Capítulo 6

Meu olhar vagava pela escuridão densa que dominava cada canto do meu quarto. No silêncio da madrugada, derramava litros de lágrimas, ao mesmo tempo que segurava meu relógio menstrual, como se meu viver dependesse daquilo.

Estava irritada comigo mesma, por não estar em condições de fazer a contagem direito. Me desleixei com o relógio e estava baralhada. Talvez estivesse em dia férteis, talvez não. Mas a única coisa que fazia, era passar o relógio esférico por entre meus dedos, também tentando digerir oque aconteceu havia menos de uma hora.

"Weben! Como assim estourou?"

Com as mãos na cabeça erguida, Weben estava tão preocupado quanto eu. Lembrava de tê-lo ouvido sussurar palavrões de olhos fechados, enquanto eu estava perplexa sem saber por onde começar a me preocupar. Fiquei por um bom tempo encarando seus movimentos até que, assim como o medo, a vontade de voltar para casa me fez sair do carro desesperada, logo depois de um respirar fundo, para fazer valer minha decisão.

Cheguei à casa e fui directo para o quarto, onde passei mais de meia hora deambulando e libertando longos suspiros de preocupação e lágrimas de angústia. Com fortes e trêmulas mordidas, tornava escassa a existência de minhas unhas e, na mesmíssima proporção, minhas paredes estomacais congelavam cada segundo mais.

Os minutos passavam e eu, que tinha sido tramoiada pelo destino, não achava sossego em nada!

— Mas como? — perguntei para mim mesma, já com a garganta e olhos doloridos de tanto chorar.

Me levantei, me sentei na cama desarrumada, enxuguei minhas lágrimas gordas e respirei fundo para aliviar o peito. A discussão entre mim e minha mente era de condoer e latejar minha cabeça.

Atirei o relógio menstrual para qualquer sítio e em meio a soluços, procurei pelo meu telefone.

Não consigo dormir, estou preocupada.

Digitei com certa lentidão e dificuldade por conta da visão turva e mandei para Weben, com a esperança de obter algo que pudesse usar para me acalmar e dormir.

Não paro também de chorar. Se estiveres na mesma situação, retorna, por favor. Estou em pânico!

Digitei novamente e mandei a segunda mensagem normal. Olhei para a tela por alguns minutos, mas não recebi nenhuma resposta sua. Isso me fez cair num choro desesperado novamente, ao passo que sentia a fome se tornar um incômodo.

Me deitei e levei meu telefone para bem perto do peito.

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    Segunda-feira

Fantoche. Fantoche do desgosto era oque eu era, naquele momento. O estado deplorável no qual me encontrava, tornava difícil a movimentação dos meus pés.

O dia nublado trouxe consigo ventos frios que batiam contra meu rosto ressecado. Não falava com Weben havia mais de 24h e isso, assim como meus pensamentos, me deixavam avoada o tempo todo.

Assim que atravessei o portão da escola, o mar de pessoas uniformizadas era quase indestinguíveis perante meu estado, até Cleyton ganhar destaque. Estava com uma expressão neutra enquanto segurava num pedaço de cartolina e parecia falar consigo mesmo, direcionando seu olhar para o chão como se buscasse decorar algo. Ergueu sua cabeça de forma distraída, assenou e sorriu assim que me viu, seguindo o caminho até a sala de desenho. Aprumei os lábios, sorri de leve e sua espressão, que ficava cada vez mais nítida a medida que me aproximada, me fez perceber que tinha notado meu mau-estar.

Meu amigo retardou seus passos e franziu o cenho, colocou sua gravata no lugar e voltou a dar passos apressados, até que perdi de vista.

Continuei com meus passos morosos até chegar na minha sala, na qual entrei e recebi, por longos segundos, olhares de alguns dos meus colegas. Meu desânimo estava acima da educação, por este motivo evitei olhares e nem sequer sussurei qualquer comprimento para eles. Fui até meu lugar, me sentei e descansei meu corpo com um longo suspiro que se perdeu no ar que parecia existir em pouca quantidade para mim. Fechei os olhos e minha consciência parecia se distanciar à cada exalar de meu sistema respiratório. Sem me importar com absolutamente nada ao meu redor, fechei os olhos e deitei minha cabeça na madeira fria da minha mesa, porém, Tânia entrou com gritaria na minha sala:

— LADIES AND GENTLEMEN, CHEGUEI! — vários dos meus colegas que a conheciam, responderam coisas que variavam.

Enquanto andava até meu lugar, percebia meu mau-estar também, ao qual desdenhou sem perder tempo.

— Oque se passa? — se sentou na mesa do professor, na minha frente, e olhou para mim com preocupação.

— Nada!

— Sério que vamos ter que ir por aí?

— Não aconteceu nada, juro. — levantei meu rosto e me endireitei na cadeira.

—Você está à minutos de deixar tua cara cair de tão triste que aparenta estar, ainda me diz que não aconteceu nada? Porfavor, Evie! — desapertou sua gravata e desabotuou sua camisa por baixo de sua camisola.

Enquanto isso, Cleyton entrou na sala com olhar analítico e cauteloso, como se quisesse descobrir oque estava acontecendo de um jeito que não fosse através da minha boca.

— Cleyton! — fingi ânimo que não possuía.

— Começa a falar. — notei que estava de um corte novo, estava muito bonito.

Meu olhar foi imediatamente para o quadro por trás de Tânia, como forma de tentar formular as palavras certas para dizer que deu merda.

— Vocês não deviam estar na aula? — tentei mudar de assunto, sem êxito.

— Me tiraram da sala. — Tânia disse.

— E meu professor de desenho está atrasado. Agora fala! Oque aconteceu? — Parou ao lado de Tânia e plantou as mãos na cintura.

— Ficou bonito do corte novo. — sorri fraco e passei a mão pelos lábios assim que senti um azedo na garganta.

Soltou um de seus suspiros de impaciência enquanto o olhar de Tânia denunciava sua irritação e vontade de me insultar.

— Oque houve, Evie?—perguntou ela, com uma calma que estava à km de existir.

Respirei fundo, olhei para cima e comecei a falar:

— Eu me encontrei com Weben, no sábado anoite, e rolou minha segunda vez. — desci o olhar até eles e depois até o chão — Estava tudo bem até ele me dar a excelente notícia de que o preservativo tinha estourado.

Espalmei a testa e dei o bilionésimo suspiro longo do dia, recebendo seu silêncio como reação. Era perceptível que ambos tentavam achar palavras que me confortassem, mas como o silêncio é inóspito, Tânia falou a primeira merda que achou:

— Olha, não me interpreta mal, mas usando a frase de "The Nun", "Deus acaba aqui".


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