Aquilo que eu sempre quis
Aquilo que eu sempre quis
Por: Maria Clara Lopes Ferreira
Prólogo

POV Elena

Os raios de sol entrando pela minha janela me fazem acordar com falta de paciência, quem deixou a porcaria da cortina aberta? Levanto estressada e vou até meu banheiro, escovo os dentes e faço minhas necessidades. Agradeço mentalmente por ser domingo, são quase meio dia e meu cansaço da noite passada ainda não acabou. Sorrio lembrando da festa de quinze anos da minha amiga Sophia. Mal posso esperar pela minha.

Vou descendo as escadas calmamente até meu irmão me beliscar e sair correndo.

— Eu vou te matar, Eric! — Corro atrás dele, mas o chato é bem mais rápido que eu.

— Você nem me alcança, Elena, parece um pinscher — cruzo os braços com raiva do que ele está falando e ele começa a rir.

— Gente, parem de correr, por favor — nosso pai pede e obedecemos, sentamos na bancada da cozinha onde nossa mãe está dando comida pra nossa irmãzinha Emily, ela completou dois anos.

Parece um dia normal como qualquer domingo em família, eu só não esperava que minha vida mudaria totalmente a partir daí.

— Mãe, deixa eu ir com você — peço olhando pra ela pela janela do carro.

— Filha, só preciso comprar algumas coisas no supermercado, vai ser rápido, ajuda seu pai com a Emily, ele não tem o menor jeito com ela — minha mãe passa o polegar na minha bochecha e sorrio. — Eu te amo, Elena, sabe que eu não seria nada sem você!

— Também te amo, mamãe — digo dando um beijo na sua mão. Escutamos o choro da Emily vindo de dentro de casa. — Tá, eu vou ver o que estar acontecendo, tchau mãe! — Aceno e ela acelera o carro.

Coloquei a Emily pra dormir e fiquei na sala mexendo no meu celular ainda de pijama, eu estava bem até o Eric aparecer de novo pra me perturbar.

— Eric, sai daqui, não estou com paciência pra você hoje — falo vendo ele se preparando pra me dar um susto com uma maldita aranha de brinquedo, esse cara nem parece que já tem dezenove anos, por isso que dizem que meninas evoluem muito mais rápido.

— Chata você, em... — ele reclama se jogando do outro lado do sofá.

O telefone fixo toca e ficamos discutindo quem iria atender, até que meu pai chega, atende mandando a gente ficar em silêncio.

— Sim, é o Derek Marin — ele fala e ficamos atentos. — Como assim? Como isso aconteceu? Quem teve culpa disso? — Ele começa a alterar a voz, fico assustada e meu irmão se aproxima de mim. — Onde? — Praticamente grita.

Ele solta o telefone, vira pra gente e percebe como estamos.

— Pai, o que aconteceu? — O Eric toma a iniciativa de perguntar.

— Vistam uma roupa, peguem a irmã de vocês e vamos para o hospital, a mãe de vocês sofreu um acidente muito grave, o carro caiu em um barranco por causa da pista escorregadia da chuva — eu já estou entrando em desespero, meu irmão segura minha mão e me abraça forte. — Parece que o carro pegou fogo.

Eu comecei a chorar desesperadamente, meu pai subiu as escadas e foi pegar as coisas necessárias para irmos para o hospital, isso não pode estar acontecendo.

— Eu estou com medo, muito medo — meu irmão me abraça ainda mais forte.

— Calma, nossa mãe é forte, ela vai passar por isso. Vem, temos que se arrumar — ele segura minha mão até chegar no meu quarto.

Em pouco tempo já estamos no carro, ainda bem que a Emily não acordou, seria ainda pior ela vendo isso tudo. Meu pai está abalado, meu irmão não olha pra gente e eu só fico vendo minha irmãzinha dormir tranquilamente.

Chegamos ao hospital e já têm médicos do lado de fora nos esperando, fico com a Emily dentro do carro com a porta aberta vendo meu pai e o Eric irem falar com os médicos.

— NÃO! — Escuto meu pai gritar e começar a andar de um lado pro ouro, meu irmão se escora na parede, baixa a cabeça e começa a chorar. — Vocês deveriam ter feito mais por ela, como deixaram minha mulher morrer?

Morrer. Ele falou morrer. Minha respiração começa a ficar irregular, fica mais ainda quando vejo os médicos tentando acalmar meu pai, mas ele se recusa receber ajuda. Minha mãe, minha mãezinha, ela não pode ter morrido.

— Não, não, não... — fico repetindo pra mim mesma, tento levantar do carro, mas minhas pernas estão trêmulas e não obedecem meus comandos. — Por favor, alguém diz que isso é um engano — falo e sai mais baixo do que eu queria. Levanto e só consigo dar dois passos, caio de joelho no chão quando vejo a cara do meu irmão me olhando, ele corre até mim, se abaixa ao meu lado e me abraça — Não, Eric... Não!

— Calma — ele diz me abraçando e desabo, eu começo a chorar compulsivamente, isso não deveria ter acontecido, não pode ser.

— Eric, por favor, não... — estou soluçando e ele também, me abraça mais forte e coloco minha cabeça apoiada em seu peito.

Aos poucos percebo que nosso pai está se distanciando, ele vai saindo da parte externa do hospital, e ficamos sem entender nada.

Uma médica veio até nós dois e começou a tentar nos acalmar, mas por que meu pai saiu? Precisamos dele!

E foi essa a última vez que o vi, saindo desesperado do hospital após saber da morte da nossa mãe e foi horrível. A partir dali ela seria outra, eu conheceria uma vida que jamais achei que fosse ter, todas as minhas prioridades mudaram, meus interesses, tudo que eu pensava.

Agora só existe nós três

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