Capítulo 4 - Onde será que posso encontrar respostas?

Aqueles símbolos estranhos brilharam em dourado quando toquei na capa. Deixei os outros livros que havia pegado de lado e peguei no livro esquisito. Ele era bem grosso e as páginas estavam levemente amareladas. Porém, quando fui tentar abri-lo, não conseguir mover nada do lugar. As páginas não se mexeram com a força do meus dedos.

Tentei usar mais força e suspirei em desistência ao notar que não adiantaria de nada. Devia ser uma espécie de selo mágico. Droga.

Decidi deixar o livro no lugar, prometendo a mim mesma que ainda viria investigar sobre o livro misterioso. Agora queria saber o que de tão importante havia ali dentro.

Peguei os livros que havia deixado no chão e caminhei na direção da grande mesa da bibliotecária.

Ela escreveu algo num papel e pediu para que eu assinasse. O fiz e logo eu estava saindo da biblioteca com três livros sobre os tempos antigos de Yanche, nosso país.

Fui até meu quarto, ansiosa para começar a lê-los e assim que sentei na cama, abri o primeiro livro. A primeira coisa que olhei foi o sumário, procurando um título que me jogasse logo para a criação e a coroação da princesa. Achando algo referente a isso, abri na página e levei um susto.

Só havia uma frase legível no livro. O resto estava tudo riscado.

"A princesa Marilene foi nomeada...". A partir daí fica difícil de entender. Não sabia que haviam pessoas cruéis o suficiente para fazer isso com um livro que poderia sanar todas as minhas dúvidas.

Deixei ele de lado e decidi olhar outro. Fiz o mesmo procedimento de procurar o sumário e tive mais uma surpresa desagradável ao abrir na página: também estava tudo riscado.

"O príncipe Matthew e a princesa Marilene vieram...". Suspirei em frustração, deixando esse livro também de lado e com um pingo de esperança de que o próximo livro estivesse intacto.

Corri pro sumário, abri na página e logo em seguida tive vontade de chorar. Nada. Tudo riscado. Nenhuma informação que pudesse me ajudar.

"Antes de Yanche, havia...". Essas frases legíveis só serviam para piorar a minha curiosidade. Mamãe dizia que ficar curiosa o tempo todo não era muito bom, mas não podia evitar esse sentimento. Parecia que as coisas contribuíam para me fazer questionar cada vez mais.

Continuei vasculhando os livros, ainda com uma esperança de encontrar algo, entretanto, nada que pudesse me responder alguma coisa apareceu. Óbvio que fiquei frustrada em seguida. Mesmo assim, foquei no pensamento de mais tarde voltar à biblioteca e pegar novos livros.

Precisava descobrir sobre o passado. Eu queria isso.

— Cia, não vai ir almoçar com a gente? — questionou uma das garotas ao entrar no quarto para pegar alguma coisa qualquer.

— Eu... já tô indo.

Me forcei a levantar da cama e a acompanhar para fora do quarto. Nas últimas horas eu meio que andava me afastando delas e isso não era algo muito educado a se fazer, até porque elas estavam sendo gentis comigo. Agora que tinha a oportunidade de fazer amigos, não queria jogar tudo para o ralo.

Nós duas andamos juntas até o salão de refeição. Lá as outras já esperavam por nós para começar a comer. Cumprimentei elas com um sorriso antes de me sentar. Quando a que me acompanhara se sentou, nós quatro começamos a nos servir juntas.

— Cia. — Dirigi meu olhar pra garota que havia me chamado. — Por que quer tanto saber aquelas coisas?

Ela devia estar se referindo às minhas perguntas à governanta.

— Curiosidade — respondi simplesmente.

— Mas por que isso te interessa tanto? Quero dizer, é impossível que tenha existido alguém antes da Marilene.

— E se não for? De onde foi que ela veio? É esse tipo de pergunta que eu tô procurando responder. Se não fosse assim tão importante, ninguém se incomodaria em me responder.

A garota que me questionava deu de ombros.

— Só acho meio... desnecessário correr atrás de uma coisa sem lógica.

— Bem, alguma coisa eu vou descobrir.

Um breve silêncio se instalou antes de ser preenchido pelo som de garfadas e mastigadas vindas da nossa mesa e de todo o salão. Acabei preferindo comer o resto da minha comida em silêncio. Pelo jeito, por causa das minhas perguntas de hoje, fiquei parecendo uma louca para elas.

Adeus oportunidade de fazer amigas.

Assim que acabei de comer, coloquei meu guardanapo acima do prato e fiz um X com os talheres, anunciando que não comeria mais. Murmurei um "licença" e me levantei da mesa. Se elas já me viam como a esquisita, bem, acho que não poderia fazer muito para salvar minha reputação.

Quando dei por mim já estava andando na direção do grande jardim do castelo que no caso enquadrava toda entrada após os muros deste. Era o horário de descanso do almoço, então tinha esse tempinho livre para esvaziar a mente com alguma atividade.

Respirei fundo o ar livre. A sensação de poder estar do lado de fora do castelo sem precisar me preocupar com queimaduras, deixava meu peito aliviado. Ainda me questionava o motivo da mamãe não ter me dado aquele colar antes. Apesar de estar nublado, caminhar por ali era libertador. Sentia necessidade de me sentir livre dessa forma.

Nunca tinha passado tanto tempo fora de casa ou longe da minha família.

Para conseguir ver o máximo do jardim, comecei a correr pelo mesmo. Queria aproveitar o bastante antes que tivesse outra aula sobre um pedacinho da história de Yanche.

Então, ao passar por um ponto mais insolado, por milésimos minha visão se escureceu totalmente. Esse susto me fez cair na grama, levando as mãos aos olhos. Como nunca tinha ficado tanto tempo do lado de fora, pensei imediatamente que fosse efeito colateral do sol. Mesmo meus olhos sendo normais agora.

Entretanto, essa sensação horrível se repetiu e eu passei a esfregar os olhos diversas vezes, querendo que isso parasse. Porém, comecei a entender um pouco as coisas ao ouvir um sussurro.

— Cia...

É um sonho, Cia. Não passa de algo da sua cabeça, tentei me convencer mentalmente. Tinha que acabar de vez com aquela loucura. Nada daquilo pode ser realmente verdade...

— Cia...

Minha visão escureceu por mais tempo. Tirei a mão do rosto e tive a surpresa de descobrir que minha visão continuava escura. Até que mais a frente tinha uma silhueta contornada em branco, parecendo a que eu vira na noite anterior. Neguei com a cabeça, querendo que tudo isso acabasse.

Então a silhueta começou a andar e eu me coloquei de pé. As coisas ganharam contornos brancos e assustada, levei a mão ao pescoço, tendo a surpresa de não encontrar o colar. Entrei em desespero. Olhei ao redor, querendo encontra-lo. Ao ver algo peculiar jogado na grama, me agarrei àquilo e o prendi no meu pescoço. Era meu colar.

De imediato minha visão ficou normal.

Suspirei aliviada, colocando a mão no peito, sentindo o coração acelerado. Realmente havia sido um susto.

— Cia...

— O que você quer? — gritei para o nada. Estava estressada. Aquilo estava mexendo com a minha sanidade.

Ganhei um silêncio como resposta.

Decidi então continuar meu passeio antes que essas coisas estranhas voltasse a acontecer. Quanto mais rápido terminasse, menos chance de ficar louca eu tinha.

Voltei a correr para ver se conseguia ao menos completar meu percurso e paralisei ao ver o jardim particular da noite anterior mais a frente. Novamente por milésimos minha visão voltou a escurecer. Instintivamente levei a mão ao pescoço, aliviada por sentir o colar bem ali.

— Para! — gritei. Aquela maldita silhueta estava me infernizando.

Mesmo assim, acabei indo na direção do jardim. Agora pelo dia, parecia um jardim qualquer, cheio de flores brancas. Apenas brancas. Se estivesse realmente louca, diria que eram pequenas estrelhinhas que haviam caído do céu. Flores, Cia. São flores, fiz questão de enfiar a informação na minha cabeça.

Tive que apressar o passo novamente antes que a silhueta continuasse me perseguindo. Logo eu estava debaixo daquele arco de prata na entrada do jardim. Engoli em seco, lembrando do que tinha acontecido quando tentei passar por ele — eu batendo meu nariz naquela barreira invisível.

Bom, não precisava de muito para acreditar de vez que estava ficando louca, então passei pelo arco e felizmente não tive o mesmo incidente. Ao pisar na grama, observei bem, procurando o pozinho prateado e nada apareceu. As flores continuaram normais e nada se moveu. Nem mesmo o sussurro eu ouvi naquele momento.

Entretanto, meu segundo de sanidade durou pouco.

— Durma, durma bem — o sussurro fez meu coração martelar no peito. — Porque é isso que você faz todos os dias. Fecha os olhos para luz, abre os olhos para noite.

Aquele canto, aquela letra, me eram familiares. O estranho era que apenas a mamãe cantava aquela música para mim — pelo menos era o que ela dizia. Afinal, da onde vinha aquele canto?

— Chegou a hora de dormir meu bem. Não é isso que a rainha diz?

Comecei a prestar atenção nas vozes finas femininas que ouvia. Então, ao me aproximar das flores percebo pequenas criaturinhas da cor das flores como se fossem fadas, cantando a melodia.

— Feche os olhos, tenha bons sonhos. Não se esqueça, quem controla é você.

A letra era idêntica, assim como a melodia. Parecia até minha mãe cantando para mim como numa noite qualquer. Ouvia aquilo desde que me entendia por gente. Era a única coisa que me fazia dormir. Só havia conseguido pegar no sono na noite anterior por causa daquele sonho/visão esquisito.

Toquei na "fada" e ela desapareceu em pó prateado. Será que aquele pozinho no chão da noite anterior era corpo de fada? Bem, espero que não.

Um pigarreio me fez ter um sobressalto. Olhei pra trás e meu coração continuou acelerado no peito. Dessa vez por um grande motivo.

A princesa Marilene estava na entrada do jardim com uma expressão que não podia significar boa coisa.

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