Capitulo 6 - Isso não se configura xeretar

- Jones! – pulo cerca de dois centímetros na cadeira antes de me levantar e seguir em direção a sala de Campbell. Jesus, precisa gritar tão alto assim? Ele acha que eu sou surda? – Onde está a porcaria da pasta sobre os Brown?

- Desculpe? – eu pergunto e me aproximo, mas dou um passo atrás quando vejo a carranca em seu rosto.

- A pasta intitulada Brown, a indústria Têxtil

- Sei que empresa está falando sr. Campbell. O que não sei é sobre a pasta, não a vi quando estava organizando

- Merda

Suas mãos se movem abrindo e fechando gavetas e franzo a testa ao ver a bagunça começando a aparecer de novo em cima da mesa dele, mas volto o olhar para ele quando percebo que ele está resmungando de novo.

- Pergunte a Sônia onde a secretária anterior deixou essa pasta, preciso das informações que estão lá

- Certo

Não preciso ficar muito tempo no telefone, porque fica obvio pela voz de Sônia que ela não faz ideia de onde a pasta poderia estar. Faço uma busca pela minha mesa, mas está claro que também não está aqui, mordo o lábio pensando e começo a clicar em várias pastas ao mesmo tempo no computador reunindo as informações e torcendo para que ele não grite de novo.

Meia hora depois, passo as informações para o tablet da empresa e organizo por assunto, quando já estou relaxando os ombros o ouço rosnando meu nome da sala.

- E então?

- Sônia não fazia ideia de onde estava e na minha mesa não tinha nada parecido

- Mas que droga – sua mão direita sobe para os cabelos e uma pequena bagunça acontece quando ele passa com raiva por sobre os fios.

- Eu fiz algumas pesquisas, nada muito profundo, mas pode ser o suficiente até que eu recrie uma pasta de novo.

- Onde está?

- Aqui – entrego o tablet a ele, suas mãos o seguram e rapidamente ele passa vista pelas informações antes de me entregar e se levantar, pegando o paletó do encosto da cadeira.

- É o suficiente, vamos.

- Espera, para onde?

- Tenho uma reunião em poucos minutos e preciso dessas informações e de você para tomar notas.

Isso parece ser explicação o suficiente para ele, que sai da sala caminhando a passos largos até o elevador, então corro até a minha mesa pegando minha bolsa e o sigo com passos rápidos.

.....................................

A reunião aconteceria na própria indústria de Brown, então foi um longo caminho a percorrer em silêncio dentro do carro, principalmente com ele em silencio olhando para o celular e o motorista de cara amarrada dirigindo pelas ruas do centro. Então só o que fiz foi acrescentar mais informações e ler cada uma delas, fazendo anotações quando devia e marcando quando percebia que era importante.

Vinte minutos depois chegamos a um prédio grande o bastante para impressionar, mas não tão impressionante quanto o prédio Campbell. A secretária de Brown estava nos esperando na porta do elevador e nos acompanhou até a sala de reuniões, e aproveitando os espelhos coloco os meus cabelos para trás e dou uma espiada em minhas roupas.

Calça jeans escura, sem manchas, ok

Camisa de botões branca, sem amassados, ok

Cabelos penteados e soltos, sem nó, ok

Somente os scarpins pretos de salto baixo não combinavam para uma reunião importante, mas dane-se, eu não ia sofrer em um salto agulha para impressionar ninguém. Coloco o tablet mais apoiado no braço e sigo em direção a sala gelada.

Cristo

Parecia um consultório médico, morto e todo branco, com cadeiras brancas e paredes ainda mais brancas, estremeço ao sentir o ar gélido da sala entrando em contato com minha pele. Mas dou um sorriso quando vejo os olhares se virarem para nós.

- Campbell meu rapaz

Aquele deveria ser o dono, baixo, com cabelos escuros e olhos curiosos dando uma averiguada no cara ao meu lado que parecia ainda mais silencioso.

- Brown, espero que não tenha atrasado muito

- Que nada, acabamos de chegar – ele move a cabeça para os outros e os vejo confirmando o que o dono falou – Venha, sente-se, planos grandiosos os esperam.

Sigo o olhar até a secretária dele e a vejo se sentando nas cadeiras fora do círculo de empresários, sento a duas cadeiras afastada e sorrio quando a vejo me observando, ela sorri de volta e olha para o seu tablet.

