Parte 2

"Não quero que o acaso venha nos proteger mas que o destino cumpra o seu dever"

(...)

A lua cheia refletida no mar, junto com as estrelas, deixaram o momento mais  especial. Algumas pessoas que não consegui identificar devido a escuridão estavam me cercando em um circulo. Elas se aproximavam de mim, me deixando sem ar e apavorada por não conseguir ver seus rostos. O desespero tomou conta de mim, mas uma voz tomou todo o meu corpo. Uma vibração maravilhosa e gostosa. Fechei meus olhos para senti-la, e ao abri-los outra vez, eu estava flutuando em meio ao céu. Em cima das nuvens...

Acordei com meu coração acelerado, não sei pelo quê. Me sentei na cama procurando água para beber, mas a garrafa não estava na cômoda ao lado. Flashes do acontecido ontem a noite me assombraram, e a dúvida percorreu minha espinha.

Como eu cheguei em casa?

Lembro de um par de olhos azuis se aproximando de mim, e logo desmaiei sentindo braços fortes me segurarem em um encaixe certo. O que mais me intriga, é não saber quem é, mas são os mesmos olhos azuis que vi das ultimas vezes.

Porque esse homem se esconde de mim assim? Todas as vezes ele me salva de alguma coisa. Quer dizer que ando seguida para todos os lados? Um pouco de medo e angústia subiu dos pés a cabeça. Como pode um cara ficar me seguindo, me salvando e eu nunca consegui ve-lo?

Peguei minha bolsa e verifiquei se meu dinheiro estava todo lá. 

Estava, o que deixa bem claro que não fui assaltada e que alguém definitivamente me salvou e me trouxe para casa.

Isso está ficando muito estranho.

Olhei no relógio sem me preocupar com a hora. Hoje é sábado e não trabalho, posso ficar o dia inteiro descansando. Fiquei tensa por um segundo ao pensar sobre o que teria acontecido se ele não tivesse chegado lá... Homem mistérioso. Vou chamar ele ou o que quer que for desse nome.

Desci procurando minha prima, mas ela não estava em casa. Só depois que fui reparar nas minhas roupas. Eu estou de pijama! Mas o que foi aconteceu ontem? E porque eu só me lembro daqueles olhos marcantes?

Olha, é muito chato e agoniante ficar falando sozinha e não ter nenhuma resposta. Se eu ficar mais um minuto sem falar com ninguém, vou acabar pirando de vez.

Coloquei um tênis para caminhada e um short de malha. Dei uma geral em meu rosto e saí de casa para espairecer, colocar as ideias em dia e fazer atividade física que eu preciso muito disso.

Andei pela calçada por algum tempo sentindo o sol da manhã invadir meu corpo em uma sensação gostosa. Sempre me faz bem dar uma saidinha pela manhã. Depois de uma pequena caminhada, o dia fica mais empolgante e não me sinto cansada para aproveitar o dia.

Sem prestar atenção, esbarrei em um homem que caminhava na direção oposta que a minha.

- Me desculpe! - Falei pegando alguns papeis que cairam de sua mão. Ele abaixou ao mesmo tempo que eu, e nossas mãos se tocaram por um instante. Senti uma sensação gélida partir de minha mão para todo o meu corpo, trazendo uma espécie de insegurança.

- Desculpe a mim. Não vi você. - Tinha a voz rouca e grave, bem sedutora. Olhei em seus olhos negros e me afundei neles. Seu rosto é marcante, daqueles que você lembraria em qualquer outro lugar.

- Sem problema! - Falei tentando desviar o olhar. Juntei alguns papéis e ele outros, o enteguei.

- Sou Bruno - Falou e sorriu. Me perdi em seu sorriso cativante.

- Mariana, prazer. - O cumprimentei e meio sem jeito, continuei minha caminhada pela calçada da rua. Sem conseguir me segurar, olhei para trás e me surpreendi ao ve-lo parado olhando para mim como se só eu existisse andando pela rua.

Achei estranho essa atitude, e voltei o olhar para o caminho que seguia, prestando atenção pra não esbarrar em mais alguém.

Depois de um tempo, minha mão começou a formigar de leve, e logo ficou demasiado irritante, como se varias abelhas estivessem ferroando minha mão. Deixei isso de lado e parei para me sentar em um banquinho da praça. Olhei para minha mão avermelhada sentindo todo meu corpo ficar dolorido enquanto respirava. Minha garganta dói quando a ar passa para os pulmões! O que está acontecendo?

- Tudo bem com você? - Alguém me perguntou, mas não prestei atenção a quem era. Minha garganta começou a coçar e a pinicar, e esfreguei minhas unhas nela, mas não parava.

- Não sei, eu... está doendo muito. - Falei sem saber o que fazer. Meus pés também começaram a pinicar como se estivessem sendo picados por mil abelhas. Gritei abafado sem conseguir segurar a dor que sentia em todo meu corpo.

- Vai ficar tudo bem. - Alguém me falou outra vez. Parecia que estava sentado ao meu lado, mas começei a escutar um zumbido estrondoso em meus ouvidos. Algumas lágrimas desceram e estava a ponto de cair no chão de tanta dor e agonia. Minha língua ardia, queimava. Estava sendo fritada em uma frigideira em fogo alto.

Meu corpo todo extremeceu ao ser tocada no ombro por uma onda magnífica e prazerosa que arrastou toda essa dor de vez para fora de mim. O ar voltou para os meus pulmões e o sangue voltou a correr em minhas veias. Abri os olhos em um suspiro longo e alto.

Senti meu corpo voltar ao seu estado normal, e me encostei no banco, tentando recaptular tudo o que aconteceu. Olhei ao redor as pessoas que passavam sem perceber o meu estado. Só depois reparei que a pessoa que falava comigo, não estava mais aqui. Uma voz doce e acalmadora que não consegui ver o dono dela. O banco ao meu lado estava vazio, mas ao passar a mão por ele ainda pude sentir o lugar morno. Alguém estave aqui.

Limpei meu suor que escorria da testa e me levantei para tentar voltar pra casa sem que haja mais alguma tentativa de morte. Tudo isso acoteceu depois de tocar a mão daquele homem. Mas isso é impossível, só se ele estiver com uma doença contaminosa capaz de matar uma pessoa com uma dor agonizante.

Voltei para casa quase correndo pelas ruas, com medo de que tudo acontecesse outra vez. Quando finalmente cheguei, entrei em casa e subi apressada para o meu quarto sem dar a mínima para minha prima que havia chegado e estava falando ao telefone na cozinha.

Entrei no banheiro já tirando minhas roupas para tomar uma bela ducha e me livrar totalmente da sensação ruim que ainda se mostrava em meu corpo. Seja lá o que aconteceu antes de quase morrer, fui salva novamente por algo ou alguém que me transmitiu aquela onda de paz tirando tudo de mal de dentro de mim.

Já não me faço mais perguntas sobre o que acontece comigo. Sei que nunca vou encontrar respostas descentes para elas, apenas crio algo em que possa acreditar de verdade, para me confortar e não enlouquecer de vez. Já contei a Olivia uma vez sobre isso, mas ela achou que eu estava vendo coisas e me mandou para um psiquiatra. Na época eu mesma achei que precisava mesmo me tratar, mas ao passar dos anos, apenas deixei de lado e segui em frente, mesmo sentindo alguém me vigiando bem de perto.

Saí do banheiro enrolada na toalha sentindo o vento frio entrar pela janela. A fechei com rapidez, já tremendo, e abri as gavetas do armário procurando alguma roupa aleatória para vestir.

Ao fechar a gaveta, uma luz pequena estava fefletida em meu rosto. Em cima do armário, havia um colar composto de duas pequenas asas douradas. Estranhei a forma dele e não me lembro de ter esse colar. O peguei na mão e senti outra vez aquela sensação quente e prazerosa. O coloquei no pescoço sem demoras. Pode ser da Olivia que esqueceu aqui no quarto.

- Mariana? - Ela bateu na porta do quarto e entrou. - Ah, você está viva. Nem vi a hora que chegou.

- Fui dar uma caminhada. - Falei ainda olhando o colar. - Esse colar é seu Livia? - Ela olhou para o colar em meu pescoço.

- Nunca vi. Mas é tão lindo. - Ela falou admirada. E é lindo mesmo, principalmente o par de asas.

- Você sabe a hora que cheguei em casa ontem? - Perguntei e me deitei na cama.

- Olha. Eu fiquei até as quatro da manhã assistindo tv, e não vi você chegar. - Estranhei. - Deve ter chegado antes. Não se lembra de nada? Devia estar chapadona.

- Essa foi a única opção que passou por sua cabeça!? - Joguei o travesseiro na sua cara. - Você é louca.

Ela sorriu e abriu a porta do quarto. - Arranjei um emprego.

- Serio? Que bom Olivia!

- Não gostei muito, mas dá pro gasto. É na lanchonete na esquina, pelo menos é perto de casa.

- Amo aquela lanchonete. - Disse me lembrando do bolo de chocolate que comi uma vez. - Vou tirar um cochilo Livia. Estou cansada. 

- Cansada ou preguiça? Uma hora da tarde! - Embrulhei meu rosto com o cobertor para mostrar que não estou para papo. - Está bem!

Ouvi a porta do quarto se fechando e presumi que tivesse saído. O quarto estava um pouco escuro devido as cortinas fechadas, e fechei meus olhos tentando dormir sem pensar muito no que aconteceu hoje, ou meu sono acabaria. Já estava quase com todos os sentidos inativos, quando senti um toque em meu braço. Nem rígido e nem forte, apenas como um manto de seda dos mais finos e quentes. Não abri os olhos para ver o que era, pois sei que não iria ver ninguém, apenas adormeci lentamente sentindo esse toque suave irradiar do meu braço para o corpo inteiro.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo