Capitulo 10 - Mudança de Clima

Tudo bem, ele não estava exagerando.

Mas se bem que a culpa não foi minha, só que estávamos na hora errada e no lugar errado, isso se chama efeito borboleta......Eu acho.

- Eu estou com um probleminha nas costas sabe como é, a idade finalmente chegou – o motorista continuou explicando quantos problemas tinha quando chegamos na frente do hotel, ele literalmente estava se desculpando por não nos ajudar a tirar a mala, e juro por deus que eu não via problema nenhum nisso, tenho duas mãos afinal, mas o fato dele continuar citando todos os lugares que doí estava me deixando cansada – Tem uma dor que vai do pescoço até o meio das costas e só doí quando eu vou dormir e....

Saio do carro e dou risada da expressão atônita de Campbell, ele me segue e abre a porta do bagageiro enquanto ainda escuto as reclamações do velho senhor.

- Essas ruas são horríveis, olha esse buraco, cheio de água, isso com certeza foi uma das coisas que me fizeram ter problema nas costas, e lá vem um caminhão, puxa está dirigindo rápido....

Suspiro irritada e pego minha mala com um puxão, mas assim que coloco ela no chão sendo acompanhada de Campbell, um balde de água fria e suja cai em cima de nós dois, ou pelo menos acho que é um balde.

- Puta que pariu – ouço ele rosnando ao meu lado, mas não vejo nada

Cuspo o que parece ser terra no chão e passo a mão nos olhos, tentando ver. Pelo jeito não foi um balde, foi o maldito buraco e um maldito caminhão.

- Ah meu deus, está vendo. Eu disse, as ruas estão horríveis – o motorista olha para nós e bate a porta do bagageiro indo direto para o seu assento e seguindo em frente. Enquanto que eu e Campbell estamos parados olhando para as nossas roupas encharcadas de sujeira.

- Eu estava exagerando? – ele pergunta apontando para minha roupa e para a dele – Olha para isso – ele estende a mão e tira algo do meu cabelo, uma folha, ótimo – Porra

- Olha a boca – eu sussurro quando vejo uma mulher com o filho pequeno olhar com cara feia para gente

- Exagerando.... até parece

Ele sai resmungando puxando a mala com uma mão e eu abaixo a vista para o meu vestido, está uma meleca de glitter com água suja, mas que bela porcaria. Por que isso só acontece comigo?

- Jones!

Bufo e o sigo para dentro do hotel, a recepcionista finge que não vê e nos oferece duas chaves, pego uma e sigo para o elevador

- Combinei um jantar com um possível sócio, ele está de passagem pela Filadélfia.

- Sócio? – eu pergunto confusa

- Sim, um dos meus antigos sócios foi afastado e eu comprei a patente dele. Mas esse empresário está interessado na vaga.

- Afastado? Ou expulso?

- Os dois – ele diz simplesmente e eu rio baixinho. As portas do elevador abrem e nos saímos para o corredor – Quero que dê uma olhada nas credenciais, se tiver algo de errado me fale. O nome dele é Daniel Johnson.

- Tudo bem, te mando as informações

Paro em frente a minha porta e vejo ele dar dois passos antes de parar também, desbloqueio a porta e a abro, mas paro quando vejo ele olhando por cima do ombro.

- O jantar é as 20:00, esteja preparada

- Como assim? Não vou no jantar

- Vai sim

Coloco a mala dentro do quarto e me viro com uma careta.

- Sabe, você tem que parar de dar ordens em mim

- Eu sou seu chefe – ele se vira para mim também – Pensei que estivesse claro para você que posso dar ordens e você tem a obrigação de obedecer

- Não sou um cachorro Campbell – eu praticamente rosno, o que iria ser meio contraditório com o que eu disse.

Ele desce o olhar por mim e aquele sorriso de malicia aparece, estreito os olhos com raiva.

- Estou vendo que não

E simples assim ele entra e fecha a porta. Que babaca

...................................

Fiquei uma hora pensando em não ir, e a outra hora passei pensando no que vestir, eu sou uma confusão de pensamentos mesmo. Olho de novo para a mala e pego o vestido azul, é isso aí.

