Capítulo 7 - A "maravilhosa" reunião

Tudo o que se podia ouvir na sala, quebrando o silêncio, era meu choro abafado. Eu queria descobrir se o Abridor de Malas estava com pena de mim, mas não tive coragem o suficiente para olhá-lo com minha mãe por perto. Nunca tive medo da minha mãe, mesmo assim, as vezes me bate uma dor no peito, porque eu sei que no fundo daquele coração, ela me odeia por eu ser sua filha. Não pedi pra nascer, sei disso, porém, as vezes peço para morrer.

     — Responda ou eu vou jogar meu sapato em você! — gritou ela. Não tenho dúvidas de que sua paciência se esgotou.

     — Por favor, fique calma, senhora — implorou a diretora. Era tarde demais para que minha mãe se acalmasse.

     — Calma? Calma? Como posso me acalmar?

     — Ela é só uma adolescente. Apenas quero conversar sobre o que os dois fizeram. Não quero que confusões sejam feitas. Vamos. Sente-se.

     Por favor, mãe, ouça a diretora, penso com todas as minhas forças.

     Minha mãe se sentou.

     — Vamos começar o julgamento. Quem foi o culpado disso? — perguntou a diretora visivelmente mais calma quando percebeu que minha mãe havia ficado quieta e se sentado.

     — Eu — e mais uma vez eu comprovei o quanto a minha voz e a voz do Abridor de Malas formam uma gostosa harmonia. Queria tanto que repetíssemos coisas simples assim mais vezes...

     — Na verdade, diretora. Nós dois temos culpa e a senhora já sabe disso — respondi, levantando a mão. Só levantei a mão porque não queria envergonhar minha mãe ainda mais. — Por que a senhora fez uma pergunta ao qual já sabia a resposta?

     — E por que a mocinha abriu a boca, mesmo sabendo que deveria mantê-la fechada? — Mais uma vez fui chamada de mocinha. Quero saber quando ela vai aprender que passei dessa idade. — Eu já esperava que algo do tipo viesse de um dos alunos mais bagunceiros do colégio, mas da aluna nova? — Não entendo o por quê dela ter dado mais ênfase nas duas últimas palavras. Deve ter sido pra me humilhar ainda mais.

     — Então é tudo culpa desse vagabundo! Ele está fazendo isso com a minha filha! — explodiu minha mãe.

     — Tira meu filho dessa conversa! Por que você não vai culpar essa sua putinha, que você chama de filha? É claro, culpar os filhos dos outros sempre tem que vir em primeiro lugar para você. Admita a derrota como você nunca fez, Sabrina.

     Como ela sabe o nome da minha mãe? Quer dizer, não acho que a diretora tenha as apresentado e a mãe do Abridor de Malas falou como se a conhecesse há muito tempo. O que será que minha mãe escondeu por tanto tempo de mim?

     — Aqui não tem derrota nenhuma, Rebeca! Os dois são culpados! Não ouviu a diretora dizer? Ah, não, esqueci que sua sede de vitória e vingança falam mais alto. — minha mãe soou irônica. Vingança? Mas que diabos de vingança é essa? — Não tenho a menor dúvida que a idéia dessa loucura tenha vindo do seu filho.

     Eu não deveria admitir em voz alta, mas minha mãe tem razão: a idéia veio dele. Quer dizer, pensando bem, se eu não tivesse saído do meu quarto naquela noite, eu não o encontraria. De qualquer forma, a idéia de eu dormir em seu quarto foi originalmente só dele.

     — Por que o meu filho? Por que não a sua filha? — Rebeca, pareceu ignorar a resposta bem dada da minha mãe.

     — Sei que você ignorou por completo minha resposta a sua ofensa. Mesmo assim vou lhe responder: porque o título que seu filho já tem aqui no colégio diz tudo. Nem precisamos de provas para comprovar isso. — Os olhos da minha mãe caíram sobre mim. — Mas se a minha filha aparecer grávida, eu mato ele com minhas próprias mãos.

     Congelei assim que a frase ficou pairando sobre o ar do silêncio que se surgiu em seguida. Cruzei as pernas, ainda sentada no chão, com uma expressão confusa no rosto. Troquei alguns olhares constrangidos com o Abridor de Malas e tomei uma coragem e um impulso passageiro e disse:

     — Que isso, mãe! Tá achando que eu sou o quê? Você deve estar me confundido com outra pessoa, só pode. Eu nunca ficaria com ele. Qual é, ele nem é bonito.

