A Lenda do Gênio
A Lenda do Gênio
Por: Otávio Gebin
Episódio 01 – Bem-vindo à Piracema

O mundo é vasto para achar que tudo já foi explorado. Mesmo com similaridades, há sempre algo que muda de lugar para outro. Uma pessoa, uma paisagem, um objeto. Mas o que realmente faz a diferença é o quanto a sua alma está disposta a se manifestar.

No colégio Dom Pedro I da cidade de Piracema, um rapaz pardo e magro passa com seu skate pelos colegas na saída. Em uma de suas mãos, um papel branco balança com o vento, seu primeiro boletim de provas. Os cabelos negros também ficam bagunçados com o vento.  E os olhos castanhos escuros se espremiam com o sol do meio dia, ofuscando sua visão.

Sentiu o celular vibrar, o pegou e viu que seu pai mandou uma mensagem, dizendo que o buscaria na escola, mas o menino avisou que o encontraria no museu. Ao pisar no asfalto com seu tênis negro de camurça, ele guardou seu boletim no bolso de trás da calça jeans, e ajeitou o uniforme branco por cima.

Ao passar pelas ruas de Piracema, o garoto observava como a cidade é pacata. O centro era mais cheio, com prédios altos e postes de energia para todo lado. Ele passava pela avenida do rio, às margens do Rio Piracema, e via casas mais simples, envoltas de árvores e uma área rural mais extensa.

O skatista subiu a avenida, até chegar em uma rua íngreme, e finalmente alcançar o Museu de História e Arqueologia, lugar onde seu pai trabalha e onde passara muitas tardes de sua infância. O prédio era uma antiga construção da época colonial, restaurada para sediar o museu e ficava em meio de um parque.

O caminho até a entrada era feito de terra e pedras e fazia uma volta em uma fonte de água. Ele desceu do seu skate, colocou-o embaixo de um dos braços e andou até a entrada.

O rapaz observou a fonte por alguns segundos, antes de entrar no museu. Subiu os pequenos degraus que o levam até a grande porta de madeira e respirou fundo antes de abri-la:

– Pai! Cheguei! – Gritou ele, passando pela recepção do museu. – Vamos almoçar? Eu tô morto de fome!

– Ah! Oi Erick! – Respondeu o pai, Ricardo Hassan, um dos diretores do museu. – Chegou rápido, hein?

Homem alto, moreno e cabeludo. Usava óculos, tinha uma barba grossa, um nariz mais esticado, vestia uma camiseta polo e calças e sapatos sociais. Mas o mais notável em Ricardo, naquele momento era...

– UMA ESPADA! – Gritou Erick ao olhar seu pai segurando uma espada antiga. – Que maneiro! – Disse o garoto animado, aproximando de seu pai.

– Não é?! Chegou hoje!  – Concordou Ricardo –  é uma réplica que eu consegui negociar com as novas peças da exposição do Oriente Médio! – Explicou mostrando os detalhes do sabre.

– É uma cimitarra... – Erick admirava a lâmina de perto. Conseguiu ver até seu reflexo no metal curvado. – De que período acha que é?

– Hm! Boa pergunta. –  Ricardo mostrou a espada de cabo até a ponta com o dedo indicador. – Está vendo como o cabo é revestido com couro, mas é feita de ouro? Isso mostra que é mais recente. Não há como saber precisamente, mas eu diria... uns 15 séculos – Ele olhou para o filho, com um olhar desafiador. – Acho que pode ter sido de Sinbad, ou de Ali Baba!

– Haha! Certo. – Erick revirou os olhos, mas ainda com um sorriso. – Seria muito legal. Mas nem se sabe se eles eram reais ou só... lendas.

– Haha! Tem razão filho. Talvez eles fossem reais, e ao ver dos comuns, alguns eram mais extraordinários do que outros. – Retrucou Ricardo.  – Mas fico feliz que se interesse por história filho.

– Ah... – Erick se lembrou de algo meio constrangedor. Ficou cabisbaixo. – Acho que vai ter que ser história, né pai? – Erick pegou uma folha de papel amassada em seu bolso de trás e entregou ao pai.

– Oh... – Ricardo examinou as notas de Erick. Logo ficou sério. – Vamos ver. Português: 8,0. Matemática: 5,0. Física: 4,0. Química: 6,0. Biologia: 6,5. Inglês: 7,8. História: 10,0. Geografia: 9,0. Sociologia: 8,0. Ed. Física: 10,0.

– Foram só duas notas baixas... – Erick já começou a se explicar, mas Ricardo apenas entregou o papel de volta para o filho, bagunçando seu cabelo.

– Tudo bem filho. São só as primeiras provas. E eu não sou nenhum expert em matemática. Então você tem que esperar bronca da sua mãe. – Ricardo disse com tom sereno, mas ainda com um sorriso, para animar o filho.

– Ah... – Erick arregalou os olhos e nenhum som quis sair da sua boca. Deu uma pigarrada para poder responder o pai. – É... provavelmente a mamãe vai ficar brava.