Tomo banho, lavo os cabelos, seco eles e os deixo solto, somente com um arquinho prateado. Coloco o vestido e faço uma maquiagem mais elaborada, mas opto por cores claras, passo um batom nude e finalizo calçando meus saltos de ponta fina.

Olho no espelho e aprovo a escolha. O vestido azul é coberto por uma renda mínima, as mangas vão até o meu pulso, e a saia drapeada bate acima dos meus joelhos, não gosto muito do decote exagerado, mas vai ter que servir, coloco brincos pequenos e passo perfume.

Pronto, processo finalizado.

Pego o tablet e averiguo as informações que consegui, mas não vou muito longe porque a voz de Campbell ressoa do outro lado da porta. Pego minha bolsa e sigo para a porta, abro-a ao mesmo tempo que coloco o tablet dentro da bolsa pequena

Termino e subo o olhar encontrando os de Campbell, aí caramba, ele está perto de mais. Os olhos verdes me observam de perto e eu dou um mínimo passo para trás...Ou foi para frente?

- Vou precisar de um segurança?

- O que? – eu pergunto desnorteada. Cacete, porque ele tinha que ficar tão bonito de terno?

- Para o caso de você acabar chamando mais um acidente

Reviro os olhos acabando com os olhares e sigo em direção ao elevador. Ele me segue rindo.

.......................

Imagine uma cena de filme, sabe, aquela cena em que a mocinha se encontra em um restaurante muito chique, com o cara que está atraído por ela, e aí eles sentam na melhor mesa, que dá para a melhor vista da cidade.

Tirando a parte do cara, eu me imagino nessa cena.

Caramba, o restaurante é incrível. Ele é dividido em dois andares, e o segundo andar é onde nós vamos ficar, a mesa para quatro pessoas é arrumada e rapidamente me sento perto da janela, admirando a linda visão da rua.

O possível socio de Campbell chega depois de quinze minutos com sua esposa a tiracolo, ela parece mais uma modelo de capa de revista......Espere, ela realmente é modelo.

- Campbell, que prazer em vê-lo – Daniel se aproxima e estende a mão para um aperto – Estava ansioso para esse encontro.

- Prazer em vê-lo Daniel – ele aperta a mão da mulher ao seu lado e se vira para mim – Daniel, Patrícia, essa é minha assistente Kalliope Jones.

Estendo a mão e aperto sorrindo, segundos depois estão todos sentados e olhando o cardápio. Eu? Ah, eu estava olhando os preços, e abrindo e fechando a boca como se fosse um peixe.

- Eu só vou querer uma salada Caesar – Patrícia diz para o garçom e olha para nós com um sorrisinho – Estou de dieta, amanhã tenho um ensaio, sabe como é

Não eu não sei, mas finjo entender quando ela olha para mim

- Eu vou querer um Filé de costelas com batatas raspadas – Daniel fala e eu olho para Campbell, mas ele olha para mim, esperando. Droga.

- Eu vou querer ravioli de carne, por favor

- Vou pedir o mesmo que ela, obrigado

O garçom nos deixa e eu relaxo de novo, esse negocio de ser chique não dá para mim

- E então Campbell, pensou na minha proposta? – Daniel pergunta e eu o olho por cima da taça de água.

- Pensei sim, só tenho algumas perguntas simples antes de lhe dizer uma resposta

- Pois estou pronto, pode fazer

- Ah não sou eu quem vai fazer as perguntas, é a Kallie

Engasgo com a água e pego o guardanapo de pano levando-o a boca, não sei se fico nervosa por ele passar a responsabilidade para mim ou se por ter me chamado de Kallie. Provavelmente os dois, dou um sorriso tenso para Daniel que nos olha divertido.

- Tudo bem então – organizo meus pensamentos e começo com o que eu espero ser uma pergunta simples – Porque entrar na indústria Campbell?

- Muito simples, acompanho o trabalho desse garoto a muito tempo, vi todas as decisões que ele tomou, é inteligente, é ambicioso, mas não demais. Eu na verdade, só estava esperando uma vaga.

