Capítulo 5

Acordo com a luz do sol ultrapassando a cortina do meu quarto, olho a hora e quase dei um pulo quando vi que já são onze da manhã. Me espreguiço lembrando da noite anterior e sorrio com os detalhes. Não lembro a última vez que me diverti tanto, já devo ter repetido esses pensamentos um milhão de vezes, mas estou tão feliz.

Sabe quando você percebe que pode estar encontrando seu espaço? As pessoas certas, talvez as que façam parte do resto da sua vida, acho que é isso que eu estou sentindo.

Ajeito minha cama, visto uma roupa e vou até a cozinha.

— A Elle acordou! — Emily pula em meus braços.

— Bom dia, princesa — lhe dou um beijo. — Bom dia, Eric — ele está fazendo algo no notebook enquanto nossa irmã brinca de Barbie.

— Bom dia, bela adormecida — responde sem tirar atenção da tela do computador. — O almoço tá chegando, viu?

— Certo — me jogo no sofá ainda me livrando do sono e da preguiça. Talvez tenha aparecido um sorriso bobo na minha cara quando penso nas coisas da noite passada.

Sento no chão e fico brincando com minha irmã até chegar o almoço, normalmente nós fazemos a comida, mas de vez em quando gostamos de pedir algo diferente.

Não demora muito até a entrega chegar. Vou pra cozinha que é ao lado da sala, dividida apenas por um balcão, e começo a ajeitar as coisas, coloco três pratos, talheres e copos na bancada que normalmente comemos. Temos uma mesa, mas somos só nós três, então preferimos comer aqui mesmo.

Chamo os dois que vêm até a bancada e comemos. A comida estava deliciosa. Enquanto isso conversamos sobre qualquer coisa irrelevante, até minha irmã desistir da salada dela e subis as escadas pra brincar de outra coisa.

— Como foi? — Ele pergunta enquanto eu lavo a louça.

— Foi ótimo — digo.

— Só isso?

— Ah, foi muito legal — me viro pra ele pra falar. — Estava todo mundo lá, a música bem animada, todo mundo se divertindo.

— Entendi.

Volto minha atenção pra louça, mas noto seu olhar ainda em mim, ignoro e continuo. Enquanto eu lavo um copo, me lembro do barman e não consigo evitar um sorriso. Que droga de barman pra grudar na cabeça.

— Que foi? Que sorriso pra o copo sujo é esse? — Eric pergunta me fazendo ter um susto.

— Nada que seja do seu interesse — digo e ele cerra os olhos desviando pra outro lugar.

— Pois é, as irmãs mais nova crescem, que droga — fala e começo a rir.

— Para de ser besta — termino, enxugo minhas mãos e vou pro meu quarto deixando ele sozinho.

Passei o resto do domingo fazendo alguns trabalhos pendentes da faculdade, enquanto a Emily desenha. O Eric resolveu sair pra algum lugar (provavelmente com a Sara), então tive bastante tempo pra fazer tudo e ainda fiquei inspirada pra desenhar alguns modelos.

Falando no Eric, espero que ele esteja feliz, que esse também seja o momento dele, torço muito pela sua felicidade. Infelizmente, sei que como eu, ele acabou se privando de muitas coisas.

Nossos domingos são sempre bem tranquilos, as vezes saio com a minha irmã pra algum lugar, mas hoje estou meio indisposta mesmo.

— Elle, olha o que eu desenhei pra você — a Emily vem em minha direção muito animada.

— Que lindo, amor, quem são essas pessoas? — Pergunto, pois percebo que são três mulheres e dois homens no desenho.

— Essa aqui pequeninha sou eu, essa aqui com vestido de princesa é você, esse aqui é o Eric e esses dois é o papai e a mamãe — ela diz com um enorme sorriso e como sempre, eu fico totalmente sem palavra.

Queria conseguir fugir desse assunto, queria que fosse mais simples pra Emily entender como as coisas são e como elas se tornaram desse jeito. Infelizmente nunca consigo ser clara o suficiente, ou ela apenas é muito criança pra saber coisas de adulto.

— Sente aqui, princesa, eu tenho que te explicar uma coisa — ajudo a ela a subir na minha mesinha, fica bem atenta enquanto falo. — Seu desenho ficou lindo, vou guardar junto com todos os outros que você faz — ela assente com um sorriso. — Mas chegou a hora de você saber de algumas coisas.

— Que coisas, Elle?

— A mamãe não está mais com a gente, ela mora com o papai do céu — Emily me olha com indiferença. — Olha pra o céu — aponto pra janela. — Ela está lá, observando o Eric, você e eu — tento conter as lágrimas, nossa mãe nunca deixou de ser um assunto extremamente difícil pra mim.

— Por que ela não vem visitar a gente? Ela não gosta mais de mim? — Pergunta olhando pro céu.

— Claro que ela gosta de você, meu bem! Só que agora mora com papai do céu. As coisas são assim mesmo — uma lágrima escorre pelo meu rosto e a Emily percebe.

— Por que você tá chorando, Elle? — Ela enxuga minha lágrima.

— Porque eu sinto a falta dela. Você também sente? — Ela balança a cabeça que sim.

— E o papai? Ele também tá no céu?

— Não, minha pequena, ele foi embora — ela me observa. — Ele foi embora pra outro lugar.

— Embora pra onde? Por que ele não volta pra ficar com a gente, Elle? — Enxuga outra lágrima perdida em meu rosto e questiona séria.

— Nós não sabemos, ele quis ir embora, mas não sabemos pra onde, nem porque — é duro falar assim, mas precisamos dizer a verdade.

— Ele não gosta mais de mim? — sua voz sai embargada e me apresso pra responde-la.

— Claro que gosta, Emily — na verdade isso eu não sei, mas como eu iria falar pra uma criança de seis anos que seu pai abandou ela e os irmãos?

— Ele vai voltar?

— Eu não sei.

— Eu sinto muita falta dele — ela diz e meu coração dói, pois sempre percebi que a Emily sente mais falta do nosso pai do que da nossa mãe. E me dói muito saber que ela não entende que ele nos abandonou e nossa mãe morreu.

Sinceramente não sei o porquê disso, ela nunca foi tão apegada a ele, na verdade o Derek nunca nem cuidou dela direito, sempre foi a mamãe e depois da tragédia o Eric e eu.

— Eu também sinto — enxugo meu rosto e mudo o tom da voz, chega disso por hoje. — Mas pelo menos temos a nós, Emily! Sempre vamos estar juntos, certo? Nunca vamos te deixar sozinha, não se preocupe.

Abraço ela forte que retribui do mesmo jeito, eu a amo tanto, é como se a única coisa que importa na minha vida é sua felicidade e bem-estar. Espero nunca decepciona-la e sempre poder fazer por ela o que nossa mãe faria, mesmo não sendo a mesma coisa.

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