– Isso eu não sei. Sei que estou com fome. E só tenho uma hora de almoço. Vamos para o restaurante, depois eu vou te deixar em casa.

– Ok. Valeu pai. – Erick sorriu, vendo o pai se virar, apoiando a réplica da espada nas costas

– Não precisa agradecer. Quero que você arrume a casa antes da sua mãe chegar. Certo? – Ricardo abraçou o filho com o braço direito, enquanto andavam para dentro do museu. – Vou guardar o sabre, espera por aqui.

– Pode deixar. – Erick ficou no hall central do museu. Seu pai levou a espada curvada pelo corredor esquerdo.

Erick adorava o Museu de História e de Arqueologia. Ministrado por seu pai e seu padrinho, Alexandre Rodrigues, o Museu foi um lugar onde ele passou muitas tardes.

Eles se conheceram na faculdade e conseguiram trabalhar em vários países como arqueólogos. O museu tinha piso de madeira lisa, envernizada, com pilares e janelas no mesmo estilo. Tinha um estilo rústico com a mistura de rubro nas paredes com a madeira.

O museu era separado por alas. Havia a ala do folclore brasileiro, com artefatos e cenários que replicavam as culturas indígenas, com documentos especificando as diferentes tribos. Arcos, cocares, cestas de palha, zarabatanas, e outros objetos expostos nas paredes.

Nas áreas internacionais, eles separaram por continente. Havia uma ala dedicada a América do Norte, mostrando a história dos incas, astecas, maias e até navajos. Com estátuas e réplicas de cenas típicas dos povos antigos. A área dedicada ao continente africano era cheia, e havia muita similaridade com os povos latinos. Máscaras de madeira, escudos com couro de gnu e tambores explicavam um pouco dos diferentes artefatos.

Na área europeia, separados por região, havia exposições romanas, gregas, celtas e nórdicas. Praticamente tudo réplica, com autorização de outros museus que disponibilizaram as peças e documentos. Assim como a área asiática, que era curta, mas muito interessantes com vasos de porcelana e pinturas com aquelas letras japonesas.

O novo orgulho de Ricardo e Alexandre era a área do Oriente Médio. Eles colaboraram em uma expedição e descobriram artefatos persas, árabes e até alguns egípcios. Peças douradas e artefatos de cerâmica antiga lotaram a nova ala do museu, que iria estrear na sexta–feira.

Ricardo voltou para o salão principal do museu, buscando seu filho e o levando até seu carro. Os dois foram almoçar em um restaurante próximo, onde costumavam almoçar quando não tinham tempo para voltar para casa e preparar a comida. Foram em um tradicional restaurante por quilo, e comeram o típico arroz com feijão. Ricardo ainda fez um prato com saladas, mas Erick aproveitou a oportunidade, pegando um bife acebolado e algumas batatas fritas.

Depois do almoço, Ricardo deixou Erick em casa e voltou para o museu. Erick abriu o portão e trancou logo em seguida com as correntes e o cadeado. As grades marrons com ponteiras no topo eram icônicas pelo bairro Jardim do Ipê. 

A casa da família de Erick era simples, mas não pequena. Tinha uma garagem coberta, um pequeno jardim na frente. Os portões eram de grades verticais, com pontas afiadas no topo.

Ao entrar pela porta da sala, dava de cara com a sala de estar à esquerda e a de jantar à direita. Entre as duas, o corredor que levava a cozinha, banheiro, quarto de Erick, o escritório e o quarto de seus pais.

Erick foi direto para seu quarto. Jogou a mochila no chão, e enfiou o skate embaixo de sua escrivaninha. A cama ficava na parede oposta, de frente ao armário. Ele tirou seu uniforme e suas calças jeans, colocando uma camiseta e uma bermuda, deitou–se na cama e encarou seu teto branco. As paredes azuis-claros davam um tom tranquilo ao quarto dele, mas as estantes de livros e videogames quebravam isso:

Vai ter que ser né, pai? – Pensou consigo mesmo o rapaz, lembrando-se da desculpa que tinha dado ao pai quando mostrou o boletim. – Que idiota! – Ele se revirou na cama, encarando a parede azul.

Por favor! Alguém! Alguém me ajude! Socorro! – Uma voz ecoou pela mente de Erick, gritando em seus ouvidos.

– AH! Quem disse isso? – Erick levantou assustado com a voz misteriosa. – Ei! Responde!

O garoto ficou alerta. Olhou em volta da casa e checou todos os cômodos, mas não havia ninguém além dele. Ele ia voltar para o quarto, quando viu a lista de afazeres, que sua mãe deixou em cima da mesa da sala.

– Ah! É mesmo... Merda.  – Bufou Erick pegando a lista e começou a citar as tarefas para si mesmo. – Lavar e secar as louças. Lavar e pendurar as roupas. Tirar os lixos. Passar aspirador na casa.