Cruzo as pernas e apoio o tablet na perna, vejo eles começarem a se preparar para apresentar e começo a girar minha pulseira. O que diabos é para fazer? Quando trabalhava como secretária nunca fui incumbida de ir a nenhuma reunião, na verdade meu trabalho era fazer planilhas, organizar um tanto de papeis e preencher a agenda de Colton, e ponto.

- Bom, vamos começar, não queremos tomar muito tempo de nosso amigo aqui – Brown lhe mostra alguns papeis e rapidamente Campbell o percorre com o olhar, e na tela uma construção em gráficos aparece – A construção que estou planejando vai acontecer na cidade de Rochester, estou pensando em algo um tanto mais complexo, maior.

- Maior do que a de Nova York? – Campbell pergunta

- Sim, isso mesmo – Brown aponta para a tela que muda e começa a detalhar os planos, e o que eu imagino ser o arquiteto começa a explicar os pontos principais. É claro que eu nem preciso saber muito sobre construções para ter ideia de que aquilo vai custar milhões a empresa, volto os olhos para o tablet e começo a buscar uma informação que me chamou atenção nos poucos minutos em que pesquisei.

- Sabe que isso é algo muito.... Caro. Não sabe?

- Claro que sim, mas estou disposto a pagar o que for necessário

Olho o embate de Campbell e Brown e vejo quando ele acena antes de recostar na cadeira relaxado e dizer para todos ali reunidos.

- Querem que eu diga um valor estimativo?

- Mas é claro – um deles responde e Campbell lança o valor, meus olhos se arregalam e eu começo a procurar o contato dele no tablet, e lá em favoritos eu o encontro. Faço um resumo e me preparo para enviar.

- Bom, eu já esperava algo assim. Quando podemos começar? – Aperto em enviar

Olho para cima e vejo Brown esfregando as mãos umas nas outras animado, então olho para Campbell e vejo ele me observando, aponto para o seu celular com um movimento de cabeça e ele lê devagar antes de subir o olhar e acenar confirmando que entendeu.

- Suponho que a indústria está indo bem? – ele pergunta e vejo quando Brown franze a testa confuso

- Sim, muito bem

- Não parece muito confiante disso

- Mas estou, por isso os planos para um novo local

- Sei – Campbell se levanta e eu o acompanho por reflexo – Fiquei sabendo que seus sócios estão aos poucos se dispersando, vendendo as patentes e tudo mais. O que isso significa?

Brown atinge um tom de vermelho em suas bochechas arredondadas e ele olha para os homens reunidos antes de abrir e fechar a boca, mas é homem a sua esquerda que responde.

- Isso não significa nada, os sócios decidiram por conta própria que caminho seguir. Sociedades acabam e outras começam, ponto final.

Campbell fica em silencio encarando os dois e como o olhar dele não diz nada para mim eu meio que falo em tom baixo, mas claro o suficiente para que eles escutem.

- Não é o que o banco diz

Coisa errada a dizer, obviamente. Todos os olhares da sala se concentram em mim e eu dou um passo mínimo para o lado.

- O que disse? – Brown pergunta e eu repito, ele começa a rir roucamente e olha de mim para Campbell do meu lado – Está brincando com a minha cara? Vai confiar na palavra de alguém que acabou de xeretar nas contas bancarias confidenciais da minha empresa?

- Acho que nossa reunião acabou aqui Sr. Brown – Campbell dá um passo para o lado e vejo que ao dar um passo para o lado acabei me aproximando demais dele, então agora me afasto e pego minha bolsa de cima da cadeira – E a propósito, eu confio na palavra da minha secretária, muito mais do que confio na sua. Passar bem.

Sigo em seu percalço, mas não antes de ver as expressões estarrecidas de todos ali reunido. Entro no elevador, preparada para mostrar as informações, mas ele é bem mais rápido.

- Ele vai ligar para o escritório, não atenda, não agende, não fale nada, se for possível, desligue – ele volta a mexer no celular e eu anoto mentalmente o que ele disse – Essa tarde tenho uma reunião com alguns possíveis clientes, estou mandando os nomes para você, faça o mesmo que fez agora, não me importo que xerete as contas bancárias, por falar nisso.

Abro a boca para falar que não foi bem xeretar, foi mais como uma pesquisa profunda, mas fecho ela logo em seguida quando percebo que não preciso explicar.

Se ele aprovou que eu consiga visualizar com poucos acessos a conta bancaria de alguns empresários então é isso que eu vou fazer.

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