Campbell sorri e Daniel faz um brinde silencioso, o tablet dentro da bolsa me fez pensar em pegá-lo, mas eu já sabia tudo o que estava ali, então só fiz minha última pergunta.

- O que espera da indústria?

- Como assim? – o garçom chega com os pratos e os coloca na nossa frente, e o leve aroma faz com que minha barriga se anime.

- Quando se compra uma patente, você está deixando bem claro que espera algo em troca – pego o garfo e a faca e os coloco em cima do prato – O que espera receber?

- Novos horizontes – é a minha vez de ficar confusa, mas ele rapidamente explica – Tudo nesse século gira em torno de dinheiro, e não estou dizendo que não quero isso, mas quero fazer parte de alguma coisa que não seja focada somente nisso, desafios diferentes, objetivos diferentes.

Sorrio satisfeita com a resposta e Campbell relaxa ao meu lado.

- Foi uma ótima resposta senhor Johnson

- Foi uma ótima pergunta – ele devolve e coloca uma garfada na boca, mas olha para Campbell ao falar de novo – Onde a encontrou? Assistentes assim não são fáceis de encontrar.

- Ah, ela praticamente implorou para ser contratada

Piso com o salto em seu pé e ele ofega olhando para mim raivoso. Bem feito.

- Eu trabalhava como assistente de um dos empregados dele, só que a antiga secretária de Campbell acabou se afastando – falo a ultima palavra com um toque irônico que é recebido por um olhar confuso de Daniel e um olhar de inocência de Campbell – Então eu precisei mudar de cargo, temporariamente é claro.

- Ora, que pena, você poderia ficar e..... – Patrícia responde, mas é interrompida 

- Não é temporário – Campbell responde

- É claro que é

- Não é não – abro a boca para responder, mas ele rapidamente muda o assunto voltando-se para Daniel – E então como anda sua empresa?

Daniel ri olhando para mim e Patrícia olha para mim animada. Ele vai em pagar.

..................................

Fico em silêncio durante todo o caminho de volta e só volto a fazer alguma coisa depois que a gente chega no corredor do quarto. Ele passa na minha frente e segue calmamente para o seu quarto, mas para quando sente o sapato batendo em sua cabeça.

- Mas que porra é....

- Você vai parar de me contradizer, estou falando sério – ele olha de mim para o meu salto no chão e estreita os olhos irritado

- Você acabou de jogar seu sapato em mim?

- Joguei e jogaria de novo, você está me tratando como se eu fosse uma espécie de criada – Pego o outro sapato e jogo nele, que se afasta rapidamente – Você não é meu dono.

- Já acabou, ou vai jogar a bolsa em mim?

Coloco a bolsa em posição e ele vem até mim com poucos passos segurando meu braço para baixo e me imprensando na parede. Sua respiração ofegante se junta a minha e eu finjo não perceber seu olhar assassino.

- Já disse o quanto eu gosto quando você fica irritada? – tento sair do seu aperto, mas só o que ele faz é se aproximar mais – Você fica corada, e seus olhos brilham, é fofo.

- Já disse o quanto eu não gosto de você?

- Muitas vezes, mas estou percebendo que é uma mentira

Seu olhar desce para a minha boca e eu puxo uma respiração.

Perto demais.

Perto demais.

- Ao contrário de você, eu não minto – eu respondo ofegante

- E quando eu menti para você?

- A cafeteira? As câmeras?

- Tudo bem então, sem mentiras a partir de agora – sinto suas mãos se movendo e seu dedo indicador acariciando meu pulso – Mas só se prometer não me chamar mais de Campbell

- E do que devo chama-lo? – mordo o lábio inferior e minha pulsação acelera quando ele fixa seus olhos na minha boca

- Declan, Dec, o que quiser

- Declan? – eu sussurro e sinto seu peito se movendo em uma respiração profunda

- Sim?

Penso no que realmente eu queria dizer, mas opto por outra abordagem

- Odeio servir café – ele pisca confuso e depois se afasta rindo baixinho.

- Boa noite espertinha

- Boa noite

Entro no meu quarto em dois passos e tranco a porta.

Que diabos foi isso?

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