Capítulo 4

— Beth, aqui estão eles. — o grandão nos anuncia.

Beth, é, de fato, uma mulher madura. As camadas de maquiagem em seu rosto conseguem esconder bem a idade que ela carrega nos ombros, mas dá pra ver que é uma mulher vivida. Em todos os sentidos, diga-se de passagem.

— Ora, ora. À que devo a honra, rapazes? — ela gira a cadeira em que está sentada. — Sentem-se, por favor!

Eu estava pronto para abrir minha boca e sem rodeios revelar o motivo de minha vinda até esse ambiente inadequado, no entanto Damen decidiu ser mais rápido que eu:

— Senhora Beth...

— Senhora, não. Jamais. — ela solta uma escandalosa risada. — Me chame só de Beth.

— Beth. — Damen se corrige com um sorriso de canto de boca. — Estamos aqui porque temos uma proposta para lhe ofertar.

— Uma proposta? Que tipo de proposta, garotão? Vou logo avisando que minhas garotas não saem daqui, então se for isso, nem tente. Temos excelentes quartos nos fundos do bordel.

Ela olha para mim rapidamente, o olhar estreito e um sorriso embutido nos lábios. Ela está tentando me paquerar?

— Meu irmão, Derek, decidiu que quer um filho. — ela morde os lábios, ainda com os olhos fixos em mim. — Deixe-me ir direto ao ponto. Não gosto de enrolações. Sei que tem muitas garotas, gostaríamos de propor a uma de suas meninas que seja... Bom... que seja a barriga de aluguel de meu irmão.

Beth piscou os olhos algumas vezes e gargalhou, novamente, estrondosamente.

— Veio procurar isso em um bordel? — a madura mulher diz entre risos. — Você quer um filho e para isso precisa de uma das minhas meninas para ser sua barriga de aluguel?

Ergo o cenho.

— Desculpe-me, mas não posso te ajudar, bonitão.

— Não? — Damen arqueia o cenho.

— Não, coisinha linda. — ela se inclina na cadeira e com a mão aperta a bochecha de Damen que é pego desprevenido e provavelmente odeia seu ato. Beth ergue-se da cadeira e sai detrás da mesa, parando bem a minha frente. — Essas meninas são minhas. Aqui elas possuem tudo que precisam. Não negocio coisas assim. Então... A resposta é não.

Não?

A resposta dela é não?

Ninguém nunca me diz não!

Levanto-me da cadeira num sobressalto que a surpreende.

— Possuem tudo que precisam? — Beth está com os olhos presos em mim e com um maldito sorriso debochado nos lábios. — Como o quê, por exemplo?

— Olha só, ele fala. Achei que fosse apenas um rostinho estúpidamente bonito. — Beth zomba de mim. — Eu trato essas meninas como se fossem minhas próprias filhas, querido. Eu cuido delas, lhes dou comida, vestimentas, um abrigo!

— É um ato muito generoso de sua parte, visto que você também as vende para desconhecidos todas as noites. — rebato-lhe de maneira sagaz.

A mulher revira os olhos. Parece levemente chateada com minha afronta, enquanto eu estou apenas me divertindo com isso.

Ela disse não à pessoa errada.

— Estão perdendo tempo aqui. — ela diz com pouco caso, agora caminhando ma direção oposta à mim. — Se seu irmãozinho quer um filho, o lugar ideal para conseguir isso não é aqui.

Beth abre a porta do seu pequeno escritório e sai, caminhando displicentemente, fingindo nossa inexistência.

— Certo, certo. Beth, acho que não nos entendeu. — Damen passa por mim e praticamente corre atrás da mulher de cabelos dourados e corpo cheios de curvas já não tão desejáveis. — Nós podemos pagar por isso. Pagar um valor muito alto.

Beth gargalha.

— Eu acho que você não entendeu, fofinho: a minha resposta é não. Mesmo que eu aceitasse seu dinheiro, nenhuma de minhas meninas se submeteriam a isso. Um filho só estragaria seu corpo. O corpo, para elas, é seu maior instrumento de trabalho.

— Beth... — Damen tenta, mas eu seguro em seus ombros, o impedindo de ir adiante.

Já chega.

Não vou mais insistir. Não darei um só centavo a esta infeliz. Ela não merece meu dinheiro.

— Damen, está certo. Vamos embora.

Beth me encara nos olhos como se estivesse me fuzilando. Depois, apenas sorri satisfeita por se dar por vencida.

Maldita! Maldita!

— Venha, vamos.

Eu digo e reviro os olhos. Depois apenas caminho em direção a porta.

Meu irmão reluta por alguns segundos, mas eu o encaro de maneira séria. Ele finalmente cede e me segue em direção à saída do local.

Estou irritado. Esfumando ódio, para ser bem sincero. Eu poderia até...

— Espere! Por favor! Espere!

Ouço alguém gritar ofegante. Esse alguém não é Beth, definitivamente. Escuto essa pessoa correr velozmemte em minha direção. Viro-me na intenção de descobrir quem é a pessoa que está tão desesperada assim.

Giro o corpo e automáticamente meus olhos varrem todo o bordel em busca de alguém, e tudo que vejo é a imagem de uma mulher se formar perante meus olhos.

Aqueles olhos verdes podem ser vistos à milhares centímetros de distância. É a garota que avistei quando entrei aqui.

A loira de olhos verdes corre em minha direção, cansada. Ela se ajoelha diante de mim, como se, por um acaso, eu fosse uma espécie de deus. Fico sem reação. Olho para Damen e ele está tão espantado quanto eu.

Há um aglomerado de garotas mais atrás. Lindas e jovens garotas. Não demora até Beth se aproximar de nós juntamente ao seu fiel escudeiro, o homem grandão e mal encarado.

