Capítulo II

"Novos começos chegam, muitas vezes, disfarçados de finais dolorosos."

Já faziam 3 meses desde a morte da minha mãe. Minha avó voltou para sua casa no dia anterior, eu estava em meu quarto arrumando minhas malas. Estava pronta para recomeçar. Mesmo com toda a dor que eu estava sentindo, sabia que um dia conseguiria sobreviver a isso, mas não aqui.

Pelo menos ainda não.

Eu e minha melhor amiga Maggie, estávamos indo dividir moradia no centro da cidade. Tinha me formado mesmo aos trancos, terminei a faculdade de publicidade em casa, por conta da perda recente que tive meus professores e o reitor da faculdade foram muito compreensivos, me deixando terminar os trabalhos de conclusões em casa.

Agradeço as minhas notas e a minha melhor amiga por ter me ajudado com isso, pois sem a ajuda dela não teria entregue tudo que precisava e consequentemente não teria me formado. Mas devia isso a minha mãe mais do que tudo, que sempre se esforçou tanto para que eu fizesse uma boa faculdade. Então tinha que me formar por ela e me formei, agora estava prestes a mudar de casa.

Tinha uma entrevista na segunda, em uma empresa de publicidade e propaganda, responsável por planejamentos de campanha e se conseguisse a vaga ficaria responsável pela parte do planejamento da empresa. Consegui a oportunidade graças a Maggie que já trabalhava lá no mesmo setor que eu iria trabalhar. Ela entrou como estagiária e acabou sendo efetivada antes do fim do contrato.

— Já terminou a mala Madu? — Maggie estava na porta do meu quarto, pois somente ela me chamava de Madu. — Minha filha como você demora para fazer essa bendita mala hein! — Ela se jogou na minha cama, deitando por cima das minhas roupas.

— Se você sair de cima das roupas eu termino mais rápido, "flor". — Joguei uma blusa em cima dela que bufou, mostrando a lingua para mim em seguida.

— J**a tudo na mala e vamos logo! Nosso voo sai daqui a 2:30h e se continuar assim vamos nos atrasar. — Iríamos embarcar hoje, as 21h00, chegaríamos por volta das 23:30h a capital.

A Maggie alugou nosso apartamento a cerca de 5 meses atrás, já havia feito a maior parte da mudança e também mobiliado o apartamento. Eu levaria poucas coisas e o restante iria comprar por lá, pois não queria nada que lembrasse de casa, pelo menos não por agora.

— Se continuar me apressando eu vou jogar você pela janela, palhaça! — Comecei a rir e recebi um travesseiro na cara em resposta.

Terminei de colocar as últimas peças na mala, fechei e deixei ao lado da cama. Ia levar 2 malas, a de mão e a de viagem. Na de mão coloquei tudo de importante; documentos, passagem, carteira, celular e mais alguns itens, tanto de higiene, como itens mais pessoais.

Meu pai que nos levaria ao aeroporto, não sei como ele estava encarando tudo isso, pois como sempre foi reservado, então não é de falar de sentimentos, mas sei que não será fácil. A casa ficará vazia e por mais reservado que ele seja sei que será difícil para ele passar por tudo isso.

Alguns dias atrás, pouco depois do enterro da mamãe, o avisei que sairia de casa.

Estávamos jantando; eu, ele e minha avó quando resolvi aproveitar o momento para informar.

— Pai...

— Respirei fundo e prossegui. — Como eu irei me formar daqui a 1 mês, então irei me mudar para o centro, para começar a trabalhar na minha área. A Maggie vai me indicar para uma vaga na empresa em que ela está trabalhando a Jones Publicidade, então ficaria melhor morar próximo ao trabalho. — Meu pai me olhou rapidamente e consegui perceber uma pontada de tristeza em seus olhos.

— Tudo bemJá tem lugar para morar? — Ele continuou comendo, sem conseguir me direcionar o olhar novamente.

