2. Quem é você?

Benjamin

A reação da mulher em meus braços, me fez ficar ainda mais em alerta. Não era incomum, lobos errantes aparecerem em nossa porta pedindo ajuda, porém uma loba grávida naquele estado...

"Não vai responder minha pergunta?" perguntei novamente assim que a porta do elevador se abriu e Valery, minha assistente, já estava do lado de fora junto com a enfermeira.

"Por aqui senhor." segui a mulher até a sala preparada para tender os acidentes de trabalho que poderiam ocorrer em nossa empresa. 

Pousei-a sobre a maca e ela se encolhei escondendo o rosto nos joelhos. Aquilo chamou a atenção de todos, e Valery se aproximou de mim.

"Devo chamar a polícia?" ela sussurrou, mas a loba se virou imediatamente para nós.

"Não preciso de polícia." sua voz vibrou em um rosnado profundo.

"Eu resolvo isso, Valery. Volte para o meu escritório e peça para o Ton me ligar, assim que possível." ela concordou e saiu. Ao abrir a porta, vários funcionários estavam amontoados na frente da sala esperando alguma informação. Olhei para enfermeira e ela entendeu que deveria cuidar da moça, até eu voltar.

"Senhor, nos desculpe, mas quem é essa loba?" Uma das diretoras da empresa, questionou. "Corremos perigo?" rosnei irritado.

"Voltem para o serviço de vocês. Resolverei tudo que estiver relacionado a ela." eles me olharam assustados, mas concordaram e saíram.

Enquanto a enfermeira cuidava da loba grávida, minha mente trabalhava freneticamente para entender a situação. Uma loba grávida errante em Seattle, sem registro ou alerta das outras alcateias, era algo completamente incomum. Olhei meu celular, procurando qualquer pista, mesmo maltratada, eu podia ver uma força naquela loba, que não se aplicava a um ômega. Podia sentir sua força, duelando com a vulnerabilidade humana.

Voltei a sala e bati a porta esperando a enfermeira liberar minha entrada.

"Entre, senhor." ela abriu a porta me dando espaço para entrar. A loba estava sentada de frente para min, com a cabeça baixa. Seus cabelos antes soltos, agora estavam amarrados e sua pele limpa. Havia curativo nos joelhos e nas mãos. "Foram pequenas escoriações, senhor. E pelo sonar fetal, os batimentos cardíacos do bebê estão normais, mas isso não descarta uma ida ao hospital."

"Já disse que não é necessário." ela rosnou baixo, me fazendo olhar para a enfermeira.

"Obrigada por seu esforço, agora me deixe a sós com a senhora." ela confirmou e se retirou da sala.

Coloquei as mãos no bolso, dando alguns passos em sua direção.

"Vamos começar com uma pergunta simples." falei observando seu corpo tremer. "Qual seu nome, loba?" o cheiro do medo invadia a sala.

"Já estou de saída, agradeço o que fez por nós, mas ..." arrastei a cadeira de alumino e me sentei a sua frente, deixando meus olhos na altura dos dela.

Meu lobo se remexeu desconfortável, quando os enormes olhos me avaliaram. Sem a sujeira das ruas, a loba parecia apenas uma criança indefesa, assim como minhas irmãs. Seu cabelo negro, combinava perfeitamente com ela.

"Nenhum lobo errante cai em meu território e sai sem ser identificado, pode ser simples e comigo, ou pode ser complicado e doloroso com o beta, a escolha é sua." cruzei os braços, e apoiei a canela esquerda na perna direita.

"Não pode me manter presa sem uma acusação." ela se ajeitou na maca e vi uma pequena cicatriz em seu braço.

"Como disse, são apenas formalidades. Não queremos problemas com as outras alcateias, e se você não pertence a nenhuma, não tem por que não me dizer seu nome." ela apertou com força a maca, rosnando antes de me olhar.

"Meu nome é Ravenna." falou de uma vez se levantando. "Já posso ir embora." neguei, indicando que ela voltasse a se sentar.

"Ravenna, meu nome é Benjamin Jones-Reynolds. Filho do alfa do Oeste." me apresentei, fazendo seu queixo cair e ela tremer ainda mais. "De qual alcateia a senhora pertence? Devo notificar sua família?" ela mordeu o lábio com força.

"Não, não há ninguém a ser notificado." ela apertava as mãos com pressão. "Eu só quero ir embora, senhor. Não há nada que saber sobre mim, apenas me deixe seguir meu caminho. Não quero criar problemas." sorri, virando minha cabeça de lado e analisando seu perfil tenso.

"Então voltamos a minha primeira pergunta, de quem está fugindo?" seu olhar se fixou no meu, e novamente meu lobo rosnou em meu peito, me deixando irritado. 

Será que ele queria me alertar de alguma coisa? O que eu não estava vendo? Deixei que ele dominasse minha mente por um segundo, e olhasse para ela de forma animal.

"Não estou fugindo de ninguém, apenas estava com pressa." falou emburrada, se fechando novamente.

"A mentira escorre por sua pele, Ravenna." sorriu de forma sombria, e a loba se afastou.

"Não estou mentindo, não pode me manter aqui. Não fiz nada que infringisse suas regras ou suas leis. Apenas esbarrei no senhor." mesmo com minha pressão, ela se mantinha respeitosa.

"Bom, se quer manter as coisas assim, chamarei uma equipe técnica para lidar com você e levá-la ao seu destino." me levantei, arrumando meu terno e colocando a cadeira de volta no lugar.

"Equipe téc..técnica?" ela gaguejou, mas se recompôs tentando manter sua força.

"Como disse, nenhum lobo entra em meu território sem ser identificado, e convenhamos, Ravenna, eu nem sei se esse é mesmo seu nome." sorri.

"É meu nome. Ravenna Miller..." as palavras morreram em sua boca e sorri triunfante. A loba começou a bater com as mãos na cabeça, se amaldiçoando por falar. Fui até ela e segurei seus pulsos, impedindo que ela se ferisse.

"É tão ruim assim eu saber seu nome?" meu lobo rosnou para ela, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas.

"É a minha maldição, senhor." as lágrimas começaram a escorrer e me afastei.

"Se acalme, pense no seu filho." falei sem saber o que fazer. Odiava ver mulheres chorando. Com 4 irmãs, isso era um evento constante em minha vida, mas nunca soube como acalmá-las.

"O senhor não entende, eu só preciso ir embora. Eu preciso sair do país." falou com a voz embargada.

"Se me contar a história toda, posso te ajudar." ela passou a mãos enfaixadas sobre o rosto. "Mas quero a história completa, Ravenna Miller." senti sua loba estremecer sob minhas palavras.

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