom.

Saio para o estacionamento do hospital já apreensiva. Paro em frente há alguns bancos, mas não me sento. Fico a procurar por Stephan. Sinto uma mão pousar em meus ombros e penso ser ele, mas é apenas Victoria. Ela me abre um sorriso e eu faço o mesmo, tentando omitir minha frustração.

Ela solta os longos cabelos dourados e tira do bolso da calça as chaves de seu carro.

— O que ainda faz aqui? Pensei que tivesse ido...

— Estou... apenas esperando o Evan. — minto descaradamente.

Mas Vic acredita sem muito esforço.

— Oh, claro. Tem certeza que ele está vindo, posso te dar uma carona!

Me apresso em negar. Mordo meus lábios.

— Não se preocupe, Vic. Ele já está chegando. Mesmo assim, agradeço por me oferecer uma carona.

Victoria assente. Me abraça sem avisos prévios.

Não sei se Victoria e eu somos amigas. Na verdade, não me considero uma pessoa de muitas amizades. Minha melhor amiga se chamava Meredith e desde que ela se mudou com os pais para outra cidade, pouco nos falamos.

Victoria e eu nos conhecemos no primeiro dia de trabalho. Ela sempre foi muito gentil, comunicativa e sempre mostrou-se prestativa. Mas não é como se ela fosse minha Meredith.

Ela não é minha pessoa.

— Se tem mesmo certeza, então acho que vou indo.

Assinto. Aceno antes de Vic dar partida em seu carro.

Depois, me rendo e sento em um dos bancos. Meu telefone toca e meu coração acelera quando vejo o nome de papai brilhar na tela.

— Pai...? — hesito por uns segundos.

— Lexie! Querida, te liguei um milhão de vezes. Por que não me atendeu?

— Estava ocupada. Me perdoe.

— Estou com Evan aqui no escritório. Ele está indo te buscar ai nos hospi...

— Não. — digo de um jeito aflito.

— O que disse?

— Eu... não... é que... — vamos lá, você já é uma mentirosa, Lexie. Apenas seja uma mentirosa boa. Vamos lá. — Vou dobrar. Quero dizer... um colega adoeceu, não vai vir, me pediu para substituí-lo e eu aceitei.

— Lexie, está maluca? Você está cansada! Não vai aguentar mais dez horas nesse hospital! — papai resmunga.

— Eu aguento, papai. Além do mais... vou ganhar mais por isso.

— Você sabe que dinheiro não é problema para nossa família, Lexie.

— Pai! — trinco os dentes. — Seu dinheiro não é mais o meu dinheiro. Eu trabalho para me sustentar, não quero depender de ninguém, nunca!

Ouço um suspiro no outro lado da linha.

— Querida, eu sei, é só que... — ele suspira mais uma vez. — Está bem. Vou avisar ao Evan.

— Certo. — sopro.

— Eu amo você, querida.

— Também amo vo...

Ele vem em minha direção e o mundo simplemente para apenas por nós dois.

Stephan caminha desajeitado, uma mão em cada bolso de sua calça.

— Lexie! Lexie?

— Pai... eu tenho que ir. Eu vou desligar.

E desligo meio desconectada do mundo ao redor, porque só o que vejo em meu campo de visão é Stephan.

Ele se aproxima de mim e eu meu ponho de pé.

— Pensei que não viria. — murmuro.

— Pensei que não estaria aqui. — ele devolve.

— Sabe que eu estaria. — digo e Stephan ri. — Não é?

Ele assente, meio convencido. Isso me irrita e me agrada, tudo ao mesmo tempo.

— Sabia. Sabe por quê?

Ergo o cenho.

— Porque é tarde demais para fingir que não estamos sentindo algo um pelo o outro.

Stephan toca meu rosto e se inclina para me beijar. Me afasto e olho para os lados. Crispo a testa, ele me olha confuso.

— Não aqui. Está maluco?

Ele percebe que está errado e assente, rindo.

— Estou maluco por você.

Quero dizer que também estou. Mas não acho que preciso. Está nítido. Visível de todo modo.

— Então, está pronta?

— Pronta?!

— Sim. Será uma noite inesquecível, Lexie.

Eu vejo um brilho em seus olhos. E também acredito que os meus estão brilhando.

Não posso expressar o que suas palavras causam em mim, mas elas acendem uma chama. Uma chama alta, que tende a aumentar mais e mais.

Sempre mais.

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