5 - Discussão

O jeito como a voz de Ester soava tão presunçosa e falsa fez Katherine querer dar um tapa para tirar o sorriso do rosto, mas ela estava no trabalho. Precisava ser profissional. Recusou-se a dar a Ester a satisfação de vê-la se desfazer.

Mas, no momento em que aquelas palavras saíram da boca de Ester, uma náusea percorreu o estômago de Katherine com violência. Sua visão ficou turva com lágrimas não derramadas, sua respiração ofegante. O mundo ao seu redor parecia estar se fechando, sufocando-a sob o peso insuportável da dor.

Seus dedos tremiam quando ela enfiou a mão no bolso do casaco e tirou o celular. Digitou algumas mensagens às pressas, uma para sua assistente, instruindo-a a cancelar ou reatribuir seus compromissos, com a desculpa esfarrapada de que estava se sentindo mal. Em instantes, respostas inundaram sua tela, mensagens de preocupação e votos de melhoras, mas nenhuma delas importava. Nenhuma delas conseguia romper a agonia entorpecente que a consumia.

Sem olhar novamente para Adônis ou Ester, Katherine se virou e saiu do hospital. Com a cabeça baixa, o rosto banhado em lágrimas silenciosas enquanto corria em direção ao estacionamento. Cada passo parecia mais pesado que o anterior, seu corpo lutando contra a traição que a oprimia.

Quando chegou à cobertura, o lugar que dividira com Adônis, suas pernas mal conseguiam carregá-la. No momento em que entrou, a verdade a atingiu como um maremoto, e ela se jogou contra a porta, soluçando em suas mãos trêmulas.

Todos aqueles “eu te amo”.

Todas aquelas desculpas do tipo “estou trabalhando até tarde”.

Mentiras. Cada uma delas.

Ele estava com uma mulher que nunca se importou verdadeiramente com ele, enquanto ela estava em casa, amando-o, confiando nele, esperando por ele como uma tola.

E, no entanto, a dúvida a assolava, cruel e insidiosa. Ele realmente havia dormido com Ester? Mas então a lembrança voltou com tudo, arrebentando-a como um caminhão a imagem deles se beijando na chuva. O jeito como os dedos de Adônis se enroscavam nos cabelos de Ester, o jeito como ele a segurava. O jeito como seus lábios se moviam contra os de Ester como se sussurrassem algo que só ela deveria ouvir.

Seu estômago se revirou, a bile subindo pela garganta. Não importava se ele tinha ido até o fim com ela ou não. A traição já a havia destruído.

Ela tinha sido tão cega. Tão estúpida. E o pior de tudo, ela o amava mesmo assim.

Sua mente voltou à primeira vez em que conheceu Ester, em um evento da faculdade, quando Adônis a apresentou como namorada pela primeira vez. Ester mal a reconhecera, olhara para ela como se fosse insignificante, como se fosse temporária. E agora? Agora Adônis a escolhera.

Como ela pôde ser tão cega?

Vergonha e fúria guerreavam dentro dela enquanto se levantava, arrancando o casaco e jogando-o sobre uma cadeira da cozinha. Ela olhou para a vida que havia construído com Adônis, as fotos emolduradas nas prateleiras, a vela que acendera na noite anterior, os restos de um lar que ela pensava estar repleto de amor.

Mas era tudo mentira.

E ela se recusou a continuar fazendo parte disso.

Uma batida forte quebrou o silêncio.

— Kate! Kate! Você está em casa? — A voz de Adônis ecoou pelo apartamento, seguida pelo som de chaves tilintando. Um momento depois, a porta da frente se destrancou. Ela se enrijeceu. O que ele estava fazendo ali? Seu corpo se moveu por instinto, recuando para o quarto enquanto ela enxugava as lágrimas furiosamente. — Katherine! — Sua voz ecoou, destruindo seu mundo. Ela se virou quando ele entrou na sala, seu rosto cheio de frustração e algo indecifrável. — Não é o que você pensa. — Adônis começou, seu tom quase exasperado, como se a tristeza dela fosse um incômodo. — Kate... ela precisa de ajuda. É só isso.

Katherine soltou uma risada sem graça, balançando a cabeça.

— Ajuda? Você estava ajudando ela enquanto deveria estar comigo?

Ele passou a mão pelos cabelos, visivelmente agitado.

— Ela não tem mais ninguém, Kate! Ela só tem a mim. Eu não podia simplesmente abandoná-la.

— Besteira! — Katherine disparou, elevando a voz. — Você estava mentindo para mim! Se esgueirando com ela enquanto eu esperava por você como uma idiota! Eu te amava, Adônis! E você...

— Amava? — ele a interrompeu, os lábios se curvando num sorriso irônico que gelou suas veias. — Não seja tão dramática, Katherine.

As palavras foram como um tapa. Katherine prendeu a respiração, mas se recusou a ceder.

— Dramática? Você me traiu! Você jogou fora tudo o que construímos por uma... por uma atriz decadente que precisava de um homem para resolver seus problemas. Fala a verdade Adônis! Você... me traiu não é? — A voz de Kate falhou, rouca de descrença e fúria.

Adônis não disse nada. Mas seu rosto... Deus, seu rosto... o denunciou. A culpa estava lá, misturada a algo ainda mais feio. Justificativa. Defensividade. O tipo de arrependimento que não era por tê-la magoado, mas por ter sido pego.

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