     Ele também pareceu não aguentar a pressão de tudo aquilo e rebateu:

     — Olha quem fala. A garota que diz no próprio diário que eu sou o “garoto de olhos lindos” — ele falou as últimas quatro palavras, tentando imitar minha voz de forma ridícula.

     Não aguentei. Tive que fazer alguma coisa. Eu já estou ridícula demais na frente da minha mãe. Ele deixou as coisas piores. Quer dizer, eu não queria que ela soubesse que eu estou afim dele. Aliás, eu queria que ninguém soubesse.

     Retirei um dos meus tênis e joguei nele. Acertou bem na cabeça. Agora sim foi no alvo que eu queria. Enquanto a mãe dele e a minha discutiam, tive tempo o suficiente para discretamente calçar meus tênis. Agradeço por as vezes eu pensar de maneira rápida e eficiente.

     — Por que o tênis? Até agora não sei o que te dá direito em jogar objetos em mim.

     — A sua total idiotice é que me dá esse direito. Você mereceu algo duro na sua cabeça vazia. E mais uma coisa: eu não pedi pra você ler meu diário.

     — Você tinha jogado ele em mim. O que você queria que eu fizesse?

     — Queria que você não tivesse lido!

     — Silêncio os dois! — gritou a diretora batendo em sua mesa com força, produzindo um som alto. — A conversa aqui é sobre as duas regras que vocês quebraram. Não quero saber quem leu o diário de quem ou quem acha não sei o quê bonito de quem.

     — Você fala do meu filho, mas e se foi a sua filha que deu a ideia? — continuou protestando Rebeca. — Eu aposto que ela adora ficar tirando a blusa pra ele.

     Que droga, diário. Odeio gente que fala coisas sem prova alguma. Ela nunca me viu. Não sabe das coisas que fiz com o Abridor de Malas. Não entendo porque ela me julga dessa maneira, mesmo sem me conhecer. Pelo amor de Deus, ela nem faz idéia de que eu só fiz isso duas vezes. E olha que a primeira nem foi proposital.

     — Já deveria imaginar isso vindo da sua filha, Sabrina. Olha só como ela está agora — senti suas palavras sendo cuspidas em mim. — Como você pode dizer que a culpa não é dela? Só por que é aluna nova?

     Ouvi um suspiro vindo da diretora. Seu suspiro indicava que ela queria que tudo isso acabasse de uma vez. Concordo. Não consigo mais aguentar ficar aqui.

     — Senhora Goulding — a diretora se referia a minha mãe. — Sinto em dizer para a senhora, mas acho que a mãe desse garoto tem razão.

     — Claro, os ricos em primeiro lugar. Compreendo — respondeu curta e grossa, minha mãe.

     A diretora pareceu se desesperar.

     — A questão não é essa, senhora Goulding. O garoto e a mãe podem sair.

     Quando o Abridor de Malas e sua mãe estavam quase saindo, ele tomou coragem e disse:

     — Mas e ela? — Ele apontou pra mim.

     — Ficará aqui. Vamos discutir seu castigo. Ela merece por ter sido culpada.

     — Isso não é justo — protestou ele. — A culpa é minha também. A senhora sabe disso. Ela foi pega comigo. Nós dois quebramos as regras.

     — Meu jovem, estou dando a permissão para que você saia sem precisar cumprir nenhum castigo. Se eu fosse você, aproveitaria.

     — Uma pena você não ser eu. Só saio daqui se ela vier comigo sem levar nenhum castigo.

     Quando ele disse aquilo, fiquei totalmente sem palavras. Na primeira vez que vim pra diretoria, ele deixou com que a culpa de tudo caísse sobre mim, mas dessa vez ele estava me defendendo. Por que ele está fazendo isso? Será algum tipo de necessidade em me defender? Bom, eu diria, se conseguisse abrir a boca, que não era necessário. Quer dizer, ele não precisava fazer isso apenas porque eu levaria um castigo. Eu já vou levar um castigo por ter corrido pelo colégio sem blusa e sutiã. Não tem necessidade dele querer me fazer companhia ou tentar tirar todos os castigos dos meus ombros. Mesmo assim, penso que ele deve estar, de alguma forma, me recompensando pelo que aconteceu da última vez. Ou pode estar enxergando que no futuro, possamos ser bons amigos desde que um tente livrar a pele do outro. Ainda não sei no que acreditar.