Erick colocou seu fone com seu celular para ouvir música enquanto fazia os deveres. Mesmo com os fones de ouvido, Erick voltou a ouvir a voz misteriosa. Ficou paranoico por alguns segundos. Checou a casa novamente e nada.

Se distraiu com a quantidade de sabão ao pôr na máquina de lavar e formou uma tempestade de bolhas. Sorte que sua mãe não estava ali para a ver a bagunça.

Quando ele terminou os afazeres, ele pegou o celular e se deitou no sofá. Ele mandou uma mensagem para os amigos no grupo que compartilhavam:

[Erick Martins]: Pessoal! Eu tô ouvindo uma voz pedindo ajuda aqui em casa, mas não tem ninguém além de mim. Será que é algum vizinho?

[Lucas Mattos]: Eita! Sua casa é assombrada Erick! Corre mano! Hahaha!

[Gabriel Macedo]: Nossa! Que estranho Erick! Será que alguém chamou a polícia?

[Matheus Carvalho]: Não, geralmente assaltante pede para você ficar quieto quando te roubam. Acho mais provável o Erick estar ouvindo coisas. Haha!

[Lucas Mattos]: Há quanto tempo você ouviu essa voz?

[Erick Martins]: Já faz um tempo. Ouvi quando cheguei em casa e há uns 15 minutos. – Respondeu Erick.

[Lucas Mattos]: Saquei. Cara faz o que você achar melhor. A gente não tá aí pra saber se é grave ou não. –

[Erick Martins]: Pode ser...

Erick ficou pensativo em procurar pela voz. Ele já tinha vasculhado a casa duas vezes. Foi até o portão olhar a rua, e parecia tranquila como toda segunda-feira à tarde. Ele pegou o celular de volta e tentou mudar de assunto:

[Erick Martins]: Vocês mostram seus boletins para seus pais?

[Matheus Carvalho]: Aham! Minha mãe disse que fui muito bem, apesar de ter tirado 6,0 em Matemática. Passei raspando.

[Lucas Mattos]: Minha mãe disse que ia esperar meu pai ver. Sabe como eles são. O treino foi o ponto alto do dia. Comecei a treinar jiu-jitsu, mas é muito diferente do muay thai.

[Erick Martins]: Que maneiro!

Erick entendeu o que ele disse. Os pais de Lucas eram... rígidos. Ele ficou contente pelos amigos, mas se viu cabisbaixo logo depois.

O rapaz decidiu deixar o celular de lado. Leu um pouco de um livro de mitologia greco-romana, que contava sobre as aventuras de heróis do passado de forma mais fácil do que os textos originais, jogou alguns jogos e quando seus pais chegaram do trabalho, ele fazia tarefas do colégio.

Sua mãe chegou ao quarto dele junto com seu pai, e ele sabia que estava em apuros. A mãe de Erick era médica, trabalhava de plantão em um hospital. Os cabelos castanhos claros já começavam a apresentar alguns fios cinzentos, e quase sempre presos em um coque. Ela tinha pele clara comparada a do marido e do filho. Também era a mais baixa da casa, mas isso não queria dizer nada:

– Oi filho! Chegamos! – Disse Luana, abrindo a porta. Ao olhar que Erick estava estudando, sorriu levemente, mas olhou desconfiada.

– Oi mãe! Oi pai! – Erick acenou para os pais sem tirar o olhar da apostila. Luana olhou para Ricardo e ele deu os ombros. Ela foi até o filho e fechou o livro. – Ei! Eu tava no meio do parágrafo... – Erick murchou os ombros, percebendo que não tinha como fugir daquela bronca.

– Então, seu pai me contou uma coisa hoje, que me deixou um pouco chateada. – Ela tentou aliviar, mas Erick revirou os olhos. Pegou seu boletim, entregou a ela, e se levantou da cadeira.

– Pronto! Tá aqui. Podem planejar o castigo enquanto eu tomo banho. – Erick saiu do quarto e foi em direção ao banheiro. Seu pai o parou.

– E o que faz pensar que você terá um castigo? – Disse Ricardo, com a mão no ombro de Erick.

– Ah...? – Erick fitou o pai e logo depois a mãe, que analisava o boletim. Seus pais não estavam bravos como de costume. – Como assim?

– Sabemos que está chateado pelas notas, filho. – Luana começou a explicar. –E não estamos contentes que tirou nota baixa em Matemática e Física. Mas percebemos que você se esforça, então só queremos dizer...

– Não desanime. Vai conseguir. Eu sei que você tem potencial para coisas maiores. – Terminou Ricardo. Luana sorriu concordando com o marido.

– Ah... Ok... valeu... vou pro banho então... depois termino a tarefa... – Erick andava de costas, sem tirar os olhos dos pais. Ele esperava uma bronca, não uma recepção amigável.

Ao fechar a porta, o casal se encarou, sem sorrisos. Ricardo esperou ouvir o barulho do chuveiro, e assim, os dois começaram:

– Você tem certeza? – Perguntou Luana, preocupada. – Isso não é perigoso?

