Capítulo 10 - É a Karen ou sou eu que estou maluca?

Ao ouvir o que a ninfa havia nos dito, Karen não hesitou em seguir na direção que ela tinha apontado. Fiz meu cavalo segui-la. Os galhos impossibilitavam o galope, por isso nos mantivemos apenas o trote. De fato não demorou muito até Karen parar e eu perceber o motivo: chegarmos a Milena.

— Cuidado — ouvi ela pedir, embora tivesse sido meio baixo.

Por um momento penso em questionar, mas ao olhar na direção da Milena, vejo uma cobra perigosamente próxima. Sua testa tinha um corte que sangrava e a mesma estava desacordada, nem se dando conta do perigo bem ao seu lado. A cobra a cercava como sua presa.

Lancei um olhar, perguntando silenciosamente o que poderíamos fazer para ajuda-la. Karen encontrou meu olhar, porém apenas desviou-o de volta à Milena. Então a garota ergueu a mão e pude jurar sentir uma coisa diferente no ar.

Então, misteriosamente a cobra passa a levitar como se algum ser invisível a erguesse. Nisso pensei que era a ninfa pregando mais uma peça na gente, entretanto, ao olhar de volta para minha colega de quarto com o braço estendido, parecendo segurar algo, fui ligando uma coisa na outra.

Não pode ser..., foi a primeira coisa que me passou pela cabeça. Karen fez um movimento brusco para o lado, fazendo a cobra voar na mesma direção. O animal atingiu com força uma árvore e se aquietou ali. Então a garota desceu do cavalo e caminhou na direção da Milena desacordada.

Imitando seus passos, também desço do cavalo. Meus tornozelos reclamam do impacto, causando uma careta em minha expressão, mas logo me recomponho e fico ao lado de Karen.

— O que foi aquilo? — questionei.

— Você não viu nada — disse. — Isso morre aqui, entendeu? E não aja como se também não tivesse poderes porque posso sentir o que emana de você.

As palavras foram cortadas da minha boca. Apenas assenti.

Karen usou as próprias mãos para limpar o sangue na testa de Milena. Água limpa escorreu dos seus dedos, lavando o ferimento. Logo a mesma me pediu ajuda para erguê-la e o fiz, sem me dar o luxo de questioná-la de onde vinham todos esses seus poderes. 'Será que ela é amaldiçoada como eu?', me perguntei. Diferente dela, não tinha parado para testar quais seriam meus poderes, ainda mais por pensar que só possuía a habilidade de ser um monstro.

Ajudei minha colega a colocar Milena no dorso do seu cavalo e a mesma apenas voltou a montar nele com a tremenda facilidade de sempre. Demorei um tempinho para montar o meu, entretanto, Karen fez questão de me esperar antes de seguir o caminho de volta.

— Tchau, meninas perdidas — ouvi a voz da ninfa ecoar pela floresta.

Continuamos nosso caminho apenas a trote até sairmos da floresta. Ela era bem aberta, então se perder chegava a ser algo meio difícil. Assim que saímos, uma Guerreira vem em nossa direção e logo identifico ser a instrutora.

— Onde vocês estavam? Não sabem que é proibido roubar cavalos?

— Não estávamos roubando — informa Karen. — Ela bateu a cabeça.

A instrutora fez pouco caso ao murmurar:

— Deviam tê-la deixado morrer. — Sua voz voltou ao tom normal: — Tiveram sorte de eu não chamar a oficial aqui ou teriam levado uma punição na certa por terem desobedecido as minhas ordens.

Embora a expressão da Karen tenha ficado neutra, a forma como apertava as rédeas do próprio cavalo indicava que não havia calmaria dentro de si.

— Vamos, Cia — disse minha colega. — Acho que a aula já acabou.

Desta forma, sem esperar mais palavras da instrutora, guiamos nossos cavalos até o estábulo onde desmontamos e deixamos o cavalo no lugar — Karen que se encarregou disso enquanto Milena ficava deitada do lado de fora na grama. Quando ela terminou de deixar os cavalos no lugar, juntas erguemos Milena. Um braço se apoiava nela e o outro em mim.

Demorou um tempo até conseguirmos chegar no nosso quarto pois nossa colega desacordada era pesada. Ao chegarmos no quarto, colocamos Milena na sua cama. Respirei fundo e enxuguei o suor do rosto ao mesmo tempo que Karen se abaixava ao lado de Milena, parecendo avalia-la.

— Você acha que ela ficará bem? — questiono, a observando.

— Deve ficar. O corte foi superficial.

Então como se fosse uma curandeira, retirou as botas dos pés da moça desacordada.

— Minhas irmãs mais novas sempre tinham esses tipos de corte.

— Você tem irmãs?

Ela afirma com a cabeça.

— Tenho quatro. É comum na casta três — disse como se já previsse minha surpresa.

Me surpreendi com a quantidade de irmãs que possuía.

— Bom, eu tenho apenas uma. Mais velha.

Ao notar que Milena parecia bem, Karen se sentou em sua cama.

— Por que a ajudou? — perguntei depois de um tempo, afinal, ambas não se davam tão bem assim.

— Milena faz questão de sempre lembrar que somos uma equipe, então... O quanto antes eu me acostumar com isso, melhor.

Cheguei a cogitar perguntar sobre seus poderes e o que poderia saber sobre os meus, mas deixei a ideia de lado. Se ela queria que o assunto morresse no momento em que soube da tal existência, assim seria.

Subi as escadas da minha cama e deitei na mesma. As aulas costumavam demorar mais ou menos umas três ou quatro horas pelo que tinha entendido. Depois tínhamos o restante do dia livre para descansar. Algumas garotas optavam por fazer uma atividade extra, mas como minhas colegas nem sequer citaram essa possibilidade, acabei deixando qualquer ideia desse tipo de lado.

— Karen? — a chamei.

— Sim?

— Você... odeia a oficial?

— Como eu acho que isso não é segredo para ninguém, bem, odeio sim. Na verdade, odeio tudo.

— Por quê? — a pergunta me escapou.

— Porque... céus, é tudo tão estranho. Nós nascemos para sermos o que a princesa quer que sejamos. Nós nascemos para morrermos lutando. Isso não parece estar certo. Eu nunca concordei pelo menos.

— Talvez esteja cometendo um equívoco. Nós morremos lutando por uma causa muito nobre. Precisamos vencer os Cavaleiros para finalmente reestabelecermos a paz.

— Cia, você nunca pensou que sei lá, os Cavaleiros e Guerreiras poderiam viver em harmonia?

Minha saliva me fez tossir num engasgo pelo susto do que disse.

— Isso é completamente impossível! — exclamo.

— Ah, quer saber, deixa isso pra lá — disse em desdém. — São apenas devaneios meus.

Deixei a conversa morrer ali. Retirei minhas botinas enquanto suas palavras rodavam meus pensamentos. Era completamente estranho pensar daquela forma. Como mulheres e homens podem viver em harmonia? Isso nunca existiu e nunca vai existir. Princesa Marilene é muito maior do que aqueles Cavaleiros malditos, pensei.

Ao terminar de tirar as botinas, deitei preguiçosamente na cama, mas um ruído na cama de baixo atraiu minha curiosidade.

— Onde... Onde estou? — ouvi a voz da Milena baixinho.

Olhei para Karen, mas a mesma apenas virou de costas para nós duas. Ou estava fingindo dormir ou de fato parecia muito cansada. Como ela decidiu não responder a garota que havia acabado de acordar, decidi fazer o mesmo.

Ela vai conseguir se encontrar sozinha.

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