     Passou-se um tempo e só então percebi que mesmo depois da defesa inesperada do Abridor de Malas pra tentar me tirar do castigo, minha mãe mantinha os olhos fixos em mim. Mais especificamente em meu pescoço. Oh, não. Não acredito que esqueci disso.

     — Espere. Fique em pé, menina — disse minha mãe, enquanto se levantava de sua própria cadeira. Meu Deus, sempre que ela levanta é porque vem sermão no meu ouvido. — O que é isso no seu pescoço? — perguntou ela, examinando o que era pra eu ter mantido segredo até meus dezoito anos.

     — Uma tatuagem — falei de forma tão natural que me assustei um pouco. Minha mãe deve ter fervido ainda mais com isso.

     Sabrina não sabia da minha tatuagem. Ela nem tinha noção de quanta coragem eu tinha pra fazê-la. Fiquei impressionada dela não ter percebido até hoje. Fiz quando eu tinha quinze anos e mantinha segredo até hoje. Talvez eu tenha conseguido esconder porque nós duas quase não trocamos olhares. Isso contribuiu para salvar minha pele por um bom tempo.

     Bom, diário, o que decidi tatuar foi uma estrela.

     E é agora que eu me arrependo de ter tirado a blusa e nem ter lembrado de tê-la colocado enquanto minha mãe ainda estava distraída com essa pequena reunião.

     ★Dica 31 = Se você fez uma tatuagem escondida e ela está localizada no seu pescoço, tente esconder o máximo possível ou, imagino eu que “cabeças vão rolar”.★

     — O quê? Desde quando você tem ela? — minha mãe estava desesperadamente irritada comigo.

     — Agora que você percebe? Eu fiz ela tem muito tempo — acho que o fato da minha preocupação não ser demonstrada na minha voz está só deixando as coisas piores.

     — Está vendo? Sua filha é que é o mau exemplo — disse Rebeca entrando na conversa que deveria ser só entre eu e minha mãe.

     — Silêncio! Ninguém te chamou pra essa conversa! — respondeu Sabrina, quase querendo espancar a mãe do Abridor de Malas.

     — Nem precisa. Só de ver que sua filha tem uma tatuagem, não precisa me chamar pra conversa.

     — Agora ninguém mais pode ter tatuagem que é crime? É só uma estrela. Não é o símbolo do capeta. — Alessandra, cale a boca. Está deixando sua situação ainda pior. Quer ficar de castigo em casa além daqui?

     — Você fala como se não fosse nada? — Pronto. Deve ser agora que minha mãe explode mais uma vez.

     — E não é... — A única coisa que vi foi ela se abaixando, depois senti algo duro atingir meu nariz. Ela jogou o sapato na minha cara. Graças a Deus ela estava usando sapatilha.

     Agora estou vendo de onde tirei a ideia da dica 6.

     — Deixa de ser dramática — digo. — Não fiz nada de errado. Fazer uma tatuagem é uma coisa normal entre jovens.

     — Se fosse “normal entre jovens”, meu filho teria uma — se pronunciou Rebeca.

     — Seu filho não é normal, ele veio do inferno. Feliz?

     Mesmo que a piada meio que era pra ofender o Abridor de Malas e sua mãe, ele pareceu achar graça. Percebi que ele balançou a cabeça, como se meu comentário tivesse sido a coisa mais estranha/engraçada do mundo. Não esperava muito por isso. Por outro lado, Rebeca pareceu ferver. Eu diria que se seu olho fosse um fogão, estaria pegando fogo agora.

     — Não fez nada de errado? — minha mãe pareceu querer voltar no assunto anterior. — Menina, eu devia te jogar de um penhasco! — Se Sabrina pudesse, neste momento estaria me enforcando.

     ★Dica 32 = Sempre tenha medo da sua mãe, principalmente quando ela faz ameaças como: menina, “eu devia te jogar de um penhasco!”.★

     — Por favor, senhora. Vamos voltar ao assunto do castigo — novamente a diretora se mostrou um tanto desesperada em acalmar minha mãe. Eu também estaria nervosa se estivesse na pele dela. — Já que o garoto não quer ir embora sem a menina, vamos ter que dar o castigo para os dois. Alguma sugestão?

     A sala ficou em silêncio. É tão bom ouvir o neutro silêncio... A quem quero enganar? Neutro nada, está tão cheio de tensão que até é difícil respirar. Não queria estar participando disso. Preferia ter deixado minha mãe, Rebeca e a diretora resolverem isso sozinhas.

     — Eu tenho uma ideia, já que ninguém quis se manifestar. — A diretora se levantou de sua cadeira. — O que as duas mães acham de colocar os dois para limparem todos os banheiros do colégio por uma semana?

     — Como é? Não aceito de jeito nenhum! Nem me pagando, vou colocar a mão em privadas que eu nem sei quem... utilizou! — Eu queria dar mais detalhes dos meus porquês, mas acho que entrar em detalhes nesse tipo de assunto não me ajudaria em nada. Só deixaria tudo pior. Quer dizer, acho que na minha situação, não tem como as coisas ficarem piores.

     — Silêncio, que eu perguntei para as duas mães e não a você — falou com voz firme a diretora. Pela sua voz, pude perceber que estava mais calma por ter conseguido o controle da reunião novamente.

     — Eu concordo e você? — perguntou Rebeca a minha mãe.

     — Eu também — e por fim, concordou Sabrina... O quê? Até minha própria mãe? Minha... Tá, acho que em momentos como esse podemos dizer que ela é minha família no momento só pra criar um ar mais dramático.

     — Poxa. Até a minha queridinha e amada mãe? Está querendo me matar? — tentei me defender. Tenho direito de protestar, mesmo sabendo que não vai mudar as coisas.

     Você concorda comigo, não é, diário? Quer dizer, olha só minha situação agora. Estou prestes a limpar privadas. Não era o tipo de coisa que eu esperava ter que fazer em meu novo colégio. Imaginei que aqui seria outro nível de castigo, já que é um colégio para riquinhos. Me enganei. Me enganei totalmente. E isso é tudo culpa do Abridor de Malas.

     — Silêncio. Você não tem nenhum direito de falar. Já me decepcionou muito hoje — disse minha mãe e parte dessas palavras me atingiram feio.

     — Mas...

     — Não quero ouvir nenhuma palavra.

     — Palavra — falei baixinho. Mesmo encrencada, parece que não perco a chance de ir mais fundo no buraco que cavei. E é por isso que sempre consigo me destacar. Acho que se cada pessoa do mundo me pagasse dez centavos por cada idiotice minha, eu já estaria milhonária.

     — O que você disse? — vocificou ela.

     — Nada, mamãe. — Meu medo passageiro do seu grito fez com que as palavras saíssem gaguejadas.

     — O castigo começará amanhã. Os dois terão que levantar quatro horas da madrugada e limpar todos os banheiros do colégio, antes de todos os alunos acordarem — informou a diretora. Vaca.

     Diário, não consigo acreditar que aquela coisa da diretora vai me fazer acordar quatro da manhã pra limpar privadas. Eu xingaria ela de A a Z por me fazer sofrer assim. Só não o faço porque não estou afim de ser expulsa ainda. Ainda.

     — Sim, diretora. — Meu Deus, mais uma vez repetindo palavras com o Abridor de Malas. Cadê o emoji com dois corações nos olhos? Estou precisando dele agora. Ainda bem que esse tipo de coisa não fica estampado na cara das pessoas. Pelo menos não na minha.

     — Os dois estão liberados.

     Saí quase correndo da sala. Ele saiu logo atrás, mas parecia normal. Ele agia como se essa reunião estranha nunca tivesse acontecido. Queria ter essa facilidade de esconder minha real expressão e sentimentos.

     — Por que você ficou? — perguntei quebrando o gelo que durou cerca de um minuto.

     — Não sei. — Deu de ombros. — Só quis ficar. — Mais uma vez escondendo sua real expressão. Sinto que há sim um motivo de verdade, porém, ele não quer me revelar. Claro, não é todo mundo que sai dizendo o que pensa e sente pra uma pessoa que só a conhece por três dias.

     Ele começou a andar e eu o segui.

     — Confessa logo. O que você quer em troca? — brinquei, entretanto, eu estava meio que falando sério. Quando uma pessoa te salva dessa maneira, isso quer dizer que você fica devendo algum favor. Não tenho muita dúvida de que aconteça a mesma coisa com ele.

     — Nada. Juro. — Ele pensou um pouco e abriu um sorriso no rosto. — Por enquanto.