– Sim..., mas eu nunca vi algo como ele. Ele tem um poder mágico incrível desde pequeno. E agora só tem crescido! – Disse Ricardo, parecendo mais animado do que Luana.

– Ele só tem 14 anos. Ele ainda tem muito tempo para decidir o que quer fazer. Quer mesmo contar para ele sobre a magia? – Luana estava mais séria.

– Eu sei, e sei que você não está completamente de acordo... vamos esperar mais um pouco então. – Ricardo aceitou os sentimentos da esposa, que abriu um sorriso, aliviada. O marido ainda ganhou um abraço e um beijo da esposa.

– Ok... eu vou preparar o jantar. Pode tomar banho primeiro. – Disse Luana, saindo do quarto do filho.

– Certo. – Ricardo olhou para a esposa, mas voltou seus olhos para a porta do banheiro, onde seu filho tomava banho, preocupado. – Acalme-se Erick. Seu momento vai chegar.

Na janta, os pais de Erick conversavam sobre seus dias no trabalho. A mãe sobre seus pacientes e sobre colegas no hospital, e o pai sobre as peças novas do museu. Erick comia em silêncio. Até que o pai dele, fez uma coisa que não fazia há um bom tempo:

– Que cara é essa? – Ricardo fez cócegas em Erick, abrindo um sorriso discreto no garoto. – Ainda está chateado com as notas?

– Ah! Não pai! É que não aconteceu mais nada hoje mesmo... – Erick ficou pensando em tudo na verdade. Nas suas notas, na voz misteriosa, nas palavras dos pais. Ele remexia a comida com o garfo.

– Tudo bem filho. Nem sempre as coisas vão do nosso jeito, mas é assim que aprendemos. – Disse Ricardo levantando da mesa, e inda até a pia da cozinha. – Se acharmos que tudo é só do nosso jeito, fechamos nossa mente para novas possibilidades.

– Ouviu? – Luana reforçou o conselho de seu marido para Erick. O rapaz acenou concordando. – Quero que melhore suas notas. E não só as baixas. Você tem cabeça para tirar 10 em tudo, tá me ouvindo? Matemática, física, química e biologia não são monstros. – Ela tentou brincar com ele, para que ele sorrisse novamente.

– Prefiro enfrentar um monstro a ficar fazendo bháskara. – Sussurrou o filho, mas a mãe o ouviu.

– Oh! Menino! – Ela também o cutucou, fazendo cócegas.  – Anda, vai lavar o prato, se já acabou!

– Sim senhora! – Ele fez uma continência para a mãe e foi marchando para a cozinha com sua louça para lavar. Luana sorriu com a brincadeira do filho.

No dia seguinte, a rotina começou novamente. Todos acordando às 6h, se arrumando e tomando café. Eles subiram no carro, Erick desceria primeiro na escola, levava dez minutos para ele chegar lá de carro, e aula começava às 6h45. Ricardo ainda deixaria a Dra. Luana no hospital antes ir para o museu. Erick ficava esperando cerca de 15 minutos na escola para começar as aulas. Aproveitava esse tempo para ler seus livros, jogar em seu celular, ou até fazer tarefas:

Espero que nada de estranho aconteça hoje. – Pensou Erick. Ele estava errado.

Quando ele chegou à sala e sentou em sua carteira, ele só teve uns 5 minutos de paz. A porta foi aberta em um empurrão e bateu contra a parede. Um garoto alto, loiro e forte apareceu na silhueta da entrada rindo com o que acabara de fazer. Carregando sua mochila com um braço, jogou-a na carteira de madeira e metal, e sentou folgado na cadeira:

– Eita! Você tá aí?! Por que não falou nada? – Exclamou João, realmente surpreso por ver Erick.

– Sei lá. Só tô lendo aqui e você entrou fazendo maior barulho. – Disse Erick, segurando seu livro.

– Nerd... – João logo pegou seu celular e voltou a ignorar Erick, que rolou os olhos e também voltou a ler seu livro.

Depois de um tempo, mais pessoas começaram a chegar. Lucas foi um deles, sentou na carteira atrás de Erick e cumprimentou-o com o toque de punhos que eles sempre faziam. Mesmo sentado, Lucas ainda era mais alto que Erick, especialmente com seus cabelos castanhos espetados.

Matheus veio logo depois, cumprimentou os amigos e sentou mais para trás, com um sorriso largo. Gabriel sentou na fileira ao lado de Erick. Ele ajeitou os cabelos castanhos claros para o lado, e sempre trazia um violão junto com a mochila, e as meninas suspiraram ao vê-lo passar.

Os quatro garotos pararam de conversar quando as meninas começaram a chegar. Isabella tinha volumosos cabelos loiros, mas as raízes eram morenas, olhos verde água, que balançavam quando ela andava. Camila, com seus cachos castanhos e piercing no septo, cumprimentou os outros de longe, já colocando a mão de volta no moletom cinza.