— Tenho sim. A Maggie já viu um apartamento para gente. É bonito, barato e não muito longe do serviço, se o senhor quiser pode ir comigo conhecer o lugar. — Minha avó permanecia muda, mas já sabia sua opinião por mais contra que ela fosse em saber que sairia de casa, ela me apoiou.

Disse que já era maior de idade e sabia o que estava fazendo, só me pediu para não abandonar meu pai, para visita -lo com frequência e eu concordei. Sem questionar. Meu pai levantou o olhar a mim e assentiu com a cabeça, depois disso não voltou mais a falar.

Me recordo que na mesma noite quando estava indo até à cozinha ouvi um resmungo, ou pelo menos parecia um, vindo do quarto dele. Me aproximei da porta, que estava entre aberta e o vi chorando, abraçado a um porta-retrato que pelo que parecia era o mesmo que ficava na cabeceira da cama dele. Ele tinha uma foto de nós três; eu, ele e minha mãe no dia de natal a uns 2 anos atrás.

Ver aquilo me doeu tanto, pois em 22 anos nunca o vi tão vulnerável como naquele dia. No fim, percebi que mesmo com toda a pose de reservado, ele sofria tanto quanto eu. 

Essa é uma lembrança que levarei para sempre comigo...

— Está pronta filha? — A voz do meu pai me despertou de meus devaneios.

Ele estava parado com a mão no batente da porta, seus olhos estavam tristes, sem expressão e vê-lo daquele jeito me quebrou mais um pouco, me fazendo repensar sobre minha decisão de sair de casa. Concordei com a cabeça, respondendo à sua pergunta. — Ok, vou descer sua mala então.

— Você está bem Madu? — Maggie tinha acabado de voltar do banheiro e como toda melhor amiga sabia que eu não estava bem.

— Será que essa decisão é a certa? Sair de casa e deixar meu pai aqui... Ele não tem mais ninguém Maggie, me sinto mal em ir embora e ainda mais nessas circunstâncias. — Sentei na cama e coloquei as mãos no rosto, estava cansada e me sentia exausta, parecia que o peso da dor esmagava meu corpo.

Não tinha certeza se conseguiria suportar tudo isso e era por isso que queria sair de casa, as lembranças me machucavam e no momento não estava pronta para tudo isso. E queria muito que meu pai entendesse, mesmo com todos os nossos problemas, ele continuava sendo meu pai e eu o amava muito só queira que ele se lembrasse disso, na minha ausência.

— Hey, para com isso! — Maggie se sentou ao meu lado. —Conhecendo o Senhor Eduardo do jeito que eu o conheço, tenho certeza que ele te apoia em todas as decisões e ele te ama. Ele ainda tem sua avó que mora perto e não é como se nós estivéssemos indo para o outro lado do mundo. — Ela brincou, batendo seu ombro no meu. — Estaremos só a alguns quilômetros longe e nada que um voo não ajude, mesmo sendo um voo de 2:30h.

A Maggie sempre sabia como me colocar para cima e todo esse apoio dela me fez sorrir, coisa rara nesses últimos 3 meses. Ela me abraçou e eu retribui o carinho.

— Para de colocar caraminholas na cabeça, você está tomando a decisão certa e se não der certo é só você voltar e tentar novamente. — Ela deu uma piscadela e beijou minha bochecha. — Vou estar te esperando lá embaixo e pelo amor de Deus Madu, não se atrasa! — Ela deu ênfase no final da frase me fazendo rir, ela realmente estava suplicando.

Ela desceu e fiquei sentada na cama, pensando em tudo, na forma que minha vida mudou em cerca de poucos meses...

Tomei coragem e desci em direção a garagem.

— Oh! Glória ela não se atrasou! — Maggie erguia as mãos para cima em forma de agradecimento. — Milagres acontecem, meu Deus!

— Juro que ainda te bato hoje! — Dei um tapa na testa dela enquanto arrumava o cinto no banco da frente.

Olhei de relance e vi meu pai sorrindo com as palhaçadas da Maggie e com isso eu sabia que estávamos bem, que ele ficaria bem na minha ausência. 

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