Capítulo 1

Ariel

O vento bateu contra o meu rosto, enquanto eu rodopiava sobre o gelo, e com a mesma intensidade que começou, eu parei, e deslizei contra o gelo, entre saltos, e saltos curtos.

Foco. Giro. Giro.

Amo fazer isso, estar na minha alma, dançar e desliza sobre o gelo, faço isso desde que aprendi andar, é algo que me conecta com minha loba e a natureza.

Eu paro quando sinto que estou sendo observada, e quando olho em volta vejo meu irmão na sua forma loba, ele sempre corre essa hora da manhã.

– É cedo. – Ele diz voltando para ser humano.

– Precisava me acalmar. – Eu admito, se aproximando dele.

– Sonhos estranhos – ele adivinha e eu concordo. Faz um mês que os sonhos começaram, não consigo lembrar sobre o que eram, mas sempre acordo em pânico, e uma necessidade de ser livre.

Não sei o que está acontecendo comigo.

– Eles vão melhorar. – Eu falo. Meu irmão me olha com aqueles olhos escuros, onde ele me analisa, odeio por ele me conhecer tão bem.

– Carta? – ele perguntou e sorriu quando lembrei da carta de Romeo que chegou ontem. Elas sempre são enviadas para casa dos meus pais, já que eu tinha medo que algo acontecesse com elas se mudasse o endereço.

– Sim. Ele está bem. Eles salvaram uma criança – eu digo o que ele me disse na carta, mas não tudo. Muitas das cartas de Romeo são sobre as memórias da nossa infância, e um pouco do inferno que ele está enfrentando pelo o seu país. – Ele está voltando para casa.

– Ele vem vê-la? – Eric pergunta.

– Não. Já falei para ele só vim, quando não voltar mais. Será doloroso demais para se despedir uma segunda vez – eu falo triste, lembrando quando o vi pela última vez, há oito anos.

– Então, você tem certeza que ele é seu companheiro? – Ele pergunta com preocupação.

– Não. Só saberei quando ele voltar. – Eu falo indo até o banco que fica de frente ao lago, e comecei a tirar meus patins.

– Ou quando encontra seu companheiro. – ele provoca.

– Ou isso. – eu digo sentindo um tremor no meu coração. Não gosto disso. Mas minha loba não tem nada a dizer, e eu odeio.

– Por que você vive aqui nesse lago? – Eric pergunta, quando coloco minhas botas.

– Porque me trás paz – e me lembra de Romeo. A casa próxima ao lago é dele, ficou para ele quando seus avós morreram há oito anos. Mas ele era muito novo para ficar sozinho, então voltou para casa dos pais na Flórida, em outro país, muito longe de mim.

– O lago de frente a casa dos nossos pais. Também traz paz. – ele provoca e eu vejo por que a Aurora tem vontade de matá-lo quase toda a parte do tempo. Na verdade, quase todos nós temos esse desejo.

– Você quer ser chutado – eu aviso e ele sorri igual ao papai e corre para a floresta. E eu volto para o meu carro.

Olho para casa e me lembro da primeira vez que vim aqui, e vi Romeo, ele estava brincando com seu avô.

– Papai! Está gelado. – eu digo animada quando vejo o lago. Quero patinar.

– Você pode fazer no lago lá de casa. – papai diz.

– Por favor! – Eu peço e ele geme e concorda. Ele não consegue dizer não, mamãe sempre me disse isso.

Eu saí do carro com ajuda do papai, ele me entrega os patins e eu corro até um banco de madeira e empurro a neve com minhas mãos e me sento, e papai se ajoelhou e me ajudar a colocar os patins.

Estou tão animada.

– Amo neve papai  – eu digo feliz. Ele sorri e me ajuda a chegar ao gelo, e depois me solta.

Eu sorri para ele antes de deslizar para longe dele, um pé na frente do outro é o que aprendi fazer na aula de patins. A professora diz que sou a melhor.

Eu girei uma vez, mas cai e fico irritada por não conseguir fazer o giro direito, mas vou conseguir fazer.

Eu deslizo, de costas e vejo o papai de braços cruzados olhando para mim, ele está sorrindo. Ele sempre está sorrindo, mamãe diz que é por que ele é feliz.

Eu gosto de ser feliz.

– Aí – eu digo quando bato em algo, e me leva ao chão.

– Você não me viu. – falou um menino aparecendo na minha frente. Ele não é da escola, nunca o vi.

– Você sabe patinar? – eu perguntei quando o vejo com uma grande vara na mão. Vovô usa para tirar peixe dos lagos.

– Não – ele diz.

