Capítulo 3

                                                                Capítulo 3

                           Um velho amigo, uma velha dor de cabeça, talvez?

            Duas ligações. Foi de tudo o que Pedro precisou, de duas ligações apenas, para “resolver a meleca” no chão de sua loja. Na primeira, ligou para Capivara, pois estava quase sempre disponível quando se encontrava no Instituto. Os outros dois, Igor e Heitor, eram ocupados e nesse horário e, portanto, estavam indisponíveis. Em questão minutos ele já estava ali, bebendo com Pedro e evitando olhar para o cadáver bizarro que se encontrava estirado ao chão. Havia uma “barricada” de sacos plásticos que o lobisomem pusera ali para evitar que os fluidos nojentos saíssem da cabeça e outros orifícios do cadáver e se espalhassem pelo chão todo, seria hilário se não fosse triste.

– Começa do começo – Pediu o jovem orc, tomando um gole da bebida.

– Certo, beleza. Primeiro, eu tinha saído de manhãzinha pra comprar um almoço reforçado. A Judy comeu, gostou de tudo, até que ela ficou bêbada e...

– Oh, oh, oh oh oh oh, tempo! – Capivara pôs as mãos em gesto de “T”, pedindo o tal “tempo” – A Judy? O que ela tá fazendo aqui?

– As irmãs dela expulsaram ela da casa onde moravam todas. Aí, o único da época do Instituto que ela conhecia que podia dividir o teto com ela era eu.

– Porra! E eu?

– Tá com ciúmes, Cap? Você ainda tá no Instituto, também, queria alojar ela no nosso quarto?

– Não, é só que é esquisito. Tá, okay, ela ficou bêbada. E depois?

– Ela partiu pra cima de mim, tive de ninar a garota como ela fez quando do dia dos Fogos da Dor Escarlate, a culpa me matando por dentro e etc. Dá pra entender, não é?

– Dá, dá sim. Dá pra entender que você ainda é virgem – E recebeu um tapa na orelha pontuda – Ai! Qual é?

– A garota tava bêbada, frágil, acabou de ser expulsa de casa, chorou mais do que caminhão pipa vazando água, por ter sido deixada de lado pelas irmãs e por saber os detalhes que levaram a morte da Ana que eu precisei contar pra ela, porque ela viu em sonhos de estilo profético ou coisa que o valha. Você acha mesmo que, numa circunstância dessas, frágil como uma porcelana caríssima, eu faria sexo com uma garota bêbada e com o emocional abalado?

– Sabe, às vezes eu concordo com Aquele que Não pode ser Nomeado – Capivara referia-se ao elfo, Lincoln, que desaparecera no mundo depois da briga na noite dos Fogos – Jogar as verdades na cara usando argumentos racionais e lógicos é meio irritante, especialmente desse jeito tão direto.

– Mas você sabe que tenho razão.

– Tem, tem sim – O orc concordou, coçando o pescoço.

– Além disso – Pedro dizia enquanto se movia através do balcão para pegar um pedaço de pão e carne – Eu jamais tentaria abusar de uma garota, especialmente bêbada. Tu lembra quantos filhos de uma puta queriam me dopar ano passado pra abusar desse meu corpinho lindo?

– Bom, tinha o Alexander, os colegas “pendejos” dele, e tinha a Manuella – Capivara lembrou, um tom de voz irônico – Tinha mais alguém, por acaso?

– Não, não, tinha, mas que bom que você se lembra, meu caro. Então, já sabe que não tolero esse tipo de coisa, e não o faria sob circunstância nenhuma.

– Justo – O orc concordou.

– Justo – O lobisomem confirmou. Ambos trocaram uma risada contida, lembrando os velhos tempos.

– Tá, tá, beleza. Você me chamou aqui pra contar a história, agora termina.

– Certo, depois de deixar a Judy dormindo na minha cama...

– Na sua cama?! – Capivara interrompeu.

– ... Eu desci aqui e cuidei da loja, até alguns minutos atrás – O lobisomem continuou sem ligar para a interrupção – E esse cara entrou. Ficou olhando pra mim por minutos até borbulhar as palavras “violência”, “você”, enquanto eu socava o crânio dele feito uma casca de ovo dura demais pra quebrar. Minha mão esquerda ficou toda fodida por causa da língua desse... Bicho, seja lá o que essa merda possa ser. Nem mesmo Mary Shelley que escreveu “Frankenstein” teria concebido algo assim.

– Bizarro... Realmente, é bem bizarro – O orc refletiu em voz alta, olhando para a anatomia da coisa. Pedro removera as roupas da “abominação”, revelando um corpo esguio, forte, coberto de escamas, espinhos, casca de crustáceo e garras espalhadas aleatoriamente. Havia um par de braços menores grudados ao tórax à parte dos braços normais ligados aos ombros rijos, as pernas eram digitígradas e os pés tinham três dedos na frente, um dedo nas laterais, e um onde deveria ser o calcanhar.

– O máximo que arrisquei mexer nessa porcaria sem fazer uma bagunça repulsiva no chão todo porque eu queria ver contra o quê eu tinha lutado. O chão já tá fedendo e vou precisar fechar por três dias pra desinfetar essa droga.

– O cheiro é forte mesmo... É... É salgado – O orc farejava, curioso – Sentiu o cheiro?

– Não tem como não sentir.

– É cheiro de praia.

– Espera aí, como é?

– É, nunca foi à praia?

– É claro que não, eu detesto areia. O máximo que cheguei de tão perto do mar foi nas docas, receber minhas encomendas.

– E você não sentiu o cheiro de água salgada? Essa coisa tem um cheiro forte de frutos do mar.

– Também nunca comi frutos do mar, como eu ia saber? – Pedro já se irritava. Odiava não saber de algo em situações tão delicadas.

– Tá, beleza. O que você foi capaz de deduzir desse monstrengo com o que você já sabe? Não deve ser muita coisa, não dá pra saber onde começa e onde termina esse bicho.

            Pedro olhou, andou ao redor do bicho um pouco, e ficava resmungando e murmurando sons de “hmm hmm hmm”, o que parecia engraçado, mas a situação estressante tirava qualquer graça daquilo.

– Um metro e noventa de altura, mais ou menos, devido às pernas digitígradas, pesa em média cento e dez quilos devido a massa muscular somada às várias camadas de escamas reptilianas e invertebradas, como carapaças. Uma combinação de exoesqueleto defensivo, com esqueleto interno para controle dos músculos que aparentam ter a mesma densidade de... – Cutucou um pouco a carne exposta daquela coisa com uma faca – Tentáculos de polvo, eu acho, nunca comi esse tipo de coisa, mas parece provável, já que ele tem esse cheiro de água salgada. O que me parece fora de funcionalidade básica, mas explica o andar trôpego de bêbado que ele tinha quando entrou, além de ser lento. Incapaz de se mover rápido, eu suponho que tenha sido transformado nisso, ou coisa similar. A língua é uma combinação de tentáculo, língua de anfíbios ou répteis, os camaleões, com as cerdas de aderência física dos geckos e ventosas de polvo, grudam e arrancam tudo o que tocam, tipo a pele de um corpo ou papel de parede. As mãos têm as mesmas ventosas estranhas, mas são mais fracas. As mãos, também, não tem força nenhuma devido à falta de prática e uso dos músculos semi-gelatinosos, cartilaginosos. Os dezesseis olhos devem enxergar muito bem, mas parecem ver em outro tipo de espectro de luz, talvez sejam sensíveis a exposição direta. Isso é tudo o que consigo deduzir no momento.

            Capivara o olhava com uma expressão vazia no rosto. Quando foi que o amigo tornara-se um detetive e médico legista? Resolveu desafiar um pouco e ver até onde ia aquela habilidade recém-descoberta.

– Tá, beleza, pode ser só o que você é capaz de deduzir. Mas consegue dizer que tipo de escamas e casca de invertebrado são essas?

– Sei, as escamas são uma combinação de escamas de crocodilo, resistentes como couro, e escamas de lagarto monitor sem orelha. As cascas são placas semelhantes à carapaça de caranguejos Cancer pagurus, caranguejola, a coloração e a densidade da carapaça são idênticas.

– Caralho, você não sabe que cheiro tem a praia, não sabe que cheiro tem frutos do mar, mas sabe fazer um dossiê completo de uma aberração lagarto siri?

– Primeiro, é caranguejo. Siri é outra coisa. Segundo, eu leio muito, mas livros não têm cheiro. Eu fico sentado aqui nessa cadeira, atrás desse balcão, devorando livro atrás de livro, seria burrice minha não aprender uma coisa ou duas.

– Sei... E o que a gente faz com o corpo agora?

– Primeiro, eu vou buscar uma mesa de passar roupas que tenho guardada no meu depósito, e a gente põe ele em cima da mesa. Aí a gente limpa o chão.

– Ei, calma lá. Por que você tem uma mesa de passar roupa guardada pra qualquer outra coisa que não seja passar roupa?

– Nunca precisou de algo numa hora inoportuna e você não tinha o objeto em questão?

– Às vezes essa sua lógica caótica não faz sentido nenhum... – Capivara suspirou ruidosamente, exasperado, enquanto o amigo subia para buscar a mesa, e voltava carregando a grande peça de mobília como se fosse uma prancha.

            O lobisomem não ouviu o som de cascos descendo a escada, enquanto ele e o amigo punham o grande corpo na mesa de passar roupas de estampa florida.

– Pedro...? – Judy esfregava um olho com sonolência, e por sorte estava vestida com sua camiseta e, pelo que o lobisomem viu brevemente, usava uma calcinha de algodão. “Ainda bem”, pensou ele com um alívio enquanto olhava de soslaio para Capivara.

– Judy, eu tô resolvendo um problema enorme aqui...

– Por que tem um crustáceo esquisito na mesa de passar roupa?

                                                           ****

            Vários minutos depois, o segundo número para quem Pedro ligara era do agora Inspetor de Polícia e Chefe das Forças Especiais, dono de seu próprio escritório idente na cidade, John Loyd Watson, lobisomem da tribo Coruja de Prata. Loyd respondera ao chamado como Pedro havia pedido: sozinho, se possível, apenas seus dois ajudantes, se estritamente necessário. E o estranho trio veio: Loyd, com os irmãos Michael e Alejandro a tira colo. E os três lobisomens policiais vestiam trajes quase semelhantes, como uniformes: Loyd vestia seu típico terno preto feito breu, uma camisa de botões verde escura, e uma grava cinzenta que refletia a luz. Quanto ao lobisomens Michael e Alejandro, estes vestiam uniformes de policiais customizados para eles, em cores azuis escuras, vermelhas e amarelas, parecendo-se com qualquer coisa, menos policiais. Seus cabelos louros e encaracolados se destacavam em baixo dos quepes.

            Loyd ficou por vários minutos em silêncio, observando a cena bizarra: a fonte de suas dores de cabeça, Pedro da tribo Filhos de Fenrir, Uthersson, com uma expressão de tédio enquanto removia um grande pedaço de carne fibrosa dos dentes. Seu amigo, o “outro” Pedro, apelidado de Capivara, esperando pacientemente enquanto observava uma faca enfiada numa bainha de couro ricamente decorada. E próxima a Pedro, uma fauna se agarra ao seu braço direito e com expressão sonolenta no rosto delicado, vestindo o que parecia ser uma de suas camisetas, pois era larga demais para ela. Pelo que se lembrava de ter estudado as vidas dos alunos no ano passado, chamava-se Judith Sýnkýtous, era uma das colegas da falecida Ana Maria Redcoat. O que aquela fazia ali, seminua, não era da sua conta. Mas, é claro, não podia perder a oportunidade de fazer uma provocação ao rapaz.

– Lamento a pergunta, nem tanto quanto iria lamentar se eu levasse um tiro por descuido de minha parte, mas o que a garota faz aqui? Estou eu interrompendo alguma coisa? – Ajeitou os óculos com o dedo anelar, esperando uma reação.

– Nada com que você, ou seu diário florido rosinha com arco-íris na capa devam se preocupar, e de qualquer forma as suas tias fofoqueiras também tem mais assunto nas novelas do que na minha vida.

– Acho que ele te pegou, chefe – Alejandro comentou, divertido.

– Quantas vezes eu já não lhe falei para não me chamar de chefe? – Loyd estava prestes a perder a compostura, e isso marcava um ponto para Pedro no estranho embate de sarcasmo.

– Será que odemos, por favor, ser adultos aqui por um segundo e não ficar discutindo feito duas crianças? – Judy reclamou, sonolenta.

– Olha, as nuances sobre ser adulto ou ser criança são discutíveis – A objeção de Capivara fez todos os outros homens na loja concordarem.

– Veja bem, senhorita ovelha – Michael começou, antes de ser interrompido.

– Meu nome é Judy – Ela parecia realmente irritada.

– Certo, desculpe. Veja bem, Judy: quando dois cavalheiros iniciam um combate de insultos, nada pode pará-los, as regras são claras: apenas um pode vencer, sem interferências.

– Tal como nas lutas de gladiadores antigamente – Alejandro completou acendando a cabeça – Dois homens entram, um homem sai.

– Valeu pela explicação, vocês dois – Pedro respondeu, pronto para outra rodada de insultos – Me avisem quando o outro homem vier me desafiar, estarei aqui esperando.

            Capivara riu daquilo de um jeito triunfante, fazendo gestos esquisitos de rapper para os “oponentes”.

– Pois bem, diga-me então quando você sair das fraldas, lobinho. Será um prazer te enfrentar no prancácio para maiores quando tiver idade necessária – Alejandro e Michael aplaudiram a resposta de seu chefe, enquanto Loyd sorria presunçoso.

– Para maiores? Parece um festival de amor de salsichas, e se você freqüenta esse tipo de festa, tenho que recusar. Já tenho uma bela garota ao meu lado pra saciar o tempo vago – E abraçou os ombros da amiga, ao que Judy corou até as orelhas e olhou irritada para Pedro, enquanto Capivara marcava outro ponto.

– Touché, garoto – Loyd ergueu as mãos, num gesto de cansaço – Vamos direto ao trabalho. Esta coisa... – Apontou para a abominação morta deitada na mesa de passar roupa – O que, exatamente, é isso?

            E o jovem lobisomem contou tudo o que havia para contar (excluindo a parte de Judy, o que deixou a garota mais tranqüila), e fez à narrativa acerca das deduções tiradas a respeito da coisa morta. Alejandro fazia anotações enquanto Michael gravava tudo num celular, para registros mais detalhados. E Loyd ouvia a tudo com atenção, enquanto vestia suas luvas de borracha preta (sempre pretas), e fuçava na coisa. A anatomia do “monstro” era complexa; e Loyd queria ver, ali mesmo, como era por dentro, mas antes que pudesse tirar um bisturi do bolso, foi impedido por Pedro.

– Eu levei mais de vinte minutos pra tirar a gosma do chão, e o Capivara aqui ficou com as mãos fedendo a dez anos de ovo estragado com feijão embolorado. Se abrir um único corte nessa coisa que vá sujar o chão, sujo sua cara de sangue.

– Palavras corajosas, as suas – Loyd retrucou, guardando o bisturi novamente –, para se dizer a alguém que guarda uma faca mais afiada que diamantes no bolso.

– Ei, não é problema meu se você precisa guardar uma faca pra se proteger, Johnny Afiado – Pedro retrucou, erguendo as mãos e fazendo uma expressão sarcástica no rosto.

– Já te disseram que você é muito atrevido?

– Eu ouço isso enquanto tomo o café da manhã todos os dias.

            Loyd teve de sorrir àquilo. O rapaz demonstrava uma mudança significativa, estava mais frio, não hesitava, mas não era mais tão desconfiado. Porém, parecia diferente de um jeito mais profundo, e era estranho. Apesar disso, a personalidade dele que chamara a atenção do velho lobisomem ano passado ainda estava ali: desafiador, atrevido, sempre pronto para enfrentar uma situação com a resposta pronta.

– Certo, então. Michael, Alejandro, por gentileza, ponham este espécime no carro.

– Mas vai precisar de um saco de cadáver, chefe – Alejandro respondeu.

            Loyd respirou fundo, fechou os olhou, alisou a têmpora direita e pescou uma bala de um de seus bolsos. Quando pôs a bala na boca, reclamou do sabor.

– Pêssego, e eu queria melancia.

– Tem mais alguma? – Judy perguntou, tímida.

            Todos se viraram para ela, surpresos, e ela teve se encolher e esconder o rosto de vergonha.

– Alejandro – Loyd respondeu, ignorando aquela pergunta –, nós temos sacos de cadáveres dentro do carro, é implícito que devam ir buscar o saco, voltar aqui, colocar a coisa no saco, e carregá-la para dentro do carro quando já estiver no saco.

– Ah, beleza. Pode deixar, chefe – Os dois fizeram uma continência exagerada e saíram, para completar a tarefa.

            Pedro e Loyd conversavam sobre detalhes menores, enquanto os dois lobisomens de sangue raro faziam seu trabalho. E quando Loyd estava pronto para sair, jogou para Pedro um enorme saco de balas, tirado de um de seus bolsos. O jovem lobisomem o agarrou num reflexo, olhando surpreso para o presente até que Judy pegara o pacote e subira correndo pelos degraus.

            Pedro e Capivara foram deixados sozinhos, na loja, arrumando as tralhas que restaram daquela bagunça.

– Tá a fim de jogar alguma coisa lá no meu apê? Ainda tá chovendo pra cacete lá fora e eu não tenho sono já tem um uns dois dias. Seria tenso tu sair nesse temporal.

– Deixa pra outro dia. Se ficar acordado mais um pouco, você vai desmaiar. Melhor dormir enquanto pode – Capivara já ia saindo, pegando sua capa de chuva.

– O que quer dizer com isso?

– Ué, não percebeu? Criatura bizarra te ataca, Watson metido no caso, a coisa queria matar você. Isso me cheira a problemas.

– Eu não sinto cheiro de problemas, sinto cheiro de camarão estragado com feijão podre.

            Os dois riram, se despediram, e Capivara voltou para o Instituto, para seu dormitório, enquanto Pedro voltou para cima. Jogou-se no sofá, pegando no sono lentamente enquanto Judy dormia, a cortina de sua “privacidade” aberta, abraçada ao saco de balas.

            Numa mansão, decorada em mármore negro e dourado, um homem ricamente vestido comia uma refeição muito bem feita. Sua máscara negra, um modelo mecânico que permitia abrir-se abaixo do nariz para lhe permitir comer, revelava um bigodinho louro e uma barba loura curta, que combinava com o cabelo louro escuro caído de lado em seu rosto. Havia alguém de companhia ao jantar, uma moça de cabelos negros cacheados. Usava uma máscara mecânica semelhante. Mas, enquanto a dele eram negras e douradas, as dela eram violeta e vermelho. E fazia par com seu vestido, em preto, azul escuro e vermelho. Ambos comiam calmamente, sem falar nada, e eram silenciosamente observados por vários empregados.

            Então, tranquilamente, o homem de máscara negra falou, num tom de voz tranqüilo.

– Você sente a essência de vida das suas crias, Equidna? Acha que ele morderá a isca?

– Você sabe que sim, Tifão – Equidna respondeu – A criança morreu, é fato. Não sinto a consciência dele mais, então só pode ter sido eliminado. Os outros quatro, entretanto, estão muito longe, o sinal deles é fraco e já não sei onde estão.

– Isso é mal. Eles se extraviaram, e os cinco poderiam ter dado cabo dele, mas um apenas teria sido forte o bastante pra ele. E você disse que teria sido uma ninhada formidável – Tifão reclamou, seu tom de voz tranqüilo e frio sendo assustador.

– Como se isso fosse algum problema para estágios iniciais, as crias ainda estão evoluindo e eu também, pouco a pouco. Você mesmo pediu: uma criança que fosse o bastante para investigar, atiçar, testar o alcance de minha mente. Eu lhe dei cinco, depois de muitos testes, e uma delas cumpriu com o nosso objetivo – Equidna retrucou, tomando uma taça de vinho.

– Talvez você tenha razão – Tifão concordou, estalando os dedos e pedindo que os pratos fossem retirados. Em seguida, bandejas com seringas foram trazidas para ambos – Agora, sabe o que vem para nós dois.

– Sim, você não me deixa esquecer.

– A fase dois do plano.

            Ambos pegaram as largas seringas, injetaram seus conteúdos no sangue pelo pescoço. Ficaram por dez minutos agonizando de dor e gritando no chão, até que o efeito colateral imediato passasse. Levantaram-se, olharam um para o outro, já removendo suas roupas, e dirigiram-se para a sala de estar.

            Aquela seria uma longa noite de “trabalho”.

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