E Sarah. Moça com longos cabelos morenos lisos e olhos verdes claros, sentou na fileira do lado deles, cumprimentando a todos com seu sorriso tímido, e Erick logo guardou seu livro.

A aula ia começar, e a professora Mônica quis fazer primeiro à chamada. Na sala de Erick havia 25 pessoas, todos adolescentes de 14 para 15 anos.

Aline Marques, Augusto Ulisses, Beatriz Souza, Camila Viera, Caroline Fragosa, Erick Hassan, Felipe Porto, Gabriel Macedo, Heloísa Ribeiro, Isabella Garcia, Jaqueline Siqueira, João Xavier, Kevin Limeira, Larissa Ferreira, Lucas Mattos, Leonardo Yoshida, Marcela Freitas, Matheus Carvalho, Nathan Almeida, Pedro Cicero, Rafaela Braga, Sabrina Amin, Sarah Duarte, Thaís Cruz, Thiago Barbosa.

Cada um de um jeito diferente, em grupos semelhantes.

A professora Mônica tinha um cabelo moreno escuro, que ela mexia enquanto fazia a chamada. Ela ensinava português e a aula de hoje era de literatura. A docente interagia com a turma toda durante a leitura de um texto. Ela pediu para que Sarah lesse o primeiro parágrafo e depois iria perguntar para outra pessoa explicar.

Enquanto Sarah ditava o parágrafo de um livro de Guimarães Rosa, João e seu amigo Nathan decidiram fazer pequenas bolas de papel e jogar nas outras pessoas. Até que a professora percebeu e chamou a atenção deles.

– João! Pode me explicar o que a Sarah acabou de ler? – A professora perguntou, reprimindo as atitudes de João, que logo virou o rosto, fingindo ser inocente.

– Ah! Sei lá professora, não ouvi direito. – Disse João com um sorriso brilhante.

– Ela leu o parágrafo onde o autor apresenta o cenário em que se passa a história, tanto de lugar quanto de época. – Erick respondeu, interrompendo João, e dando um sorriso satisfatório. 

– E quem te perguntou alguma coisa? – Disse João, intimando Erick.

– O Erick está correto, João. Talvez se você prestasse atenção, ao invés de brincar com papel, teria respondido tão bem quanto ele.

– É porque, mesmo no primeiro ano do Ensino Médio, o João se comporta como uma criança. – Erick provocou João, que não gostou nem um pouco. A turma deu risada da provocação, a professora fez um gesto para que eles parassem de falar.

A aula continuou como previsto. Terminaram de ler o texto e fizeram exercícios. Erick notou que João olhava feio para ele a cada segundo. Ignorando de princípio, Erick até gostou de ter zombado de João, que desrespeitou Sarah. Ela e as amigas mandaram sinais de positivo para Erick, agradecendo. Isso fez Erick ainda mais contente, e João ainda mais irritado.

Na hora do intervalo, os rapazes da sala decidiram jogar bola na quadra de futsal. A escola tinha dois uniformes, branco com o logo verde, e verde com o logo branco. Separaram os times assim:

Erick, Lucas, Thiago, Gabriel e Matheus de verde, e Felipe, João, Kevin, Nathan e Pedro de branco. João era o melhor da turma, pois jogava futebol para ser profissional, e continuava a encarar Erick.

As meninas sentaram na arquibancada de concreto para comer sua merenda e assistir ao jogo. Sarah também estava de uniforme verde, enquanto Camila e Isabela, usavam branco.

Ao começar o jogo, o time branco mostrava vontade. Disputando bolas, chutes fortes para o gol e até alguns dribles. O time de João saiu na frente, com um belo passe de Pedro para Nathan.  A equipe de Erick, logo empatou com um chute de Lucas.

Quando o tempo estava acabando, João pegou a bola no meio de campo, Erick e Lucas foram marca-lo, João driblou os dois com um giro, e fez um belo gol para acabar o jogo:

– Chupa essa! – Disse João. –  Seu otário! Quem é a criança aqui, agora?! –  João provocava, apontando o dedo do meio para Erick.

Erick se entreolhou entre os amigos e ficou quieto. Não tinha como retrucar aquilo. Eles perderam. O sinal tocou, uma buzina estridente, e eles começaram a sair da quadra. João franziu a testa e rangia os dentes. Ele colocou a bola nos pés de novo e mirou a bola contra os oponentes:

– Não me ignorem... – Murmurou ele antes de chutar.

E ao ver que acertou em cheio na cabeça de Erick, ele e seu time caíram na gargalhada. Mas a diversão durou muito pouco.

Lucas lançou um soco forte no estômago de João, deixando-o de joelhos no piso da quadra. Os colegas de João avançaram contra Lucas. Ele deu um passo para trás, desviando do golpe de Pedro, e chutou-o para longe. Nathan, o maior garoto da sala, quase acertou um chute em Lucas, que o pegou pela perna e o derrubou no chão, com uma rasteira no pé de apoio. O último que tentou foi Felipe, que tentou socar Lucas, mas Lucas deu um passo à frente e repetiu o golpe que ele deu em João.