– Vou lhe ensinar.

Eu sorri com a memória e ligo o meu carro e saí rumo à estrada. Romeo aprendeu, mas não graças a mim, sim a nossa professora.

Ahh Romeo, volta pra mim.

Romeo

– Você está indo para casa, Prince. – o sargento fala.

Casa. Uma palavra que não faz mais sentido para mim.

– Os outros? – eu perguntei engolindo a dor do meu ombro.

– Eles não registram. – ele diz e eu gemo.

Deus. Eles eram os melhores caras que eu podia ter como companheiros. Eles não mereciam uma morte assim.

– No alto! – Bruce grita e eu apontei minha arma na direção que ele está ordenando, e como fosse a coisa mais fácil do mundo, eu atiro duas vezes, e acabo com o alvo.

– Sua direita! – eu viro, e atirei e o mato, e passo por cima do corpo morto e faço sinal para a equipe continuar.

Estamos em uma missão de resgate de um oficial do governo, que foi sequestrado, e estamos aqui para tirá-lo vivo se possível, não podemos deixá-lo aqui, ele tem muito segredos sobre o nosso país.

Eu empurro a porta, e olho em volta, e continuo entrando na casa, e abaixo quando vejo um adolescente com uma arma, e eu gemo, por que sei que ele vai morrer se não soltá-la, e ele faz o que temia, aponta para mim, mas eu o mato.

– Limpo – eu digo olhando para a escada que ele estava protegendo. E eu subo, e sinto meus companheiros protegendo minhas costas.

Eu engulo em seco, quando abro a porta do quarto, e vejo uma cena que me faz embrulhar o estômago, tem mulheres, amarradas, e mortas, elas foram torturadas. Odeio tudo nesse lugar.

Eu vi muita coisa ruim nesse mundo e matei muito deles, mas ainda fico triste quando vejo algo tão horrível como isso. Não tenho o que fazer, isso é o que me mata.

Nós lutamos contra o mau em forma de gente. Pessoas que não podiam viver, e nos matamos, sem nenhum arrependimento, e sei que vou queimar no inferno, mas vou levar algumas almas podres no processo.

– Segue – eu falo para Troy e ele concorda com o rosto ilegível. Todos nós já vimos demais.

Eu estou preocupado, tudo está muito silencioso, sem espera, mais nada, sigo quando escuto um gemido de dor, entro no próximo quarto e vejo a pessoa que viemos salvar, amarrada na cama, com mordidas espalhadas pelo corpo.

– Deus. Que merda. – Bruce diz. O sangue está por toda parte.

– Temos que sair daqui, ela está vindo. – o oficial Ramires diz com lágrimas nos olhos.

– Quem fez isso com você? – eu pergunto indo até ele, mas antes vejo se tem alguma arma presa a ele ou um dispositivo que possa explodir quando chega perto. Já vi muito disso.

– Ela se chama de Mestre! Ela é um monstro! Temos que sair. – ele diz histérico. Ele tem medo, muito. A mulher que fez isso com ele deve ser o demônio encarnado.

– Troy, você vigia com Bruce. – eu digo e eles saem e eu mando os outros dois vigiar o perímetro não temos muito tempo.

– Vamos te tirar daqui. – eu falo cortando as amarras de seus braços e pernas.

– Deus. Você será o próximo. – ele sussurra horrorizado.

– Não. – eu falo. O ajudando a ficar em pé.

– Ele está certo! – falou uma voz fria e eu aponto a arma na sua direção, mas ela é rápida, e em segundos está segurando os meus braços, e os quebra e eu caí de dor.

– Todos vocês serão meus novos brinquedos. – ela diz rindo chutando minhas pernas, e sinto quebra.

– Soldados! Tive que chamar muita atenção para eles mandarem um novo esquadrão. – ela diz rindo. Bruce entra no quarto, e ela corre na sua direção e o morde, e eu gemo. Isso não pode ser real.

E com isso eu desmaio. Mas acordei no inferno.

Um. A um. Vejo. Todos eles sofrem nas mãos desse monstro.

– Vou tomar você como meu. – ela diz contra meu ouvido.

Dias, meses, não sei quanto tempo fiquei em suas mãos. Só sei que estou livre e vou atrás da única família que restou.

Ariel. Ela que me manteve sã. Ela que me fez lutar contra a morte e volta.

Estou voltando para casa.

Minha casa é ela.

Só espero que ela possa lidar com o que sou.

O Romeo que ela conheceu, morreu, e o que restou é uma casca sem vida do que já fui.

Estou voltando Ariel, com todas as partes quebradas, mas ainda estou voltando como prometi.

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