Capítulo 2 – Premonições e Desastres

“Nada há de bom nesta vida salvo a esperança de uma outra vida.” Blaise Pascal

As virtudes que a sociedade carrega por si própria são valores fajutos, quimeras que erguemos em consoante ao comum, que estabelecemos motivos para saciar nosso ego, em prefaciar a ordem de aglomerados surreais que sustentam essa libertinagem dos involuntários que saciam suas virtudes, desvirtuando sua essência, quisera que os outros deuses não tivesse existido, ou apenas relato deles, o monoteísmo em sua caracterização, sustentou por base da perfeição em um único ser, essa perfeição que tentamos desesperadamente personificar em nossos atos, a vontade rupestre e primitiva da condensação de informações não privilegia os excluídos da evolução, que batalha desesperadamente pelo seu sustento diário, uma refeição digna de temporariamente esquecer que a fome o atormenta.

Os anseios da juventude impulsionavam os revolucionários que erguiam suas vidas em prol de um ideal ao qual o líder propagava constantemente seus dizeres de modificação, de romper toda a estrutura antiquada, erguendo um novo ideal.

Mas entre os mortos de uma possível guerra, entre os cadáveres que tentava se libertar do corpo propagando sua existência ao infinito, uma estrela de brilho raro, mostrara seus primeiros trajetos, Leona Oliveira.

Mostrou ser uma guerreira formidável em seus poucos dias de vida, nasceu prematura, batalhou pela vida, uma complicação no parto colocou a vida dessa indefesa garota, por um fio, a medicina dizia que seus pulmões não haviam se formado, teve dificuldade em seu primeiro choro, chorou por pouco tempo, pondo em dúvida problemas respiratório, mas como por um milagre, nos exames médicos, não apresentou nenhum problema, apenas um susto para os familiares.

***

Novembro de 1982

Em uma das inúmeras viagens que fazia com seus parentes, um acontecimento prendeu a atenção de Leona em sua prematuridade, um fato que nunca a esqueceria.

Havia anoitecido há pouco tempo, estava ao colo da sua mãe no banco da frente do carro, um mimo, sentia uma sensação horrorosa, mas não sabia expressar, chorou até ir para o colo da mãe, triste azar o dela, não demorou minutos fixou o olhar na estrada, havia um carro lento a sua frente, o seu pai desesperadamente corria, queria ultrapassar o veículo, mas um clarão, mas duradouro que um relâmpago e mais intenso que o mesmo, apareceu na estrada, o pai freou bruscamente, a mãe segurou ela com toda força, mas quando o brilhou cessou, havia um corpo no chão, debaixo de um carro que deduziu ter virado, um pavor a dominou, chorou desesperadamente, mas engoliu o choro, quando viu um homem saindo do carro capotado, tirando uma criança ao fundo, o tráfego parou. O que fez todos saírem dos automóveis, seu pai prontamente foi dar assistência aos acidentados.

Ela esgueirava outro menino da mesma idade, estava em estado de choque, soluçava fortemente, a mãe a segurava com força pelas mãos.

- Mãe, por favor, deixa conversar com aquele menino. Falou Leona.

Soltou das mãos da mãe, correu desesperadamente em direção ao garoto, abraçou, não sabia o que falar, ela havia entendido a situação com toda sua precocidade, única coisa que pode fazer pelo garoto foi abraça-lo como por instinto, chorando juntos.

***

Abertamente desesperada, tinha pesadelos constante com que tinha presenciado, acordava assustada, no escuro do seu quarto, corria para o quarto dos pais, lá encontrava o consolo de que precisava, para livrar-se do terror noturno. Claramente alterada, a figura daquele menino sofrendo pela perca de sua mãe, constantemente em conjecturas pedia ao ser Supremo:

- Senhor, deixe me encontrar com aquele menino novamente.

Mesmo inocentemente, sabia que aquele desejo ia realizar.

Em uma de suas brincadeiras com seus primos, mais uma entre outras, notou alguém reclamando ao quarto do fundo, realmente prendeu sua atenção, desvinculou daquela traquinagem e resolveu ver o que acontecia. Seus pais estavam brigando.

- Não, Joana, não podemos ter outro filho. Falou o pai.

- Mas Rodrigo não posso abortar essa criança, é o designo de Deus em nossas vidas.

- Porra de Deus, foda-se a vontade dele, você vai tirar essa criança, custe o que custar.

Leona, entendeu desde a primeira frase que escutou, sabia que um irmão estava por vim, mas o pai não queria ter esse filho, correu desesperadamente pela casa, viu um menino muito parecido com ela, que disse:

- Não temas irmãzinha, vamos ficar juntos, Deus guarda um grande propósito a todos.

Ela sabia que aquilo não era real, não no momento, resolveu calar-se para ver se o silêncio a entedia, atônita, vagava pela casa, sem expressão facial, começou a ter um estado de catatonia, ficava parada durante horas, olhando o vago. Sempre com uma música bem longe escutando em sua mente, uma melodia que não saberia distinguir qual era, as vezes tinha um ritmo agressivo, as vezes calmo, ela entrava cada vez nesse estado inerte, quando mais desbrava a mentalidade, a música se aproximava.

“Força compreensiva, dádiva angelical

Vontade dos deuses, majestade dos plebeus”

Essas eram as frases que conseguia distinguir distintamente, sabia que estava fugindo da normalidade, mas não tinha muito que fazer, a loucura abraçava ela a cada momento, nos olhos desciam lágrimas, via a figura do menino em seus braços chorando, e um corpo embaixo do carro que estava sem vida.

Em um de seus momentos de lucidez, ouviu dos pais:

- Nossa, Joana, a Leona está cada dia mais distante, devemos fazer algo, levar a um especialista. Comenta o pai.

Sabia que estava distante, sentada na cama ou no sofá, olhando para um ponto fixo, até a baba escorrer pelo canto da boca, até o momento que a musicalidade atingiu em cheia, começando a presenciar uma visão tecnicolor, as cores se limitavam em tonalidade primitivas, e derretiam, embaralhava e unia dando formas a criaturas, seres maléficos, sombras, demônios, e sempre ao fundo desse campo psicodélico um crocodilo aparecia tentando a engolir, mas sempre alguém a puxava pelas mãos.

- Acorda Leona, Leona acorda. A mãe batia levemente em seu rosto em uma tentativa de dispersar ela da ilusão.

- Vamos me acompanhe, a mamãe vai levar ao médico.

  Muitos sabiam que não era a indefesa criança que habitava aquele corpo, estava passando por alguma expiação nos seus primeiros anos de vida, algo que fosse realmente compatível com o peso do nome que carregava, que maldição é essa que estamos passando, a família iria se romper, a pobre criança, sentia a vibração emocional conturbada que o casal estava passando, não queria ser mais uma pedra no sapato, tentava desesperadamente abrir a boca, mas estavam coladas, um peso entre os lábios, a língua e o maxilar não obedecia, mas a sua mente por mais desorientada que estivesse, sabia que iria ficar bem.

A ocasião das transmutações do ego pulsava, as formas lisérgicas a absorviam como a escuridão da noite, que faz virar dia, sem mostrar nos mais profundos sonhos, o amanhã que nasce, mas não nasciam impulsos de reação, cada dia mais absorta a realidade, a música tomava formas delirantes, ela ficava totalmente parada, tentando compreender tudo aquilo que passava, a pouca compreensão sobre a vida, não era motivo de discórdia entre os acadêmicos que questionava a prematuridade da ciência com todas suas certezas, sofria, sentia vontade de voltar para aquele mundo onde tudo e todos a esperavam, o alimento descia goela abaixo seco, apenas uma massa pastosa se formava em sua pouca quantidade, dificultando a descida, precisava de água, tossia lacrimejante, quando percebeu um flerte do real, a imagem de sua mãe, aquele rosto trazia toda a vontade de conseguir compreender o que passava por ela.

- Reaja Leona. Insistia a mãe.

A reação demoraria, mas as ditas alucinações começaram a apresentar uma linha de significância, sempre quando os vultos tentavam desvincular da vida, uma força impulsionava para viver, ela já sentiu aquela vibração em algum lugar, sabia que estava reprimindo tudo que não ansiava, as imagens alternavam, entre uma cidade destruída, a imagem do acidente que rompeu com o seu elo da realidade, as ilusões eram mais insistente, toda vez que encontrava um falcão, seguia insistentemente, até dar de costa, com um ser que tem toda a maldade possível nesse mundo, a qual horda ele há de pertencer, não ousava aproximar mais, corria entres as imagens oníricas. Sempre havia um grupo de pessoas, que a reunia com ela, não sabia dizer quem seria essas pessoas, mas muitos segredos no limbo da sua consciência mostraria todo entraves ainda não revelado.

Reveillon, os pais de Leona, estavam intensamente tristes, um filho estava por vim, aceitou de imediato, queria ter herdeiros que teria atitudes “normais”, a festividade ficara restrita ao casal, uma ceia, a mãe o pai, e a menina que fixara os olhos no relógio, marcava 23:55, faltavam cinco minutos, e todos os planos de ano novo esperava a vontade dos homens para realizar, sinceramente, a mudança não viria com um ano, um copo de whisky com pedras de gelo ser ergue a boca, com suaves goladas.

00:01

- Papai, Mamãe, obrigado por ter cuidado do meu corpo por todo esse tempo, enquanto fazia viagens astrais, a ternura de vocês será completado pelo nosso irmão que está por vim.

- Ora essa, será que ela está de volta ao real? Essa foi a dúvida de ambos, ao ouvir a palavra da filha, e há muito tempo, ela não dizia absolutamente nada, até pensaram em ter desaprendido a falar, mas agora demonstrava uma força em suas emissões vocálicas.

***

Leona estava perfeita, sem sinais de que algo aconteceu abalasse  seu astral, apesar de ter ficado dias nesse estado catatônico, conseguiu regressar firmemente sem danos a capacidade cognitiva, era esplendido o que seus pais vivenciavam, o regresso da filha a linha da realidade, isso a impulsionava firmemente em continuar o elo de uma família.

- Joana, iremos ter esse filho, me perdoe estava sendo um facínora contigo e com todos ao nosso redor. Fala Rodrigo.

Joana entra em lágrimas, e abraça Leona.

- Você terá um irmãozinho filha.

- Tudo está de acordo com o propósito de Deus. Fala a criança.

A sabedoria daquela frase exprime uma troca de olhares com os pais de forma amistosa e complacente.

Os dias passavam tranquilamente, até que certo dia, a garota em sua rotina, presencia um senhor barbudo de cabelos grisalhos tomando Leite, na cozinha de sua residência.

- Quem é o senhor? Indaga Leona.

- Minha nobre e forte criança, acreditei fielmente que você voltaria da expiação astral, por isso foi concedida essa dádiva.

Quando a garota abaixou a cabeça e refletiu no que ouvira, compreendendo o que era dito, levantou, mas o senhor não se encontrava ali, mas sim o copo de leite, ao qual ela decidiu tomar, ao tocar no campo, sentiu uma sensação de pureza tão enorme, uma purificação da carga que tinha o atormentado se desfazendo, aquele peso sobre o ombro não era mais sentido, renovando totalmente suas energias, ao beber o leite, caiu em um sono profundo ali na cozinha.

Em seus sonhos Leona, voltou ao local do acidente, e lá estava a mulher embaixo dos escombros, o corpo, mas seu espírito caminhava em sua direção.

- Realmente, queria agradecer pelo apoio que você deu ao meu filho, quando desencarnei.

- Foi algo impulsivo, sem pensar, algo me fez ter aquela atitude e obedeci.

- Justamente por isso ocorrer, os laços começaram unir as crianças que farão jus aos desígnios do todo poderoso, que reserva um aperfeiçoamento aos escolhidos.

- Irei reencontrar seu filho novamente?

- Claro, a vontade do Senhor é uni-los além do limite do planeta Terra.

Foi quando sua alma, a consciência no sonho, se elevou, começou a subir, ver a cidade do alto, ver o vertical que a instante atrás era o horizonte, contemplando a dádiva da beleza da vida, subia cada vez mais, até chegar as alturas onde as estrelas emanavam calor ao seu corpo.

Ao acordar, era como estivesse a se expandir, uma sabedoria sacra desvencilhava em seu Eu, chegando momentaneamente compreender a razão da vida.

***

As noites de sono de Leona, era um convite a filosofia, lá se encontrava com sábios, que explicavam metafísica, o além, a alma, a eternidade, conceitos precoces eram absorvidos instantaneamente para proveito de sua formação ideológica, conseguia desbravar em nuances espiritual pelo campo onírico que permeava a fluidez de seu cotidiano, até que dado momento, decidiu indagar a respeito de suas visões conturbadas.

Obteve como resposta:

- Existe um desiquilíbrio das forças tendendo mais para as forças negativas, a humanidade como nunca de tempos em tempos se torna mais maléfica do que benéfica, poucos sãos os homens de espírito reto, que se inclinam para benfeitoria do criador, a ganancia, a crueldade dos homens, despertam demônios de outras ordem do inferno, conturbando assim todo o universo, o ápice desse momento chegará, e é por isso que tais testes tem que ocorrer contigo.

A nobre garota, sabia que algo a esperava no futuro, não saberia distinguir o que realmente seria, mas sentia-se importante pela confiança que lhe foi dada pelo seres luz, compreendia claramente o que são esses demônios, os espíritos errantes após a morte, ao qual em vida teve desígnios atrozes, cruéis, e vagavam pelo orgulho de vida, não lhe dava conta da criação como um todo, de existência anteriores, e ficava preso em locais do espaço, realmente ela gostaria de dizer isso para alguém, um valor enorme de dizer isso aquele garoto, isso a fazia obter mais conhecimento, em suas peregrinações do sonho.

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