 – Se você não tivesse falado nada, eu até elogiava o seu gol..., mas você é um bosta mesmo, não é, João?! – Lucas rugiu ao falar com João, que ainda recuperava o fôlego.

– Lucas... – João se levantou com a mão na barriga e olhos enfurecidos. – Qual é a sua? Só porque levou um drible já vai querer se mostrar de fortão? Vai se ... – João se interrompeu. Os nervos estavam à flor da pele dos dois.

Erick, Matheus e Gabriel, tiveram que segurar Lucas para que ele não avançasse em João, que também foi segurado por Nathan. Todos os meninos só pararam de querer brigar quando viram o Diretor Carlos Almirez na saída da quadra.

O Diretor Almirez, como era chamado, era alto, careca e tinha uma barba feita há poucos dias. Seus fortes olhos castanhos deixavam os rapazes intimidados, mas a bengala na mão esquerda quebrava essa noção. Ele apontou para Lucas e João para uma conversa na diretoria. Os outros voltaram para a sala em silêncio.

Na saída da escola, Erick alcançou Lucas antes de ele ir embora sem explicar o que havia acontecido entre ele, João e o Diretor:

– Lucas! O que aconteceu? Você levou advertência ou suspensão? –  Perguntava Erick, preocupado com o amigo. Lucas não havia falado muito após voltar da diretoria, então Erick sabia que eles só conseguiriam falar privadamente. – Sabe que se levar qualquer um dos dois você pode não ir ao torneio!

– Relaxa Erick, tá de boa. – Lucas respondeu, nem olhando para Erick. – Eu e o João só vamos levar advertência verbal mesmo. O Diretor já ligou para os meus pais e eu já sei que vou ouvir deles. – Disse ele, friamente.

Erick se sentiu culpado, afinal, João xingou e acertou a ele, e foi Lucas quem o defendeu. Lucas foi andando para o portão deixando Erick para trás.

– Ele tá legal? – Perguntou Sarah, que chegou logo atrás de Erick. – Ele parece... – A moça segurava sua bolsa prateada em um ombro, mas com as duas mãos. Erick teria se assustado com ela, mas ele deu um suspiro e explicou.

– Ele ainda está irritado com o João. E provavelmente comigo. – Assumiu Erick.

– Com você? – Sarah ficou confusa com a presunção de Erick. – Por que ele ficou bravo com você? – A voz dela era suave, e os olhos claros deixavam Erick mais relaxado.

– É só um palpite. – Ele não queria revelar muito mais sobre a infância que ele compartilhou com Lucas para Sarah. –  Lucas aprendeu a nunca atacar quando um oponente está de costas, no treinamento dele. E ele odeia quando alguém faz isso.

– Nossa... eu sabia que o Lucas era esquentado, mas não sabia que era pra tanto. – Revelou Sarah. Ela ajeitou o cabelo moreno para trás do ombro. – Eu queria te agradecer por me defender hoje na sala.

– Me agradecer? Eu não fiz nada. – Erick estranhou, mas abriu um sorriso.

– Você fez mais do que eu... – Sarah fechou o sorriso. Erick se xingou internamente, achando que falou besteira. – Eu queria te perguntar, vocês vão estar no Museu na sexta? Eu vou com a minha mãe para a inauguração da exposição e não queria ser a única no meio das conversas da minha mãe.

– Eu sei muito bem como é isso. Haha! – Erick não mentia. – Sim, o meu pai e o do Lucas trabalham lá.

– Legal. – Sarah olhou para o portão da saída, por cima do ombro de Erick. – Eu tenho que ir. Até amanhã! – Disse ela, dando um aceno básico com a mão e indo embora.

À noite, Erick mandou mensagem para Lucas. Eles conversaram sobre o que foi dito na sala do diretor, e Erick entendeu na hora porque Lucas não falou o resto do dia:

[Erick]: Uau... Suspensão?

[Lucas]:  É... Qualquer coisa errada que eu ou o João fizermos da próxima vez, serão cinco dias longe da escola. E se isso acontecer, nem meu pai nem meu treinador vão me deixar competir no torneio.

[Erick]: Olha, foi mal. Eu deveria ter xingado o João e não esperado por você ter batido nele. ☹

[Lucas]: Você não precisa se desculpar por nada. Aquele babaca também deve ter ouvido um monte do pai dele hoje. Faz tempo que eu queria socar ele. Sem falar, que o Diretor foi bem específico, nenhum de nós podemos fazer nada, isso dever mantê-lo quieto por um tempo.

[Erick]: Haha! Você é doido Lucas. Então o diretor foi pelo menos justo.

[Lucas]: É... Ele foi policial, acho que deve ser um requisito.

Isso fez Erick se distrair por um segundo. Às vezes, ele esquecia porque o Diretor Almirez usava aquela bengala. Ele era policial até poucos anos, quando levou um tiro no joelho em uma operação contra traficantes. Forçado a se afastar, ele se tornou educador, primeiro como professor de Educação Física, e depois como diretor da escola.

[Lucas]: Lembra quando a gente brincava aqui em casa? A gente amarrava nossas toalhas no pescoço e saia correndo pela escada.

[Erick]: Lembro. Era bem legal. Sua casa era perfeita! A gente escorregava na escada, e sua mãe deixava a gente correr bem mais. – Erick sorriu ao se lembrar da brincadeira de criança.

[Lucas]: Você inventava cada história. Um dia era floresta, outro deserto, oceano, vulcões... E a gente sempre lutava com algum vilão ou monstro. Sinto saudades daquela época, onde as coisas eram mais simples.

[Erick]: Lucas... O João é um babaca, mas ele não é um monstro. Só... Muito mimado e folgado. Hahaha!

[Lucas]: Hahaha! Acho que depois de hoje, ele vai ter que voltar para o covil do mal dele! – Os dois rapazes riram da piada.

Com o passar da semana, também chegou à sexta-feira. Erick escutou a voz estranha mais algumas vezes durante a semana, mas não podia encontrá-la em nenhum lugar. Conversava com Lucas, Matheus e Gabriel sobre suas notas, mas nenhum conseguia realmente ajudá-lo a entender equações. Mas todos pediam sua ajuda na aula de história.

Os amigos se preparavam para a cerimônia de abertura da Exposição Sírio-Libanesa no Museu de História e Arqueologia. Era uma noite importante para os pais de Erick e Lucas, então os dois estavam de camisa branca, calça social e sapatos pretos.

Eles haviam chegado cedo ao museu, e ficaram apreciando a decoração. Tapetes com estilo árabe, vasos e jarros de ouro, espadas curvadas, arcos e flechas, e escudos de cobre e ferro.

Enquanto Erick explicava como cada objeto era importante, e como as armas eram usadas, e por quais possíveis impérios, Lucas comia esfihas e quibes em um pratinho. Os dois pararam de olhar as espadas quando uma voz feminina os chamou do saguão.

Sarah chegou um pouco depois, com sua mãe, Michelle Duarte. A mulher fazia um estrondo com seus saltos altos, e chamava muita atenção com seu vestido prateado brilhante. A mais nova estava usando um vestido de alças cinza escuro, o cabelo preso em um coque por uma presilha brilhante, brincos cintilantes e pulseira de argolas.

A família de Sarah era bastante rica, seus pais trabalhavam no exterior e só vinham para a cidade nos fins de semana. Eles ajudaram a financiar a última expedição de Ricardo e Alexandre:

 – Boa noite Michelle! – Disseram os anfitriões, os dois de terno e gravata, cumprimentando sua investidora.

– Boa noite Ricardo! Boa noite Alexandre! – Disse a mulher com um grande sorriso. Ela os cumprimentou e deu um passo à frente. – Olha que linda decoração! Vocês estão de parabéns por esta noite!

– Nós é quem devemos agradecer a você. – Respondeu Ricardo. – Sem os investimentos dos McCain, não teríamos nem ido a Damasco, Beirute ou até mesmo ao Cairo. A viagem foi um sucesso graças a vocês.

– Que isso! Não precisam agradecer, eu e Carter sempre queremos incentivar o desenvolvimento científico e descobertas arqueológicas. Então, alguma peça em que eu deva ter mais atenção?

– Algumas das peças ainda precisam de uma última revisão, antes de serem expostas. Podemos te dar esse privilégio de vê-las antes de exibi-las. – Explicou Alexandre.

– Esplêndido! Sarah, filha, venha e cumprimente os diretores do museu. – Disse Michelle abraçando a filha.

– Muito prazer, senhor Hassan, senhor Mattos. – Disse a moça, cumprimentando os dois.

– O prazer é nosso. – Disse Ricardo, erguendo uma sobrancelha. – Me perdoe, mas eu disse meu sobrenome?

– Ah! Eu estudo no Colégio Dom Pedro I. Estou na sala do Erick e do Lucas. – Explicou Sarah. Os adultos todos se entreolharam. Sarah imaginou que sua mãe nunca havia perguntado aos curadores do museu se eles tinham filhos.

– Bem, então, eles estão logo à frente. – Apontou Alexandre, pigarrando.

Sarah deu um sorriso disfarçado para os dois historiadores. Deu um olhar para a mãe, e ela respondeu com outro, permitindo que ela fosse adiante. Ao encontrar os meninos conversando diante de um grande tapete árabe, ela deu um sorriso de alívio:

– Boa noite rapazes. – Disse Sarah, parando logo diante deles.

– E aí, princesa?! – Lucas limpou a boca e deu um sorriso torto. – Sabia que você era rica, mas não esperava tanto luxo.

– O que ele quis dizer, do jeito dele, é que você está muito bonita, Sarah. – Erick sentiu suas bochechas e orelhas queimarem ao dizer aquilo para ela, mas estava sendo sincero.