     — Quer saber, lá dentro, por um momento, eu achei que você era outra pessoa. — Vesti minha blusa. Pois é, diário, já estava mais do que na hora de eu ter feito isso.

     — Quem você achou que eu era?

     — Sei lá. Não parecia aquele garoto que abriu a minha mala; roubou minha blusa. — Houve uma pausa até eu saber sobre o que falar: — Você tem algum nome?

     — Tenho, só não gosto de ser chamado por ele. Já ouviu alguém me chamando pelo nome até agora?

     — Nunca, mas não tem nenhum apelido? Quer dizer, eu sei que ontem inventei Abridor de Malas, mesmo assim, queria saber se não tem nenhum apelido oficial. Sabe, que todos te chamam.

     — Olha, ter eu tenho. Porém, se é um novo apelido que você quer, me chame de “garoto de olhos lindos”. — Ele riu. E mais uma vez a vontade e a coragem de socá-lo me veio a cabeça.

     ★Dica 33 = Tente evitar ao máximo não dizer as suas características preferidas de alguém no seu diário. Nunca se sabe, quando essa pessoa pode lê-lo.★

     — Vai continuar até quando com isso? — digo. — Não gosto que garotos idiotas fiquem repetindo coisas pessoais que são escritas no meu diário.

     — Vou continuar até você admitir que gosta de mim. E não venha reclamar. Foi você que me deu a oportunidade para ler seu diário.

     — Vou te dar um pingo de esperança. Sabe que dia eu vou admitir que gosto de você? No dia trinta de Fevereiro do ano que vem — falei em tom de ironia.

     — Pode deixar que eu vou fazer você admitir antes disso — disse ele continuando a brincadeira.

     Já na saída do prédio — que era a recepção do colégio que ficava no meio dos prédios femininos e masculinos —, enquanto eu me preparava para ir pro meu quarto, falei meio baixo só pra que ele ouvisse:

     — Veremos...

     E assim eu fui para um lado e ele para o outro.

Dentro do meu quarto, encontrei Betânia lendo um livro, deitada em sua cama. Ela parecia estar bem concentrada, porque pelo que consegui perceber, ela não me viu entrar. A capa do livro era de um verde-limão. Tive preguiça de me abaixar um pouco e ler o título.

     — Deixa eu adivinhar aonde você estava? — perguntou ela, enquanto eu me dirigia para minha cama. É, acho que ela acabou de me notar.

     — Pode tentar.

     Ela fechou o livro e o colocou de lado.

     — Se metendo em confusão. Acertei?

     — Quase isso. A diretora falou qual será meu castigo.

     — E qual será a sentença?

     — Limpar todos os banheiros do colégio antes de todos acordarem, por uma semana. — Me joguei em minha cama ao mesmo tempo que falava.

     — Viu? Quem mandou ficar correndo atrás do namorado da minha amiga. — Ela soltou uma risada de deboche.

     Eu já estava uma pilha de nervos por causa dessa reunião que só me resultou em problemas e agora essa retardada vem rir da minha cara? Tudo bem que ela tem uma doença, mas tudo tem limite.

     — Vai continuar rindo da minha cara? — gritei. Minha paciência chegou ao fim. — Quer saber? Não sou eu que corro atrás dele. É ele que corre atrás de mim. O próprio deu a ideia de dormimos juntos!

     Depois de eu ter jogado todo o meu nervosismo do dia para fora, ela atirou um vaso em mim. Ainda bem que fui rápida o suficiente para conseguir desviar. De onde será que ela tira esses vasos? Estou começando a achar que além de bipolar, ela seja assassina também. Deve ser por isso que não tinha ninguém morando com ela antes.

     ★Dica 34 = Se sua amiga estiver armada com vasos, tome cuidado.★

     — Dá pra parar de querer me matar? — gritei desesperada.

     — Talvez. Você merece!

     — Que tipo de amiga é você?

     — Do tipo que não quer que você tente roubar o namorado da minha amiga!

     — Tá, você já me disse várias vezes sobre isso. Não precisa ficar repetindo.

     — Mas eu vou repetir porque quero. Não tente roubar o namorado da minha amiga!

     Sinceramente, diário. Toda essa bipolaridade dela está me deixando irritada. Qual é, não posso nem chegar perto do Abridor de Malas e essa menina dá um chilique. Como posso querer ter amigos sendo que só conheço gente estranha?

     ★Dica 35 = Não roube o namorado da Carol (dica feita em homenagem a Betânia).★

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo