Capítulo Cinco

Chegamos no morro e eu pedi pro KJ me levar na lanchonete para comermos, porque eu estava morrendo de fome. Mais uma hora sem colocar nada na minha boca e com certeza, eu cairia dura no chão.

Quando chegamos no local, encontramos a Joyce com algumas amigas dela sentadas em uma mesa e eu bufei de raiva. 

Que azar da porra!

— Ignora, Minotaura. Essas mandadas escrotas só querem causar pra ter a atenção que tu tem dos teus amigos sem precisar fazer esses showzinhos todos que elas fazem para aparecer. Sem postura demais, na moral. - KJ sussurra próximo ao meu ouvido e eu confirmo com um aceno de cabeça.

Fomos até o balcão e pedimos quatro hambúrgueres, uma coca cola de dois litros e duas porções grandes de batatas fritas, porque se não for para comer até o bucho ficar cheio, eu nem saio de casa. 

Escolhemos uma mesa bem longe da qual a Joyce estava, para evitar brigas, mas não adiantou muito. Ela começou a jogar indiretas e fazer piadinhas com garotas que eram traídas pelos seus maridos em um tom de voz bem alto para que todos ouvissem.

Eu tentei não ligar, mas foi impossível e comecei a chorar baixinho. 

— Não faz isso pô. Não dá esse gostinho pra essa rata, Isa. - KJ fala e me abraça apertado e eu aconchego o meu rosto no seu peito.

— Eu odeio o Victor, KJ. Eu o odeio. Espero que ele morra lá dentro. - falo, ainda chorando, mas tentando disfarçar que estava abalada pelas provocações da Joyce. 

Graças a Deus estava de costas para ela, porque não queria dar esse gostinho de vitória para essa imunda mal amada.

Como eu odeio essa menina! Mas, no fundo, sei que a culpa principal é do Victor. Ele deveria me respeitar, afinal a Joyce pode ser vadia, mas tenho certeza que não obrigou ele a nada.

— Amanhã eu vou visitar o sub dono desse morro e vou rebolar gostoso naquele pauzão. - ouço sua voz debochada e a minha vontade é de ir dar um tapa na cara dessa garota, mas me controlo ao máximo.

Logo em seguida, ouço um barulho estrondoso de cadeira caindo no chão e ao olhar para trás para ver o que era, encontro a Letícia em cima da Joyce distribuindo vários socos no rosto da minha inimiga. 

Que fique registrado que eu amo a minha irmã.

Letícia não parava de bater na Joyce nem por um segundo.

— Isso é para você aprender a não mexer com a minha irmã, sua puta de esquina. - minha irmã gritava sem se importar com a platéia que se formava ao nosso redor. Batia a cabeça dela no chão e eu estava amando aquilo demais.

— Amor, já deu. Tu vai acabar se sujando com sangue aí. - Cobra fala tentando não rir, porque, teoricamente, ele não poderia deixar a mulher bater em outra moradora do morro, mas não é como se a Letícia obedecesse alguém.

— Ei, Marmita. Segura a onda. - KJ puxa a Letícia de cima dela, acabando com a minha alegria. — Tem que ter postura como primeira dama. Tu não pode sair batendo nas pessoas assim no meio da favela.

— E fora, que tu pode até pegar uma doença dessa puta rodada. - Lívia, uma das meninas que estava sentada com a Joyce, fala, surpreendendo a todos. 

— Achei que fôssemos amigas. - Joyce fala, chateada.

— Nós éramos até você se tornar essa pessoa ridícula sem personalidade própria que fica copiando a Isabella e tentando ter a vida da garota, sendo que não é nada e nunca vai ser. Nem a tua família te suporta mais, quem dirá, eu. - Lívia termina de falar e vai embora. 

Se até as amigas odeiam a Joyce, quem sou eu para gostar dela, não é mesmo? 

O KJ e o Cobra nos puxam pelos braços para fora do estabelecimento e eu só consigo pensar nos nossos lanches. 

— KJ, vai pegar os nossos pedidos, por favor. Eu estou varada de fome. - peço fazendo um bico fofo com os lábios.

— E compra pra mim também. Preciso repor as energias depois dessa briga. - Letícia fala arrumando o cabelo em um coque e aproveita a deixa para fazer do KJ seu empregado por alguns minutos.

— E das nossas fodas. - Cobra fala, deixando minha irmã com o rosto corado. 

— Saudades sexo selvagem. - confesso.

— Não tem porque não quer, né? O Victor te chamou, tu que negou em ir. - KJ fala e eu o olho sem acreditar. — Vou lá pegar nosso rango. 

Assinto e fico pensativa por alguns minutos. 

Se eu tenho vontade de ir ver o Victor? Sim. Se eu vou ir vê-lo? Não sei. 

Tenho medo dele me manipular e fazer com que eu acredite nas suas mentiras, mas a saudade dele está a cada dia maior. 

— Você não precisa ir ver o Victor se não quiser. - Letícia fala e o Cobra olha para ela reprovando sua opinião. — Eu não vou deixar minha irmã fazer algo que ela não quer, meu amor. Se você está pensando no seu irmão, eu também estou pensando na minha irmã. 

— Eu sei, coração. Mas isso é bagulho dos dois, ninguém tem que se meter. Nem eu, nem tu. Deixa o casal vinte conversar e se entenderem sozinhos. A gente já tem nossa vida cuidar. - Cobra fala olhando para minha irmã com tanta ternura que nem parece o cara que todos temem nesse morro. 

— Ai gente, que fofo. Você não tem outro irmão? Tipo com menos defeitos que o Victor? Porque se tiver, eu quero deixar claro que tenho interesse. - brinco. 

— Você fala como se o Cobra sempre tivesse sido assim... Só eu sei o que passei para chegar até aqui. - Letícia joga as verdades na cara do namorado e ele faz uma careta.

— Como se a madame fosse mole de aturar na sua época de adolescente revoltada, né não? Mimada pra caralho tu era. - Cobra segura o rosto da minha irmã com duas mãos, a fazendo sorrir e logo em seguida, os dois estão se beijando na minha frente.

Que falta de empatia com quem está solteira e carente. Desnaturados.

Depois de alguns minutos que pareceram horas comigo de vela para o casal, KJ volta com os nossos lanches prontos e nos despedimos, já que a minha irmã ia dormir com o namorado e eu iria para a casa, infelizmente sozinha.

Entrei no carro com o KJ e fui me alimentando no caminho, enquanto ouvíamos música e brincávamos um com o outro.

Quando chegasse em casa, eu só iria tomar um banho rápido e dormir. Esse dia foi estressante demais e preciso que acabe logo. 

Amanhã eu decido se quero ir ou não ver o Victor na prisão. 

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