Capítulo 4 Castelo

Encarei aqueles olhos cinza enquanto ele observava pela janela o cenário do mundo inferior.

Era tão quente aqui, se eu não fosse uma divindade estaria suando muito.

Essa era nossa diferença dos frágeis mortais, sentíamos tudo mas não nos afetavam como a eles.

Envelheciamos na idade e no intelecto, mas o corpo permanecia igual, eternamente jovem.

Olhei para o horizonte, aqui era um reino obscuro demais, eu não via lua nem sol, acima era tudo névoa negra sobre nós, e no solo almas enfileiradas diante de seres horríveis, mais a frente vi um lugar iluminado..

Campos verdes, um rio que brilhava corria pelo lugar, árvores enormes se erguiam e vi grandes heróis sorrindo nesses campos.

Os campos de Elíseo para onde iam as almas dos heróis, e de almas boas.

Nunca achei que veria isso.

Suspirei diante de tanta beleza, existia beleza até mesmo aqui.

—  Nem tudo aqui é trevas. —  Sussurrou Hades me observando.

— Não consigo entender porque estou aqui. — murmurei.

—  Pra ficar segura. — respondeu ele simplesmente.

—  Já disse a você que sou uma deusa, sou muito capaz de me proteger, não preciso de sua proteção.

—  Não de Ares.— retrucou.

— Minha mãe falará com Zeus, e eu serei uma deusa casta como Athena, Ártemis..

—  Sabe o que essas deusas tem em comum?- ele me perguntou me interrompendo.

Não respondi.

— Athena é uma deusa da sabedoria em batalhas, Ártemis além de ser gêmea de Apolo é deusa da caça, uma caçadora com seu arco e suas habilidades..mesmo que você consiga a proteção de Zeus o que eu acredito que você consiga, espere até Zeus se apaixonar novamente e sua atenção será toda para ela e planos de desviar a atenção de Hera, Ares vai esperar esse momento e não só ele, muitos outros faram o mesmo. — respondeu.

— Minha mãe vai me proteger. —  retruquei.

— Onde estava Deméter quando eu tirei Ares de cima de você? — provocou Hades.

Como ele ousava dizer aquelas coisas?

O encarei com ódio.

— O que você tem a ver com meus problemas? — indaguei irritada.

— Tenho minhas próprias razões que não interessam a você. — exclamou e se virou para a janela.

Bufei diante disso.

—  Não se preocupe ele nunca virá atrás de você aqui no mundo inferior, eu sou muito mais forte aqui e ele sabe disso. — exclamou sem me olhar.

—  Sua força de nada me interessa, não pedi sua ajuda. — retruquei e me virei para a janela.

Fiquei surpresa com o que vi, no alto de um morro complemente cercado de um rio de lava havia um enorme castelo.

Mesmo sendo sombrio, sendo assustador era muito impressionante.

Aos poucos a carruagem voou sobre o rio de lava se aproximando do castelo.

Desceu rapidamente em direção a entrada do castelo, ouvi os cascos dos cavalos monstruosos baterem no chão de pedra.

A carruagem chacoalhou ao receber o impacto dos cavalos correndo e tive de me segurar no assento para não chacoalhar junto a ela, olhei para Hades com sua estatura enorme, seus músculos mesmo sobre as vestes negras, com a capa por cima de seus ombros era possível ver seu tamanho, devo dizer que ele nem se mexeu diante da mudança da carruagem.

Parecia sentado relaxado, devia estar acostumado, e com todo o tamanho e força que tinha eu duvidava muito que algo pudesse sacudi- lo facilmente caso ele não quisesse, deuses maiores e mais antigos e suas vantagens.

A carruagem seguiu por mais alguns segundos até parar.

—  Venha. —  Hades saiu da carruagem e estendeu sua mão para mim.

Ignorei sua mão descendo da carruagem.

Estávamos em um pátio e a nossa frente uma enorme porta, esta porta era coberta de pedras preciosas que brilhavam.

Mas três delas se destacavam, eram pedras negras gigantes espalhadas pela porta, e as maiores dentre todas.

Entendi é claro, Hades não era só o deus dos mortos, era dono de todas as riquezas do solo também, ao contrário do Olimpo seu reino era subterrâneo.

Hades tocou a porta com suas mãos e imediatamente uma luz percorreu as três pedras negras que se destacavam, a porta se abriu.

Uma enorme sala de estar se revelou por trás da porta.

Entramos, e meus olhos marejaram quando vi parado em frente a lareira, com suas sandálias aladas, seu cetro com as cobras de ouro entrelaçadas..seus olhos azuis tão familiares se encontraram com os meus.

—  Hermes! — exclamei e corri para abraça-lo.

— Perséfone! — exclamou me abraçando fortemente.

Me senti segura em seus braços pela primeira vez.

— Onde está minha mãe? — perguntei ansiosa.

— Hermes é o único deus que tem poder para entrar em meus domínios, pelo fato de ser um deus viajante e de recolher as almas também, ele as guia para os portões do mundo inferior. —  respondeu Hades.

— Sua mãe está pressionando Zeus para exigir que Hades devolva você, Ares e Dioniso contaram que viram Hades arrastar você para longe e abrir um buraco no chão que levou você até o mundo inferior. Disseram que ele gritou que você seria a rainha das trevas dele. — revelou Hermes.

Hades riu alto.

Nunca o tinha visto rir então o encarei surpresa.

Ele estava sendo caluniado e estava rindo.

—  Isso são mentiras! — afirmei.

— Hades não raptou você? —  questionou Hermes seus olhos curiosos indo de mim para Hades.

Hades me observou parecendo esperar para ver o que eu diria.

— Não desta forma. — respondi.

— Hermes eu salvei a pureza de sua amiga. — pronunciou sem cerimônia.

Hades caminhou até uma mesa antes vazia e quando sua mão a tocou nela surgiram diversas iguarias, como peixes, carnes, vinho, taças de Hidromel, bolos, pães e queijo.

— Sente-se para comer Hermes e vamos conversar. — convidou Hades e vi que o convite não se estendia a mim, uma terrível falta de educação.

Ainda bem que eu não precisava de comida para viver.

Hermes me beijou na fronte me deixando tocada e sussurrou para mim.

— Nunca jamais coma nada neste lugar, vou conversar com Hades para libertar você. —  eu assenti com a cabeça em concordância, meu coração se enchendo de esperanças.

Observei ele se juntar na mesa a Hades e atrás de mim surgiu uma mulher de estatura mediana, morena com cabelos negros presos na nuca.

Seus olhos eram cor de mel, ela sorria de modo doce.

— Olá meu nome é Alexandra venha minha senhora, deixe-me mostrar seus aposentos. — sugeriu de modo doce.

—  Estes aposentos ficam longe daquele ser das trevas? — perguntei.

Ela olhou para Hades e depois para mim.

— Bem longe. — respondeu com um sorriso.

Dei uma última olhada em Hermes e segui Alexandra para fora da sala.


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