— Pelo amor de Deus, deixe-me ir com você! Eu... Eu escutei tudo. Escutei e aceito sua proposta. Aceito ter um filho seu, apenas... Apenas me tire deste lugar!

— Amanda! — Beth ralha. — Volte já para o quarto! Agora mesmo!

— Não! Não vou voltar! — a menina está chorando e ainda de joelhos perante mim. Ainda não consigo raciocionar. É quase como se meu cérebro tivesse dado pane no sistema. — Este lugar, você... Tudo isso aqui é um inferno! — A garota que agora tem nome; Amanda, procura pelas minhas mãos e as aperta quando encontra. Suas mãos estão gélidas e trêmulas. Ela semicerra os olhos em mim. — Ouvi tudo que disse a Beth. Eu aceito todas as suas condições, a minha única imposição é quite minha dívida com ela e me tire daqui! Este é meu preço! Faça isso por mim, senhor?!

A loira está implorando. Seu olhos estão imergindo em lágrimas. Encaro Damen. Seu rosto não está muito fácil de se ler.

Vamos, Derek, aja! Faça alguma coisa, porra!

Olho para Damen, depois para Beth, sigo até o grandão, depois as garotas e finalizo meu tour em Amanda.

Sem demora, induzo a pobre garota a se levantar, puxando-lhe pelas mãos. Quando estous prestes a decretar minha sentença, a voz de Beth ecoa pelo ambiente:

— Você não vai embora, Amanda! — Beth grita. — Marcos, leve essa mal criada para o quarto! Ela vai aprender o quanto é feio ouvir conversa de gente grande!

Como se fosse um robô, o carrancudo segue rapidamente as ordens da velha infeliz e, em passos firmes, anda na nossa direção. Sem o menor esforço, toma Amanda em seus braços.

A garota esperneia e reluta contra o imbecil, mas é em vão. O homem é o dobro do seu tamanho e peso. É uma luta injusta.

— Não! Por favor, senhor, tire-me daqui! Eu aceito sua proposta, me tire daqui!

Sinto meu estômago revirar, minha cabeça está fervendo e eu nunca me senti tão destemido como agora.

— Quanto ela deve? — digo, a poucos centímetros de Beth.

Damen tenta me conter, segurando firme em meus ombros.

— Não interessa, não estou disposta a negociar. — diz ela, prontamente.

Abro um sorriso cheio de irônia.

— Certo. Tentei de uma maneira maleável, mas não deu certo. — sorrio. — Meu irmão aqui, — aponto para Damen. — ele é advogado. Um dos melhores que você terá o prazer de conhecer. Eu estou propondo a você uma quitagem de contas, e você não tem muita escolha. Esta mulher não é sua propriedade. Eu vou pagar tudo que ela deve e, em troca, ela fica livre para fazer o que bem entender. Sendo assim, eu aconselho que você peça gentilmente para que aquele senhor coloque a garota no chão, vai educadamente me dizer quanto a jovem deve e, por fim, vai me deixar sair com ela. É o melhor a ser feito. Não é, Damen?

Damen semicerra os olhos em Beth, assentindo em seguida. Depois, me encara como se quisesse me elogiar pela tática tomada.

Beth está exalando ódio.

— Ou...? — ela sussurra de maneira quase inaudível.

— Ou vou foder com você e esse seu bordel de quinta categoria. Então, o que prefere, senhora? — faço questão de falar o senhora em alto e bom tom apenas para provocá-la.

Sou o leão faminto e feroz. Beth acaba se tornar uma presa amedrontada.

— Marcos, coloque-a no chão.

Volto meus olhos para o carrancudo. Ele está me fuzilando com o olhar.

Minha vontade é de rir.

Vamos lá, grandão, onde está toda a sua força agora? Penso.

O gigante coloca Amanda no chão que não pensa duas vezes em correr na minha direção.

— Ótimo. Agora só precisa me dizer quanto a garota deve, querida.

Beth trinca os dentes.

— Temos de ir ao escritório. — sua voz sai como num sussurro.

— Damen, você pode resolver isso? — Damen assente e segue Beth.

— Eu nem sei como te agradecer, senhor. Muito obrigada! Muito, muito, muito obrigada de verdade!

Amanda diz com os olhos cheios de lágrimas e pegando-me de surpresa, ela me puxa em um abraço apertado de gratidão. Sorrio, retribuindo meio sem jeito.

— Não agradeça. Uma mão lava a outra, não é mesmo? — ela assente, ainda chorosa, mas com um sorriso fraco nos lábios. — Vamos embora.

— Pode me dar um segundo, senhor? Quero me despedir... pegar minha mochila...

Ela olha para trás. O mesmo grupo de garotas permanece ali, assistindo tudo. Vejo a cara de choro de algumas.

— Leve o tempo que achar necessário para se despedir, mas não precisa pegar sua mochila. A partir do momento que sair daqui, sua vida não será mais a mesma.

— Obrigada, senhor. Nunca vou cansar de agradecer. Obrigada.

Ela está pronta pars outro abraço, mas dessa vez eu identifico rápido o suficiente para evitar que aconteça. Aponto em direção as garotas.

— Vá se despedir, Amanda.

Ela balança a cabeça em afirmação e corre em direção as colegas. Assisto a cena de Amanda se despedindo com um sorriso vitorioso nos lábios. Desvio meus olhos das garotas e os repouso em Marcos.

Ele me encara insatisfeito, posso ver que ela está consumido pela vontade de me causar algum mal irreparável.

Para seu azar, apena lanço-lhe um sorriso extremamente satisfeito.

Há muito eu já não me sentia assim... tão vivo.

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