– Ah... obrigada. – Sarah entreolhou Erick e Lucas rapidamente. – Vocês estão muito bem também. Estou tão acostumada a ver os outros de uniforme, que não sei bem o que dizer agora. – Ela se encolheu um pouco. Uma mecha de seus cabelos negros escorregou para frente de seu rosto.

– Hm. – Lucas concordou com a cabeça. – Eu tô tão acostumado em ver o Erick falando de velharias... quer saber, por que você não fica aqui com o “professor antiguidades”, enquanto eu pego mais salgados. – Lucas pegou seu prato de salgadinhos e foi em direção ao bifê.

– Lucas... – Erick queria esganar o amigo, mas não iria atrás dele agora. E provavelmente não conseguiria fazer nada contra lutador.

– Haha! – Sarah cobriu a boca com a mão para não gargalhar. – ‘Professor Antiguidade’?

– Argh! – Erick deu um tapa em sua testa. – É como o Lucas me chama quando eu falo muito de história. Sabe, esse lugar consegue reunir diferentes artefatos de diversas culturas em um só lugar. É muito maneiro!

– Gosta tanto assim de história? – Perguntou Sarah, ajeitando aquela mecha do cabelo para traz da orelha.

– Eu adoro! Meu pai me ensinou tudo. Desde quando as sociedades surgiram na Mesopotâmia, até os diferentes impérios, religiões e mitos que existiram no passado. Deveria ser muito legal fazer parte daquilo tudo! Grandes batalhas e explorações!  – Os olhos de Erick brilhavam ao pensar em história.

– Ah claro! Morrer aos 30 anos sem vacina e viver para ser a esposa de um homem que não amava? – Sarah fechou o rosto brevemente e cruzou os braços. Mas logo levou a mão a boca e pediu desculpas.

– Ah... É... – Erick olhou para o chão envergonhado. – Mesmo que eu adore história, não posso negar que a vida de muita gente só ficou boa nos últimos tempos. É que... – Ele voltou os seus olhos para o tapete. – O Lucas é cara mais forte que eu conheço. Você é a menina mais inteligente. Gabriel toca violão tão bem quanto um músico famoso e Matheus provavelmente será o próximo Ronaldinho. História e Mitologia são tudo o que eu tenho.

– Nossa... Erick. – Sarah não sabia se desculpava por ter cortado o entusiasmo do garoto ou agradecia pelo elogio. – Que tal se você me explicar mais sobre esse tapete?

Erick virou a cabeça para Sarah, com olhos arregalados. Nunca, nunca mesmo, alguém da sua idade tomava interesse pelas coisas do museu. Mas estava bom demais para ser só aquilo:

Socorro! Alguém me ajuda! Por favor!

 – Ah... que tal depois? Eu... preciso ir... – Ele virou o corpo e começou a sair, e Sarah assentiu, mas ficou cabisbaixa logo depois.

A voz misteriosa ecoou novamente, mais forte do que nunca. Erick foi o único que ouviu, levou um susto, mas não abriu a boca. Ele apenas olhou ao seu redor e viu que ninguém o escutou.

Eu vou te achar! Calma! Eu já tô indo! – Pensou Erick. Ele correu para onde ouvia a voz.

Correndo pelos corredores do museu, que conhecia muito bem, seguindo a voz agoniando. Ele foi pensando em várias coisas enquanto corria. – O que é essa voz? Por que só eu que a escutei? Como eu vou poder ajudar? – Ele fechou os olhos e continuou correndo, até chegar ao armazém do museu.

A porta de metal dizia: “Exclusivo p/ Funcionários”, mas Erick entrou mesmo assim. No armazém, ele ascendeu as luzes incandescentes e viu o chão empoeirado, prateleiras de metal e caixotes de madeira enxiam o local.

Erick foi entrando devagar no meio das prateleiras. Ele percebeu que uma das caixas tinha fumaça e luz saindo dela. Olhou para os lados, assustado, pensando estar delirando, mas não, ele estava são e no fundo de sua mente, sabia que era aquele caixote que tinha o que ele procurava.

Ao se aproximar da caixa, a tampa se abriu sozinha, e no meio do isopor, havia uma lamparina, da antiga Persa. Erick ficou espantado ao ver a lâmpada brilhar e soltar fumaça. Ele lembrou-se de um dos seus contos favoritos da infância.

Então pegou a lâmpada e a esfregou, fechando os olhos. Um forte tremor balançou a sala, e ao abrir seus olhos lentamente, Erick viu um homem barbado, usando uma túnica branca em meio à luz e a fumaça:

– Alegra-te! Eu sou Massin Al’Amus, um Djinn Marid. Você me liberou de minha prisão, e agora eu estou ao seu dispor. – Disse o homem de pele azul, olhos radiantes, túnica e turbante branco. Ele não tinha pernas, era só fumaça.

– Ah... – Erick engoliu em seco e acenou para o Gênio. – Bem-vindo a Piracema.

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