Passando o bastão.
Sentado na varanda da cobertura que dava vista pra quebrada inteira, DV tragava o último cigarro da noite com olhar perdido. A Rocinha, que já tinha sido seu campo de guerra, agora tava em paz. Mas dentro dele... ainda morava o peso de tudo. Kelly. Treloso. Os corpos. Os gritos. A favela calada nos dias de guerra.
Tinha dinheiro, tinha respeito, tinha fama. Mas já não tinha mais vontade. Não como antes. O bonde tava pesado demais. A alma cansada. E pela primeira vez em anos... ele queria viver.
— Chama o Sheik pra vir trocar uma ideia comigo — falou pro segurança que tava sempre ali no canto. — Mas chama na moral, sem chamar atenção. Só nós dois. Preciso falar com ele com o coração.
Não demorou muito, e o Sheik chegou. De boné aba reta, corrente grossa e o olhar de quem já viveu cem vidas numa só. Mesmo sendo dono do Borel, ele sempre respeitou a Rocinha — e o DV. A parceria dos dois segurou a cidade inteira numa época que parecia desabar.
— Fala, lenda... — Sheik cumprimentou, sentan